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quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Ngc 2301: O Dragão de Hagrid

 




             Ngc 2301 é um pequeno e delicado aglomerado aberto em Monoceros. Sendo vizinho da Roseta, do aglomerado daArvore de Natal, do “Paraiso Pirata” e de M 50 é difícil que se destaque. Mas de uns tempos para cá ele se tornou mais popular.

                O´Meara o batizou de o “Aglomerado do Dragão de Hagrid”. Com uma filha com 17 e um filho com 7 anos a saga de Harry Potter é frequentemente alvo de longas maratonas aqui em casa. Então quando descobri no “Hidden Treasures” (guia observacional de O´Meara na já clássica série “Deep Sky Companions”) essa indicação tive minha curiosidade despertada.

                Para aqueles que desconhecem o trabalho de J.K. Rowling uma breve introdução.

                Hagrid é um misto de gigante, guarda-parque, professor e um dos mais simpáticos personagens da série. Ele acaba por cuidar de um ovo de dragão e deste nasce um dragãozinho (original...) invocado. Este é batizado de Norberto. Alguns capítulos mais tarde e muitas aventuras se descobre que Norberto é na verdade Norberta. Seu comportamento agressivo e furioso denuncia seu gênero. As fêmeas dos Dragões Noruegueses de Crista (Ridgeback Dragons) são bastante temperamentais.

                O aglomerado também é chamado de o “Aglomerado do Grande Pássaro” e ainda de “O Aglomerado do verme dourado de Copeland”.  De qualquer forma, um dragão na constelação do Unicórnio é bem apropriado.

                Já que o nome do Aglomerado virou a casa da mãe joana eu vou dar meu palpite também. Seu formato me lembra o de um Biguá voando.  Biguá é um pássaro preto aquático e muito comum aqui no Rio de janeiro. Abundantes na Lagoa Rodrigo de Freitas. Seus bandos formam lindas esquadrilhas com seu formato de cunha e com o líder se sucedendo a frente. 





                Já que o Dragão que deu origem a série mudou não só de nome como de gênero acho coerente a confusão.

                Agora de volta a cartório. Ngc 2301 é extremamente brilhante (6ª Mag.) e bem destacado aglomerado. Quando observado com um binoculo 10X50 ele forma uma evidente linha de estrelas centradas em uma dupla. Com o uso de um telescópio e mais aumento se percebe que este repousa no plano galáctico e o campo é bem contaminado.  Mas aglomerado se destaca das estrelas de campo.





                Sendo Monoceros um campo sem estrelas muito brilhantes localizar o Dragão pode ser um pouco difícil. Mas Triangulando com Betelgeuse, Prócion e 22 Monocerotis e fazendo seu dever de casa você chegará lá. Sendo um do “400 de Herschel” O´Meara apresenta um caminho bem diferente em seu “Herschel Observing Guide”. Eu não vou apresentar o caminho aqui pois ele só vai funcionar se você possuir uma cópia do mesmo.



                O Burnham´s Celestial Handbook não declara seu amor ao aglomerado e o apresenta apenas entre os DSO´s presentes em Monoceros na entrada genérica no começa de cada apresentação. Neste estará a descrição do NGC (New General Catalog de 1888): “Mag. 6, diam 15'. class D; L, Ri, about 60 stars mags 8.” As abreviações do Catálogo de Breyer também são obrigação.  Uma dica: L é para Large. Ri é para Rich...

                Devem ter percebido que aqui no Nuncius Australis temos evitado traduzir toda e qualquer coisa. Se você pretende se dedicar a astronomia a sério é fundamental que se aprofunde na língua de Shakespeare. 

                Ngc 2301 foi descoberto, evidentemente, por William Herschel (é um dos 400 de Herschel...) na noite de 27 de dezembro de 1786. Eu o observei 233 anos e 355 dias depois.  Sem levar em conta os anos bissextos...  A Lua quase nova em ambos os casos.

                Herschel nos diz: “Um aglomerado muito denso e lindo. Tênue e com Estrelas bem brilhantes (?) 20´ de diâmetro.” Atualmente ele diminuiu. Possui 15´de diâmetro. Metade do tamanho da lua.

                Vamos há alguns dados; o aglomerado tem 110 milhões de anos o aglomerado já foi submetido a um levantamento fotométrico que abrangeu mais de 800 estrelas. Apenas 80 se revelaram membros bonne fide do aglomerado. Localiza-se a 2500 anos luz da terra e se espalha por 11 anos luz de universo.

                Uma dupla marca sua extensão norte. Uma delas possui ,claramente, um tom “mais quente”. Smyth, Lunginbuhl e Skiff falam a respeito. E enquanto fala em "palha clara" (pale straw) os outros falam em avermelhado. Não observei o aglomerado com aumento suficiente para tanta poesia. Nas fotos tendo a me inclinar em direção a Smyth . Ou , ainda, cravar coluna do meio...

                Lealand Copeland fala em um "grupo curvilíneo de estrelas com uma cunha voadora de estrelas". Como daí se chegou ao “Aglomerado do Verme Dourado de Copeland” é um dos mistérios da astronomia amadora mais bem guardados.

                Um passeio “zoo-mitológico” moderno pelos céus. O verão é a época de visitá-lo.

sábado, 16 de janeiro de 2021

Orion : O Caçador , O Mensageiro das Nuvens e outras histórias.


 

               Orion é uma das primeiras constelações que você vai aprender a reconhecer. Lar das Três Marias e com duas das 10 estrelas mais brilhantes dos céus em seus pelotões é tarefa fácil e obrigatória. Para navegar pelos céus do verão no hemisfério sul ele é a maior referência. Ainda por cima, localizado no equador celeste, é visível de todas as partes habitadas do mundo (de +85º até -75º).

                Não bastasse isso Phil Harrington, na sua coluna Binocular Astronomy, em célebre artigo nos conta que a constelação é uma aula em evolução estelar. Contém desde estrelas ainda em formação até candidatas a supernovas já para lá da sequência principal (que já queimaram todo o seu hidrogênio).

https://nova.astrometry.net/annotated_full/4862662 


                É ainda um longo curso de filosofia e história sendo um dos grupamentos estelares mais antigos conhecidos sendo cantado em prosa e verso por todas as culturas.

                Desta forma esse post será um daqueles com muitas palavras ( seu titulo já entrega isso) e se você não é afeito a leitura é melhor parar logo por aqui. Orion não é para preguiçosos, ignorantes e sendo uma constelação possui luz própria e tem horror a obscurantistas e seus asseclas... 

                Como já falei a constelação é identificada por quase todas as culturas. Então tentarei aqui organizar de uma forma quase cronológica a história deste que chegou até nós como Orion, o caçador.

                Devido a nossa herança é quase impossível não começar pelos gregos, apesar de civilizações anteriores terem registrado a região e criado suas lendas para essas bandas do universo.

                Embora seja uma constelação mais evidente, bonita e diversa a história de Orion é menos conhecida que a de Hércules. Burnham, em seu “Celestial Handbook” (que de Handbook nada tem já que são três volumes somando mais de 2000 páginas ...), nos diz: “... em contraste com Hércules, o qual possui uma personalidade bem definida e é creditado com uma detalhada série de explorações, Orion parece uma figura vaga e sombria.”

                Homero, na Odisseia, nos diz apenas que era um homem muito alto e o mais belo dos homens. A maioria dos relatos nos diz que este era filho de Poseidon com Gaia. Mas há controvérsias. Sua mãe poderia ter sido Euryale, filha do rei Minos. Poderia ainda ser filho ou neto ou algo assim de Apolo. Sabe-se lá com quem...

As perseguidas Plêiades. 


                Em um mito Orion cai de amores pelas Plêiades (as sete irmãs). Mas o amor de Orion toma mais forma de assédio que de namorico e Zeus coloca as irmãs no céu para sua proteção. Atualmente existe um Touro entre Orion e as donzelas.  

                Uma outra versão da saga (serão muitas) nos diz que esta se apaixonou perdidamente por Merope, a linda filha do Rei Oenopion, a qual não retornou suas intenções.  Aqui as coisas ficam ainda mais confusas pois Mérope é também o nome de uma das Plêiades, mas estas são filhas de Atlas...  De qualquer forma nosso anti-herói não reagiu bem ao ter seu amor renegado e em certa noite, embriagado, tentou violentar a moça. Seu pai, enraivecido, arrancou os olhos de Orion e o baniu da Ilha de Chios. Hephaestus teve pena de Orion cego e vagando perdido e ofereceu um de seus assistentes para guiar o caçador e atuar como seus olhos. Por fim este encontrou um oraculo que disse que se este peregrinasse rumo a leste e ao nascer do sol teria sua visão restaurada. Ele o fez.  E assim, milagrosamente, ele recuperou sua visão.

                A constelação de Orion possui suas origens traçadas até a mitologia suméria e se relaciona com o Mito de Gilgamesh. Na verdade, sua figura é associada a quase todos os heróis nacionais, guerreiros e semideuses conhecidos.





                O nome Orion é obscuro (Burnham) embora alguns classicistas sugerem uma ligação com o grego Aorion que significa simplesmente “caçador”.

                Robert Brown Jr. Acredita ter achado sua origem no acadiano Uru-ANA (A Luz dos céus). Embora Uruana, em escritos primevos babilônicos, o termo se refira ao deus sol.  Entre os sumérios conta uma lenda que Gilgamesh lutou contra um touro celestial. Eles nomeavam a constelação de Touro com GUD-NA- ANA. Ou o Touro do Céu.



                A saga de Orion segue por várias culturas e entre os Tupis a região faz arte da constelação do Homem Velho.  Mesmo no século XX continuou-se a criar mitologia ao redor da figura mais chamativa do céu do nosso verão. Na Terra média de Tolkien a constelação é conhecida como Menelvagor (O espadachim dos céus).


                A História da morte de Orion tem também várias versões. E contraditórias entre si.

                Em uma das lendas Orion teria se gabado para Artêmis (que posteriormente os romanos batizaram de Diana) e sua mãe Leto que seria capaz de matar qualquer fera sobre a Terra. A mãe desta, a Deusa Terra (que até onde sei é Gaia é possível mãe de Orion...), teria escutado isso e não gostou. E assim mandou um escorpião picar Orion e o matou. Em outra versão o caçador tentou violentar Artêmis e foi esta que mandou o escorpião atrás dele.  De qualquer forma todas estas versões têm um mesmo fim. Orion é colocado de um lado do céu e o Escorpião do outro. Desta forma quando um nasce o outro se põe e eles nunca se encontram no firmamento. Orion domina as noites de verão e Escorpião é o Senhor do Inverno abaixo do Equador.

                Outra versão é completamente oposta a essa e o escorpião não participa.  Artêmis, deusa da caça, se apaixona pelo caçador. E Apolo, seu irmão, (e que segundo outras fontes o Pai de Orion), a fim de impedir que esta quebre seu voto de castidade a engana e a faz matar Orion. Artêmis era uma grande arqueira e Apolo a desafia a acertar um minúsculo alvo a milhas de distância. A alvo era Orion. Devastada por matar seu amado ela o coloca no céu.  Esta versão daria uma bela novela. Onde um pai, a fim de evitar um incesto, leva a filha a cometer fratricídio. Mas isto é uma interpretação minha e sem nenhum valor histórico, mitológico ou seriedade...

Cinturão de Orion . As Três Marias e cia.ltda.


                Orion ainda é lar de um dos mais famosos asterismos dos céus. Na Australia as estrelas que formam o cinturão de Orion e sua espada é conhecida com “A Panela” ou a “Frigideira”. O mesmo cinturão é conhecido na Espanha e na américa latina como “As Três Marias”. Na África do Sul o mesmo conjunto é chamado de “Drie Konings” (Os Três Reis) ou ainda “Drie Susters” (as Três Irmãs).

                Na Babilônia a constelação era também chamada de MUL.SIPA.ZI.AN.NA, O Verdadeiro Pastor.

                No Egito a figura é associada a Osiris, o deus da morte, do pós vida e do renascimento. Já se falou muita besteira sobre o alinhamento das Grandes pirâmides de Gizé com o cinturão de Orion. Há controvérsia. Mas é aceito, com ressalvas, que a entrada de ar para câmara do faráo da grande pirâmide possui um alinhamento intencional com Alnitak, Zeta Orionis, a estrela mais a leste do cinturão.

                Uma outra antiga lenda remonta a cerca e 2000 anos antes de cristo. Os Hititas, um povo de Idade do bronze que habitou a Anatólia (localizada atualmente na Turquia), associavam a constelação com Aqhat, um mítico caçador. A Deusa da Guerra Anant, caiu de amores (já ouvimos isso por aqui...) por ele. Mas depois que este se recusou a emprestar seu arco para a mesma ela tentou roubar-lhe. Entretanto o homem enviado para fazer o serviço acabou fazendo uma lambança e acabou matando Aqhat e deixando o arco cair no mar. E por isso a constelação fica abaixo do horizonte por 2 meses. Nos tempos da pós verdade é possível imaginar que os cimérios viam na constelação de Orion a figura de Conan, O bárbaro. Afinal, A Anatólia foi invadida pelo cimérios por volta de 695...  E a criação de Robert E. Edward era nada mais nada menos que o mais famoso guerreiro cimeriano da Época Hiboreana. Um Orion clássico.

                Mas Orion é incansável e nos deixa um legado também literário.  De acordo com Thomas Hyde, um nome extremamente popular entre os árabes, no século XVII, para Orion era El Babadur “O Homem Forte” (é uma tradução livre...). Mas tradicional ainda era Al Jabbar, “O Gigante”. Alguém pode imaginar por que Ferdinand Lewis Alcindo jr. Se tornou Karim Abdul -Jabbar?

                De volta a literatura ... ( e  ao Handbook de Burnham) Al Jabbar deriva do mais antigo sírio Gabbara e do hebraico Gibbor. Estes nomes, por sua vez, são a fonte de outro nome que é imortalizado por Henry W. Longfellow em um poema, que indo na contramão do guerreiro é uma peça pacifista de 1866. The Occultation Of Orion:

"Begirt with many a blazing stars'­

Stood the great giant Algebar­

Orion­ hunter of the beast!

His sword hung gleaming by his side­

And on his arm­ the lion's hide

Scattered across the midnight air

The golden radiance of its hair.,"

                Burnham ainda destaca a presença de Orion na abertura do épico Locksley Hall aonde Tennynson faz a mais bela e famosa descrição da Plêiades na Língua Inglesa:

"Many a night from yonder ivied casement,

           ere I went to rest  

Did I 'look on great Orion, sloping slowly

               to the west.

Many a night I Saw the Pleiads­

               Rising thro' the mellow shade­

Glitter like a swarm of fireflies

      tangled in a silver braid. "



                Orion é ainda muito associado ao mau tempo. Constelação invernal no hemisfério norte. Desde mitos babilônicos e lendas Hindus. Polybius no sec. II ac atribui a destruição da esquadra romana durante a 1ª Guerra Punica ao fato de esta ter se lançado ao mar com Orion nascendo logo a início da noite. Virgílio, Plinio e Horácio se referem ao mesmo como “O Portador de nuvens”,” O Intempestivo” e “Aquele que traz perigo aos mares”.  Milton, séculos depois, nos fala em seu “Paraiso Perdido”:

“...when with fierce winds Orion arm' d

Hath vexed the Red-sea coast, whose waves

o ' erthrew Busiris and his Memphian chivalry”

(Quando Órion lhe fustiga iroso as margens,

Capitaneando os ventos iracundos

(No Rubro-Mar que em si tragou inteira

De Busíris a audaz cavalaria... Na tradução de Antonio José da Lima Leitão)

                Agora chega de lendas, poesias e outras coisas temidas pela corja que nos governa vamos falar de estrelas e das ciências (outra heresia) que abundam em   Orion e ao curso de evolução estelar citado por Harrington há alguns anos na Astronomy Magazine.

                Alpha Orionis possui o nome próprio de Betelgeuse. A Origem do nome é longa. Com quase tudo neste texto... Novamente recorro o Celestial Handbook para iniciar a apresentação. É inevitável. A outra opção seria recorrer ao “Star nomes and their Meaning “do Hinckley. E aí ter que se entender com um inglês que já era antiquado em 1900. E já bastou Milton para quase me enlouquecer ...

“O nome da estrela é geralmente traduzido como a Axila do Caçador. Ou como O Braço daquele que está no meio.”  Aqui pelo Rio, as vésperas do carnaval, O Sovaco do Caçador é um nome que me soa quase poético.

                A estrela também já foi chamada de “A Estrela Marcial”. Evidentemente devido a sua cor avermelhada.

                Sua cor, na verdade, é mais para o alaranjado. Burnham defende que a exótica palavra em hindi, “padparadaschah”, utilizada na Índia para designar uma rara safira laranja seria o nome perfeito para Betelgeuse; seu sentido aproximado seria “A Joia Real da Flor de Lótus”.

                Betelgeuse é uma estrela variável, e desta forma ela é durante a maior parte do tempo a segunda estrela mais brilhante de Orion. Raramente a primeira... É uma super gigante vermelha da classe M 1-2. É uma das maiores estrelas visíveis com vista desarmada e a primeira a ter seu disco fotografado. Estivesse no centro do sistema solar provavelmente engoliria Jupiter.  Sua distância se encontra entre 500 e 600 anos luz da terra. E sua massa é algo entre 10 e 20 massas solares.  Com 10.000 de anos é relativamente jovem, mas... Devido a sua enorme massa já cruzou a sequência principal e é uma candidata a supernova nos próximos 100.000 anos. Uma James Dean estelar. É ainda uma estrela fugitiva (renegadas que de falamos recentemente por aqui) que foi expelida da Associação OB de Orion e viaja a 30 km/s pelo meio estelar.  Com sua culminação ocorrendo (ponto mais alto a 00:00) ocorrendo em 21 de dezembro sempre muito próxima   ao solstício possui muitas lendas.  

 

                Rigel (Beta Orionis) Trata-se da Primeira estrela brilhante do caçador a alçar-se aos céus. Utilizo com frequência para alinhar o Go-to de Mlle. Herschel (Minha cabeça equatorial HEQ 5). É uma dupla interessante para o amador. Com sua primaria super brilhante o maior desafio é perceber sua secundária sem que esta seja ofuscada. Já a separei várias vezes. Ambas têm um brilho branco azulado intenso. Rigel é uma super gigante azul e na verdade um sistema bem mais complexo que as duas estrelas que o amador consegue separar.  Seu nome também tem origem Árabe e era conhecida desde os tempos de Aladim com Rijl Jauzah al Yusra. Simplesmente “A perna esquerda do Gigante”. Orion, assim como Escorpião é uma das poucas constelações que recordam o que pretendem ser... Geralmente é a sétima estrela mais brilhante do céu (sendo, raramente, suplantada por Betelgeuse) e assim como sua comadre já queimou seu hidrogênio e caminha ruma a se tornar ou uma estrela de nêutrons ou um buraco negro. E explodir como supernova. Dependendo de sua massa original. Esta, com meros 8 milhões de anos, segue o caminho de rock star. Se Betelgeuse é James Dean, Rigel pode ser parente do Jimmy Hendrix.  Se localiza a cerca de 860 anos luz de nós.

                Bellatrix é Gama Orion. A estrela Amazona.  O Nome significa o que parece ser. A Estrela Guerreira. Como Gama Orionis parece obvio que é a terceira estrela mais brilhante da constelação.  Com 8.6 vezes a massa solar e 25 milhões de anos esta, provavelmente, dando seus últimos goles de hidrogênio e saindo da sequência principal (mas ainda nela) para começar a fumar hélio. Uma guerreira coma a voz engraçada... É utilizada como a estrela padrão para a classe B2 III. Embora a precisão dos equipamentos venha tornando padrão uma palavra em desuso... Os Inuits (em tempos não tão politicamente corretos eram os esquimós) quando percebem Betelgeuse e Bellatrix altas no horizonte sul após o por do sol e os dias mias longos lá para o início de março sabem que a primavera se aproxima. As chamam de Akuttujuuk, “As duas distantes “se referindo entre a distância entre elas. Especialmente o povo ao norte de Ilha de Baffin e na Península de Mellville.  Nunca a observei de forma dedicada. Mas sua cor me parece de um branco pálido. Fosse uma rock star seria menos acelerada. Algo com Procol Harum. A Whiter Shade of Pale. Sendo uma estrela do tipo B ainda apresentará uma morte menos explosiva que as anteriores. Mas ainda assim bem brilhante. Com 8.6 massa solares é candidata a Estrela de nêutrons. Mas é melhor checar com Chandrasekhar. De qualquer maneira continuamos com a idéia de Orion como campo escola de evolução estela descrita por Harrington. Mais sobre o assunto aqui. E aqui...

                Mintaka ou Delta Orionis. É a estrela mais a oeste do cinturão de Orion e uma da Três Marias. Seu nome significa “O Cinto”. Estando no cinturão de Orion é bem lógico. É um membro gigante da associação OB de Orion (Já falamos dela por aqui) e se encontra a cerca de 1200 anos luz de nós. Cerca de 20.000 x mais brilhante que o sol. Outra candidata a banda de rock. Telescópios modestos vão localizar uma companheira azulada de magnitude 6.5. O sistema possui várias estrelas. Ela é circundada por um aglomerado de pequenas estrelas. O cinturão inteiro é um espetáculo para observadores com qualquer equipamento. Apesar de ser heresia não posso deixar de comentar que Mintaka é considerada por muitos astrólogos como uma mensageira da boa fortuna.

                Alnilam e Epsilon Orionis. É a estrela do meio do cinturão. Um monstro. cercada por um belíssimo aglomerado. Diria que o coração de um dos subgrupos da associação OB Orion de estrelas. Outra supergigante azul. classe B 0. Você vai observá-la no seu ponto mais alto do céu perto de 15 de dezembro. Espetáculo com seu Collinder (Catálogo de Aglomerados abertos) particular ao seu redor.  Jovencita deve estar consumindo hidrogênio em escala de cracudo na Praça da Sé e ainda se encontra na sequência principal. 5. 7 Milhões de anos. Estávamos nos especiando dos chimpanzés. O mais antigo no ramo humano é o Orrorin Tugenensis (Quênia), com 6 milhões de anos. Pelo menos até bem recentemente...



                Alnitak é Zeta Orionis. Um dos endereços mais nobres do universo próximo. Cercada pela nebulosa da Chama e ao lado da Nebulosa Cabeça de Cavalo e outros DSO´s famosos é uma foto qual você já viu... Mesmo esquema das anteriores. Viver 10 anos a mil. E é um sistema triplo onde duas são difíceis de se separar. Escaparam de Herschel. Mas em dias de bom seeing são viáveis com 150 mm. As cores são alvo de algum debate e demandam algum poder de fogo para apresentarem contraste de cor. Allen fala em Amarelo Topázio e Leva roxo. Parece decorador. Já Olcott fala em amarelo e azul. Gosto mais de Hartung que diz “Brilhante par branco.” Distância. tipo e etc. nos dizem que é uma das Três Maria.



 

Eta Orionis-É... Classe B e uma dupla difícil para telescópios amadores...

Theta Orionis. Um dos mais famosos sistemas múltiplos do céu. Alimentam a Grande nebulosa de Orion. Muito Jovens. conhecidas como o Trapézio será uma das primeiras coisas que você, caso se decida a observar os céus, vai ver. Tem que ter um post só seu...

Iota Orionis tem nome próprio. De “Nair el Saiph”. Novamente os árabes mostrando que as trevas impostas pelo cristianismo medieval são do mesmo naipe que o islã radical... “A Mais brilhante da Espada”.  Localizada a cerca de 2300 anos é um sistema múltiplo com nebulosidade presente e um espetáculo. Membro de Ngc 1980 tem aglomerado e nebula próprios. Tipo O 9 promete show de rock...

Kappa Orionis é membro fundamental da figura de Orion no céu. Se Rigel é a perna esquerda Saiph é à direita.  Outro membro da associação OB de Orion.

Lambda Orionis – Meissa. A cabeça do caçador. Um sistema triplo com aglomerado particular. anel de supernova e um espetáculo. Um dos últimos posts do Blog.

Depois disso resta falar de Pi Orionis. Um conjunto de estrela que formam o escudo de Orion. Passeie pela região.  Suspeito de várias estruturas e parece que Alessi inclui algumas em seu catálogo de asterismos e/ou aglomerados abertos frouxos ou quasse dissolutos...

                Há diversas outras estrelas interessantes em Orion. Mas a figura propriamente dita do caçador está acima... Orion é matéria para a vida inteira...

 Espada de Orion.


                E assim, finalmente chegamos aos favoritos do Nuncius Australis. Os objetos de céu profundo (D.S. O´s) que se escondem em Orion. Ou nem se escondem...

http://nova.astrometry.net/annotated_full/4865662 


                A Região da Espada de Orion é o Lar de diversos D.S.O. s.  É o lar d Grande Nebulosa de Orion e minha região do céu favorita para passear com qualquer instrumento ótico. É o coração do subgrupo mais jovem de estrelas na associação OB de Orion e se tem a nítida impressão de que estrelas brotam da sua região mais central marcada pelo Trapézio (Theta Orionis). É mais que uma impressão. As estrelas mais jovens e protoestrelas habitam o miolo de M 42 e conforme você se afasta seguindo em direção ao cinturão as estrelas, ainda que jovens vão envelhecendo gradualmente. Mais informações sobre a região aqui.



                Já ao redor de Alnitak habitam algumas das mais belas criações do universo. várias Nebulosas habitam a região. E de todos os tipos.  De Emissão, de reflexão, escuras etc. Bem como Sigma Orionis um sistema múltiplo que ilumina o miolo da festa.

                Junto a Rigel se encontra a Nebulosa Cabeça de Bruxa. Um desafiante alvo fotográfico e um sonho visual. Esta, sendo Caxias, habita a constelação de Eridanus.



                M 78 é a mais fácil nebulosa de reflexão que se pode observar.



                São dezenas de abertos mais ou menos conhecidos. Muitos dos alvos já foram visitados aqui pelo Nuncius Australis e assim f vamos fechar no compendio com uma lista de DSO que podem ser encontrados em Orion. E alguns links para aqueles que já visitamos.


M 42- A grande nebulosa de Orion. Um épico particular e que merece uma visita a seu post particular. É um uma das nebulosas mais estudadas e conhecidas. Um berçário estelar em pleno funcionamento. Visite o Post. Cantada em prosa e verso. Tenysson “O Poeta da ciência” (não à toa já apresentado por aqui) fala em “Merlin and Vivien”:

".......A single misty star'

Which is the second in a line of stars

That seem a sword beneath a belt of three­

I never gazed upon it but I dreamt

Of some vast charm concluded in that star'

To make fame nothing."

 

".... regions of lucid matter taking form,

Brushes of fire­ hazy gleams,

Clusters and bedS of ­orlds­ and bee-like sw­arms

Of suns and starry streams..."

                               

M 43 – A Nebulosa de Marian. É uma parte da grande nebulosa. Nunca entendi por que Messier dividiu as partes.

M78- A mais fácil nebulosa de reflexão que conheço. Existe um truque para localizá-la. Centralize Mintaka na ocular e espere...

Ngc 1980- A joia perdida de Orion. É o conjunto descrito em Iota Orionis ou Hatysa.

Ngc 1977 – Seguindo em direção ao Cinturão. Conhecida como A Nebulosa do Homem Correndo. O nome é bem dado e é fácil perceber a pareidolia. Bela nebulosa.

Ngc 1981- Um belo aberto que parece brotar de Ngc 1977. Ele é a parte mais alta da espada. Muito interessante e visível com qualquer equipamento ótico.

Collinder 70 A chegarmos ao cinturão (As Três Marias) nos deparamos de cara com m um imenso aglomerado aberto que abraça e inclui as três estrelas principais. Alvo binocular por excelência cobrindo mais de 3,5º de céu.

                Ngc2024 – Já ao lado de Alnitak é um alvo visual difícil. Porém fácil de fotografar. Vai ser parte de uma das mais famosas paisagens celestiais.

                IC 434- É a nebulosa de emissão que permite se esconde atrás de B 33, A nebulosa cabeça de Cavalo. Sem ela essa icônica imagem não existiria.

                IC2023 – Mais um detalhe no quadro maior que estou descrevendo ao redor de Alnitak

                Ngc2169- O aglomerado 37. Um divertido e pequeno. Chamado de as Pequenas Plêiades. É provavelmente uma das piores fotos que já tirei de um DSO.

 

                O Loop de Barnard- Uma imensa nuvem molecular que envolve boa parte da constelação. Nas fotos você o percebe.

                As fotos que ilustram este artigo foram feitas ao longo de vários anos com os mais diversos equipamentos. A grande maioria destas em Búzios. Outras em Friburgo. Há ainda muita chance de exploração e observação. Conhecer Orion a fundo é um trabalho hercúleo.  E certamente mais de doze.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Ngc 1647 : O Aglomerado da Lua Pirata

    


                 Já devem ter percebido, desde os tempos das histórias de José Eustáquio (já mais de 10 anos), que aqui no Nuncius Australis os céus se confundem muito com o mar. A figura do pescador conhecedor dos céus é um lugar comum.  Isso remonta há séculos de histórias. Muitas das constelações austrais foram nomeadas por eles (na verdade somente dois navegadores holandeses nomearam 12 constelações. Keyser e Houtman). Posteriormente as Cartas dos Pilotos portugueses foram os documentos mais precisos no auxílio a navegação durante séculos. Em seu levantamento hidrográfico esses também realizaram o mapeamento celeste com extrema precisão.  Ainda que mais no reino da terra que do céu as cartas piloto ainda são documento essenciais aos navegadores, mesmo em tempo tão tecnológicos.

 https://www.marinha.mil.br/chm/sites/www.marinha.mil.br.chm/files/u1974/cp.pdf

                Já fiz paralelo por aqui das semelhanças entre observadores e piratas e dos dois grandes grupos em que se dividem.  Há piratas que chegam em um navio, matam a tripulação, tomam tudo de valor e partem em poucos minutos em busca de outra presa. Muitos observadores são assim ( Meu estilo). Já outros, depois da abordagem, dominam a tripulação, tomam chá (ou rum) com o capitão assaltado e calmamente fazem um levantamento de todos os bens a bordo ( Black Sam Bellamy). São como observadores pacientes que tentam tirar o máximo de detalhes de obscuras galáxias bem tênues.

                E nessa batida que apresento hoje um interessantíssimo aglomerado aberto em Touro.

Seu apelido deixa isso bem claro: O Aglomerado da Lua Pirata (Pirate Moon Cluster).  

                Ngc 1647 é um delicado aglomerado em Touro que faz bonito mesmo estando ao lado de gigantes como as Plêiades e as Híades. E como bom pirata se abriga e um porto um pouco mais escondido. Ainda que não muito. Fosse nas Ilhas Virgens acho que estaria atracada em Tortola. Sem o agito de San Thomas ou da refinada Saint Barth.

                Descoberto por William Herschel em 15 de fevereiro 1784, fará 237 anos na véspera de um carnaval que não vai acontecer, esse descreveu:  Um Aglomerado consideravelmente grande, com estrelas muito dispersas, talvez um ponto projetado da Via Láctea.  

Fosse um navio Pirata seria o Wydah, capitaneado por “Black Sam” Bellamy.  O navio tenho trágico fim ao bater com um banco de areia. De seus 146 tripulantes, só dois sobreviveram para contar a história.

The Wydah

Black Sam Bellamy; Um Pirata gente boa . dos que tomava cha com as vitimas. Considerado o Robin Hood da Pirataria


                Fui apresentado a esse grande e belo aglomerado por O´Meara em seu “Hidden Treasures”.  Estou colecionando os “400 de Herschel” (os 400 D.S. O’s. mais interessantes dos mais de 2000 descobertos pela fera) e assim os livros de O´Meara tem ajudado bastante. Em especial o Herschel 400 Observing Guide.



                Ngc 1647 é o primeiro DSO apresentado no Observing Guide.  O aglomerado reside 3,5º a nordeste de Aldebarã (Alpha Tauri). Pela buscadora não chega a se resolver, mas se apresenta como um esfuminho fantasmagórico maior que a lua cheia. Isso empresta o nome ao aglomerado. Não é difícil de achar.

                Em sua apresentação dele no “Hidden Treasures” ele nos conta que foi apresentado ao aglomerado por sua esposa.  Creio que um livro que esta lia também ajudou no apelido do agrupamento. Ele abre o texto com a citação:

Cast adrift on tempestuous seas

with his black hearted scoundrel,

Katelin swore she’d have her revenge . . .

only to be undone by the searing rapture

she found in the embrace of a loving rogue

beneath a glowing PirateMoon.

PirateMoon, KathleenDrymon

 

7 Exposições de 45 segundos - Canon 300 mm f,5.6. Sem maiores tratamentos. DSS e conversão para jpeg no Photo shop. HEQ 5

                Como o aglomerado não é projetado contra nenhum rico campo estelar e é composto de estrela bem brilhantes ele se destaca super bem com auxílio telescópico. Com 60X de aumento se chega a um bom tamnho e a ocular fica cheia.

                Talvez devido a proximidade com dois dos mais famosos aglomerados abertos dos céus Ngc 1647 é pouco estudado. Possui 190 milhões de anos e é bem mais jovem que as Hides. Definitivamente não são relacionados. A distância também demonstra isso claramente O Lua Pirata está bem amis distante.  1300 anos luz. 11 vezes ais distantes que as Híades. Embora não pareça ele é muito maior que sua vizinhas. Ele cobre 20 anos luz de universo. Sua idade e tamanho o tornam muito semelhante ao também mais famoso M7, o aglomerado de Ptolomeu, em Escorpião.

                O Aglomerado da Lua Pirata é um belo saque para se realizar em Touras durante o verão.

               

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Mu Columbae: A Estrela Fugitiva

              


                As vezes de onde menos se espera é de onde não sai nada mesmo. Essa máxima de Stanislaw Ponte Preta (vulgo Sérgio Porto) é quase uma profecia. Mas como bom profeta ele, as vezes, erra a data. E assim cheguei até Mu Columbae, a estrela fugitiva.

                Em noite sem pretensão devido ao grande número de nuvens cirrus fotografei descompromissada mente regiões do céu que se encontravam limpas. Desta forma fui parar em algum lugar entre o Cão Maior, Columba, Orion e Lepus.

                Se a tríplice fronteira já é o paraíso para foragidos imagine uma fronteira quadrupla.

                Depois de fotografar o Cão maior com M 41 quase centrado no quadro resolvi explorar as bordas da região. E utilizando o Deep Sky Stacker decidi realizar um duplo drizzle no canto direito superior da foto. Meio desorientado achei que estariam lá algumas estrelas de Lepus. Errei. Columba dominava a região. Com auxílio do Astrometry identifiquei as estrelas e para minha surpresa estava lá um rotulo que me atiçou a curiosidade. “The Runaway Star”.   

                Nunca havia escutado o termo e desconhecia o elemento. Em rápida busca descobri que o mesmo se tratava de Mu Columbae. Em tempos politicamente corretos se trata de uma “elementa”. Nos tempos atuais talvez deva-se utilizar “Elemente” e não incorrer em nenhuma forma de preconceito binário ou não -binário. Gênero tornou-se algo bem complexo na gramática atual.  

                Mas como falam os americanos “Let´s cut the crap” e falemos de Mu Columbae, a estrela foragida.

                Esta é uma das poucas estrelas do tipo O visíveis com vista desarmada.

                E assim sendo um   alvo para utilizarmos como modelo de estrelas fugitivas.

                O que são estrelas fugitivas?

                Estas são estrelas pesadas (tipo O e B) que viajam pelo espaço interestelar em velocidades excepcionalmente altas. E embora possuam uma estrela relacionada esses pares não caminham juntos pelo espaço. Na verdade, se distanciam em direções distintas de um ponto em comum com velocidades relativas ainda mais excepcionais que ao meio interestelar. No caso de Mu Columbae sua parceira é AE Aurigae. Mais legal ainda é que ambas saíram da região do trapézio na Grande nebulosa de Orion.  Se você possui um telescópio e prática astronomia há mais de 1 mês deve conhecer bem a região.  

                Quando a direção do movimento de uma estrela no espaço é conhecida podemos reconstruir seu caminho pelo mesmo. E, ainda mais interessante, descobrir o local de onde originariamente esta estrela saiu. O endereço de sua maternidade.

                Acontece que o caminho de muitas estrelas OB fugitivas pode ser traçado de volta as chamadas associações OB, que são grupos de 10 a 100 estrelas tipo OB que se localizam nos braços da galáxia.

                Cerca de 50 associações do tipo OB são conhecidas na Via Láctea. Na verdade, a maioria das estrelas OB conhecidas fazem parte dessas associações. então não é surpreendente é que as estrelas do tipo OB fugitivas tenham se originado nessas associações.

                Mu Columbae se formou na associação OB de Orion. Mas o que a torna tão legal é que ela se formou na área mais badalada da vizinhança. Ela fugiu (ou foi expulsa) de uma das vizinhanças mais chiques da galáxia. A associação OB de Orion se divide em 4 subgrupos:

·        * Orion OB1 a - Este reside na região a noroeste do cinturão de Orion e possui dúzias estrelas maciças com aproximadamente 12 milhões de anos. Dentro deste há ainda outro subgrupo. 25 Orionis subgrupo. Localizadas próximas a Bellatrix.

·         * Orion OB1 b- Se encontram em torno do cinturão de Orion (As três Marias). Suas estrelas têm cerca de 8 milhões de anos.

·        *  Orion OB1 c- Se formam na espada de Orion junto 42 Orionis, Theta Orionis e Iota Orionis.  Possuem entre 3 e 6 milhões de anos.

·        *  Orion OB1 d- São as estrelas que se formam na Nebulosa de Orion M 42 (e M 43). São as mais jovens.

Como já disse, traçando as rotas reversas de Mu Columbae e de AE Aurigae eles se interceptam bem no coração da associação Orion OB 1 d.

Espada de Orion. Podemos ver OB 1 c e OB 1 d


 

E assim chegamos ao processo que cria estrelas fugitivas.  Há duas fórmulas. Uma é através de explosões de supernovas. Afinal estrelas OB vivem rápido e morrem jovens. E explodem como super novas. Desta forma este é o cenário mais comum para a criação destas estrelas fora de rumo e lugar e proposto por Blaauw em 1961.

        Outra forma é em regiões OB mais densas (como é o Trapézio em M 42) choques e encontros e empurrões gravitacionais levam a uma festa Punk e alguns dos presente são ejetados a grande velocidade do local. Geralmente aos pares e um em cada direção. Quando falamos em processo astrofísicos as coisas são sempre um pouco mais complexas do que parecem. mas grosso modo a situação ilustra bem o que deve ter levado Mu Columbae a se tornar uma estrela fugitiva.

Mu Columbae se encontra a 1300 anos luz de nós e sua velocidade relativa a AE Aurigae é de 200 km /s.  é conhecida antiga dos astrônomos chineses e é chamada de Pinyin. Significa “O Excremento” ou “As Secreções”. Parece que os antigos já sabiam que ela tinha sido expelida com força...

Outra peculiaridade e estrelas fugitiva é que elas levam consigo ondas de choque. No caso de AE Aurigae isso é bem evidente com ela inflamando a “The Flamming Star nebula”. Embora ela não tenha nascido na nebulosa sua imensa velocidade e onda de choque acabou por iluminar e animar as coisas nesta região de Auriga.

Mas esta já é outra história e vai ter que esperar que eu visite a região.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Meissa , Collinder 69, Um Livro Antigo, Mansões Lunares e outras Heresias

    


               Meissa (Lambda Orionis) é uma das estrelas mais apagadas (3,5 mag.) a possuir um nome próprio. Além disso é uma estrela dupla facilmente separável com pequenos instrumentos. Uma Lente de 300 mm realizou a tarefa. Sua componente principal é uma estrela do tipo O (O8) que “queima” a impressionantes 35.000 k. Sua secundaria embora mais apagada é também um monstro. Uma estrela do tipo B (B0) que queima a “modestos” 27.000 k.

                Não bastasse isso ela é ainda a principal luminária do aglomerado aberto de Lambda Orionis ou Collinder 69. Um jovem aglomerado aberto com aproximadamente 5 milhões de anos. Embora não registrado na foto o conjunto é ainda englobado pelo chamado Anel de Lambda Orionis. Um remanescente de uma supernova que ocorreu há pouco mais de 1 milhão de anos.



                Em noites nubladas eu gosto muito de fotografar estrelas. Nada de DSO´s. Afinal já sei que o tempo necessário de exposição será maior que os buracos entres as nuvens. Então Meissa se tornou um alvo Irresistível. Registrar a Cabeça do caçador e, de quebra, capturar um aberto pouco comentado. Um daqueles para o “Projeto Tudo que Existe”. Mais até que isso já que o Projeto pretende “apenas” registrar o New General Catalog. Ou a parte acessível deste a habitantes próximos a trópico de Capricórnio.

                Na pesquisa sobre Meissa fui obrigado a encarar um dos livros que mais respeito e um daqueles que fazem os livros do Mourão parecerem um filme de ação. The Stars names and Their Meanings , do Hinckley. Escrito em 1899 o seu inglês é cheio de arabescos. E sendo um livro sério suas pesquisas começam antes da Babilônia e quando ele chega no Phenomena de Aratus (uns 1000 anos antes de cristo) a pesquisa já vai alongada. Não bastasse isso ele, um purista, preserva a grafia original do grego em muitas de suas páginas. Bem com acredita que todos os leitores dominem o Latim.  Mas adoro que ele inicia o primeiro capítulo com uma citação de “Os Lusíadas” que tece a respeito do Zodíaco solar. Já falei nisto por aqui em algum lugar.

                Desta forma me vejo obrigado a pular o que o nobre colega fala sobre a constelação de Orion. É lindo, mas creio que a grande maioria iria desistir antes de chegarmos até a Meissa e seu Aglomerado particular.

                Pulando direto para Meissa ele nos conta primeiro que seus componentes apresentam as cores de Branco Pálido e Violeta . conta também que Firuzabadi ( em algum local há muito tempo atrás no tempo-espaço) identificou esta estrela como Alhena. Mas que essa é Gama Geminorum ( em Gêmeos como podemos notar...). Pior que isso a identifica como o antigo nome de Alhena que antes de ser traduzido do Arabe era Al Maisãn ( foi a primeira vez que vi o ~ ser utilizado em um livro em inglês na vida. Deve ter dado muito trabalho para uma gráfica em 1899) .Hinckel continua sua saga astronômico linguística e ficamos sabendo que devido a esse erro chegamos a Meissa. E que este foi o nome que pegou.





                Segundo nosso precioso autor o nome original da estrela vem do Árabe Al Hak´há, “O Ponto Branco” ou a “Região Branca” (The White Spot). Isso devido a luz adicional de Phi Orionis 1 e 2. A natureza nebulosa do conjunto foi registrada por diversos autores antigos. Cortando em miúdos um enorme rocambole podemos dizer que de seu nome Original surge ainda outro nome, Heka, e que ambos se referem a mansão Lunar árabe que é constituída pelo Conjunto de Lambda , Phi 1 e Phi 2 Orionis (Al Hak´há- A Região Branca.)  Nos primórdios da astrologia a região era considerada um mau presságio para relações humanas. Não sei a razão. Mas parece que a reunião de três estrelas muito próximas e de caráter nebuloso parece ser um mau presságio em várias antigas civilizações.

                Como estamos em uma maratona linguístico astronômica não poderia deixar de contar que os chineses chamam o mesmo conjunto de estrelas de “O Bico da tartaruga”.

                O asterismo (e não o aglomerado) é cantado ainda na região do Eufrates como mansão Lunar, Mas-tab-ba-tur-tur, os Pequenos Gêmeos.  E em conjunto com Betelgeuse (Alpha Orionis) e Bellatrix era chamado de Kakkab Sar, a constelação do Rei para os babilônios.

                Mansões lunares são associadas a zodíacos Lunares. Embora relacionadas com astrologia não são só isso. Então cuidado com preconceitos. Na verdade, o segundo capítulo do livro do Hinckley aborda os Zodíacos Lunares. O livro é de domínio publico e você obterá uma cópia em PDF facilmente.  Procure por “Star Names and their Meanings”.  Falei a respeito disso aqui.

                Já em tempos mais modernos (entre os gregos) a região acabou virando a cabeça de Orion.

                Collinder 69 é o nome de guerra do Aglomerado de lambda Centauro. è um aglomerado aberto com características bem interessantes. assim como Meissa se encontra a 1100 anos luz da terra. Com menos de 5 milhões de anos possui ainda diversas estrelas assentando na sequencia principal (T- Tauri)e muitas estrelas de baixa massa registradas. Bem com anãs marrons. Uma notável é LOri  167. Esta um largo sistema binário que consiste de uma anã marrom e um objeto com massa potencialmente planetária. 

                Agora em tempos já atuais vale ressaltar que a região é maravilhosa para ser explorada por qualquer tipo de aparelho ótico e separar os dois componentes de Meissa é algo relativamente fácil. Difícil dizer qual o menor poder de fogo que realizará a tarefa...  E Collinder 69 é um charmoso aglomerado. E por fim, creio, que registrar a anel de Lambda Orionis deva ser um exercício astro fotográfico para gente grande. A foto apresentada é um empilhamento de 6 exposições de 45 segundos sem maiores tratamentos. 

    Para encerrar este longo caminho astro etimológico eu pensei que Meissa e Melissa ( um nome bastante comum) poderiam ter alguma relação. Novamente aprendi que nem tudo é o que parece ser. Meissa , como vimos , vem do arabe Al Maisan. O significado literal é " A Iluminada". Logo conclui , erroneamente , que o nome Melissa seria a forma atual de chamar sua filha de " A Iluminada". Para delírio dos fãs dos filmes de terror. Mas não. Melissa nada tem a ver com Meissa. Melissa tem origem no grego Melissa . Originário de Melissa( incrível...). Chegou até nós do latim Melissa ( surpreendente...) e significa literalmente "Abelha".