Ngc
6352 é uma descoberta original de Dunlop. E é uma das poucas entradas do catálogo
organizado pelo “Astrônomo Cavalheiro de Parammata” que se provou real e que
escapou a John Herschel em seu gigantesco levantamento de nebulosas dedicado
aos céus austrais realizado entre 1834-38. Dunlop foi o segundo grande explorador
do céu austral. Seu catalogo supera em muito o trabalho anteriormente realizado
por Lacaille no século anterior. O mais incrível é que este foi realizado de
forma totalmente independente e sem nenhum suporte de academias ou
observatórios. E em um espaço de 6 meses no ano de 1826. É o astrônomo “amador” mais bem-sucedido de
todos os tempos. Um verdadeiro herói.
A sua entrada de numero 417 foi posteriormente incluída no trabalho de Bayer e acrescido no New General Catalog (1888) com o numero 6352. Quase um século mais tarde
foi apresentado como a entrada 81 da lista observacional criada por Sir Patrick
Moore (C 81).
Habitando
bem ao sul e tendo escapado de John Herschel este belo e interessante
aglomerado não foi descrito por nenhum dos chamados autores clássicos (Smith,
Webb, Olcott e Cia. Ltda). Dunlop deixa
esta breve e bastante precisa descrição: “Uma nebulosa bastante fraca, de um
formato arredondado irregular ligeiramente ramificada, facilmente resolvida em
estrelas com uma leve concentração em direção ao centro.”
Bayer
(que nunca deve ter observado este de fato) nos fala no Ngc apenas o seguinte: “Aglomerado
(não nébula), bem fraco, grande.”
Habitando
a constelação de Ara ele não é sequer descrito, detalhadamente, por Burnham em
seu “Celestial Handbook”. É sempre esquecido em detrimento de Ngc 6397 que é
mais brilhante e candidato a ser o globular mais próximo da terra.
Ele
é finalmente descrito por O´Meara em seu “The Caldwell Objects” de uma forma
que não me parece fazer jus ao mesmo. Provavelmente devido a sua posição
extremamente austral para um habitante das Ilhas do Havaí. Ele nos fala de (com
72X de aumento) “um terrivelmente suave brilho “no qual com tempo e atenção
começa a revelar uma barra destacada de luz a sudoeste do principal globo
leitoso. Segue dizendo que todo o corpo central do aglomerado é cercado por um
suave brilho. A imagem é incomodamente assimétrica e que esta assimetria se
acentua mais e mais conforme se observa este detalhadamente. Fala em alças ... Seu desenho do aglomerado deixa claro que sua observação deste foi modesta. Uma raridade...
Observei
Ngc 6352 em uma noite extremamente favorável de Lumiar debaixo de um céu Bortle
3 (rural). Com a Lua nove e este já alto no céu achei o aglomerado bem evidente
mesmo pela buscadora. Não grande mais de nebulosidade evidente. É um aglomerado
XI na escala Shapley. Ou seja, pouquíssimo concentrado. Mas em uma noite temática
(observei diversos aglomerados globulares frouxos) este não foi exatamente difícil.
Comparado ao alvo anterior na noite (Ngc 5897- O Aglomerado Fantasma) este é evidente,
grande e se resolve bastante. Na verdade, acho este bem mais acessível e fácil que
diversos dos Messier difíceis (M 71 é um alvo bem mais difícil...). resolvi
muitas estrelas com visão periférica e achei obvia a barra descrita por O´Meara
com 60X de aumento. Com 120 X ele é ainda mais “estrelado”.
2 drizzle |
Ngc
6352 é um aglomerado de disco e com alta metalicidade. Por isto mesmo um alvo
de grande interesse cosmológico. Globulares se distinguem em duas populações
bem características. Os chamados globulares do disco e os globulares do halo.
Os do Disco possuem, em geral, uma metalicidade maior que os de halo. Um típico
globular do halo possui 1/100 de Ferro (em relação ao hidrogênio) que o nosso
sol. Já um globular de disco esta relação cai para 1/50. Desta forma
aglomerados como 6352 formam uma espécie de elo perdido entre globulares de
halo e antigos abertos como M 67.
Uma
hipótese é algo que não é, mas que fazemos de conta que é, para ver como seria
se ela fosse.
Um paper do Astrophysical Journal de 1995
utilizando dados do Hubble Space Telescope revelou que que Ngc é
extremamente semelhante ao protótipo globular de disco Tuc 47. Teriam estes
idades semelhantes (14,5 bilhões de anos?) e metalicidade bem próxima. Desta
forma os globulares de disco seriam mais velhos que a população do halo. Isto
contraria o amplamente aceito conceito de os globulares de halo são mais
antigos que os do disco. Se isso for verdade (a hipótese) os globulares de
disco se formaram juntamente com o restante do disco galáctico enquanto os
globulares do Halo se formaram a partir da canibalização de galáxias satélites.
A descoberta da galáxia esferoidal de Sagitário em 1994 parece ter entusiasmado
muito o meio acadêmico. Esta galáxia parece estar passando por um processo de
destruição por forças de maré e depositando seu sistema de globulares e estrelas no
halo de nossa galáxia. Atualmente é mais aceito um modelo hibrido com uma
diversidade maior de cenários e que parece muito mais sustentável e realista.
Hubble
sempre associou a desenvolvimento da cosmologia a evolução da tecnologia. E assim
o foi. Após o estudo de 1995 o HST passou por uma missão de reparo e um estudo
realizado por Faria e Feltzing e publicado no Observed HR Diagrams and Stellar
Evolution, ASP Conference Proceedings, Vol. 274 já em 2005 revelou uma idade de “modestos”
12,6 Bilhões de anos para Ngc 6352 e outros diversos globulares de disco antes
considerados mais anciões. A técnica utilizada é bastante interessante, mas foge
ao escopo do Nuncius Australis. O paper em questão pode ser acessado em http://adsabs.harvard.edu/full/2002ASPC..274..373F
. E assim caminha a humanidade e a ciência
...
Localizar
Ngc 6352 é relativamente fácil a partir de Alpha Ara. Em céus escuros este irá
comparecer como um tênue esfuminho em uma buscadora 10X50 mm e é bem evidente
com um binóculo 15X70 mm. Em céus menos generosos é mais difícil mesmo ao
telescópio.
Com
poucas exposições de 30 segundos e ISSO 1600 este revela bastante detalhes. Sua
assimetria é bem evidente e um de seus traços mais característicos. O equipamento utilizado foi uma Canon T3+Newton
150 mm f8+ HEQ 5 Pro. O processamento foi realizado no DSS + PixInsight+
Photoshop.
Ngc
6352 é uma descoberta original de Dunlop. E é uma das poucas entradas do catálogo
organizado pelo “Astrônomo Cavalheiro de Parammata” que se provou real e que
escapou a John Herschel em seu gigantesco levantamento de nebulosas dedicado
aos céus austrais realizado entre 1834-38. Dunlop foi o segundo grande explorador
do céu austral. Seu catalogo supera em muito o trabalho anteriormente realizado
por Lacaille no século anterior. O mais incrível é que este foi realizado de
forma totalmente independente e sem nenhum suporte de academias ou
observatórios. E em um espaço de 6 meses no ano de 1826. É o astrônomo “amador” mais bem-sucedido de
todos os tempos. Um verdadeiro herói.
À
sua entrada de numero 417 foi posteriormente incluída no trabalho de Bayer e incluído
no New General Catalog (1888) com o numero 6352 e quase um século mais tarde
foi apresentado como a entrada 81 da lista observacional criada por Sir Patrick
Moore (C 81).
Habitando
bem ao sul e tendo escapado de John Herschel este belo e interessante
aglomerado não foi descrito por nenhum dos chamados autores clássicos (Smith,
Webb, Olcott e Cia. Ltda). Dunlop deixa
estar breve e bastante precisa descrição: “Uma nebulosa bastante fraca, de um
formato arredondado irregular ligeiramente ramificada, facilmente resolvida em
estrelas com uma leve concentração em direção ao centro.”
Bayer
(que nunca deve ter observado este de fato) nos fala no Ngc apenas o seguinte: “Aglomerado
(não nébula), bem fraco, grande.”
Habitando
a constelação de Ara ele não é sequer descrito, detalhadamente, por Burnham em
seu “Celestial Handbook”. É sempre esquecido em detrimento de Ngc 6397 que é
mais brilhante e candidato a ser o globular mais próximo da terra.
Ele
é finalmente descrito por O´Meara em seu “The Caldwell Objects” de uma forma
que não me parece fazer jus ao mesmo. Provavelmente devido a sua posição
extremamente austral para um habitante das Ilhas do Havaí. Ele nos fala de (com
72X de aumento) “um terrivelmente suave brilho “no qual com tempo e atenção
começa a revelar uma barra destacada de luz a sudoeste do principal globo
leitoso. Segue dizendo que todo o corpo central do aglomerado é cercado por um
suave brilho. A imagem é incomodamente assimétrica e que esta assimetria se
acentua mais e mais conforme se observa este detalhadamente. Fala em alças ...
Texto maravilhoso. Como sempre muito bem explicativo e com imersão na história do objeto celste e também do momento de busca pelo mesmo. Parabéns! Obs: o texto com uma parte duplicada.
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