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segunda-feira, 14 de agosto de 2017

M 3 : O Primeiro "Messier Original"

           

            M 3 foi descoberto por Messier em 3 de maio, 1764. Isto o tornou o septuagésimo quinto DSO a ser conhecido pela humanidade e o primeiro e ser descoberto por Messier. Tanto M1 como M2 já tinham sido observados por alguém antes dele...
            É um desafiador objeto para ser percebido a olho nu e suas estrelas são um excelente teste para telescópios. Diversas fontes (SEDS, The Messier Objects, O´Meara e cia. LTDA.) falam que o mesmo é perceptível a olho nu em céus de cristal (O ‘Meara nos fala de um alvo fácil a partir do Havaí) e de um esfuminho com qualquer auxilio ótico. Já com um telescópio de 100 mm este vai apresentar um núcleo compacto e brilhante envolvido em um arredondado e granulado e manchado brilho que desaparece lenta e uniformemente em direção a suas bordas exteriores; este não resolve o aglomerado, mas mostra algumas de suas estrelas mais brilhantes sob boas condições de transparência e seeing. Um 150 mm resolve os dois terços externos em fracas estrelas sobre um fundo de membro mais tênues do aglomerado. Um 200 mm mostra estrelas através de todo globular com exceção de seu círculo mais interno, o qual é resolvido por aparelhos com mais de 300 mm.
            M 3 é um dos mais brilhantes aglomerados dos céus e é extremamente estudado. Para os habitantes de terras boreais faz par com M 13 como um dos Globulares mais bacanas. Para nós austrais ele não chega a impressionar. Um belo aglomerado, mas que em comparação a Ômega Centauro, Tuc 47 e M 22 o mesmo fica um pouco a desejar...
            Foi um dos últimos globulares do catalogo Messier que observei.  Apesar de conhecer sua história e os elogios rasgados que são comuns a ele nos textos clássicos (e escritos no hemisfério norte...) eu acabava sempre vencido pelo difícil starhoop que conduz até o mesmo bem como pelas condições do horizonte norte em quase todos os meus locais de observação mais comuns. Tanto em Búzios como na Stonehenge dos Pobres (Rio de Janeiro) ele é bastante ofuscado pela poluição luminosa.  
            Conta a lenda que M 3 foi o gatilho para Messier realmente se empolgar e dar a partida em sua busca mais sistemática por nebulosas que pudessem confundir-se com cometas. As datas das observações parecem sustentar esta hipótese.   M 1 foi descoberta em 1758 e M 2 em 1760. Passaram-se 4 anos até a descoberta de M 3 no início de 1764. E até o final do ano Messier já havia chegado até M 40. E depois disto as entradas 41, 42,43,44 e 45 eram objetos já manjados e parece que entraram para este superar o número de entradas no catalogo organizado por Lacaille para a primeira versão do Catalogo Messier.
            Sua apresentação de M 3 também parece dar suporte a história: “ Em maio 3, 1764, quando trabalhando sobre um catalogo de nebulosas, eu descobri uma entre Bootes e os “Cães de Caça” (Cane Venattici) de Hevelius, o mais ao sul dos dois, exatamente entre sua cauda e suas patas, de acordo com as cartas de Flamsteed. (N.T. -Hevelius criou a constelação e as cartas utilizadas por Messier foram os planisférios (verdadeiras obras de arte) desenhadas por Flamsteed.). Eu observei esta nebulosa cruzando o meridiano & eu comparei com Mu Bootis: Sua ascenção reta foi achada como 202o 51´19´´, & sua declinação como 29o 32´ 57´´ norte. Esta nebulosa que examinei com um telescópio gregoriano de 30 polegadas (76,2 cm) de distância focal e com 104 vezes de aumento, não contém nenhuma estrela; o centro é brilhante e sua luz vai se apagando rumo ao exterior. É arredondada e pode ter 3 minutos de arco de diâmetro. Alguém a pode ver em um bom céu com um telescópio ordinário (não acromático) de um pé (D.F.) ”

Sem Drizzle. Visualmente ele ainda é mais discreto. Pelo menos em céus suburbanos ( bortle 6/7)

            William Herschel é o primeiro em resolver o aglomerado em estrelas. Mas cabe ao Admiral Smyth a mais bela descrição do período clássico de M 3 e apresentada em seu “The Bedford Catalog. ” Bedford foi o local de onde Smyth observou (com um refrator de 150 mm) todos os objetos que estão no catalogo Bedford e que compõe o segundo volume de seu "The Cycles of Celestial Objects”.  Como quase todos os guias observacionais clássicos ou modernos nunca foi traduzido para a língua de Camões. E assim espero não assassinar o texto em um inglês Vitoriano:
“ Um brilhante e lindo globular congregando não menos que 1000 pequenas estrelas, entre o Cão Austral e o Joelho do Boieiro; este brilha esplendidamente em direção ao centro e possui anexos (outliers) em todas as direções, exceto a sf (South following. Sudeste), onde é tão comprimido que com suas retardatárias, possui um que da figura da luminosa criatura oceânica chamada de Medusa pellucens. Este nobre objeto é situado em um triangulo formado por três pequenas nos quadrantes n.p. (North preceding, Noroeste), nf (north following, NE. e sf (South following, SE) as quais por seu brilho comparativo acrescentam ainda mais beleza ao campo. É próxima a distância central entre Arcturus e Cor Caroli, a 11o noroeste da última estrela. Esta massa é uma daquelas bolas de compactas e cunhadas estrelas cuja as leis de agregação são impossíveis de determinar; mas que a rotundicidade de sua figura nos dá uma completa indicação de um vínculo geral de atração. Foi descoberto em 1764 por Messier que a descreveu como uma “ nébula sem estrelas brilhante e arredondada”. Seu instrumento deve ter sido bastante modesto para não resolver este objeto, e a matéria de arrependimento que os esforços de tal homem terem sido restringidos por seus meios. Posteriormente foi descrita como uma Nebulosa granulada. Mas em 1784, Sir W. Herschel atacou com seu refletor de 20 pés a resolveu “um lindo aglomerado de estrelas, de 5´ou 6´em diâmetro”. Pelo processo de calibração, o qual ele descreveu na integra, ele estimou a sua profundidade como de 243a ordem. ”



            O sistema de calibragem de Herschel tem hoje caráter puramente histórico, mas o significado das palavras é de que M 3 se encontraria 243 vezes mais distante que Sirius.
            Observei M3 em condições bem abaixo do ideal. Já baixa no horizonte noroeste e sob um céu suburbano. Com o “Newton” (um refletor de 150 mm) devo concordar com as possibilidades descritas por quase todos. Sou capaz de perceber um núcleo bem brilhante e algumas estrelas no entorno. Poucas. Com visão direta nenhuma... isto com 120 x de Aumento. Com o auxílio luxuoso da tecnologia e de uma Canon T3 resolvo o objeto como um 200 mm. Creio eu...



            M3 é um belo aglomerado e um belo desafio para observadores no tropico de Capricórnio. Sempre tentei realizar o star hoop utilizando um caminho semelhante ao descrito por Smyth. Um chute culto entre Arcturus e Cor Caroli. Mas só acabei chegando até ele com o a ajuda de Mlle. Herschel (Uma cabeça equatorial HEQ 5 pro) que fez o serviço sozinha.


            As fotos aqui realizadas são resultado do empilhamento de 12 frames de 30 segundos (captura em RAW) mais o uso de 12 darks para calibrar o fundo. O stacking foi realizado no DSS e utilizei o Fits para melhorar o gradiente de fundo. Posteriormente ajustes no Photoshop CS. A foto que atualmente  abre o post é resultado de um pós processamento realizado com o DSS +PixInsight+ PhotoShop. 
            M 3 é um dos mais estudados aglomerados da galáxia. Localizado a 38.800 anos luz do centro galáctico e em direção oposta ao centro galáctico foge um pouco do esquadro. Possui uma rota bastante eclíptica e inclinada em relação ao plano galáctico.  Mesmo distante brilha com magnitude 6.2. Aceitando-se um diâmetro de 18 ´ ele se espalha por uma distância linear de 180 anos luz.  Mas seus “braços gravitacionais” podem se estender por 760 anos luz de diâmetro.
            M 3 possui também uma diversidade incrível de tipos e gêneros estelares. São conhecidas 235 variáveis. 187 RR Lyras (muito comuns a globulares), muitas Blue Stragglers (Gigantes azuis que há muito deveriam ter deixado de existir e que são fruto da interação de 2 ou mais estrelas na história do globular e que assim parecem ter bebido do elixir da juventude, e mais dezenas de outros tipos de variáveis... um rico campo de prova e que assim tem sua idade bastante discutida. As apostas vão de 8 a 20 bilhões de anos. Muito rico em metais (para um globular) M 3 serve como protótipo para os aglomerados do tipo Oosterhoff I.  A classificação Oosterhooff é uma dicotomia entre globulares e um tópico recente na cosmologia destes DSO´s
            M 3 é um belo alvo de interesse visual, histórico, cosmológico e outras cositas más. Uma parada obrigatória...  



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