Uma das lendas astronômicas mais famosas é ser impossível observar em cidades grandes. Trata-se de
uma grande bobagem.
Segundo
uma escala de poluição luminosa , chamada de Bortle devido a seu criador, a
escuridão do céu pode ser determinada entre 1 e 9. Quanto mais alto o valor menos do céu se poderá perceber.
Já abordei a escala Bortle e podem
conhece-la melhor clicando aqui.
Possuía
planos para aproveitar o mês de agosto e revisitar vários alvos do Catalogo
Lacaille nos céus , que embora não sejam de um negrume ímpar , de
Buzios ( Bortle 5/6). Meus plano foi
destroçado por uma coincidência (que desta vez até tinha algo com as leis mais fundamentais do
universo) e acabei passando a lua nova acampado na casa de meu sogro no início da
Rua da Passagem . Um local de nome apropriado para se viver um luto. Bem no coração de Botafogo.
Rapidamente
descobri que a "Stonehenge dos Pobres" como batizei meu
observatório no bairro do Leblon no Rio
de Janeiro dificilmente merece o título de "O Observatório mais Urbano do
Mundo" com o qual as vezes é tratado neste blog. Na verdade o Observatório
do Valongo é muito mais urbano que este e com isto sofre de prolemas de
Poluição Luminosa muito maiores que os meus... Não que a " Stonehenge dos
Pobres" seja uma maravilha. Mas seu horizonte sul ( ha apenas duas quadras
do oceano atlântico) não chega a ser um desastre completo. Devido a geografia
após um bafo de sódio, Mércurio e outros vapores iluminando a praia as próximas
fontes de luz a poluírem o céu serão o
farol da Ilha Rasa e depois disto apenas Port Stanley na Ilhas Falklands... Com o fim das obras do Metro no entorno de
meu prédio voltamos para Bortle 7. O Cruzeiro do Sul é percebido com a Intrometida
sendo um membro visível .
De
volta a Rua da Passagem vou conhecer o
terraço do Prédio. Em um primeiro momento me animo e acho as instalações bem
superiores as da "sobreloja" na Stonehenge dos Pobres. Ao anoitecer
percebo que nem tudo é o que parece ser. Com a lua nova procuro pelo Cruzeiro
do Sul e as únicas estrelas que percebo facilmente na região inteira são Acrux,
Gacrux, Alpha e Beta Centauros . No zênite percebo facilmente apenas Marte ,
Saturno e uma tímida Antares. É difícil localizar constelações que sempre
percebi sem maiores esforços.
Devido
a um vacilo não possuía nenhuma buscadora óptica e apenas com uma velha
"red dot finder" acabo me vendo de calças bem curtas na caça de DSO´s
em meio a um mar de luz. Novamente devido a uma daquelas coincidências ( que
desta vez nada tinha a ver com as leis fundamentais do universo) acabo
conseguindo um alinhamento polar próximo ao perfeito com a buscadora polar de
Madame Herschel ( minha montagem equatorial HEQ 5 Pro). Não que fosse possível
ver alguma das estrelas de Octans Mas com a utilização de minha técnica favorita
consegui capturar Sigma Triangulo Australis no exato momento que esta cruzava o
meridiano. E mesmo sem tentar muito cravei a latitude daquele telhado que mais
lembrava um palco de show de Rock.
A
seguir consigo a prova cabal que é possível observar mesmo em áreas de Bortle 10
( a escala original vai somente até 9...) . Uma das primeiras coisas que
descobri é que em tais condições possuir uma buscadora óptica poderosa é
fundamental. Sem esta me vi obrigado a contar muito com a sorte e com minha
paciência para realizar longas caçadas a partir de um ponto aproximado que
conseguia com a "Red Dot". Fosse
eu mais verde e menos conhecedor dos céus sobre minha cidade ia ficar muito
difícil de localizar algo... Mesmo assim
preferi um passeio bem conservador e me conformei em visitar alvos bem
brilhantes e meus velhos conhecidos.
Agora
venho fazer um elogio a tecnologia. Sem uma cabeça equatorial com Go-to e sem
recursos para a pratica da astrofotografia a noite teria sido bem insonsa. Mas
mesmo sem uma boa buscadora óptica e assim sofrendo para alinhar o go-to é possível realizar registros que seriam muito difíceis de serem obtidos mesmo com grandes
telescópios em locais bem mais escuros ha poucas décadas atrás.
Uma
ferramenta útil para mim foi minha nova ocular 40 mm. Seu grande campo permite
utiliza-la como uma especie de buscadora diretamente na Ocular do Newton ( meu
telescópio 150 mm f8) . Aqui acho importante fazer uma ressalva. Oculares 40 mm
tem sua funcionalidade mas não são a pedra de salvação para se caçar DSO´s .
Comprei esta usada e por um preço muito
em conta . Uma Plossl. Ainda não tinha lido a critica de Harrigton em seu
"Starware" a respeito dessas.
Fazendo curta uma história longa
eles nos diz basicamente o seguinte : Evite
qualquer Plossl ( um modelo de ocular criado 1860 e popular a pertir dos
1980) de barill 1,25 com 40 mm . Apesar da baixíssima ampliação seu campo de
visão aparente é menor que em Plossls 32 mm com 1,25 pol. No final o campo que
você vai de fato ver será o mesmo em ambas mas a maior ampliação na 32 mm vai permitir uma imagem com maior contraste. Alem
disto a utilização destas (40 mm) obriga
a manter sua cabeça muito em posição muito estável para que a imagem não desapareça
completamente da ocular ( blackout). Plossls com o barril de 2 pol. são outra
história
É uma meia verdade. Com o habito você acaba se
entendendo com a ocular e elas são muito baratas. E funcionam bem para caçar
alvos e também para grandes aglomerados abertos. As Plêiades pela 40 mm é
sensacional. M 44 idem.
De
volta poluição luminosa ela afeta suas
fotos mas não as torna impossíveis . e com o auxilio de uma câmera é possível
registrar-se detalhes e alvos que são impossíveis visualmente para o astrônomo
urbano.
Logico
que é necessário realizar mais exposições e fazer estas mais curtas. Mas
astrofotografia é a maior diversão e não
será Bortle que irá acabar com a única diversão que restou para o mês de agosto que honrou as tradições e para quem não esta em um espirito muito olímpico...
Serrinha |
Rua da Passagem |
Faço
algumas fotos de M7 e percebo que o alinhamento polar esta bem bom. É
interessante perceber como 20 fotos de 30 segundos no Rio são diferentes de 10 fotos de 20 segundos na Serrinha do Alambari ...
M 22 foi surpreendende. Tanto visual como fotograficamente foi impressionante como "The Arkenstone of Thrain" sofreu para a P.L.
Ngc 4755 ensaiando o foco ainda.... |
Mas
a grande estrela da noite foi M 8 . A nebulosa da Lagoa. om 50 f0t0s de 30
segundos acabou por ser a melhor captura que já realizei desta. Demonstrando
como um sensor fotográfico é uma maravilha da tecnologia. Para não falar nos
softwares de processamento...
Astrofografia
é possível em grandes centros bem como a observação visual. A boa astronomia é feita a partir de confirmação de projetos observacionais . E posso garantir que é possivel fotografar e
observar todo o catalogo Lacaille do Rio de Janeiro. Um
projeto que me tomou alguns anos mas que considero completo com a imagem de M 8
feita da Rua da Passagem.
O Catalogo Lacaille |
Espero
que quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos tenha a chance de
visitar Búzios e ter a chance de vistar as Galaxias em Sculptor iniciar as
fotos para o Projeto Dunlop ... Afinal embora seja possível sobreviver a Bortle
9 não é exatamente "só alegria".... Acho que mais de um terço do Catalogo Dunlop
não é visualmente viável do Stonehenge dos Pobres ( o registro fotográfico
creio possível). Mas a confirmação empírica é necessária . Veremos..
Belo registro e montagem do catálogo com os DSOs. Magnífico trabalho e mais uma vez, parabéns pela postagem!
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