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segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Os Globulares de Messier

         

         Repetidas vezes vocês escutaram por aqui que a astronomia amadora possui muitos ritos de passagem.  

No dia 18 de setembro de 2020 acabei de passar por mais um deles.

Um pouco conhecido. Embora feito sob medida para os observadores ao sul do equador.

Observar todos os globulares do catálogo Messier.

O Catálogo Messier é um compêndio que reúne os achados de um caçador de cometas do séc. XVIII.  E engloba diversas nebulosas (o título genérico para diversos tipos de D.S.O. ´s) os quais este organizou para que estas não confundissem os observadores em busca de cometas.  Ou seja, um catálogo de coisas a não serem observadas.  E que tendo sido elaborado no hemisfério norte não é totalmente acessível para os habitantes da porção meridional do planeta. Mas seus globulares o são.

Mas vamos ao que importa. Este post não se pretende a realizar uma apresentação aprofundada de cada um dos 29 Globulares descobertos por Charles Messier. Vou apenas introduzir cada um deles e apresentar uma rápida impressão de cada um, sua aparência visual e só. A maioria (ou todos) já foram apresentados no Nuncius Australis em detalhes e quem quiser saber mais sobre a história, cosmologia, Idade, CPF, etc., etc., etc. e etc. é só clicar nos links abaixo de cada um.

Acho importante também explicitar que este tem também a intenção de recordar que é muito importante que você observe os objetos que fotografa. Em especial aqueles que pertencem aos catálogos clássico e que possuem um longo histórico de observações.  Desta forma, acredito, você pratica a astronomia amadora em que os escaladores escoceses chamam de “full conditions” (com frio, neve, neblina e rocha podre).

Antes de vermos os benditos globulares um pouco de teoria.

Estes aglomerados estelares são enormes grupos de estrelas mantidas juntas de forma muito concentrada e em um formato esférico. Aglomerados globulares possuem, em geral, centenas de milhares de estrelas reunidas em uma “bola”.

Se concentre nos Globulares mais brilhantes inicialmente. Os globulares do catálogo Messier vai apresentar diferentes graus de desafio.

Aglomerados Globulares são compostos de estrelas velhas, ao contrário dos abertos que se formam de forma contínua, todos os globulares se formaram a bilhões de anos. Parece que estes aglomerados se formam quando duas ou mais galáxias colidem; tais colisões estimulam a formação de estrelas em escalas muito maiores (devido às imensas ondas de choque). Todos os aglomerados globulares de nossa galáxia se formaram aproximadamente ao mesmo tempo. Eles são encontrados fora do disco galáctico. Na região conhecida como Halo, formando uma espécie de nuvem a redor do centro galáctico. Por causa disto é que podemos ver a sua maioria durante o inverno em direção a Sagitário que é onde se encontra o centro de nossa galáxia. Estudos mais recentes indicam que globulares podem ter histórias mais diversas que este modelo paleolítico apresentado, mas para nossos objetivos o apresentado está de bom tamanho.  Rafaelle Gratton nos diz que aglomerados globulares são grandes e densos aglomerados de estrelas. Diferindo dos aglomerados menores, eles exibem sinais de alguma evolução química. Para quem quiser se aprofundar no assunto o trabalho de Gratton é um bom começo e muito recente. (https://doi.org/10.1007/s00159-019-0119-3).

Como falei anteriormente, e sem medo de ser redundante, é importante que você observe (que é diferente de fotografar) os objetos que você observa. Mas podendo é bom fotografá-los. Quem é do meu tempo deve se lembrar de um comercial feito para o Fotoptica (Pelo “Mestre”. Paulo Dantas da Movie e Art): Fotografou? Não? Então, dançou!

Afinal observar todos os Globulares Messier (e provar) é um marco na vida de qualquer amador.

         Antes de “irmos lá” acho importante frisar que as fotos aqui apresentadas não são uniformes em seu resultado nem captura. Algumas foram empilhadas utilizando o recurso de drizzle, outras não. Todas as fotos neste post foram empilhadas no DSS, processadas com o PixInsight e no Photoshop tiveram suas curvas ajustadas nos defaults “contraste médio” ou “contraste linear”. Desta forma a impressão visual de cada um deles pode ser enganadora quando você os observar, de fato, pela ocular. E ainda algumas fotos tiveram sua captura apenas como forma de registro e são mais uma forma de garantir meus “bragging rights” que astrofotografia. Um outro detalhe; nos posts linkados muitas das fotos são anteriores ao PixInsight na minha vida. E desta forma mais “realistas” para quem não pode fotografar (e processar) os elementos do que as que você vê aqui.

 


M 2 é um aglomerado bem denso e não muito grande. Mas de alto brilho de superfície. Embora Aquário seja uma constelação miserável de se navegar você pode partir de Enif em Pegasus e chegar lá. Perceptível pela buscadora em céus razoáveis. Pequenino, mas brilhante suporta bem ampliação. Usei minha ocular 10 mm. Muito denso não espere resolver muitas estrelas. 

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2015/11/m15-e-m2-cinema-novo-e-astrofotografia.html



M3 é um dos mais brilhantes aglomerados ao norte do equador celeste. Mas aqui do trópico de capricórnio ele é discreto. Pela buscadora só de locais escuros e mesmo assim... Melhor na minha ocular 17 mm. Não chega a se resolver, mas tem uma certa “granulosidade”. O primeiro objeto do catálogo que é uma descoberta original de Messier.

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/08/m-3-o-primeiro-messier-original.html)



M4 é espetacular. O Aglomerado Olho de Gato. Sua barra central de estrelas mais brilhantes aparece mesmo em pequenos instrumentos. Bem próximo a Antares é muito fácil de se localizar.  Foi o segundo aglomerado que observei na vida. (O primeiro foi Ômega Centauro). O segundo globular mais próximo da terra.  

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2015/05/m-4-astrofotografias-de-um-globular.html



M5 parece um aglomerado modesto. No limite da resolução. Difícil na buscadora. O observei uma só vez. 17mm. Em condições bem menos que ideais. Mas é cantado em prosa e verso pelos observadores boreais. Um dos posts mais populares do Nuncius Australis. Chamado de o Aglomerado de Burnham -Asimov.

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/08/m-5-o-aglomerado-de-burnham-asimov.html



M9 é o primeiro globular Messier em Ofíuco. Pequeno, mas obvio na buscadora de céus nem tão generosos. Se resolve nas bordas mesmo com visão direta. Com binóculos tem um que de “espiral”.  17 e 10 mm.

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/08/m-9-suas-distancias-e-relatividade.html



M10 é bem brilhante. Surge na buscadora sem muito esforço, resolve-se bastante sem sofrimento. Adoro aglomerados abertos de baixa densidade. 17 mm

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/06/m-10-um-nobre-globular.html



M12 Uma versão mais apagada e muito próximo ao anterior. Nunca o percebi pela buscadora em Búzios. Nos céus mais rurais de Lumiar ele se apresenta. Se resolve com a 17 mm. Visualmente mais frouxo que M 10. 

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/05/m-12-mais-um-globular-messier.html



M13 O grande globular de Hercules. Um showpiece. O único globular boreal do naipe dos que existem aqui no sul. Fácil na Buscadora possui estrela guardiãs que fazem o quadro muito agradável. Se percebe estruturas e a “Hélice” é facilmente notada. 17 e 10 mm. Muito bom... 

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2014/11/m-13-o-grande-aglomerado-de-hercules-e.html



M14 é um globular distante que observei apenas do Rio de Janeiro. Na época achei o mais apagado dos globulares Messier. Mas eu não sabia de nada... Não percebi nada na buscadora e não resolvi nenhuma estrela, mas creio que seja possível dadas condições mais dignas. 17 mm. (Quase sempre é essa a ocular que indico. Deve ser porque é a minha melhor ocular...)

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/07/m-14-um-globular-distante.html



M15 é o grande aglomerado de Pegasus. Não é tão grande assim, mas é bem brilhante. Surge na buscadora mesmo no Rio em uma noite boa. Já o observei diversas vezes.   Com resultados variados. Nesse a 10 mm é uma boa pedida para deixá-lo “grande”.  

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2015/11/m15-e-m2-cinema-novo-e-astrofotografia.html



M19 é meu favorito em Ofíuco. Sua forma oblata o faz diferente da multidão. Bem brilhante aparece na buscadora em um Rio de Janeiro de lua nova. Resolve-se nas bordas e o centro bem brilhante. 17 mm e 10 mm. 

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/08/m-19-o-favorito-do-serpentario.html



M22 o mais favorito do firmamento. O Aglomerado de Tolkien. Um dos maiores espetáculos do Universo. Em Sagitário e facilmente localizado a partir de Kaus Borealis. Facilmente percebido a olho nu de céus escuros. Surge mesmo no centro de São Paulo com qualquer auxílio ótico.  Use todas as suas oculares. Já o observei umas 100 vezes.

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2015/08/m-22-o-aglomerado-de-tolkien.html



M28 O primo Pobre de M 22. Ao lado de Kaus Borealis as vezes o brilho da estrela atrapalha sua percepção. Se apresenta na buscadora com atenção. Pequeno. Melhor com a 10 mm 

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2015/10/m-28-e-os-pulsares.html.



M30 Pequenino em Capricórnio. A navegação até o mesmo pode ser trabalhosa em céus claros. Seu formato é sugestivo. De Búzios é visível pela buscadora. 10 mm

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2016/09/m-30-cara-de-capricornio.html



M53 Observando sob céus bens escuros M 53 não chega a ser um espetáculo. Embora relativamente grande ele apenas ameaça se resolver em suas bordas com visão periférica. Difícil na buscadora Próximo a Diadem a navegação é relativamente simples. Bom esperar estar próximo ao meridiano.17 mm

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2018/12/m-53-um-globular-na-cabeleira-de.html



M54 é um Globular na base do Bule de Sagitário. Bem discreto e difícil na buscadora. Não se resolve (se suspeita...). Cosmologia interessante. Pode ser extragaláctico. 10 mm.  

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2015/08/m-54-um-globular-distante.html



M 55 é o menos denso aglomerado Messier. Me lembra muito um aberto (M 11). Um favorito.  Se resolve facilmente. Mas não tão fácil de se achar. 25 mm ,17 mm. Use todas as oculares...

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2015/08/m-11-e-m-55-o-diabo-esta-nos-detalhes.html



M56 é um aglomerado pouco denso, mas não se resolve. Um “verdadeiro” impostor de cometas. Uma antítese.... Fácil de se localizar. Mas difícil na buscadora. 17 mm. Um post querido meu.

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/10/m-56-catalogos-e-guias-observacionais.html



M62 Nada demais. Aparece na buscadora. É chamado de o globular pulsante. Mas eu discordo.  17 mm 

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/08/m-62-o-globular-pulsante.html



M68 é um globular modesto em Corvo. Surge na buscadora. Centro brilhante e se resolve nas bordas. 17 mm.

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2018/05/m-68-o-globular-do-corvo.html



M69 é mais um na Base do bule de Sagitário. Embora com estrela guia próxima não é fácil de se perceber na buscadora. Embora brilhante tem um aspecto estelar e é difícil diferenciar de outras em campo. Pequeno.10 mm

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2015/09/m-69-um-lacaille-roubado-e-rico-em.html



M70 é outro globular na base do Bule. Bem próximo a M69. Acho ele mais interessante. Se resolve nas bordas. Também pequeno. Parece ser uma característica do grupo da “Avenida dos Globulares” no sul de Sagitário. 17 mm  

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2015/09/m-70-e-avenida-dos-globulares.html



M71 em Sagita. O menos denso dos Globulares Messier e um eterno favorito. Se resolve com periférica. Mas com baixo brilho de superfície é difícil na buscadora. Campo lindo. 25 e 17 mm. 

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/08/m-71-um-globular-aberto.html



M72 O último a ser observado. Apagado e em Aquário acho o mais difícil dos Globulares Messier. Apesar de ter observado este em noite ingrata acho que a ideia se mantém mesmo em céus mais generosos. Nada na buscadora e um esfuminho com periférica... É o único ainda sem post próprio. Em construção. Em breve colocarei o link...   https://nunciusaustralis.blogspot.com/2021/02/m-72-era-de-aquario-e-escala-de-pagel.html 



M 75 O mais denso do globulares Messier. Perdido em um canto de Sagitário e estelar na buscadora não é fácil de se achar. Não se resolve embora pequeno e brilhante. Possivelmente extragaláctico é muito distante.

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2015/09/m-75-um-misterio-bicentenario.html



M79 Localiza-se em Lepus. O vi de uma cobertura na Rua da Passagem. Logo bem brilhante. Percebi discretamente na Buscadora. Outro imigrante. Quero visitá-lo novamente. 17 mm.

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2016/08/m-79-um-imigrante-galactico.html



M80 Pequeno aglomerado em Escorpião. O favorito de Herschel que criou hipóteses graças ao mesmo. Bem estelar, mas resolve-se bem com aumento. Bonitinho. 10mm.

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2019/01/m-80-o-favorito-de-herschel.html



M92 é o outro Globular de Hercules. Pequeno e brilhante. Muito antigo. Paradoxal quase.  10 mm.

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/12/m-92-um-anciao-entre-ancioes.html



M 107 o último e póstumo globular. Em Ofíuco. Interessante. O observei do Rio de janeiro. Difícil na Buscadora. De Búzios ensaia uma resolução nas bordas 17 mm.

http://nunciusaustralis.blogspot.com/2017/05/m-107-o-ultimo-globular-messier.html

 

E assim se encerra uma longa jornada. Entre observar, fotografar e pesquisar  se passaram mais de 10 anos. Espero organizar todo o material em um guia observacional quando tiver tempo. O SUL PROFUNDO II: OS GLOBULARES MESSIER. Para fazer par com O SUL PROFUNDO: O CATÁLOGO LACAILLE.  Disponível na AMAZON.

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

O Lobo, Mad Dog , Ngc 5822 , 5823 e um Figurante.

 


               Em tempos  que, diariamente, tenho visões da Idade Média e a nítida impressão que o saber é considerado pior que a ignorância eu, realmente, não tenho tido vontade de contar meus “causos” astronômicos por aqui. Mas uma das coisas que faz a astronomia tão atraente é sua capacidade de espalhar luz sobre as trevas. Na verdade, luz sobre as trevas é a matéria prima da mesma.

                Esta é uma ciência minha . Essa é de minha filha e filho . E não é daqueles que flertam com a Cretinália que se espalha por Sucupira. As terceiras pessoas...

                E assim, perdida em meio de um HD de 1 terrabyte, encontrei uma foto de minha última viagem observacional. Já se vão quase seis meses. Em um tempo que se podia viajar...

                Percebo claramente dois aglomerados abertos. Sei que se localizam em Lúpus. Uma constelação que nada sei a respeito. Nem mesmo o nome dos dois DSO´s que claramente percebo. A foto é nomeada “Perdido em Lúpus”.  



                Antes de descobrir quem são os dois delicados abertos (na verdade um delicado aglomerado aberto. O outro é um minúsculo aberto) decido pesquisar algo sobre a constelação que os abriga. Logo de cara descubro que estes habitam a fronteira de Lúpus com Circinus. Quase em Centauros. Para efeitos práticos ambos habitam em Lúpus. Na verdade, o menor deles invade Compasso.  Esta uma das constelações ditas dispensáveis (creio eu e discordo) por Hinckley. É uma das 14 constelações criadas e por Lacaille no Séc. XVIII.

                Lúpus (O Lobo) possui um registro muito mais antigo. É uma das 48 constelações originais descritas por Ptolomeu em seu Almagesto. Mas sua história é ainda muito mais longa.  Seu primeiro registro foi feito na Babilônia é a constelação grega é, quase certamente, conectada com a constelação UR .IDIM. O “cachorro doido”. Só por isto estão lendo esse texto.

                Mad Dog MC Cullogh foi (morreu recentemente) um grande amigo meu. Um dos primeiros maquinistas com quem trabalhei. Me ensinou como usar uma cinta de catraca e junto com isso como montar uma câmera Zenital com o auxílio de um “chapéu alto” e um pranchão. Arrumei um motivo para falar dele e de astronomia.

                Voltando de Mad Dog para Lupus a constelação é registrada também no Livro das Estrelas de Al Sufi. Durante a idade média a maior parte da cultura astronômica foi salva por astrônomos muçulmanos. Para desespero da bancada evangélica. Em algumas edições do Livro o grupo é registrado como um lobo. Em outras como um Leão. Por motivos óbvios o Lobo sobrevive no local até hoje. E o Leão em outro...

                Na antiguidade a constelação era um asterismo pertencente ao Centauro. Em uma história com várias versões este seria um animal dado em sacrifício ao quimérico ser. Não à toa uma das seis constelações com que Lúpus faz fronteira é Ara. O altar.

                Essa possui 127 estrelas com a magnitude igual o superior a 6,5. Alpha Lupi.  R. H. Allen, em seu mais que clássico “Star Names and Their Meaning”, nos diz que os chineses a chamaram de Yang Mun   e nos diz ainda que Beta Lupi era batizada como Ke Kwan. Ambas fazendo parte da constelação de Qiguãn.  Agora para desespero da bancada da TFP os chineses também foram um refúgio celestial durante as trevas religiosas que assaltaram a Europa pré renascentista.

Perdido em Lupus

                Agora vamos ao céu profundo. Os dois aglomerados abertos capturados ao acaso juntos ao pernil traseiro do Lobo são Ngc 5822 e 5823. Na foto vocês vão ver que na região habita ainda o mais discreto Ngc 5749. Uma trilogia lupina. O primeiro é um daqueles objetos dignos de nota. Um aberto que se apresenta claramente em binóculos e que no Newton (um refletor de 150 mm f8) se mostra com bastantes estrela e dá seu espetáculo. O segundo demanda mais atenção, embora, seja alvo desafiador e de grande interesse. Curiosamente o “grande” não é o famoso. Sir Patrick Moore inclui 5823 em sua famosa lista observacional, O catálogo Caldwell.  O terceiro se apresenta mais como uma estrela múltipla (com 120 X de aumento) do que um aglomerado de fato.  

                Ngc 5822 foi descoberto por John Herschel em 1836 em seu gigantesco levantamento de nébulas do hemisfério sul.  Você o vai localizar a 2,6º de Zeta Lupi.  Acho ele o mais fácil da coleção apresentada e com magnitude 6,5 há registos de ter sido percebido a olho nu de locais muito escuros. De Boa Esperança (Serra carioca) com um céu Bortle 3 eu quero acreditar que o “sinto”. De Búzios é um plano furado. No Rio até de binoculo é quase imperceptível. Com o Newton e 120X de aumento conta várias dezenas de estrelas. Não se nota grande aglomeração central.  Sua classificação Temple é II, 1 , r.  Se localiza a quase 3.000 anos luz (917 Parsecs). Parece ser um aberto “antigo”. Com cerca de 800 milhões de anos.  É um belo objeto para o “Projeto Tudo que Existe”. Um DSO grande, brilhante e que escapou de todas as listas observacionais organizadas por O´Meara na sua super completa série “Deep Sky Companions”.  Um belo objeto pouco visitado.



                Ngc 5823, embora menor, é mais conhecido e estudado. Não sei o que chamou a atenção de Moore para este pequeno aberto bem austral. Mas é a entrada 88 do Catálogo Caldwell. É um alvo telescópico. Não se apresenta bem com pouco aumento. Mas com 120 X ele apresenta aquele aspecto característico de aglomerados. Mais condensado que o anterior ele é um pequeno aberto didático para o iniciante. Aquela Pitada de sal bem fino sobre veludo negro. Céus escuros vão ajudar muito.   Como era de se imaginar foi descoberto também por John Herschel em 1836. Mais precisamente entre 15 e 20 de abril.  Localiza-lo é fácil. Partindo de Zeta Lupi você certamente vai esbarrar em Ngc 5822. Ele estará no mesmo campo da buscadora. 3 magnitudes menos brilhante ele será o aglomerado mais apagado e discreto no campo. Céu escuros. Bortle 3 é mole perceber. No Rio é quase impossível. Velo mesmo com goto. Como faz parte do catálogo Caldwell ele é facilmente achado na memória do Synscan. Se seu telescópio possui “Go To” é um passeio no parque. Sem é só ter atenção.  É um pouco mais distante. 3400 anos luz de nós.  E um pouco mais jovem. Só para dar um tempero; Mary T. Broke (Universidade de Edimburgo), em 1968, escreveu um paper alegando que Ngc 5823 não seria um aglomerado de fato. Mas suas ideias parecem ter sido provadas equivocadas. Ao observar 5823 eu apostaria nisto. Ou seria um impostor profissional. Quase um Queiroz.

                Ngc 5749 veio apenas fazer figuração neste post. 

                Atualmente quase não tenho usado o Newton para fotografar. Prefiro utilizar lentes. E o Drizzle do DSS para extrair os DSO´s. Sem acompanhamento e com o dólar a mais de 5 reais e o arroz batendo quase 7 o kilo não vou comprar um sistema de guiagem tão cedo... E assim me divirto muito mais com minha 300 mm para fotografar . E voltei a observar. Foto com lente . E o com os telescópios uso a retina em vez do CMOS. Acho importante lembrar disso. Astrofotografia não pode ser um fim em si mesma. E todos os objetos aqui apresentados foram descobertos com o auxílio luxuoso da visão.