IC 4756 é um aglomerado aberto com
muitos apelidos. Até hoje haviam três registrados. Creio que agora possam ser
quatro...
O enorme
aglomerado aberto é conhecido como Graff 1, O Aglomerado Tweedledee e O Aglomerado
Jardim Secreto. Foi descoberto através de uma placa fotográfica em 1908 pelo astrônomo de Harvard Solon Bailey enquanto analisava fotos realizadas com
uma lente Cook de 25 mm f13 na Estação de Harvard em Arequipa.
Foi
redescoberto em 1922 pelo astrônomo alemão Kasimir Graff. Durante muito tempo
diversas fontes o consideraram entes distintos no universo. Não eram e o
aglomerado acabou levando o nome de Graff que o descobriu visualmente. Já seu
segundo apelido, Tweedledee é dado por O´Meara em seu “Hidden Secrets”. Este o reúne
a seu vizinho Ngc 6633 nas entradas 92 e 93 de seu livro. E batiza IC 4756 como
Tweedledee e seu vizinho como Tweedledoo. Estes são dois pequenos e gordinhos
pugilistas gêmeos que são encontrados por Alice no quarto capítulo de “Alice
através do Espelho” de Lewis Carrol. Desde
então o nome dos gêmeos se tornou sinônimo de quaisquer duas pessoas, lugares
ou coisa que justifiquem uma comparação.
Já o
terceiro apelido demandou mais pesquisa e dedução para se chegar a sua origem e
o trabalho definitivamente remonta mais a Conan Doyle do que a Lewis Carrol. Seu
autor foi certamente um inglês. The Secret Garden é um clássico da literatura inglesa.
É um dos mais suaves livros que já li embora aborde questões muito espinhosas,
especialmente para o publico a que é, em geral, indicado. Um Livro infantil que
aborda negligência e abandono de seus “heróis”.
Observar IC 4756 é quase como interpretar da forma correta o texto de France
Hodgson Burnet. É como entrar no jardim Secreto (um dos muitos dentro da mansão
Craven) e fazer uma pausa no dia (ou na noite) e se impregnar na magia que é
sempre percebida por Collin (uma das crianças...) e aproveitar a natureza e
poder refletir sobre verdades simples, mas que por isto mesmo não são obvias. Sabendo isto minhas apostas são que Patrick
Moore seja o padrinho de batismo de nosso aglomerado. Era inglês, certamente
leu “Jardim Secreto” (nenhum inglês de seu tempo sairia da escola sem ter o lido.
Afinal na Inglaterra não é como aqui onde crianças terminam o ginásio sem
sequer terem lido ‘” O Gênio do Crime”). Porque este não inclui este no Catalogo
Caldwell é um mistério para algum Sherlock de plantão...
4X 30 seg 1600 ISO |
IC 4756 é um
aglomerado enorme, cobrindo quase 10 de firmamento. E que habita,
como no livro, sobre um jardim rico e maltratado. No caso campos estelares da
via láctea. Ele é feito sob medida para minha ocular de 40 mm que quase o
abarca na integra e revela seus encantos que não são poucos. É um daqueles
grande e antigos abertos que remetem a M 44 e cia LTDA. com cerca de 1 bilhão
de anos ele é de fato antigo para um aberto. E pouco denso deve habitar uma tênue
faixa onde esses agrupamentos ainda resistem as intempéries e se mantem no
limite da coesão como entes físicos.
Este
conjunto da obra nos ajuda a entender como este DSO passou desapercebido pelos
observadores clássicos do século XIX. O faz um Jardim Secreto... Ainda que IC 4756,
com magnitude ao redor de 4, seja percebido a olho nu ele é visto contra o
esplendor e brilho da via láctea. E com sua enorme área ele simplesmente era
grande demais para os estreitos campos dos telescópios destes pioneiros. Como eu
disse, ele é feito para minha ocular 40 mm ou meu 15X70. Com a 26 mm demanda um
certo passeio para ser coberto na integra e sem ter visto a floresta antes as
arvores talvez passem desapercebidas.
Localizar IC
4576 é fácil. Em locais de céu escuro basta localizar dois esfuminhos óbvios (o
outro será Ngc 6633) no meio do caminho entre Theta Serpens Cauda, uma bela
dupla amarelo limão siciliano que vai se resolver na buscadora, e um par de
estrela de brilho próximo, 71 e 72 Ophiuchi. As duas últimas estrelas
representavam a ponta do chifre da finada constelação de Touro de Poniatovii.
O aglomerado
é uma grata surpresa e agora possuindo um quarto apelido: “O Aglomerado dos Muitos Nomes”. Mas confesso que “O Jardim Secreto” será sempre meu favorito.
Recomendo a observação e a leitura...
As fotos não
fazem justiça a beleza deste. O sensor da Canon T3 montada no Newton ( 150 mm f8) não cobre toda a área e como disse
este aglomerado é um bom momento para se entrar em um
jardim secreto e fazer uma pausa no dia (ou na noite) e se impregnar de magia e
perceber a natureza. É um alvo visual por excelência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário