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quarta-feira, 20 de março de 2019

Ngc 4349 e a Anã Marrom



Ngc 4349 é um daqueles DSO´s que todo mundo sabe que existe.  Sempre que você passeia pelo Stellarium ele está lá bem no meio do Cruzeiro do Sul. Mas entre saber que existe e existir de verdade há uma diferença. Mesmo porque o New General Catalog possui várias entradas “falsas”. Há muito eu tentava observar 4349 sem nenhum sucesso. Como o Starhooping até ele sendo facílimo eu começava a suspeitar que seria esse o caso.
                Não podia estar mais enganado. Com o projeto Dunlop 100 (observar os 100 objetos “mais interessantes” descobertos por Dunlop) em andamento isto se torna evidente. É a Entrada 292 do catalogo e a descrição de Dunlop é por demais clara para ser um equívoco.
“Um Bonito aglomerado de estrelas muito pequenas, lembrando uma grande e tênue nebulosa, com 6´a 7´de diâmetro: A concentração é bem gradual em direção a centro. Uma bela e brilhante estrela ao lado. Uma figura arredondada.”
Ngc 4349 - 2 drizzle Canon T3 6 X 30 segundos 1600 asa. As fotos ficaram muito ruins. Mas com a lua cheia nada foi feito como manda o figurino. Astrofotografia é a melhor diversão...

                Não bastasse isso recentemente foi descoberta que uma das estrelas do aglomerado (Ngc 4349-127) se trata de um sistema duplo e que sua companheira é uma anã marrom. Com essa bomba nas manchetes eu dou o braço a torcer e me vejo obrigado a localizar o bicho.  
                Para atiçar ainda mais a vontade ele se qualifica como um candidato ao “Projeto tudo que Existe” na sua forma original. (Este era o inalcançável sonho de observar todo o catalogo Ngc. Atualmente é “apenas” observar todos os objetos descritos por O´Meara na série “Deep Sky Companions”). O´Meara não o inclui em nenhum livro da série “Deep Sky Companion.
                Desta forma me vejo em Lumiar com o Newton (meu refletor 150 mm f8) debaixo de um céu onde a lua vai mais cheia que o devido.  Na verdade muito cheia, em dois dias estarei fotografando o eclipse lunar.
                Mas com Mlle. Herschel em excelente forma eu o localizo facilmente. Eu sei que ele está lá e chego mesmo a desconfiar sua presença. Não resolvo nenhuma estrela e a nebulosidade habita no limite do existir.  Isto com 48X de aumento. Com 120 não vi nada.
                Astrofotografia não é fair-play.  E após algumas exposições eu tenho mais um dos 100 de Dunlop na caixa.  Não bastasse isso o enquadramento ficou torto. Quis usar uma das estrelas mais brilhantes para garantir o foco e esqueci de ajustar depois. Como percebi que não iria tirar leite de pedra achei que estava de bom tamanho...
                Isso mostra claramente que o 100 de Dunlop não são um passeio no parque como o Catalogo Lacaille. E provavelmente mais difícil também que o catalogo Messier.
                Espero retornar a esse em noite mais adequada. Geralmente o Newton faz uma luta justa com o telescópio de Dunlop. Mas como ele viu estrelas e eu não vou colocar está na conta da lua cheia...


                Muito próxima a Acrux localizar o aglomerado não será difícil. Mas conte com céus escuros. Do Rio de Janeiro eu duvidei de sua existência por anos...
                Ngc 4349 tem cerca de 250 milhões de anos e 390 membros conhecidos. Se localiza a 7090 anos luz de nós.  Se espalha por algo entre 58 e 75 anos luz de universo. Qualquer estrela mais distante que isto não estará gravitacionalmente presa ao aglomerado (“tidal radius” é um conceito que você deve conhecer...).  A estrela 127 possui uma companheira com massa não inferior a 19,8 X a de Júpiter que a orbita a cada 678 dias. Quando descobriram isto Ngc 4349-127 a mais pesada estrela com a massa precisamente calculada onde uma companheira sub-estelar havia sido detectada e também um dos sistemas mais jovens conhecidos.  
É muita cosmologia para um aglomerado tão sem graça.