Sempre que vou falar de galaxias
me lembro da longa história que nos levou até o entendimento do que ,por alguns
momentos históricos, foi chamados de Universos Ilhas. É importante fazer uma autocritica quando
achamos engraçado que os antigos não soubessem do que se tratavam o que então
se chamava de nebulosas espirais. Os telescópios do Seculo XIX não tinham poder
de fogo para resolver estrelas em estes distantes universos. E assim supor que
eles apenas eram nebulosas dentro da própria via láctea não parecia ser o
absurdo que sabemos ser hoje. Nenhumas das velas padrões ainda haviam sido
descobertas (pelo menos não com esta utilidade...) e mesmo as distancias para as
galaxias mais próximas já é suficientemente grande para parecerem impensáveis em um
universo, na época, ainda estático.
O conhecimento destes seria
semelhante ao dos atuais defensores de ideias como a terra plana, a terra oca e
a terra jovem. Como disse Simenon :
"Uma pequena ilha em um vasto oceano de desconhecimento".
Mesmo assim alguns visionários
parecem ter percebido a natureza destas nebulosas de uma forma quase profética.
Kant e antes dele Giordano Bruno pareciam já ter entendido a escala do universo
e suas estruturas de uma forma futurista.
Quando penso em universos ilhas
e o caminho para seu entendimento sempre me ocorre o Aglomerado de Virgem. O
Maior aglomerado galáctico em nossas plagas de universo.
Visitar o mesmo é um desafio
para os astrônomos amadores. especialmente os iniciantes. São centenas de
galaxias e sem muitas estrelas por perto navegar pelo aglomerado é mais um
exercício de "galaxy Hopping" que de "star hopping".
Phill Harrigton em seu
"Star Watch; The Amateur
Astronomer´s Guide to Finding, Observing and Learningabout over 125 Celestial
Objects" no conta muito sobre o
aglomerado de Virgem. Na verdade ele o batiza de Aglomerado de coma Virgo já
que este se espalha por entre as constelações de Virgem e Coma Berenice ( A
Cabeleira de Berenice). Localizado a uma distancia média de 60 milhões de anos
luz é o mais próximo grande aglomerado galáctico em relação ao nosso grupo
local. Nós mesmos seriamos habitantes marginais desta imensa estrutura. Isto
implicaria que apesar de estarmos nos afastando da maioria das galaxias no
aglomerado a gravidade destas ( em um futuro distante) iria reverter este
quadro e nós iriamos acabar por nos unir ao mega aglomerado.
Harrigton nos alerta logo no
inicio de seu texto que apesar de ser , teoricamente , possível observar todas
as galaxias Messier no aglomerado com binóculos 10X50 mm estes não são alvos
para os novatos . Ele recomenda que o novato desenvolva suas técnicas
observacionais com objetos Messier mais
acessíveis antes de tentar tal empreitada. Mesmo com pequenos telescópios a maior
parte das galaxias será um alvo discreto e em muitos casos alvos quase
estelares.
O que acho interessante no texto
de Harrington é que ele aborda o aglomerado com um único alvo. E não galaxia a
galaxia. Em seu projeto ele estabelece duas campanhas para se observar o
aglomerado. Uma se iniciando o ataque a partir de oeste e outra escaramuça a
partir do Leste.
Seguindo sua estratégia mas não
sua tática apresento uma saída diferente para a campanha do leste. Da
mesma forma que Harrington iniciamos a campanha sem ser por objetos
Messier. Mas enquanto este aposta em Vindemiatrix e Ngc 4762 ( um dos objetos
não Messier mais brilhantes no aglomerado)
eu prefiro iniciar partindo de Rho Virgem e do que batizei de
" The Rho Twins" ( em inglês mesmo pois me pareceu mais musical e me lembrou do Twisted Sisters...) . Ngc 4608 e
4596 formam um par de galaxias que
habitam o mesmo campo que Rho Virginis. Como localizar Rho Virginis e sua
parceira 27 Virgo ( GG Virgo) em uma área pobre em estrelas mais brilhantes é
moleza mesmo em céus com alguma poluição luminosa nossas gêmeas são um excelente
inicio para seu ataque ao aglomerado.
Visualmente são semelhante e apesar de pequenas apresentam um brilho de
superfície amigável e que as revela sem maiores esforços mesmo com pequenos
aumentos. Utilizando Minha 40 mm e com Rho em quadro as duas são notadas como
esfuminhos mesmo com visão direta.
Apesar de sua aparente
semelhança as gêmeas não são univitelinas e tem diferenças . Ngc 4608 é um daqueles objetos quiméricos que
se tornam cada vez mais comuns em classificações galácticas. Um interessante
trabalho realizado por pesquisadores da USP nos apresentam Ngc 4608 como uma
galaxia barrada sem disco. Isto a colocaria como um estranho no ninho. Sua
classificação normal é de galaxia elíptica. ( SB0). Mas neste estudo ( e em
alguns outros estudos com outras galaxias de morfologia semelhante) parece que
nem tudo é o que parece ser . E assim é possível que galaxias elipticas possuam
estruturas barradas "escondidas" em meio a suas estrelas. (http://iopscience.iop.org/article/10.1086/368159/pdf)
Já Ngc 4596 é uma espiral
barrada clássica (SB0-a) e assim com a anterior foi uma descoberta de William Herschel em 15 de março 1784. São galaxias discretas e que não adentraram
nenhuma lista famosa como os "400 de Herschel" ou outros . Mas sua composição com Rho Virgo e
GG Virgo é um adorável campo estelar e uma fácil porta de entrada para o
aglomerado de coma Virgo. A Partir destas acessar o coração do aglomerado junto
a M 86 e m 84 é um pequeno passeio e facilmente realizável junto a ocular.
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