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quinta-feira, 18 de abril de 2013

Uma Comédia de Erros e Ilustres Desconhecidos


         
         Sempre estou tentando descobrir um jeito que me permita realizar um alinhamento polar digno e mesmo assim não ter que realizar o método do “Drift”. Afinal métodos de confirmada eficiência nunca me agradaram. Não só isso. Apesar da eficiência garantida ele é impossível de ser realizado sem possuir horizontes limpos e muito menos ainda sem poder avistar estrelas que se encontrem próximas do equador celeste. Como é o caso da janela de meu apartamento.
            Assim depois de ler um interessante post do “Uncle Rod” me ocorreu a possibilidade de utilizar uma “Estrela Polar Austral”.
            Normalmente Sigma Octans leva essa honra. Mas depois de varias consultas ao Cartes du Ciel (CdC) e ao Stellarium ( ambos programas planetários disponíveis de forma gratuita na web) eu cheguei a brilhante conclusão que o titulo seria melhor empregado em uma ilustre desconhecida. Tycho 9521-302-1 ou HIP 71438. São a mesma pessoa...
            Ela nunca se encontra a mais de 12´ do polo sul celeste. E com magnitude visual de 6.8 ou 7.06 (dependendo do programa...)  se encontra dentro do alcance de minha buscadora. Mesmo em condições extremas de poluição luminosa já que estou morando em um canteiro de obra (cortesia de Eduardo Paes, o pior prefeito que conheci)  e os níveis de poluição luminosa ao redor de minha casa poderiam ser considerados insalubres.
            Desta forma resolvo fazer um reconhecimento da região junto ao polo com um pouco mais de poder de fogo que o apresentando pela minha buscadora. A escolha, obviamente, recai sobre meu Skymaster 15X70 mm. Sentado em minha poltrona eu escaneio a região e rapidamente localizo Sigma Orionis, HIP 112355 e a ilustre desconhecida já citada.  Duas estrela, ainda mais tênues, apontam para Xhi Octans e me garantem ser este o asterismo que estou realmente procurando.

            Contar vantagem é fácil. Quero ver contar a derrota.
            Em uma infeliz ideia acho que  a buscadora montada no telescópio e a cabeça toda “no esquadro”  bastará utilizar os parafusos para o ajuste da cabeça equatorial e alinhar tudo com a ilustre desconhecida. Afinal já vai tarde e eu gostaria de ainda fotografar Ngc 5617. 
            Depois de consultar “as cartas e os programas” calculo o pequeno desvio que deveria a cruzeta da buscadora apresentar da “Estrela Polar Austral”. E vamos lá. Afinal Ngc 5617 (outro ilustre desconhecido) fica a pouco mais de 1º de Alpha Centauro e não deve ser difícil de ser localizado.
            Escuto dentro de minha cabeça a musica de abertura dos “Trapalhões”. ( Ta-na-na-na-na-nammmmm-nam).
            Não avisto nada obvio pela buscadora. Credito ao Eduardo Paes e parto para a ocular. Com a 25 mm calçada no “Newton” (meu refletor 150 mm) fico passeando próximo a Alpha Cen e percebo tênues estrelas. Me parecem mais estrelas de campo que um verdadeiro aglomerado. Mas, em tese, ele deve estar dentro do campo visual. Ainda mais quando eu colocar a câmera. O campo dela é mais como uma 30 mm ( talvez  35 mm...) do que a 25 mm.  Faço uma foto e não percebo nada. Aliás procuro não perceber. O fracasso é eminente. Faço mais algumas exposições e começo a acreditar em geração espontânea. Meu mantra: “Quando eu empilhar vai surgir algo do nada...”
            Nem com reza forte, Photoshop e Rot n´Stack. A foto abaixo deixa claro que não só não fotografei Ngc 5617 como o telescópio se encontra totalmente descolimado e que o alinhamento polar está uma...

            Melhor deixar para lutar amanhã.
            No dia seguinte resolvo colimar o telescópio (é uma atividade para ser feita durante o dia) e mexe para lá mexe para cá e eu não fico satisfeito. Resolvo inventar e com as sobras de uma embalagem de ocular eu facão uma espécie de colimador. Apesar de “rudimentar” ele se prova bastante eficiente. E me mostra que o meu secundário só não esta mais fora do esquadro porque não dá... Depois de colocar o secundário nos eixos o primário é moleza.

            Passo a tarde estudando e aguardando escurecer para fazer mais uma experiência. Estive muito criativo esta semana. Provavelmente devido a lei seca que estou tentando estabelecer em solidariedade com a gravidez de minha mulher.

            Com a buscadora presa diretamente a cabeça equatorial eu mimetizo uma buscadora polar. E parto de novo na caça de HIP 71438. A ilustre desconhecida promovida a estrela polar...
            Com um pouco de paciência e com uma transparência duvidável eu me dou por satisfeito após alguns minutos de ajustes. Depois coloco o telescópio na cabeça, a buscadora no telescópio e alinho tudo. Quem disse que observar é maior moleza não sabe o que diz. Eu, em geral, suo a camisa.
            
           Hoje meu objetivo é outro. Criei antipatia por 5617 e resolvo buscar outro ilustre desconhecido. O relativamente obscuro aglomerado galáctico Ngc 5316. Também em Centauro e desta vez mais próximo, mas não tão próximo de Beta Cen.  Navegando pela buscadora não chego a perceber nada. Mas desconfio e parto para a ocular (25 mm). Percebo um grupo de estrelas e apesar de inseguro decido tratar-se de 5316.
            O nome deste post inclui “Uma comédia de Erros...”. Foi quase nome e sobrenome.
            A foto abaixo é de um asterismo que se localiza próximo de Ngc 5316. Mas evidentemente não é ele. Não é nem aglomerado. Em poucas pesquisas vejo a clara diferença entre os dois.

Se percebe claramente a poluição luminosa como um bafo cor "vapor de sódio"...

Asterismos são agrupamentos casuais de estrelas. Este em particular é uma descoberta de José Eustaquio do Nascimento e Islas. Se chama o “ Aglomerado do Pescador”.
            E isto é tão verdade quanto uma história de pescador.
            Vocês sabem qual é o único animal que cresce depois de morto?
O mapa abaixo apresenta exatamente o que a foto mostra acima. E liquida a fatura...

O "Aglomerado do Pescador"

            Mas nas derrotas, eventualmente, se aprende mais que nas vitórias. E podemos perceber que o alinhamento polar melhorou muito nas fotos do fictício asterismo descoberto pelo imaginário astrônomo. Assim como a colimação do telescópio.
            A ilustre desconhecida HIP 71438 foi promovida a “ Estrela Poalrar Austral”. Pelo menos aqui em casa...

P.S. Fiz algumas testes capturando imagens em RAW. Não funcionou. O Deep Sky Stacker apresentou umas fotos muito doidas e completamente fora dos padrôes. embora as imagens me parecessem normais quando as abri no computador. Após o empilhamento elas ficaram assim:

            Fiz dark frames em RAW também. Tentei vários settings e sempre este estranho resultado. Continuo sem entender... 
          De qualquer forma gostei da possibilidade de poder "bater o branco" nas fotos depois da captura através do "Digital Photo  Professional". E assim me livrar daquela cor " Vapor de Sódio". O recurso só é oferecido para fotos capturadas em RAW.   

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