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quarta-feira, 29 de maio de 2019

M 88 : Uma Espiral Fácil em Virgem


            

                  Ainda colocando em ordem as Galáxias de Virgem cheguei a M 88.  Esta bela espiral marca o ponto mais a noroeste da Corrente de Markarian. Como já sabemos de posts anteriores o Superaglomerado de Virgem tem seus subgrupos entre seus membros. A Corrente de Markarian é um dos mais conhecidos e é uma das áreas mais conhecidas do aglomerado. Sua imagem é icônica e quase qualquer amador a reconhece. M 88 é um pouco mais afastada da região central, mas é um membro bonna fide de corrente e seu último elo.
M 88 e M 91

                Ela forma um belo par com M 91 e é a mais dada da dupla. Sob céus escuros seu formato de agulha é facilmente percebido mesmo com visão direta.
                Embora existam fontes nos dizendo que M 88 habita a meros 47 milhões de anos luz é hoje mais aceito que esta se encontre há 57,2 Milhões. Uma supernova do tipo I a foi observada nessa em 29 de maio de 1999 pelo Observatório Lick. Em 12 de junho atingiu sua máxima magnitude, 13,4. Bem acessível para telescópios amadores. Como sabemos supernovas são eficientes velas padrão e permitiram refinar a distância de M 88.
                M 88 foi descoberta por Charles Messier na prolifica noite de 18 de março de 1781. Nesta noite ele descobriu sete outros membros do aglomerado (M 84, M 85, M 86, M 87, M 89, M90 e a durante muito tempo perdida M 91. De lambuja o aglomerado M 92 em Hercules).
                Ele a descreve da seguinte forma: “Nebulosa entre duas estrelas e pequenas e uma estrela de 6a magnitude que aparecem no mesmo campo telescópico que a nebulosa. Sua luminosidade é das mais tênues e recorda aquela reportada em Virgo, no 58 (M 58)”.
                John Herschel a seguir nos diz que é “uma brilhante, muito grande, extremamente extensa e precedida por uma nebulosa dupla.”.

                Não consigo descobrir do que se trata a tal “Nebulosa Dupla”. No mesmo campo, em fotografias, percebe-se claramente IC 3476 e 3478. Mas estas são entradas do Index Catalogue (IC)e certamente não foram percebidas por Herschel. Este foi realizado já em tempos fotográficos. É possível que seu registro se deva a Dreyer embora não exista documentação especifica a respeito além do IC em si.
                Smyth discorre e filosofa longamente durante a sua apresentação de M 88 e nos deixa claro a quantas andava (ou não andava...) o entendimento do que viria a ser o Grande Aglomerado de Coma Virgem. Esse é o atual nome do superaglomerado galáctico mais próximo de nós e que, em última instancia, nós habitamos uma das franjas.  Eu, particularmente, acho o texto bastante confuso e sem sentido. E por isso mesmo bastante representativo...
 “Uma longa nebulosa elíptica, no lado exterior da asa esquerda de Virgem. Sua cor é um branco pálido e se alinha de Noroeste para sudeste; e com as estrelas que a acompanham formam um belo desfile. A Parte inferior ou norte, em um campo invertido (Smyth observava com um Refrator sem diagonal...)  é mais brilhante que a sul, uma circunstância que, com sua figura de fuso de tear, abre um grande campo para conjecturas. Esta é uma maravilhosa região nebulosa, e a matéria difusa ocupa um espaço extenso, no qual vários dos melhores objetos de Messier e Herschel serão facilmente captados pelo observador atento em extraordinária proximidade... Raciocinando sobre o princípio de Herschel, isso pode reverentemente ser assumido como a parte mais fina ou mais rasa de nosso firmamento; e o vasto laboratório do mecanismo de segregação pelo qual a compressão e o isolamento são amadurecidos, no curso de idades não-compreendidas. O tema, por mais imaginativo que seja, é solene e sublime.”
                Herschel foi o maior observador de todos os tempos e seu legado é enorme. Mas, definitivamente, sua cosmologia não deixou nenhum legado significativo. 
                M 88 é uma das mais amigáveis galáxias espirais em Virgo para o amador com modestos equipamentos. Inclinada 30o da nossa linha d visada é vista quase de perfil e apesar de sua magnitude de 9,5 ela apresenta um brilho de superfície na casa de 12,9. E assim abaixo dos “Tristes Trezes”. 
O Brilho de superfície é um indicador muito mais confiável que a magnitude quando falamos de objetos extensos.  E se divide da seguinte forma. Existem os “ Pacatos Onze” onde você vai ver detalhes mesmo com visão direta, os “Desconfiados Doze” onde você vai precisar de visão lateral para perceber algo mais que apenas a existência do objeto , os “Tenebrosos Treze” onde você vai começar a precisar de técnicas milenares de respiração e finalmente os “ assombrados 14” onde só com auxílio mediúnico você talvez perceba algo... São  um paralelo Astronômico para o que as latitudes geográficas significam para os Navegadores em geral e as velejadores em particular. Na terra temos os “ Roaring Forties” a partir de 40o  de latitude ,os “Furious Fifties” já quase na altura do Estreito de Drake e finalmente os “ Screaming Sixties” que no paralelo 60  marca o limite norte do oceano antártico e é a volta ao mundo mais curta que você pode dar sem encontrar terra . Só para esclarecer o círculo polar fica a mais 6,6 graus ao sul...
De volta a galáxia mais ao norte da Corrente de Markarian ela se apresentará como um pequeno fuso esfumaçado em um campo onde você poderá perceber ou não M 91 com um binóculo de 15X70 mm. Ela é mais oferecida que sua companheira e como foi dito uma das mais amigáveis espirais de Virgem. Com o Newton (meu refletor 150 mm f8) em 120 X chego a desconfiar de alguma estrutura espiral, especialmente na parte sul que é a mais apagada. Creio que possa ser uma ilusão, mas devido ao menor brilho as partes escuras se sobressaem mais e dão esse efeito. Nas fotos isso é bem evidente. A presença de estrelas enriquece o quadro. Em 240 X a imagem já se degrada e creio que apenas em noites muito especiais consiga obter algo.

A melhor forma(a meu ver) para se localizar M 88 é partir de M 84 e M 86 e depois de estudarbem o caminho seguir a corrente até lá. Navegar pelo aglomerado é uma tarefa para observadores já com alguma prática. Céus escuros e noites de boa transparência serão de imensa ajuda.

M 88 possui um diâmetro físico de 115. 000 anos luz e com uma massa de 250 bilhões de sóis. É uma galáxia Seyfert do tipo 2linhas de emissão nos 5´´ centrais de M 88 indicam um imenso objeto central com sinais de acreção.  Tudo indica que em meio a esse núcleo galáctico ativo habita um buraco negro com massa de 107,9 sóis.
M 88 foi uma das 14 “Nebulosas Espirais” descobertas por Lorde Ross em 1850. Foi um grande passo entre as ideias de Herschel e a constante de Hubble e a expansão do universo. M 88 e M 31 foram peças fundamentais nesse processo.
Muitos autores comparam M 88 com uma versão miniatura de M 31, a Galáxia de Andromeda. É uma excelente referência e há alguma semelhança.   

sábado, 11 de maio de 2019

M 91: A Galáxia nem tão Perdida de Messier




Esta primavera está sendo dedicada ao aglomerado galáctico de Coma-Virgem. Na última Aporema (uma comemoração astro-indígena-pagã e uma lenda...) capturei diversas galáxias na região e aos poucos estou organizando e dissecando todo o material. Como não poderia deixar de ser as Galáxias do aglomerado que pertencem ao Catálogo Messier (Um catálogo de nebulosas elaborado no sec. XVIII e onde está o filé mignon do céu profundo para possuidores de pequenos telescópios) são o fio condutor da tarefa. Em uma área de navegação delicada e poucos faróis estas são o porto mais seguro que encontraremos. Mas mesmo entre estas nem tudo é tão simples.  Eu pensei em organizar o material seguindo o caminho natural. Começaria com M 49 (a Messier de menor valor que registrei e a primeira do bando registrada também pelo eu profundo de Messier. Seu outro eu foi Méchain...)  e terminaria a série em M 105 (Já em Leão, depois da casa das centenas e numa entrada póstuma...).
                Mas M 91 acabou me surpreendendo. Primeiramente por ter se revelado muito fotogênica. Talvez a minha favorita da série. Espirais barradas me são caras. E depois por ser considerada um objeto perdido de Messier. Uma entrada controversa e cheia de mistérios. Apesar de um mundo cheio de certezas nada me garante que a galáxia aqui apresentada seja a mesma que Messier viu. Mas tudo indica. É mais que muitas das notícias que recebo atualmente via whats up ou na web. Diversas publicações e autores confirmam e defendem a tese. Nestes tempos de pós verdade é mais que suficiente para o meu post...


             Não bastasse ser um objeto Messier perdido O´Meara nos diz que esta foi primeiro observada por Bode em 1771. Fazendo de uma história confusa um tremendo forrobodó.  Nenhuma outra fonte indica que isto tenha acontecido e estou convencido que se trate de um erro de tipografia. Se tudo mais for verdade o primeiro a observar M 91 foi mesmo Messier na noite de 18 de março de 1781. Nesta noite ele nos diz em seu caderno de anotações (o avô do Blog...): “Nebulosa sem estrelas em Virgo. Acima da anterior, número 90. Sua luz é ainda mais tênue que desta.”
                Nesta noite Messier descobriu nada menos que 7 outras galáxias no aglomerado de Virgem- M 84, M 85, M 86, M 87, M 88, M 89 e M 90- e um globular M 68 em Hércules. M 91 foi a última descoberta da noite. Nesse momento, já cansado, ele comete um lapso que vai dar pano para manga por 188 anos.  É importante ressaltar que antes disso (ou um muito depois. A ordem dos fatores se perdeu na bruma do tempo e não altera o produto...) ele acrescentou a seguinte nota na entrada 91 de seu catálogo: “Nota: A constelação de Virgo e sobre toda sua asa norte, é uma das constelações que possui mais nebulosas. Esse catálogo inclui 13 das que foram lá detectadas, sendo estas as entradas 49, 58, 59, 60, 61, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91. Todas essas nebulosas se apresentam sem estrelas. Só podem ser vistas em excelentes condições de céu e próximas a passagem meridiana. A maioria destas me foi apontada por M. Méchain”.
                Ele aponta que a posição da nebulosa de número 91 é 12h 26m 28s, 14o 57´ 06´´.



               Nada visível em 1781 ou atualmente habita na posição. Owen Gingerich, provavelmente na série de artigos para Sky and Telescope que tornou o catálogo Messier tão famoso (agosto e setembro de 1953), destaca esse fato e “acusa” o veterano caçador de cometas de ter sido ludibriado por um desses “vagabundos do Sistema Solar”.  Bastante improvável. É bom lembrar que o catálogo Messier tinha como raison d´être indicar nebulosas justamente para que astrônomos não perdessem tempo com estas enquanto deveriam caçar cometas... Ou pelo menos assim reza a lenda.
                                                   
                Geralmente sigo uma cronologia quando pesquiso sobre os Objetos Messier. Primeiramente sempre o catálogo original. Neste a posição realmente nos leva a lugar nenhum. Depois sigo para o primeiro Guia Observacional como nós os conhecemos. Este é o Volume 2 do Cycles of Celestial Objects, também conhecido como The Bedford Catalogue. Aí a coisa se torna mais confusa. Embora M 91 não possua uma entrada só dela na entrada relativa a M 88 Smyth nos fala: “... Esta é uma maravilhosamente nebulosa região, e a matéria difusa ocupa um extenso espaço, na qual diversos dos mais interessantes objetos de Messier e dos Herschel serão logos percebidos pelo observador atento em extraordinária proximidade. O diagrama abaixo apresenta a disposição desse na nebulosa vizinhança ao norte de Messier 88; sendo precedida M 84 e seguida por M 58, 89, 90 e 91...”

Cartes du Ciel.
O diagrama de Smyth. Ele foi espelhado e invertido
para simjular o céu austral. 



     






  

           


             Aí podemos perceber que ele conhecia a galáxia e que provavelmente já a observara. E não só isso como o diagrama que ele nos legou demonstra M 91 em posição correta em relação a seus pares. Abaixo podemos comprara o digrama de Smyth a mesma região no mapa extraído do software Cartes du Ciel. O diagrama de Smyth foi espelhado para parecer que foi feito no Hemisfério sul. Mas a semelhança e precisão é inegável. O Livro é datado de 1844.
                De qualquer maneira isto parece não ter influenciado os guias posteriores. Nem acalmado a dúvida de seus autores...
                Seguindo meu método o próximo alfarrábio a ser consultado é o “Celestial Objects for Common Telescopes” de Webb.  Este não apresenta M 91 nem mesmo como Ngc 4548. Essa é seu registro feito por Herschel e durante muito tempo uma descoberta sua...
                A coisa segue assim e chegamos já a século XX e ao Celestial Handbook de Burnham. Uma parada obrigatória. Assim com Smyth esse fala de M 91 na sua entrada a respeito de M 88. Mas não garante que esta seja uma entrada válida de Messier e coloca mais lenha na fogueira. “A Pouco mais de 1o a ESE ´é a posição de um “misterioso objeto perdido” de Messier, M 91, em 12350n1402. O descobridor, em março de 1781 a descreve como uma nebulosa sem estrelas... ainda mais tênue que M 90. Inda que Shapley e outras tem teorizado que M 91 talvez tenha sido, na verdade, um cometa que se foi me parece mais provável que foi apenas uma observação duplicada de algum objeto da região, provavelmente com a posição registrada de forma errônea. A Galáxia próxima Ngc 4571 foi sugerida como uma provável candidata. O. Gingerich (o do artigo) acha que uma observação duplicada de M 58 seja a explicação mais plausível.  Questões como essa talvez nuca sejam resolvidas de forma plausível.”

                Tudo indica que Gingerich tinha mudado de ideia. Ngc 4571 é por demais apagada para os equipamentos que Messier Possuía. E é certo que Burnham nunca tomou conhecimento da carta escrita por William C. William, de Forth Worth no Texas, que parece ter posto fim a questão. Pelo menos quando chegamos aos alfarrábios finais na minha linha de pesquisa.
                Em se tratando de Messier geralmente encerro a fatura com os “Deep Sky Companions: The Messier Objects” de O´Meara e o “Atlas of the Messier Objects: Highlights of the Deep Sky” de Stoyan. E em ambos eles aceitam que William resolveu o mistério e bateu o último prego no caixão de M 91.
                Em uma carta escrita e publicada na Sky and Telescope de dezembro de 1969 ele realmente parece ter descoberto o caminho das pedras.

Sky and Telescope Dezembro 1969. Essa , por algum motivo, é uma das poucas S&T não disponíveis gratuitamente no Archives....  Me saiu a fortuna de US$ 5,99. A versão para download.  


           Nesta ele fala: “...o astrônomo francês descreve esta como “Nebulosa sem estrelas e mais tênue que M90.  E nos dá a posição como 12 h 26m 28s e +14o 57´ 06´´. Corrigido para 1950 teremos 12h 35m 0s e + 14o 02´.  A seguir continuaremos em coordenadas para 1950 (Em quase 200 anos até galáxias mudam de lugar. N.T.). Minha solução para o quebra cabeça assume que Messier determinou a posição para M 91 medido sua ascensão reta e declinação em relação a galáxia próxima M 89 (já que não há nenhuma estrela adequada na região):
NGC 4548 12h 32m.       +14° 46'
M89           12h 33m. 1    +12° 50'
diferença        -O m.2      +1°56'
                A seguir assumo que ele, por engano, aplicou as diferenças observadas para as coordenadas de M 58, uma galáxia de 9a magnitude que ele registrara 2 anos antes;
M58            12h35m.1   +12° 05'
diferença          -Om.2   +1°56'
"M91"         12h34m.9   +14° 01'
                Com isto o desvio é de meros 0m. 1 e 1´em declinação.  O Skalnate Pleso nos dá uma magnitude visual para Ngc 4548 e M90 de 10.8 e de 10.o respectivamente. Isso confirma a afirmação de Messier que M 91 é a amis tênue das duas. A mesma fonte nos dá o tamanho de Ngc 4548 como 3.7 por 3.2 minutos de arco.
                Já que Ngc 4548 é provavelmente a longo tempo perdida M 91, como membro do Messier Club eu ficarei feliz em ver esta bela galáxia espiral retornar ao catálogo Messier”.
As contas são boas e tudo indica que um amador sério resolveu um belo quebra cabeças que já durava mais de um século.
                M 91 é uma bela espiral barrada e membro bone fide do aglomerado de Coma-Virgem. Longas exposições em setups mais poderosos que o aqui utilizado demostram grande quantidade de poeira em seus braços. M 91 habita o subgrupo do aglomerado associado a M 87. Sua velocidade radial é de 486 km/s. A baixa presença de hidrogênio neutro pode ser causada por encontros com outras galáxias nesta tão densa área. Sua distância foi medida a partir de variáveis cefeídas e é estimada com bastante precisão em 52.000.000 de anos luz.



                M 91 é considerada uma das mais difíceis galáxias Messier para ser observada visualmente. A Observação com o Newton (refletor 150 mm f8) confirma isto e é uma mera assombração com o uso de muita visão periférica e hiperventilação.  Recomendo chegar até M 84 e 86 e com o dever de casa bem feito serpentear pela cadeia de Markarian. Comece localizando M 86 e M 84faça seu dever de casa e chegue até ela. M 88 é um marco importante. Na foto acima é a galáxia no canto esquerdo lá embaixo. A última da linha, mas na verdade ela não faz parte da corrente de Markarian. Essa se encerra em M 88.
M 88 e M 91. O final da jornada. 

                As fotos aqui apresentadas são frutos de diversos processamentos a partir de 35 exposições de 45 segundos com ISO 1600. Câmera Canon T3 e uma lente Pentax 300 mm f 4.5. Foi utilizada uma cabeça equatorial HEQ 5 pro.  Navegar por Virgo é bem mais fácil com auxílio da astrofotografia que visualmente. Recomendo fortemente, que sendo possível, você faça antes uma incursão fotográfica a região e depois parta para o visual. 



segunda-feira, 6 de maio de 2019

Ngc 4216: A Agulha do Tecelão


                



           No último artigo disse que o Aglomerado de Virgem é melhor abordado se atacando em blocos. Ou por subgrupos de galáxias. Algo como aglomerados dentro do aglomerado. Certamente um dos subgrupos mais famosos é a Cadeia de Makarian.  E por isto mesmo deixarei estas bandas para depois. Hoje vou apresentar Ngc 4216. Em primeiro lugar porque área é menos manjada e eu adoro novidades. E em segundo lugar é porque estudos recentes demonstram que este subgrupo provavelmente é um subgrupo mesmo. Com processos e história bem diferentes de outras regiões dentro do aglomerado.


                Ngc 4216 é a bambambãs de sua região e a chefona mesmo do clã.  E rivaliza em brilho e detalhe muitas das galáxias Messier na área. É interessante que Messier e Méchain tenham deixado escapar essa belezinha tão próxima a M 98.  Conhecida como a “Agulha do Tecelão” seu apelido remonta aos clássicos guias escritos por Smyth e Webb ainda no século XIX.  Sua descoberta sobrou para William Herschel na noite de 17 de abril de 1784. Ele registra apenas: “brilhante, bastante alongada, muito brilhante no centro, 9´a 10´ em comprimento.”
Agulha de Tecelão (Weaver´s Shuttle) 

                A seguir vem o inspirador de seu bem dado apelido, Smyth, em seu “Cycle of Celestial Objects” de 1844 que nos diz “... uma longa e pálida nebulosa esbranquiçada... Um Objeto muito curioso em um formado que lembra uma agulha de tecelão”.  Webb em seu “Celestial Objects for Common Telescopes” de 1859 reforça a ideia de Smyth e fala em “um núcleo longo como uma agulha”.  Pouco mais de um século se passou e Burnham em seu “Celestial handbook” não dedica uma entrada exclusiva para 4216. Ele apenas a enumera juntamente com ouros objetos de interesse na apresentação que abre os capítulos referentes a cada uma das constelações.  Mas é o primeiro a destacar a presença de duas outras galáxias imediatamente vizinhas no campo.  E é também o primeiro a destacar sua posição ambígua na classificação de Hubble: “Sa/Sb?  10.9; 7,2´X1.0´; Muito Brilhante (vB), muito grande (vL), muitíssimo alongada (vmE) repentinamente mais brilhante no meio-núcleo ( sbMN); interessante espiral quase de perfil. Duas outras no campo.”  Adoro decifrar a notação descritiva deixada por Dreyer. Me sinto lendo livros antigos de xadrez....   vB, Vl, vmE, sbMN e ++ (xeque mate).
                As duas galáxias citadas são as discretas e pequenas Ngc 4222 e 4206. No mundo real existem muito mais galáxias envolvidas no grupo de Ngc 4216. A dinâmica do grupo tem sido bastante estudada e se revela uma região bastante interessante e especial.

                Ngc 4216 por si só já é uma daquelas espirais que se apresentam carentes em estrelas jovens e parece ter sido estripada de grande parte de seu gás e por isso não apresenta regiões de intenso nascimento estelar em seus braços. Ainda por cima é considerada atualmente uma Galáxia espiral mista. (SABb). Uma espiral com uma barra escondida em meio aos braços mais típicos em um espiral “Grand design”. E estando quase de perfil para nós torna ainda mais difícil se perceber a presença ou não da estrutura.  Mas mesmo em minhas modestas fotografias desconfio da presença de uma barra central. Todas as fotos aqui são resultado do empilhamento de 20 fotos com 45 segundo de exposição ISO 1600 com uma lente Pentax 300 mm f 4.5. Temos desde a panorâmica que engloba toda a região (aí incluída M 98 bem no centro da imagem levada ao astrometry e que serve como guia para localização) até 6 X drizzle.
                Ngc 4216 vem se encontrando no meio da evolução da ciência desde há muito. Foi a primeira “nebulosa espiral” fotografada pelo refletor Crossley (36 polegadas) do Observatório Lick na virada do século. Seu diretor Keller foi um dos defensores de Curtis durante o Grande debate e garantiu ter percebido a rotação de discos galácticos ao longo de curtos períodos observacionais. Não se sabe se por crença ou vontade. O universo foi implacável e as nebulosas espirais se revelaram galáxias como a nossa e o universo e a mentes se expandiram...  
                Ngc 4216 é uma espiral de tamanho semelhante a via láctea.
                Embora estudos mais recente digam quase não haver regiões de starbusrt em Ngc 4216 um estudo realizado em 1999 por O.K. Sil´chenko (Instituto Astronômico Sternberg de Moscou) obteve um espectro em alta resolução da galáxia utilizando o refletor soviético de 6 metros  e descobriram um núcleo rico em metais o qual aparenta ser mais jovem que o bojo galáctico. Geralmente estes são contemporâneos. Uma hipótese é que a suposta barra central junto a núcleo esteja desencadeando nascimentos estelares e mantendo a região próxima ao núcleo “mais jovem”.
                Um recente estudo utilizando os dados do “Next Generartion Virgo Survey” (THE NEXT GENERATION VIRGO CLUSTER SURVEY. IV.  NGC 4216: A BOMBARDED SPIRAL IN THE VIRGO CLUSTER* SANJAYA PAUDEL†, PIERRE-ALAIN DUC , PATRICK CÔTÉ, JEAN-CHARLES CUILLANDRE3, LAURA FERRARESE, ETIENNEFERRIERE, STEPHEN D. J. GWYN , J. CHRISTOPHER MIHOS , BERND VOLLMER, MICHAEL L. BALOGH6, RAY G. CARLBERG, SAMUEL BOISSIER8, ALESSANDRO BOSELLI8, PATRICK R. DURRELL, ERIC EMSELLEM1, LAUREN A. MACARTHUR, SIMONA MEI  , LEO MICHEL-DANSAC  , WIM VAN DRIEL ) e do telescópio Firebird conseguiu obter imagens de galáxias anãs de baixíssimo brilho de superfície que estão em processo de absorção por Ngc 4216 e que vem mostrando em seu filamentos processos antes nunca registrados . Como foi possível registrar estas galáxias anãs em processo de destruição a estrutura filamentar e a  resultante do processo foi possível perceber que um alinhamento de três anãs se revela intrigante e pode ser que estas sejam a segunda geração de galáxias originaria de uma primeira galáxia absorvida. No paper se discute o tempo que isto ocorre e como isto foi possível em um local tão densamente povoado com o aglomerado de Virgem. Levantam a lebre de que o grupo inteiro pode ser um agregado recente ao aglomerado de Virgem. Aos que gostam de evolução galáctica o paper é extremamente interessante e deve ser lido na integra (o Link está acima no título do paper). É uma área de extremo interesse cosmológico, muito estudada e sempre na fronteira do saber.

                Localizada na fronteira de Virgem com Coma Berenice localizar   Ngc 4216 demanda algum dever de casa. Localize 6 Coma e provavelmente Messier 98 e/ou 99. Depois siga rumo a leste. Em céus bem escuros ela se apresentará discretamente mesmo para uma buscadora 50 mm. Mas não é tarefa para olhos sem treino ou cansados... Suas companheiras são muito discretas mesmo no Newton. (Um Refletor 150 mm f8). Não acho que nada menor que isso dará algum tipo de detalhamento. Você vai procurar por um esfuminho discreto.  Entre 6 Coma (e M 98) habita a ainda mais discreta Ngc 4208. Com muita atenção você vai percebê-la. É um indicador que vais no caminho certo.
                Ngc 4216 é uma das mais interessantes e “fáceis” galáxias de Virgem fora do Catálogo Messier.

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Um Plano de Ataque para as Galáxias de Virgem


            
          

            O Aglomerado de Virgem sempre foi uma pedra no meu sapato. Uma região repleta de galáxias e que sempre se recusara a colaborar com minha causa. Diversas vezes investi contra o aglomerado e até mesmo batalhas me foram negadas. Inicialmente poucas vezes me deparei com alguns esfuminhos aqui e ali e geralmente obtive registros fotográficos bem medíocres.
                Com o tempo aprendi que O aglomerado é um local onde as nebulosas ainda existem para o observador amador. A menos que você possua um telescópio muito grande e um céu muito escuro as galáxias do aglomerado serão apenas isso mesmo. Nebulosas. Todos esfuminhos com nenhuma ou pouca forma e sem nenhum detalhe mais evidente. As belas galáxias “face on” serão pouco mais que núcleos com alguma nebulosidade ao redor... Esqueça perceber belos braços espirais. Em geral estas são como globulares que não se resolvem com um núcleo mais brilhante. Algumas mais arredondadas e outras mais ovaladas. Galáxias lenticulares são um pouco mais amigáveis...  Para o amador com instrumentos modestos existem poucas galáxias que apresentam um nível de detalhamento digno de nota. 
                Assim como para os pioneiros Messier e Méchain as galáxias em Virgo serão, quase todas, “nebulosas sem estrelas que desaparecem com a presença da menor iluminação no reticulo.”  Esta descrição se repete inumeráveis vezes a longo do catálogo Messier.  Mesmo Herschel não melhora muito as coisas embora descubra mais e mais tênues nebulosas na região e em todo céu. Somente com Rosse e seu monstruoso telescópio que as galáxias da região irão apresentar suas estrutura de forma mais detalhada e as “nebulosas espirais” vão iniciar seu longo trajeto até o Grande Debate  entre Curtis e Shapley já em 1920. (http://www.nasonline.org/about-nas/history/archives/milestones-in-NAS-history/the-great-debate-of-1920.html ) .
Se você gosta de Objetos de Céu Profundo vai chegar um momento que a maior parte das coisas que lhe restam buscar são galáxias. Para ter uma ideia dos 114 primeiros objetos no New General Catalog 112 são galáxias. Então é bom ir se acostumando a caçar por objetos bastante discretos juntos a ocular... Ou ficar repetindo para sempre os mesmo DSO´s... 
Em Virgo residem algumas das mais brilhantes e chamativas destas. É o superaglomerado mais próximo e em quase qualquer lugar que seu telescópio pouse nas imediações existirão galáxias. Se você vai vê-las ou não é uma questão apenas de qual é seu equipamento, a poluição luminosa na local da observação, sua acuidade visual e sua experiencia.  A paciência e a insistência serão fatores fundamentais também. A primeira vez que ataquei o aglomerado achei que meu telescópio tinha algum problema. Na verdade, eu é que não sabia pelo que procurar. Com aparelhos modestos você procura por estrela muito tênues que depois de algum esforço e muita “averted vision” se revelam mais que isto. Elas estão lá e são muitas.   Reza a Lenda que mais de 2000. Outros ainda incluem a próprio grupo local onde habitamos como um subúrbio do Aglomerado.  O downtown esta a cerca de 60.000.000 de anos luz.   

Outra coisa fundamental quando caça por galáxias é ter feito o dever de casa. Um mapa preciso será fundamental para sua navegação por Virgo.  Você estará, muitas vezes, tendo de pular de um esfuminho tênue para outro mais tênue ainda. E qualquer esfuminho mais obvio é bom que você saiba qual é. Serão os faróis nesse arrecife traiçoeiro e nebuloso...  Outro truque útil é descobrir qual o brilho de superfície das galáxias que você está a procura e das que estão no caminho. Galáxias com brilho de superfície abaixo de 13 são “fáceis”. Na casa dos 13 serão visíveis sem anos de prática de yoga em céus muito escuros e acima de 14 serão mais um exercício da imaginação que da visão... Mesmo com Go-to as coisas não são tão fáceis quanto podem parecer. São muitas galáxias muito próximas e a precisão destes (bem... pelo menos do meu) é insuficiente quando a chapa esquenta e um desvio de poucos minutos pode te levar para o esfuminho errado ou a esfuminho nenhum...  Outro detalhe importante é como a galáxia se apresenta para nós. Quanto mais de lado mais fácil. Quando ela está de frente (como se víssemos ela de cima ou de baixo) com os braços todos a amostra costuma ser difícil...
O primeiro guia observacional que comprei chama-se “Turn Left at Orion”. Neste que é certamente o primeiro guia que você deve possuir, são abordadas poucas galáxias e o Aglomerado de Virgo propriamente dito é apenas um entorno. E M 65, M 66, M 51 e o par M 82 e M 81 são certamente os alvos mais difíceis do livro.  E algumas das mais generosas galáxias a se visitar...
Meu Star Watch foi companheiro de muitas observações. Guia observacional tem quem ser assim. Sofrido e usado. Fiquei com preguiça de achar o Sky atlas 2000. Tá em melhores condições . 

Já no segundo guia que comprei, “Star Watch” de Philip S. Harrington ( que durante anos escreveu a coluna Binocular Universe na Astronomy  Magazine  e que atualmente pilota a mesma no site Cloudy Nights) o aglomerado tem uma entrada só dele. Harrington é bem realista e como ele explica    na parte devotada a binóculos “ainda que seja possível ver todas as galáxias que Messier catalogou no Reino ( ele batiza a região de “O reino das Galáxias”) através de binóculos 50 mm ( acho muito pouco provável...) é importante ressaltar que isto não é tarefa para iniciantes. Recomendo fortemente que estes devem polir sua técnica em outros Objetos Messier. E só voltarem aqui quando estes estiverem sido exauridos.” Eu estenderia isto a qualquer iniciante com qualquer coisa menor que um telescópio de 150 ou 200 mm.

Harrington ainda propõe um plano de ataque conjunto ao aglomerado. Em vez de se procurar por objetos em particular você deve procurar por áreas especificas dentro do aglomera. É um bom plano. Já que geralmente existirão várias galáxias em um campo ocular. Ele propõe um ataque partindo de oeste a partir de Denebola (em Leão) e daí achar M 98. Esta um daqueles esfuminhos mais brilhantes e que você deve reconhecer. É um farol. Quase de perfil é mais amigável e apresenta mais detalhes que a média E a partir daí o dever de casa deve estar bem ensaiado.  M 100 é uma habitante ingrata embora famosa (A galáxia do cata-vento) que você vai localizar a partir daí. É um caso clássico de “espiral face on”; Embora fora do Messier Ngc 4216 é sensacional e uma das mais charmosas galaxias na area. Em noites escuras e com bom aumento se percebe seu caráter facilmente.
M 49 com o Newton (refletor 150 mm f8)

Já o ataque saindo de Leste parte de Vendimiamatrix em Virgo. A parir desta localize Rho Virginis. daqui para frente seu ataque é bem confuso e acaba te levando a M 49. Esta uma galáxia fácil e que parece um globular que não se resolve. Bem brilhante e obvia mesmo com visão direta. Mas eu nunca consegui seguir o caminho de tênues estrela que ele propõe. Em geral percebo dois discretos mais evidentes esfuminhos (The RhoTwins. Apelido eu que dei...) próximos a Rho e daí saio seguindo meus instintos e acabo por chegar em M49.  Daí para frente dever de casa e já achei diversas galáxias dignas de nota e visíveis com o Newton.
A Cadeia de Makarian Ponto inicial para o ataque. 

Mas definitivamente o melhor ataque, a meu ver, é calcular a posição de M 86 e 84 com uma buscadora red point e depois de algumas tentativas e erros você vai acabar localizando ambas. Duas galáxias bem brilhante e das mais amigáveis no aglomerado. Você chegou na Cadeia de Markarian e com u dever de casa bem feito vai navegar sem dificuldades até M 88 e M 91 E quase chegar ao final do ataque oeste proposto por Harrington.  



M 88 e M 91

Muito próxima e bem evidente estará o coração do aglomerado e sua maior galáxia M 87. Escaneando a partir deste conjunto você via ver dezenas de pequenas e nem tão pequenas nebulosas. É o filé do aglomerado e a parte mais simpática a possuidores de pequenos telescópios. Mesmo “The Eyes” será visível e merecerão o nome...


Recentemente fiz um ataque fotográfico ao aglomerado utilizando uma Lente 300 mm. E achei que é a melhor maneira de se reconhecer o terreno. Com este feito voltei a carga com o Newton e em uma noite muito especial localizei e observei quase todos os alvos do catálogo Messier visualmente. E descobri várias Ngc que estão altura e que não sei como escaparam a Dupla Messier-Méchain.  E ainda mais muitas das galáxias modestas e apagadas fizeram uma leve aparição nestas retinas já meio gastas. Mas iniciando com minha ocular de 40 mm e com o dever de casa bem feito ( com direito a levantamento fotográfico, O Sky Atlas 2000 aberto , algumas impressões bem ampliadas de mapas feitas a partir do cartes do ciel  e uma lanterna com muita gelatina vermelha na frente) e depois utilizando minha 17 mm ( minha melhor ocular) para ver as coisas maiores consegui extorquir até alguns braços aqui e ali .
A Grande Face 

O aglomerado de Virgem é uma brincadeira de gente grande. Foram quase dez anos para achar que lutei com alguma dignidade na região. Ou que pelo menos não tomei uma surra. Fico pensando se sobreviveria a uma Maratona Messier e se ao sair de Virgo ainda teria folego para o que faltar. É exaustivo e com o desempenho que tive não conseguiria “zerar” o jogo..., Mas definitivamente o ataque certo (pelo menos para mim) é partir da cadeia de Markarian. Dali para frente o Go-to de Mlle. Herschel deve ser usado com cautela. Os “hoops” são bem pequenos e achei mais confiável operar no manual do que no automático...

quarta-feira, 1 de maio de 2019

Ngc 4440, O Projeto tudo que Existe e Os Conquistadores do Inutíl



             Um de meus livros favoritos chama-se “Os Conquistadores do Inútil”. É uma autobiografia de Lionel Terray. Um dos maiores guias de montanha de todos os tempos. Eu, como um escalador medíocre, tive algumas de minhas mais aventurescas escaladas lendo estas páginas.  E definitivamente me encantei com este título. Sempre adorei uma roubada, para desespero da cara metade, e sempre achei uma honra fazer coisas que não teriam sentido para a maior parte da humanidade. Embora Ngc 4440 não se compare a primeira Ascenção de um pico de 8000 metros , nem a segunda Ascenção do NorthWand do Eiger em um tempo que pítons eram uma inovação tecnológica (e a primeira do FitzRoy e outros feitos que adoraria ter feito..) ela serva como um exemplo de como nem sempre o inútil é tão inútil. Em tempos que a curiosidade e a ciência parecem ser algo fora das prioridades mais imediatas da nação eu resisto e me orgulho de conhecer Terray, Burnham, Dom Quixote e outros conquistadores do inútil.
                E assim chego a Ngc 4440.
                Em uma foto feita do aglomerado de Virgem, mais especificamente da área da Corrente de Makarian, reparo um um grupelho de galáxias bastante discretas. Mais um tripleto galáctico para minha coleção. Sou muito afeito a elas. Coleciono “Coincidência de Adams”, Tripletos galácticos e mais um monte de coisas que podem parecer sem sentido. Provavelmente devido a Adams nem sempre o são.
                Desta forma resolvo que vou tentar extorquir informações daquele pequeno grupo, e em especial de uma delas. Afinal torturar pixels não me parece tão desumano.
                Ngc 4440 se apresenta claramente como uma espiral barrada mesmo com a pequena ampliação obtida na captura inicial. Feita com uma lente 300 mm. E perdida em meio a galáxias mais famosas e infinitamente mais brilhantes.
                Depois de torturá-la no DSS (Drizzle sobre drizzle) continuo com uma espiral barrada. Um membro provável da Corrente de Makarian (a distância apoia a ideia) ela se apresenta como um mistério. Uma face de montanha sem vias. Inspirado por Terray eu decido achar uma via (estou relendo “Conquistadores do inútil”.).
                Depois de muito garimpo descubro que esta é perfeita para o “Projeto Tudo que existe”. Habita o catálogo Ngc e não é descrita, indicada ou comentada em nenhum dos guias clássicos ou modernos que possuo. E ainda por cima é um alvo visual que embora medíocre é visível em telescópios amadores de 150 mm.  Não será mais que uma estrela enevoada e sem forma, mas será mais que uma estrela... Um a conquista para quem acha que ver o que ninguém quer ver algo importante. Herschel e Terray tem mais em comum do que se pode imaginar...
                Descobri que Ngc 4440 é uma galáxia espiral passiva. Deveria ser evitada...
                Galáxias espirais passivas fogem a padrão. Elas não possuem regiões HII e praticamente não possuem estrela jovens. Não há berçários. Seu espectro é “vermelho”.  Não há produção estelar. Embora espirais elas deveriam ser elípticas. Já deveriam ter evoluído.
                Ngc 4440 ainda por cima habita uma região onde colisões galácticas são comuns. Mas...
                A 55.000.000 de anos e ao lado de M 87 reside no coração do Aglomerado de Virgem. Local bastante “crowdeado”.
                Apesar disto sua população não apresenta (ou muito pouco) estrela jovens comuns a aglomerados abertos e/ou regiões HII. Se você habitasse por lá não iria ter uma Nebulosa de Orion em sua ocular...

                Todos os papers (poucos) que citam Ngc 4440 tratam deste tópico.

                Ao alcance de telescópios amadores e certamente charmosa para possuidores de grandes telescópios acho curioso não ser mais cantada em prosa e verso. Mesmo em meio ao carnaval galáctico da região ela me chamou atenção imediatamente em minhas fotos e Ainda por cima possui duas companheiras muito próximas (Ngc 4436 e 4431) que fazem do campo alvo muito interessante. Se você conseguir ver também IC 794 com qualquer coisa menor que um 300 mm no Atacama recomendo que procure rápido um médico. É possível que esteja vendo coisa e sofrendo de algum tipo desordem psíquica. Mas ela é uma galaxia bem interessante, cosmologicamente falando . Trata-se de uma "Tidal Dwarf" e assim é uma galaxia extremamente jovem e riquíssima em metal. Possivelmente fruto da interação de "algo" com alguma espiral na região. No mais é um pequeno tripleto dentro de uma das áreas mais interessantes do aglomerado de Virgem. Talvez por isso mesmo passe desapercebida. Acho muita semelhança com o Grupo de M 105. Provavelmente por ter passeado por ambas na mesma noite.

                Um alvo diferente e nem tão inútil. Quase filosofia.  
                As fotos apresentadas são fruto de um drizzle inicial de 3x seguido de outro de 3 X. O segundo já sobre o arquivo. Tiff gerado pelo DSS.  Quase tortura. Uma delas foi levada ao pau de arara. Outra só foi mantida em solitário... A pixelização é evidente no mais sofrido. Mas o projeto “Tudo que Existe” não dá bola para essas coisas...  Visualmente Ngc 4440 é discreta. Mas percebe-se sua natureza galáctica. As companheiras não são mais que estrelas perceptíveis com visão periférica. No Newton (150 mm f8 sob Bortle 6). creio que 4440 quase se revele uma espiral sob céus generosos. Seu Brilho de superfície é de 12,4. Ou seja, antes dos malditos 13... O Brilho de superfície é um indicador muito melhor de suas chances de ver algo do que a magnitude quando falamos de galáxias. Até 13 há chances reais. Acima de 13 o céu tem que colaborar, o equipamento também e prática é fundamental...