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segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Ngc 6352, Dunlop e Algumas Hipóteses.de Evolução Galáctica


              

           Ngc 6352 é uma descoberta original de Dunlop. E é uma das poucas entradas do catálogo organizado pelo “Astrônomo Cavalheiro de Parammata” que se provou real e que escapou a John Herschel em seu gigantesco levantamento de nebulosas dedicado aos céus austrais realizado entre 1834-38. Dunlop foi o segundo grande explorador do céu austral. Seu catalogo supera em muito o trabalho anteriormente realizado por Lacaille no século anterior. O mais incrível é que este foi realizado de forma totalmente independente e sem nenhum suporte de academias ou observatórios. E em um espaço de 6 meses no ano de 1826.  É o astrônomo “amador” mais bem-sucedido de todos os tempos. Um verdadeiro herói.

                A sua entrada de numero 417 foi posteriormente incluída no trabalho de Bayer e acrescido no New General Catalog (1888) com o numero 6352. Quase um século mais tarde foi apresentado como a entrada 81 da lista observacional criada por Sir Patrick Moore (C 81).

                Habitando bem ao sul e tendo escapado de John Herschel este belo e interessante aglomerado não foi descrito por nenhum dos chamados autores clássicos (Smith, Webb, Olcott e Cia. Ltda).   Dunlop deixa esta breve e bastante precisa descrição: “Uma nebulosa bastante fraca, de um formato arredondado irregular ligeiramente ramificada, facilmente resolvida em estrelas com uma leve concentração em direção ao centro.”

                Bayer (que nunca deve ter observado este de fato) nos fala no Ngc apenas o seguinte: “Aglomerado (não nébula), bem fraco, grande.”
                Habitando a constelação de Ara ele não é sequer descrito, detalhadamente, por Burnham em seu “Celestial Handbook”. É sempre esquecido em detrimento de Ngc 6397 que é mais brilhante e candidato a ser o globular mais próximo da terra.
                Ele é finalmente descrito por O´Meara em seu “The Caldwell Objects” de uma forma que não me parece fazer jus ao mesmo. Provavelmente devido a sua posição extremamente austral para um habitante das Ilhas do Havaí. Ele nos fala de (com 72X de aumento) “um terrivelmente suave brilho “no qual com tempo e atenção começa a revelar uma barra destacada de luz a sudoeste do principal globo leitoso. Segue dizendo que todo o corpo central do aglomerado é cercado por um suave brilho. A imagem é incomodamente assimétrica e que esta assimetria se acentua mais e mais conforme se observa este detalhadamente. Fala em alças ... Seu desenho do aglomerado deixa claro que sua observação deste foi modesta. Uma raridade...
                Observei Ngc 6352 em uma noite extremamente favorável de Lumiar debaixo de um céu Bortle 3 (rural). Com a Lua nove e este já alto no céu achei o aglomerado bem evidente mesmo pela buscadora. Não grande mais de nebulosidade evidente. É um aglomerado XI na escala Shapley. Ou seja, pouquíssimo concentrado. Mas em uma noite temática (observei diversos aglomerados globulares frouxos) este não foi exatamente difícil. Comparado ao alvo anterior na noite (Ngc 5897- O Aglomerado Fantasma) este é evidente, grande e se resolve bastante. Na verdade, acho este bem mais acessível e fácil que diversos dos Messier difíceis (M 71 é um alvo bem mais difícil...). resolvi muitas estrelas com visão periférica e achei obvia a barra descrita por O´Meara com 60X de aumento. Com 120 X ele é ainda mais “estrelado”.
2 drizzle 
                Ngc 6352 é um aglomerado de disco e com alta metalicidade. Por isto mesmo um alvo de grande interesse cosmológico. Globulares se distinguem em duas populações bem características. Os chamados globulares do disco e os globulares do halo. Os do Disco possuem, em geral, uma metalicidade maior que os de halo. Um típico globular do halo possui 1/100 de Ferro (em relação ao hidrogênio) que o nosso sol. Já um globular de disco esta relação cai para 1/50. Desta forma aglomerados como 6352 formam uma espécie de elo perdido entre globulares de halo e antigos abertos como M 67.
                Uma hipótese é algo que não é, mas que fazemos de conta que é, para ver como seria se ela fosse.
 Um paper do Astrophysical Journal de 1995 utilizando dados do Hubble Space Telescope  revelou que que Ngc é extremamente semelhante ao protótipo globular de disco Tuc 47. Teriam estes idades semelhantes (14,5 bilhões de anos?) e metalicidade bem próxima. Desta forma os globulares de disco seriam mais velhos que a população do halo. Isto contraria o amplamente aceito conceito de os globulares de halo são mais antigos que os do disco. Se isso for verdade (a hipótese) os globulares de disco se formaram juntamente com o restante do disco galáctico enquanto os globulares do Halo se formaram a partir da canibalização de galáxias satélites. A descoberta da galáxia esferoidal de Sagitário em 1994 parece ter entusiasmado muito o meio acadêmico. Esta galáxia parece estar passando por um processo de destruição por forças de  maré e depositando seu sistema de globulares e estrelas no halo de nossa galáxia. Atualmente é mais aceito um modelo hibrido com uma diversidade maior de cenários e que parece muito mais sustentável e realista.
             Hubble sempre associou a desenvolvimento da cosmologia a evolução da tecnologia. E assim o foi. Após o estudo de 1995 o HST passou por uma missão de reparo e um estudo realizado por Faria e Feltzing e publicado no Observed HR Diagrams and Stellar Evolution, ASP Conference Proceedings, Vol. 274 já em 2005 revelou uma idade de “modestos” 12,6 Bilhões de anos para Ngc 6352 e outros diversos globulares de disco antes considerados mais anciões. A técnica utilizada é bastante interessante, mas foge ao escopo do Nuncius Australis. O paper em questão pode ser acessado em http://adsabs.harvard.edu/full/2002ASPC..274..373F .  E assim caminha a humanidade e a ciência ...
               Localizar Ngc 6352 é relativamente fácil a partir de Alpha Ara. Em céus escuros este irá comparecer como um tênue esfuminho em uma buscadora 10X50 mm e é bem evidente com um binóculo 15X70 mm. Em céus menos generosos é mais difícil mesmo ao telescópio.
                Com poucas exposições de 30 segundos e ISSO 1600 este revela bastante detalhes. Sua assimetria é bem evidente e um de seus traços mais característicos.  O equipamento utilizado foi uma Canon T3+Newton 150 mm f8+ HEQ 5 Pro. O processamento foi realizado no DSS + PixInsight+ Photoshop.
                Ngc 6352 é uma descoberta original de Dunlop. E é uma das poucas entradas do catálogo organizado pelo “Astrônomo Cavalheiro de Parammata” que se provou real e que escapou a John Herschel em seu gigantesco levantamento de nebulosas dedicado aos céus austrais realizado entre 1834-38. Dunlop foi o segundo grande explorador do céu austral. Seu catalogo supera em muito o trabalho anteriormente realizado por Lacaille no século anterior. O mais incrível é que este foi realizado de forma totalmente independente e sem nenhum suporte de academias ou observatórios. E em um espaço de 6 meses no ano de 1826.  É o astrônomo “amador” mais bem-sucedido de todos os tempos. Um verdadeiro herói.
                À sua entrada de numero 417 foi posteriormente incluída no trabalho de Bayer e incluído no New General Catalog (1888) com o numero 6352 e quase um século mais tarde foi apresentado como a entrada 81 da lista observacional criada por Sir Patrick Moore (C 81).
                Habitando bem ao sul e tendo escapado de John Herschel este belo e interessante aglomerado não foi descrito por nenhum dos chamados autores clássicos (Smith, Webb, Olcott e Cia. Ltda).   Dunlop deixa estar breve e bastante precisa descrição: “Uma nebulosa bastante fraca, de um formato arredondado irregular ligeiramente ramificada, facilmente resolvida em estrelas com uma leve concentração em direção ao centro.”
                Bayer (que nunca deve ter observado este de fato) nos fala no Ngc apenas o seguinte: “Aglomerado (não nébula), bem fraco, grande.”
                Habitando a constelação de Ara ele não é sequer descrito, detalhadamente, por Burnham em seu “Celestial Handbook”. É sempre esquecido em detrimento de Ngc 6397 que é mais brilhante e candidato a ser o globular mais próximo da terra.
           Ele é finalmente descrito por O´Meara em seu “The Caldwell Objects” de uma forma que não me parece fazer jus ao mesmo. Provavelmente devido a sua posição extremamente austral para um habitante das Ilhas do Havaí. Ele nos fala de (com 72X de aumento) “um terrivelmente suave brilho “no qual com tempo e atenção começa a revelar uma barra destacada de luz a sudoeste do principal globo leitoso. Segue dizendo que todo o corpo central do aglomerado é cercado por um suave brilho. A imagem é incomodamente assimétrica e que esta assimetria se acentua mais e mais conforme se observa este detalhadamente. Fala em alças ...
              
        

          

              



segunda-feira, 3 de setembro de 2018

IC 4756: O Aglomerado dos Muitos Nomes


            IC 4756 é um aglomerado aberto com muitos apelidos. Até hoje haviam três registrados. Creio que agora possam ser quatro...
            O enorme aglomerado aberto é conhecido como Graff 1, O Aglomerado Tweedledee e O Aglomerado Jardim Secreto. Foi descoberto através de uma placa fotográfica em 1908 pelo astrônomo de Harvard Solon Bailey enquanto analisava fotos realizadas com uma lente Cook de 25 mm f13 na Estação de Harvard em Arequipa.
            Foi redescoberto em 1922 pelo astrônomo alemão Kasimir Graff. Durante muito tempo diversas fontes o consideraram entes distintos no universo. Não eram e o aglomerado acabou levando o nome de Graff que o descobriu visualmente. Já seu segundo apelido, Tweedledee é dado por O´Meara em seu “Hidden Secrets”. Este o reúne a seu vizinho Ngc 6633 nas entradas 92 e 93 de seu livro. E batiza IC 4756 como Tweedledee e seu vizinho como Tweedledoo. Estes são dois pequenos e gordinhos pugilistas gêmeos que são encontrados por Alice no quarto capítulo de “Alice através do Espelho” de Lewis Carrol.  Desde então o nome dos gêmeos se tornou sinônimo de quaisquer duas pessoas, lugares ou coisa que justifiquem uma comparação.
            Já o terceiro apelido demandou mais pesquisa e dedução para se chegar a sua origem e o trabalho definitivamente remonta mais a Conan Doyle do que a Lewis Carrol. Seu autor foi certamente um inglês. The Secret Garden é um clássico da literatura inglesa. É um dos mais suaves livros que já li embora aborde questões muito espinhosas, especialmente para o publico a que é, em geral, indicado. Um Livro infantil que aborda negligência e abandono de seus “heróis”.  Observar IC 4756 é quase como interpretar da forma correta o texto de France Hodgson Burnet. É como entrar no jardim Secreto (um dos muitos dentro da mansão Craven) e fazer uma pausa no dia (ou na noite) e se impregnar na magia que é sempre percebida por Collin (uma das crianças...) e aproveitar a natureza e poder refletir sobre verdades simples, mas que por isto mesmo não são obvias.  Sabendo isto minhas apostas são que Patrick Moore seja o padrinho de batismo de nosso aglomerado. Era inglês, certamente leu “Jardim Secreto” (nenhum inglês de seu tempo sairia da escola sem ter o lido. Afinal na Inglaterra não é como aqui onde crianças terminam o ginásio sem sequer terem lido ‘” O Gênio do Crime”). Porque este não inclui este no Catalogo Caldwell é um mistério para algum Sherlock de plantão...


4X 30 seg 1600 ISO 

            IC 4756 é um aglomerado enorme, cobrindo quase 10 de firmamento. E que habita, como no livro, sobre um jardim rico e maltratado. No caso campos estelares da via láctea. Ele é feito sob medida para minha ocular de 40 mm que quase o abarca na integra e revela seus encantos que não são poucos. É um daqueles grande e antigos abertos que remetem a M 44 e cia LTDA. com cerca de 1 bilhão de anos ele é de fato antigo para um aberto. E pouco denso deve habitar uma tênue faixa onde esses agrupamentos ainda resistem as intempéries e se mantem no limite da coesão como entes físicos.
            Este conjunto da obra nos ajuda a entender como este DSO passou desapercebido pelos observadores clássicos do século XIX. O faz um Jardim Secreto... Ainda que IC 4756, com magnitude ao redor de 4, seja percebido a olho nu ele é visto contra o esplendor e brilho da via láctea. E com sua enorme área ele simplesmente era grande demais para os estreitos campos dos telescópios destes pioneiros. Como eu disse, ele é feito para minha ocular 40 mm ou meu 15X70. Com a 26 mm demanda um certo passeio para ser coberto na integra e sem ter visto a floresta antes as arvores talvez passem desapercebidas.

            Localizar IC 4576 é fácil. Em locais de céu escuro basta localizar dois esfuminhos óbvios (o outro será Ngc 6633) no meio do caminho entre Theta Serpens Cauda, uma bela dupla amarelo limão siciliano que vai se resolver na buscadora, e um par de estrela de brilho próximo, 71 e 72 Ophiuchi. As duas últimas estrelas representavam a ponta do chifre da finada constelação de Touro de Poniatovii.
            O aglomerado é uma grata surpresa e agora possuindo um quarto apelido: “O Aglomerado dos Muitos Nomes”. Mas confesso que “O Jardim Secreto” será sempre meu favorito. Recomendo a observação e a leitura... 

            As fotos não fazem justiça a beleza deste. O sensor da Canon  T3  montada no Newton ( 150 mm f8) não cobre toda a área e como disse este   aglomerado é um bom momento para se entrar em um jardim secreto e fazer uma pausa no dia (ou na noite) e se impregnar de magia e perceber a natureza. É um alvo visual por excelência.