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sábado, 13 de fevereiro de 2021

Ngc 2423: O Super Aglomerado das Hiades, Leis, Hipoteses, Lendas e Coincidências

 


                Quem acompanha o Nuncius Australis já deve conhecer as Coincidências de Adams. Essa são coincidências que levam a crer que dois fenômenos não relacionados tenham algo a ver com leis fundamentais do Universo. Mas são apenas uma coincidência.  São uma criação de Douglas Adams, autor do “Guia do Mochileiro das Galáxias”. Uma obra obrigatória para qualquer amador .

Dois exemplos clássicos:

1.     1  Em um triangulo retângulo onde o cateto maior possui o tamanho da soma do diâmetro da Lua e da Terra e o cateto menor possui o tamanho da terra vai nos levar a uma hipotenusa com o valor de Phi. E voilá:  Proporção Aurea, Fibonacci e outras numerologias se apresentam. Uma “Coincidências de Adams” para minha coleção.

2.        2  A Lei de Titius Bode. Apesar de parecer as orbitas planetárias não são quantizadas. Outra para a coleção. Esta alçada a lei, mas é apenas uma licença poética.

Na hierarquia do método, depois das Coincidência de Adams, vem as hipóteses.

Estas, as hipóteses, podem ser entendidas como sendo pressuposições sobre o esperado. Ter uma ou algumas hipóteses vão contribuir para orientar a direção da sua pesquisa. Logo, ajuda você a manter o foco.

Mas não se preocupe, não existem normas para criação de hipóteses. Elas podem ser provenientes de conhecimento de: senso comum; observação de uma situação pelo pesquisador; comparação de estudo; dedução lógica de teoria; cultura na qual a problemática é observada; analogias entre duas ou mais variáveis.

hipótese é algo que não é, mas que fazemos de conta que é, para ver como seria se ela fosse.

Uma hipótese que sobreviveu a observação, experimento e mais algumas premissas se candidata a lei.

Uma lei é provada matematicamente e sobrevive a qualquer escrutínio lógico e permite prever o que vai acontecer em qualquer local do universo em qualquer data.

Na ciência existe ainda algo que caminha na tênue linha entre a hipótese, a coincidência e a lei... São as Lendas da ciência.

Dizem que lendas sempre tem um fundo de verdade.  Ou que são mentiras que ganharam a autoridade do tempo.

E assim, meandrando pelo método científico, chegamos até Ngc 2423 e ao super aglomerado das Hiades.



Até Ngc 2423 chegamos porque eu fotografei o aglomerado por acaso. Ele fica muito próximo a M 47. E quando descobri que M 47 tinha mais um agregado além de M46 (estes dois aglomerados de Messier tem um que de siameses) fiquei boquiaberto. Mais ainda quando descobri que este era um alvo perfeito para o “Projeto tudo que Existe”; este inclui todo e qualquer DSO que escapou das garras de O´Meara, Burnham e cia ltda e não se encontra em nenhum guia observacional que eu possua. Na verdade, uma vítima perfeita já que é um belo aglomerado, com um tamanho razoável, visível com quase qualquer equipamento e por incrível que pareça relativamente bem estudado.

Mais que isso. Um possível remanescente do lendário Super aglomerado das Hiades.

Hiades


As Hiades são o aglomerado mais próximo da terra e conhecido desde a antiguidade. Localizadas ao redor de Aldebarã (a Estrela laranja que representa o Olho do Touro e não é um membro de fato das Hiades) dispensam apresentações. Se você já olhou para o céu com alguma atenção já as viu. Mesmo sem saber.

Mas, de volta a Ngc 2423, vamos ver como estes se relacionam. Começa a nascer uma hipótese. Quando fotografo um objeto o passo seguinte é pesquisar sua história e cosmologia. Geralmente começa caçando o mesmo na minha biblioteca. Quando esse escapa e todos os meus alfarrábios parto para a internet. E aí descubro que apesar de ignorado por todos os pervertidos que assim como eu adoram caçar DSO´s pouco conhecidos o nosso aglomerado é bem conhecido nos círculos mais sérios da astronomia por um motivo muito em moda atualmente. Ao redor de uma de suas estrelas foi encontrado um planeta exo solar. Pelo que entendi Ngc 2423-3 possui um Júpiter quente ou um anão marrom. Isto é alvo de discussão.  Uma coisa leva a outra e vários papers começam a surgir a respeito do aglomerado com um planeta. Um deles me chama a atenção. Reconheço o nome do autor. Não sei bem da onda. tipo aquela música “esqueci seu sobrenome, mas me lembro de você”. Não sei lá o que Eggden...

Vamos voltar um pouco no tempo. Quando estudamos o universo é uma ferramenta útil. Para o horror de alguns astrônomos mais Caxias a história é também uma ciência. Aliás as ciências humanas, a filosofia e etc... tem papel fundamental no avanço da ciência. Na verdade, para desespero de alguns, toda e qualquer ciência é humana. A menos que você conheça uma paca ou um tatu (cotia não) que tenha exposto de forma lógica e coerente alguma ideia e estabelecido alguma lei fundamental toda ciência é humana. Uma exclusividade da espécie. Se você me apresentar um primo do Dr. Spock também posso dar o braço a torcer.

Richard A. Proctor, no prefacio de seu “Myths and Marvels of Astronomy” (1903), consubstancia minhas afirmações acima: “O principal charme da Astronomia, entre muitos, reside nas maravilhas reveladas a nós pela ciência, mas também na tradição e lendas relacionadas com sua história, as estranhas fantasias com as quais foi associada pelos antigos, aos mitos meio esquecidos ao qual deu à luz. Em nossos tempos também, a astronomia tem também seus mitos e fantasias, sua natureza, invenções e paradoxos surpreendentes...

...Mitos astronômicos, que na devida proporção, relacionam-se a algumas das principais maravilhas que a moderna astronomia nos revelou.

                É esse mesmo Proctor (do também super clássico e charmoso “Half -Hours with a Telescope. Um guia observacional do tempo do onça...) que primeiro lança luz sobre o Super aglomerado da Hiades. Um misto de mito astronômico moderno ou quiçá uma hipótese a ser provada.

                O chamado Super aglomerado das Hiades é também conhecido como a Corrente da Hiades. Proctor em 1893 percebeu que diversas estrelas espalhadas pelo céu e distantes destas compartilham um movimento similar pelo espaço.  Em 1908 Lewis Boss reportou quase 25 anos de observação que suportavam esta premissa. Boss publicou um mapa que traça o movimento destas estrelas de volta até um ponto de convergência. Alguns anos depois Eggden (meu velho desconhecido que estava refugiado em algum local de meu córtex cerebral...)   assume que estas estrelas (e aglomerados menores) são relictos do que ele chamou do super aglomerado da Hiades. O argumento de Eggden (1958), de que grupos deste tipo são, de fato, remanescentes do super aglomerado continua em debate. Afinal o fenômeno pode ser causado por mecanismos completamente diferentes dos propostos por Proctor, Boss e Eggden.  Famaey reporta que cerca de 85% das estrelas na “corrente da Hiades” se mostraram completamente dissociadas do aglomerado inicial se relacionarmos estas por sua metalicidade e idade.; seu movimento semelhante pode ser atribuído a efeitos de maré do maciço braço rotatório no centro da Via láctea. Mas entre os remanescentes membros da corrente temos elementos tão espalhados como as estrelas de Ngc 2423 e Iota Horologii. No mapa abaixo podemos perceber a vasta distribuição destas. Curiosamente, seja por uma coincidência de Adams ou por uma lei desconhecida tanto Iota como Ngc 2423 são portadoras de exoplanetas recém descobertos e por isso renovam as suspeitas de que há algo além de uma lenda nesta hipótese. Talvez um fundo de verdade.

Podemos perceber como se dispersaram pelo firmamento os supostos membros do Super aglomerado das Hiades ou A " Corrente das Hiades". 


                Continuando minhas investigações cheguei a um paper bem mais recente de Eggden (1983) e lá está:  Ngc 2423 and the red giants do super aglomerado das Hiades.

(http://articles.adsabs.harvard.edu/cgi-bin/nph-iarticle_query?bibcode=1983AJ.....88..190E&db_key=AST&page_ind=0&data_type=GIF&type=SCREEN_VIEW&classic=YES )

                Neste ele apresenta similaridade das estrelas das Hiades com as de Ngc 2423.

                Ele conclui o trabalho assim:


 

 

                    E assim nascem as lendas.

               

                Ngc 2423 possui 750 milhões de anos. E está a cerca de 2500 anos luz de nós. Sua idade (embora calcular idades estelares seja algo meio Mandrake...) é contemporânea da Hiades. Bem como seu digrama HP também.  Iota Horologii é outra contemporânea. Mas esta seria uma estrela fugitiva e desgarrada de qualquer subgrupo do superaglomerado original. Recentemente falamos de uma estrela semelhante (embora muito mais jovem) por aqui.

                  Algo que pode ser uma coincidencia ou ser relacionado a leis mais fundamentais do universo é a presença de exoplanetas registrados ao redor de gigantes vermelhas nas Hiades, Ngc 2423 e em Iota Horologii.

                    No mais o aglomerado é um belo alvo é interessante que um objeto cercado de tantas histórias, cosmologia e ao lado de um dos aglomerados duplos mais manjados dos céus (M47 e M 46) seja tão pouco visitado e não tenha sido descrito em nenhum guia observacional clássico ou moderno.

                Localiza-lo é tarefa fácil e ele se presenta plenamente resolvido com um telescópio de 150 mm f8 com 60 X de aumento. As fotos aqui apresentadas foram realizadas com uma Lente Canon 300 mm f 5.6. São resultado de 10 exposições de 1 minuto empilhadas no Deep Sky Stacker e processadas no PixInsight. 4 dark frames para calibragem.   


                Um belo programa para o amador nesse fim de verão é iniciar pela Hiades, seguir rumo ao sul passando por 2423 (e visitar seus lindos arredores) e depois visitar Iota Horologii. Esta uma tarefa difícil em locais de céus menos generosos. Você vai passar em vários exo planetas pelo caminho. e não vai ver nenhum. Mas eles existem... Não são lendas, hipóteses ou coincidências.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

M 72 , a Era de Aquário e a Escala de Pagel

 




        

  David Pagel, em um dos mais celebrados artigos da Climbing magazine (Leviathan: The legendary route on the legendary Eiger), nos conta:

“Viajar metade do mundo para ver ou fazer alguma coisa é considerado uma peregrinação. Está entre comportamentos considerados normais.  Realizar tal jornada duas vezes é, ainda, considerado aceitável. Quem entre nós não se permitiu, nostalgicamente, revisitar alguma experiencia memorável de nossa juventude? Já fazer isso uma terceira vez começa a levantar algumas suspeitas – dão pistas de uma obsessão.  Lá estava eu encarando pela terceira vez a Face norte do Eiger, com os olhos de um moderno Ahab.  E pela terceira vez em minha vida estava lá eu tremendo de frio na sombra de minha baleia.  Eu ainda podia me considerar sortudo; tenho um amigo que já havia estado ali oito vezes e ainda esperava pela oportunidade de se encordar para um ataque a montanha.”

                Quando li essas palavras não pude deixar de me identificar. Como um membro da comunidade dos “Conquistadores do Inútil” eu não podia deixar de me lembrar das 6 vezes que atravessei as trilhas da Diamantina indo até um poço frio de uma das cachoeiras mais altas do Brasil. A primeira vez arrastando a cara metade e me fiando em um mapa desenhado por uma menina que tinha feito a jornada alguns anos antes., para piorar, depois disso fiz a Travessia do Vale do Paty também três vezes em menos de um mês. Sendo a primeira vez sozinho e confiando em um mapa que vira desenhado nas paredes de uma pequena pousada chamada “O Tatu Feliz” no Vale do Capão.

                Mas, novamente naquela noite de setembro de 2020, eu me lembrava das palavras de Pagel. Dessa vez com mais preocupação. Era a enésima vez que eu procurava por M 72. O último globular do Catálogo Messier que me faltava conhecer. Essa peregrinação já me levara por muitos milhares de anos luz da galáxia e se mostrava novamente infrutífera. Em uma Armação dos Búzios cada vez mais iluminada e vagava por aquário e nada do miserável se apresentar. Nem mesmo com o auxílio de Mlle. Herschel. Uma cabeça equatorial com goto e que deveria, em tese, achar tudo que eu pedisse para ela.  

                Provavelmente Olavo de Carvalho deve nos dizer que Aquário é um signo de muita luz. Aliás não conheço nenhum astrólogo que localize constelações no céu (bem, talvez Escorpião) ... e se me apresentar um que localize a constelação de Aquário ganha uma lata de presuntada de presente. É um lugarzinho no universo difícil de se navegar e bem apagado. Nenhuma estrela brilhante (as estrelas mais brilhantes de Aquario são de 3 mag.) e poucas estrelas em geral para se tentar realizar um “starhooping” até qualquer DSO. Em céus muito escuros você terá alguma chance de perceber algo a olho nu na região. Aliás esse papo de que a era de Aquário já começou e que a Luz venceu não parece estar de acordo nem com a constelação e menos ainda com os novos tempos cada vez mais medievais...



                Bem, lá estava eu perdido no espaço, caçando por M 72 e tentando concluir a minha peregrinação cósmica auto imposta de observar e fotografar todos Globulares do CatálogoMessier.  Não sei se por causa da noite com muita umidade, se o espelho do Newton (meu telescópio 150 mm f8) sujo ou se devido a uma conspiração dos Pleidianos e do Papa eu não achava o maldito globular. O último da coleção.

                Finalmente, depois de muitas horas, desconfio que há uma pequena mancha enevoada na ocular. Mas uma daquelas no limite do existir.  Quase sou obrigado a invocar Espinoza para acreditar no seu existir, um exercício de monismo quase absoluto.



                Na dúvida apelamos para a tecnologia e depois de muitas fotos M 72 comparece. Ainda que de forma tímida. O último do Globulares Messier a se revelar para esse que vos escreve não é nenhum “showpiece”. Mas eu, enfim, conseguira completar minha peregrinação. Chegára até Meca. Ou melhor ao Nirvana. Meca entre os Globulares Messier fica em M 22.

                Foi Pierre Méchain que descobriu M 72 na noite de 29 para 30 de agosto de 1780. Um dos mais difíceis Globulares Messier para se localizar (4 de 5 segundo Stoyan). Messier o observa em outubro e descreve o mesmo como “nébula, a luz tênue como o prévio (M 71). Uma estrela telescópica próxima.

                Herschel é quem denota sua verdadeira natureza em 1810. Seu filho posteriormente faz uma descrição que me agrada; “Tênue, arredondado, 2´ de diâmetro; resolvível, mas eu não vejo estrelas separadas o suficiente para contar. Um objeto bastante insignificante.”

                O Admiral Smyth, em seu Cycles of celestial Objects, utilizando seu refrator de 5.9 polegadas diz perceber estrelas diminutas.

                Se localiza entre 58.510 e 62.750 anos luz de nós. Dependendo da técnica utilizada. A esta distância ele se torna um dos Globulares Messier mais distantes no catálogo. Sua localização o coloca muito além do centro galáctico e este circula a galáxia em uma orbita retrógrada. E assim é, muito provavelmente um Globular sequestrado da Galáxia anã de Sagitário. É um dos globulares menos densos da lista com IX na escala Shapley. Com sua distância e sua estrela apagadas não será resolvido com nada menor que um telescópio de 200 mm ou mais.  Com metalicidade bem baixa é um objeto do halo galáctico externo. A pouco mais de 1º norte de M 72 habita a galáxia Anã de Aquário. Mas não são relacionados. Esta está a 3 milhões de anos luz.

                Observar M 72 é mais fruto de uma obsessão do que uma peregrinação. Pelo Menos se seguirmos a “Escala de Pagel”.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Astronomia Binocular e muitos Aglomerados Duplos

 


          Eu tento ter por hábito realizar pelo menos uma grande sessão observacional por estação. Neste verão fiz as coisas um pouco diferentes. Indo viajar durante muito tempo, pulando de uma locação para outra no meio do período e em um carro muito pequeno me vi obrigado a abrir mão de levar o Newton junto com a família.  Optei por levar Mlle. Herschel (minha montagem equatorial HEQ 5) para servir de base para minha câmera. E diversas lentes.

                Isso iria garantir a parte fotográfica da expedição.

                Sempre digo por aqui que o astrônomo amador não pode cair na armadilha de só fotografar os céus. Você tem que ver com seus próprios olhos. E desta forma coloquei no já super socado veículo um  Vanguard 10X50 mm. Um modesto binoculo.

Astrofotografia binocular é um exercício que todo amador deve praticar. Ela vai te ensinar a ver. Com binóculos diferenciar um globular de estrela pode ser um divertido e útil exercício quando for partir em busca de galáxias pelo céu. O catálogo Lacaille, por exemplo, foi todo “descoberto” por equipamentos muito inferiores ao Vanguard. E a primeiro registro de uma galáxia fora do grupo local foi feito por Lacaille (M83). Embora ele não soubesse disso e galáxias fossem um conceito ainda bem distante...

Outra qualidade é que com campos enormes (5 ou mais graus) você abarca porções generosas do céu. Desta forma grandes abertos como as Plêiades, Hiades e IC 2602 são mais bem observados com binóculos que com grandes aumentos telescópicos. Eu, embora não tenha levado meu 15X70 acho ele um dos melhores instrumentos para observações descompromissadas.  O campo com cerca de 3,5º abarca muita coisa e o maior aumento ajuda a destacar DSO´s mais discretos e tímidos.  Om o 10X50 é importante atenção e mais treino vai ajudar muito.

Neste post vou apresentar diversos aglomerado e regiões que com um binoculo você vai ser capaz de observar 2 ou mais aglomerados (e ou nebulosas) com o uso de um 10X50 (e geralmente com o 15X70 mm também. Galáxias são alvos difíceis para o iniciante com pequenos aumentos. Mas em Virgem e Leão são diversas as áreas onde você vai conseguir reunir várias em um único campo (mas aí até mesmo com telescópios ...). Não vou abordá-las. Fica para uma próxima vez.






M 47 e 46


A primeira dupla a ser apresentada é M 47 e M 46. São um clássico e demonstra como dois aglomerados abertos podem ter caráter tão visual tão distinto. enquanto M 47 é um oferecido que vai logo saltar a vista e se resolver em sua maioria M 46 vai ser bem mais discreto e demandar mais carinho e visão periférica e se apresentar como uma pequena nebulosa querendo se resolver em algumas estrela que “flicam” na sua visão.  Na verdade, no campo apresentado estarão ainda mais DSO´s. Mas estes terão caráter estelar e serão bem discretos. Com o dever de casa bem feito você vai perceber que algo além se passa por ali. Mas o dois Messier roubam a cena.  Em Puppis

Na observação binocular é importante lembrar que muitos abertos serão esfuminhos sem nenhuma resolução. Mas que evidentemente são mais do que parecem ser...





A seguir outa dupla que roubou a cena na última Aporema foi Ngc 2451 e 2477. Também na Popa da antiga constelação de Argos.  No mesmo estilo que os anteriores. Um mais dado e o outro mais discreto. Ngc 2451 parece até um campo rico em estrelas. Já Ngc 2477 é um esfuminho mais delicado e que demanda carinho na observação. Mas com uma grande área. É um de meus abertos favoritos em qualquer equipamento.





Seguindo a Via láctea e saltando o cão Maior chegamos a Monoceros, o Unicórnio. Aqui um campo riquíssimo. Tão rico que é conhecido como o Paraiso Pirata tamanha a coleção de tesouros que vai se apresentar. No Mesmo campo teremos dezenas de DSO´s. todos envoltos em nebulosidade obvia em céus escuros. M 50 é o mais obvio desses, mas você, com visão periférica, vai perceber vários outros abertos dignos de nota.  IC 2177 pode parecer algo estelar. Mas se percebe que é um local especial mesmo sem muito esforço. Ngc 2335 é um esfuminho obvio assim como 2343. Ngc 2327 não aparece. Para nós ele parece ser uma estrela em um falso aglomerado bem obvio, mas que não é um DSO´s de fato. Mas que parece, parece.





Seguindo rumo a Orion temos a espada do caçador. Com M 42 como seu coração ne mesmo campo ocular podemos ver vários outros DSO´s. Um dos campos mais belo de se observar de binóculos. Não vou sequer entrar em detalhes já que a região é muito manjada. Se você está se iniciando passe algumas horas passeando por ali e descobrindo quem é quem. É fácil, educativo e belíssimo.  Aliás a constelação inteira de Orion ´um programa binocular obrigatório e impagável. Veja mais aqui.





Last but not Least chegamos a Gêmeos. Aqui um dos mais famosos e maiores abertos de todos. M 35. Mas o mais legal é que geralmente quando se observa M 35 você mesmo com telescópios vai estar vendo Ngc 2158. Mas ele acaba sendo engolido por M 35. Binóculos realçam mais sua existência. já que como não o resolvem não o tornam apenas um anexo ou prolongamento de M 35. Ele será um discreto esfuminho no campo. É interessante saber que este, muito mais distante, tem o mesmo tamanho real de M 35. Seu diminuto e discreto aspecto é fruto da distância. Ele fica a mais do dobro da distância de nós.

Existem diversos outros campos binoculares onde você consegue achar diversos DSO´s simultaneamente.

Observar de binóculos é uma imensa diversão. E você consegue fazer um “body count” enorme. Já completei a Maratona Lacaille diversas vezes com meu 15X70 mm. De telescópio somente uma... A navegação binocular é mais fácil e mais confortável. Se você conhece bem o firmamento dispensa (na maioria dos alvos) até mesmo um mapa.  

Ainda que não idênticas, as áreas cobertas com a 300 mm que foi utilizada nas fotos aqui apresentadas são muito semelhantes as áreas abrangidas pelo meu 15X70 mm. Acho que assim e em conjunto com os mapas o Stellarium (que simulam o 15X70 mm) servirão como um excelente guia para quem quiser realizar o passeio acima descrito. Com o 10X50 não muda tanto. Os campos ficam maiores e os DSO´s menores mais vai estar tudo lá. Especialmente se você, que leu o texto e fez o dever de casa souber onde olhar.