Ngc 4349 é um
daqueles DSO´s que todo mundo sabe que existe. Sempre que você passeia pelo Stellarium ele
está lá bem no meio do Cruzeiro do Sul. Mas entre saber que existe e existir de
verdade há uma diferença. Mesmo porque o New General Catalog possui várias
entradas “falsas”. Há muito eu tentava observar 4349 sem nenhum sucesso. Como o
Starhooping até ele sendo facílimo eu começava a suspeitar que seria esse o
caso.
Não
podia estar mais enganado. Com o projeto Dunlop 100 (observar os 100 objetos “mais
interessantes” descobertos por Dunlop) em andamento isto se torna evidente. É a
Entrada 292 do catalogo e a descrição de Dunlop é por demais clara para ser um equívoco.
“Um Bonito aglomerado de estrelas
muito pequenas, lembrando uma grande e tênue nebulosa, com 6´a 7´de diâmetro: A
concentração é bem gradual em direção a centro. Uma bela e brilhante estrela ao
lado. Uma figura arredondada.”
Ngc 4349 - 2 drizzle Canon T3 6 X 30 segundos 1600 asa. As fotos ficaram muito ruins. Mas com a lua cheia nada foi feito como manda o figurino. Astrofotografia é a melhor diversão... |
Não
bastasse isso recentemente foi descoberta que uma das estrelas do aglomerado (Ngc
4349-127) se trata de um sistema duplo e que sua companheira é uma anã marrom.
Com essa bomba nas manchetes eu dou o braço a torcer e me vejo obrigado a
localizar o bicho.
Para
atiçar ainda mais a vontade ele se qualifica como um candidato ao “Projeto tudo
que Existe” na sua forma original. (Este era o inalcançável sonho de observar todo
o catalogo Ngc. Atualmente é “apenas” observar todos os objetos descritos por O´Meara
na série “Deep Sky Companions”). O´Meara não o inclui em nenhum livro da série “Deep
Sky Companion.
Desta
forma me vejo em Lumiar com o Newton (meu refletor 150 mm f8) debaixo de um céu
onde a lua vai mais cheia que o devido. Na verdade muito cheia, em dois dias estarei fotografando
o eclipse lunar.
Mas
com Mlle. Herschel em excelente forma eu o localizo facilmente. Eu sei que ele
está lá e chego mesmo a desconfiar sua presença. Não resolvo nenhuma estrela e
a nebulosidade habita no limite do existir. Isto com 48X de aumento. Com 120 não vi nada.
Astrofotografia
não é fair-play. E após algumas
exposições eu tenho mais um dos 100 de Dunlop na caixa. Não bastasse isso o enquadramento ficou torto.
Quis usar uma das estrelas mais brilhantes para garantir o foco e esqueci de
ajustar depois. Como percebi que não iria tirar leite de pedra achei que estava
de bom tamanho...
Isso
mostra claramente que o 100 de Dunlop não são um passeio no parque como o Catalogo
Lacaille. E provavelmente mais difícil também que o catalogo Messier.
Espero
retornar a esse em noite mais adequada. Geralmente o Newton faz uma luta justa
com o telescópio de Dunlop. Mas como ele viu estrelas e eu não vou colocar está
na conta da lua cheia...
Muito
próxima a Acrux localizar o aglomerado não será difícil. Mas conte com céus
escuros. Do Rio de Janeiro eu duvidei de sua existência por anos...
Ngc
4349 tem cerca de 250 milhões de anos e 390 membros conhecidos. Se localiza a
7090 anos luz de nós. Se espalha por
algo entre 58 e 75 anos luz de universo. Qualquer estrela mais distante que
isto não estará gravitacionalmente presa ao aglomerado (“tidal radius” é um
conceito que você deve conhecer...). A
estrela 127 possui uma companheira com massa não inferior a 19,8 X a de Júpiter
que a orbita a cada 678 dias. Quando descobriram isto Ngc 4349-127 a mais
pesada estrela com a massa precisamente calculada onde uma companheira sub-estelar
havia sido detectada e também um dos sistemas mais jovens conhecidos.
É muita
cosmologia para um aglomerado tão sem graça.
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