Translate

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

M 27: A Nebulosa do Haltere ,Deep Sky Stacker, PixInsight e os Delírios de Rosse.

                  

                  M 27 tem duas curiosidades honrosas em seu currículo. Foi a primeira nebulosa planetária a ser descoberta. E é o ultimo DSO apresentando no enciclopédico “Burnham Celestial Handbook”. Ainda que quando descoberta não existisse ainda sequer o termo nebulosa planetária. E quanto a segunda curiosidade não há nenhuma razão astronômica para tal. O livro é organizado em ordem alfabética e com M 27 residindo em Vulpecula (raposa) é desnecessária qualquer explicação.
                Messier a registra em 12 de julho, 1764. “Nébula sem estrelas descoberta em Vulpécula (Raposa) entre suas duas patas dianteiras e muito próxima a estrela de 5a magnitude Flamsteed 14 nesta mesma constelação. Pode ser vista claramente com um refletor simples de três e meio pés. Apresenta um formato oval e sem estrelas. M. Messier marcou sua posição na carta do cometa de 1779, que vai ser publicada no volume da academia para aquele ano. Observada novamente em 31 de janeiro de 1781.”
                É interessante perceber que Messier, muitas vezes, não observou mais que uma vez diversas das entradas de seu catalogo. Ele sempre destaca objetos que ele observou mais de uma vez. Parece querer deixar claro que são objetos a não serem observados. Nebulosas que estão no céu apenas para serem impostores de cometas...  
                Mas, ao contrário de Messier, Herschel julga sua exploração e registro matéria fundamental. Ele é o próximo a colocar os olhos nela e embora não a identifique como uma nebulosa planetária é ele o autor do verbete... Ele julgou que M 27 “... um estrato duplo de estrelas de grande extensão. Um deles voltados para nós”. Seu filho John é que lhe dá o apelido pela qual é chamada. A Nebulosa do Haltere.   Numa longa, completa e algo confusa descrição:
                “Uma nébula com o formato de haltere... com um formato elíptico completado por tênue luz. Posição de um eixo de simetria através de dos centros de duas massas principais 30o a 60o. O diâmetro da elipse de luz preenche um espaço quase igual ao dos fios (7´ou 8´). Não resolvível. Mas vejo 4 estrelas...”   Em observação posterior John Herschel a descreve assim: “com um formato semelhante a uma ampulheta, preenche um formato oval com uma nebulosidade muito menos densa. A massa central pode ser comparada com uma vertebra ou um haltere. A cabeça sul é mais densa que a norte.”
                Lorde Rosse a observou devotadamente e chegou a conclusões que não poderiam estar mais equivocadas.  O nobre irlandês , o clima inclemente de Parsontown e o  maior telescópio de seu tempo nos deixaram uma ode ao relativismo histórico e  um motivo para não se construir  observatórios  no Mar do Norte e adjacências: “  É necessária uma noite extremamente especial e um grande aumento tolerável , e então, percebe-se que consiste de inumeráveis estrelas misturadas com nebulosidade; e então quando se vira o olho do telescópio para a Via láctea , a semelhança  é tão impressionante que é impossível não se sentir uma forte convicção  de que a nebulosidade em ambas vem da mesma causa.”    Pelo menos ele não percebeu uma estrutura em forma de espiral em M 27. Rosse, que graças ao Leviatã de Parsontown (o maior telescópio de seu tempo), descobriu a estrutura espiral de várias galáxias e deu um passo no entendimento destas estruturas. É provavelmente seu maior legado. Mas, já mais para o fim, começou a perceber espirais em tudo que observava. Estando o padrão lá ou não... Coisa semelhante acontece com místicos ao descobrirem Fibonacci ao lerem “O Código da Vinci”. Na verdade, J.E. Gore disse ter percebido indícios de estrutura espiral na nebulosa em fotos feitas por Schaeberle...
                Smith nos fala de forma entusiástica (de M 27) “um magnifico e singular objeto um daqueles esplendidos enigmas que são propostos por Deus.”
                Hoje sabemos que M 27 é “uma das gigantes da classe das planetárias e de grande importância na teoria destas estruturas. É a segunda nebulosa planetária mais estudada (atrás de M 57) e com um tamanho aparente muito maior. Se encontra muito mais próxima com valores encontrados na literatura que vão de 500 anos luz até 1300. Um valor de 850 é presente em diversas fontes...
                Nebulosas planetárias são um suspiro na vida de estrelas com massas próximas ao nosso sol.  A estrela que alimenta M 27 possui uma modesta magnitude de 14. E é uma parada dura para se observar visualmente. Os observadores clássicos, mesmo com telescópios grandes, como Herschel, Rosse e Trouvelot nunca a registraram em seus desenhos.  Trata-se de um tipo espectral muito quente (O 7, 85.000 K).
                Com cerca de 8 anos luz de diâmetro M 27 é, de fato, uma planetária muito grande.  A parte externa da nebulosa se expande em uma taxa de 2,3´´ ao século. E a interior a mais de 6´´. em alguns séculos ela terá se expendido tanto que seu brilho de superfície terá se “extinguido”. Um breve suspiro cósmico.  Calcula-se que o show tenha se iniciado a cerca de 9.000 anos. No amanhecer da história. Mas não há registros no alvorecer das civilizações de algum evento cósmico marcante nesta região do céu.   
13 frames 30 seg ISO 1600+ 8 darks+8 flats - Stacking e 2 drizzle  no DSS e stretch no PI e PS- 

                M 27 é um espetáculo para possuidores de quase qualquer equipamento ótico. É claramente percebida (em locais de céus escuros) com uma buscadora de 9X50. Com um Newton (um refletor de 150 mm f8) ela se apresenta pálida no Rio de janeiro e é espetacular sob céus rurais (Bortle 3). Chocante mesmo. É gigantesca para uma planetária e um dos poucos objetos Messier que apresenta extrema semelhança no visual e no fotográfico. Embora sua cor esverdeada seja muito discreta visualmente. Suporta grandes ampliações. Mas apesar de perceber algumas estrelas envolvidas, (como John Herschel) além da óbvia estrela no centro, que não é sequer relacionada a nebulosa, não percebo nem sinal da estrela central. Esta parece escapar até de O´Meara (que é biônico).  
               Ao garimpar o mapa para a navegação no Stellarium para este post descobri que , para meu desgosto (sou muito afeito as tradições...), inventaram dois novos apelidos para a Nebulosa do Haltere. Nebulosa Diabolo ( só quem já teve espingarda de chumbinho e já fez coisas extremamente incorretas vai associar uma coisa a outra...) e Nebulosa Apple Core ( que em uma tradução bem  livre seria Nebulosa da Maçã Comida).

                Localizar M 27 em centros urbanos pode ser difícil já que Vulpecula é uma constelação discreta e a nebulosa não comparece na buscadora. Geralmente é mais fácil iniciar o “hoop’ a partir de Gamma Sagitta e chegar até 17 Flamsteed. Mas com algum dever de casa e um bom mapa é bem factível.
                Perto de Gamma habita também M 71. Outro alvo difícil 

debaixo de céus urbanos. Ambos fáceis e espetaculares em céus escuros...
           Agora vamos falar um pouco de astrofotografia. As fotos aqui apresentadas são fruto do Stacking de 20 exposições de 30 segundos (subs) com ISSO 1600. Foram empilhadas no DSS e esticadas no PixInsight 1.8 e mais alguma cosmética feita no Photoshop. Ou seja, seguiram a rota normal... Tanto na foto que abre o post como na qual foi efetuada o processo de 2 drizzle  foram aceitas apenas 13 subs pelo DSS.
   Ando tentando realizar o stacking utilizando também o PixInsight. Mas apesar de ser um programa caro o DSS tem me saído mais eficiente e pratico para este processo. No Pix é necessário realizar diversos procedimentos como calibrar os flats frames. Bem como os subs e mais outros truques. E quando utilizo o script automatizado deste o resultado tem sido pífio.  
     
Desastre Binário versão PixInsight. Resultado do empilhamento no Pix depois de um tour de force . Calibrar Lights , flats , criar master dark e flat, aplicar correções cosméticas nos lights e etc. para só depois integrar os lights. Um longo caminho para isto... Melhor empilhar no DSS e esticar no Pix.  
   
      Curiosamente ,acho que apenas para o stacking, o DSS, embora freeware, é mais eficiente e muito mais “user friendly”. Acho que vou insistir mais algumas vezes no empilhamento no Pix. Mas algo me diz que acabarei voltando para o DSS na maior parte das vezes. No Pix depois de muitos valores e menus ele acabou por aceitar 13 fotos também...      Mas o resultado foi estranhíssimo. Nada em comum com o "desastres binários que a vezes ocorrem no DSS . Mas nada fidedigno.