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domingo, 27 de novembro de 2016

M 77 - A Mãe das Galaxias Seyfert

           
              Galáxias Seyfert são assim chamadas por terem suas características mais intrínsecas definidas por Carl Seyfert, que em 1934 percebeu que suas regiões centrais possuem um espectro peculiar e fortíssimas linhas de emissão. Enquanto espirais “ normais” possuem seu espectro composto pela luz de suas estrelas e este possuirá detalhes diretamente relacionados a composição de sua população estelar em determinada região da galáxia. As ditas galáxias normais possuirão o espectro de suas regiões centrais semelhantes aos das estrelas antigas (população II) das quais são feitas... Já algumas galáxias que passam por surtos de formação estelar em seus núcleos terão o espectro de suas regiões centrais marcado pelas linhas de emissão comuns a Estrelas jovens do tipo O e B. São as chamadas galáxias “Starburst”.
                Galáxias Seyfert apresentam grandes quantidades de gás em seus núcleos não associados a estrelas do tipo O e B. Seu núcleo são chamados de Núcleos Galácticos Ativos (Em Inglês se utiliza o acrônimo AGN.  De “Active Galactic Nuclei”). Embora as galáxias Seyfert sejam o tipo mais comum de AGN´s   existem outros tipos. Os mais famosos são os quasares e as radio-galáxias. A nomenclatura de certas galáxias pode ser um pouco sinuosa e esta ser uma galáxia Seyfert e também uma rádio galáxia.  O lugar comum em todas estas AGN´s é que o espectro suas brilhantes regiões centrais não é associado à luz de origem estelar...
                Seyfert criou uma lista onde reuniu 12 galáxias que apresentavam características linhas de emissão em seus núcleos. Em um trabalho seminal lançado em 1943 ele demonstra que estas possuem núcleo com linhas de emissão peculiares em seus espectros que se sobrepunha as linhas de absorção típicas de características estelares. E nestas as linhas de emissão eram muito mais amplas que em galáxias “ normais”. E não só isto. Suas regiões centrais são extremamente brilhantes e de aparência estelar ou quase estelar.
                “As 12 Seyfert´s Originais” são:  M 77, Ngc 1068, Ngc 1275, Ngc 2782, Ngc3077, Ngc 3227, Ngc 3516, Ngc 4151, M 106, Ngc 5548, Ngc 6814 e Ngc 7469.
                M 77 é a galáxia Seyfert mais estudada de todas e a que possui a mais longa e bela história. E como observar todo Catalogo Messier é uma daquelas questões de honra para a maioria dos astrônomos amadores não poderia deixar de ser perseguida no Nuncius Australis. Não bastasse isto sua posição na constelação de Cetus a torna um alvo acessível para os habitantes do Tropico de Capricórnio.
                Continuando a rasgação de seda: ela é o mais perto que pode-se chegar de um quasar. Estes são objetos muito mais distantes e de “outros tempos”. Mas como ambos são AGN´s existe uma corrente que prega tratarem-se da mesma coisa embora em ângulos de visada e escalas diferentes.  Na verdade, há hoje um certo consenso que quasares, Galáxias Seyfert, Objetos BL Lacertae, Radio Galáxias e Cia Ltda. são resultado de um mesmo fenômeno físico. Buracos negros muitos maciços interagindo com a matéria em núcleos galácticos.
                Como já falei acima Galáxias Seyfert possuem núcleos muito brilhantes. Isto as torna simpáticas a causa de astrônomos amadores que possuem equipamentos modestos e lutam contra poluição luminosa.
              
                  M 77 é facilmente localizada a 1o de Delta Ceti (4a mag.) e colada a uma estrela de 10a magnitude. Desta forma parecendo uma estrela dupla. Com 50X de aumento percebe-se imediatamente que M 77 não é uma estrela. Embora não perceba detalhes de seus braços noto imediatamente uma barra cruzando o brilhante núcleo. Devido a presença de nuvens fiz poucas exposições da mesma e as fotos que acompanham este post dão um excelente exemplo do que você irá perceber com sua vista. O melhor resultado que obtida foi com minha 17 mm. Mas creio que com mias aumento ela seja ainda melhor. Infelizmente minha ocular 10 mm não é de uma qualidade tão boa quanto a 17...Como falei ela se assemelha muito a uma espiral barrada embora em fotos com exposições mais longas e elaboradas das aqui apresentadas a galáxia apresenta uma estrutura quase “gran design” embora com os braços bem fechados.  Já a observei com meu binóculo 15X70. O núcleo é evidente e a estrela “parceira” a denuncia. Percebe-se leve nebulosidade a redor do núcleo.  Tenho certeza que com mais tempo de captura e um local escuro fotografias irão revelar muitos detalhes nesta. Estando quase de frente para nós (Face -on) seus braços apresentam baixo brilho de superfície e são alvos interessantes em locais de pouca poluição luminosa. Em condições suburbanas claras (Bortle 6 ou 7) o núcleo e a barra central são os únicos que detalhes percebo. Mesmo com visão periférica. Talvez com um pouco mais de esforço e em noite de excelente transparência consiga espremer mais sutilezas ...

                M 77 foi descoberta por Pierre Mechain, o maior parceiro de Messier, na noite de 28 de outubro de 1780.: 
                “ Observada em 17 de dezembro de 1780 – Aglomerado de tênues estrelas o qual contém nebulosidade, em Cetus, e no mesmo paralelo que a estrela d  Ceti. Esta foi reportada como de 3a magnitude s a qual M. Messier estimou como de apenas 5a   M. Messier viu este aglomerado em 29 de outubro de 1780 como uma nébula”.
                Diversos autores perceberam alguns nós entre a nebulosidade e como era habito entre os observadores “clássicos” estes imediatamente “resolviam” estrelas.  
                Smyth em seu “Cycles of Celestial Objects” e/ou “The Bedford Catalog” nos conta:
                “ Uma nebulosa estelar arredondada, próxima a delta mandíbula inferior da baleia... Primeiramente observada por Messier em 1780 como uma massa de estrelas (a mass de etoiles) contendo nebulosidade. É pequena, brilhante e exatamente em linha com três pequenas estrelas, uma precedendo e duas seguindo, e a qual a maior e mais próxima é uma de 9a magnitude para sf (South following, SE) existem outras diminutas companheiras no campo que é diferenciado de Gama Ceti
                Este objeto é maravilhosamente distante e insulado, com presumível evidencia de densidade intrínseca em sua agregação, e demonstrando a existência de uma força central, residindo ou em um corpo no centro de gravidade de todo o sistema.  Sir William Herschel observou este objeto repetidas vezes e conclui:  através observações com o telescópio grande, de 10 pés, com um poder de ampliação de 72,82 vezes, nós podemos concluir que a profundidade de sua parte próxima é pelo menos de 910a ordem. Isto 910 vezes mais distante que as estrelas de 1a magnitude”.
                Podemos perceber como evoluiu o entendimento das estrelas e de como cresceu nosso universo pouco mais de 200 anos... Herschel foi o maior astrônomo do início do século XIX e acreditava que o brilho das estrelas dependia exclusivamente de sua distância. Mas a presença de um corpo muito maciço no coração de M 77 parece um ato de clarevidência de Smyth...
Esta é do Hubble Space Telescope....

                As distancias no universo são sempre alvo de discussão. O valor de 60 milhões de anos luz para M 77 na página de Hartmutt Frommert. Em se tratando de Messier é sempre uma fonte a ser levada em consideração. Isto a colocaria a uma distância semelhante ao aglomerado de Coma Virgo, mas em outra direção.  Outras fontes invocam 47 milhões de anos luz. E outras ainda vão além de Coma Virgo o que faria de M77 o objeto mais distante do Catalogo Messier.  M 77 foi o segundo objeto (o primeiro foi M 104) a ter um grande desvio para o vermelho medido (1914) e ela se afasta de nós a 1100km/seg.
                   M 77 possui  seu próprio grupo . Mas a maioria de sua damas de companhia é bem tímida.
                M 77 foi ainda uma das 14 primeiras nebulosas espirais descobertas e descritas por Lord Rosse com seu histórico telescópio conhecido como o “Leviatã de Parsonstown”.
                Uma das mais acessíveis e cheia de histórias entre as Galáxias Seyfert para amadores e em excelente posição para observação neste final de primavera logo no início de noite.

               

                

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Ngc 55 : O Colar de Pérolas

               


                              O Nuncius Australis é um diário. Um Blog.
                         Blog – “ Web log”.
                  Log é uma palavra da língua inglesa que significa registro.
                 Neste aqui um registro de histórias de fundo astronômico.
                  Uso muito uma expressão que é “ folclore familiar”.
              Imagino que cada família tenha o seu. É uma coleção de histórias, expressões, manias e outra coisitas más que só fazem sentido para um determinado grupo de pessoas. 
                  Até mesmo das histórias que se contam a seus descendentes.
                Uma doce recordação folclórica é de meu tio  contando histórias de livros que já tinha lido. Durante minha infância eram sempre livros de aventura, suspense e guerra.  Um de meus programas favoritos era ouvir as histórias enquanto subíamos pelos teleféricos através da montanha. Um de meus favoritos era “Beau Gest”.  
                No meu núcleo mais próximo (eu, cara metade e os filhos) uma data sempre celebrada é a “Aporema”.  Assim festejamos os solstícios e equinócios. Na verdade é uma festa “quase pagã”. Possui a data móvel. É sempre festejada na lua nova mais próxima dos respectivos eventos que seja possível visitar céus mais escuros.  É o momento quando é possível observar o céu que determina qual é estação que estamos.   Determina qual são os Dso´s a serem abatidos e que tem a temporada de caça aberta.
                Recentemente fomos festejar a Apoema e depois de dois dias de “apoemar” muito chegou a família e em aventuras mais diurnas fiz a travessia da Praia da Azedinha para a praia de João Fernandes. Eu e minha mais velha. Saudoso e querendo lhe dar uma doce recordação no caminho contei a história de Beau gest para ela. Ela que nasceu na idade das trevas digital me encheu de esperança.
                - Põ pai! Quero ler. Compra para mim?
                Por conta das hsitórias que meu tio me contou conheci e posteriormente  li toda a obra de Frederick Forshythe  ( os melhores são “ O Dossiê Odessa”, “ O Dia do Chacal” e “ Cães de Guerra”), Durante a semana contei-lhe varias destas hsitórias que meu tio . Que no futuro vou contar para o pequeno. Folclore familiar. Assim como as "histórias da Suzana". Uma amiga doida de meu tio. 
                Ainda falando de folclore familiar é claro que existe uma hierarquia. Algo como o Olimpo.
                Na mitologia grega antes dos deuses vem as forças. Uma ideia bem moderna até hoje em dia. 

                Segundo uma das versões gregas da criação Existe ou vem existir em um determinado local além do tempo algo chamado por eles de “Caos”. Este é um elemento hermafrodita. Dele nasce Nix, a segunda criatura. A personificação da noite. Neste desmembrar caótico surgem algumas partículas fundamentais conhecidas. Além de Nix surge Erébus (A trevas abismais). Destas forças fundamentais surgem toda mitologia e deuses olimpíacos.



                -No folclore familiar, minha vó Musa ocuparia seguramente o lugar de Nix.  A noite. A primeira partícula a ocupar o existir. Primeira filha de Caos.
                NGC 55 pode se apoderar da imagem que O ‘Meara utiliza para descrever Ngc 253:" A ordem começando a surgir do caos".  
O aspecto de um nuclêo triplo justifica bem o seu apelido de Colar de Pérolas. E é a parte mais facilmente percebida visualmente. Esta foto é bem posterior ao post. Foi processada no PI. e no PS.

Na Aporema “atrasada” deste ano Ngc 55 foi um dos DSO mais distantes observado. E certamente o mais interessante dos alvos da temporada.  “Aporema” é tupi para “aquele que vê longe”.
                Localizada próxima de Ankaa (Alpha Phoenix) é meu objetivo principal na noite de2 para três de novembro de 2016. Na véspera ou antevéspera do Dia dos Mortos.
                Para deixar o cenário bem dramático eu passaria esta Aporema só. O núcleo base só chegaria dois dias depois.  
                Ngc 55 é também chamada de “ O Colar de Pérolas”. Um dos tesouros austral. Um dos maiores tesouros austrais.             

                Em condições suburbanas claras (Bortle 6 quase rebaixado para 7) ela é um alvo visual difícil para o Newton (um refletor 150 mm f8).
                Nas condições de Búzios você procura por um triangulo de fracas estrelas. Uma vez achado o triangulo cabe acertar o campo e conseguir ver Ngc 55. É uma tarefa factível. Mas implica em boa adaptação noturna e algum treino.  É certamente mais fácil perceber Ngc 55 do que M 33 em locais de poluição luminosa. Ela possuí regiões de forte concentração que formam algo como uma nebulosa com vários núcleos. Uma vez percebidos a nebulosidade que os conecta se torna mais evidente com visão periférica.  Olhando a foto abaixo você vai perceber que sua parte sul é bem mais tênue que o restante. Ela possui inclusive uma entrada diferente no catalogo IC. Creio perceber a estrutura, mas apenas por saber que esta existe.
40 exposições de 20 e 30 seg . ASA 3200 ( a grande maioria..) Rot n Stack sem dark frame adicionado. Gimp.

                Trata-se de uma galáxia espiral barrada que se apresenta quase de perfil para nós. Sua distância é algo discutida. Varia entre 4.2 milhões de anos luz e 7,5 milhões. Aceitando-se os valores mais baixos ela residiria entre o grupo local e as margens do Aglomerado de Escultor. Aceitando-se os valores superiores ela se encontra no Aglomerado de Escultor propriamente dito.
                Ngc 55 é cantada em prosa e verso por diversos autores como uma das galáxias mais interessantes para possuidores de pequenos telescópios. Walter Houston, autor por anos da coluna Deep Sky Wonders diz “ que certos DSO´s nos oferecem experiências visuais de tirar o folego”. De céus suburbanos claros (bortle 6 ou 7) é me parece um pouco otimista. Mas sem dúvida Ngc 55 será um show de detalhes em céus bem escuros.   Algumas fontes mais antigas dizem que a galáxia é o maior membro do Grupo de Escultor. Não é verdade. Ngc 253 não só é maior como  se apresenta mais facilmente para pequenos instrumentos.
                Tendo localizado a porção de céu onde habita Ngc 55 é provável que você perceba apenas algumas pequenas estrelas que cercam um conjunto de estrelas mais tênues ainda alinhadas. Estas estrelas alinhadas são condensações nos braços de Ngc 55. Regiões de intensa formação estelar. Com visão periférica, hiperventilação e outros truques você irá perceber que todas estão envoltas em nebulosidade que se acentua conforme você vai insistindo na observação. Cobre um belo campo de uma ocular de 25 mm. Uma de suas extremidades é muito discreta e pouco mais é que um suspiro de existência.
1 X 25 seg. 3200 ASA canon T3 Creio que muito do ruido deva-se a muita umidade presente em uma noite supostamente limpa... Semelhante ao que se observa visualmente. Com esforço, tempo e visão periférica você poderá perceber alguns detalhes ocultos ao CMOS...

                John Dunlop foi o primeiro a observa-la e esta tornou-se a 507aentrada de seu catálogo de 1827.   Sua impressão me faz lembrar que Cozens, em sua tese, comparou seu refletor de 9 polegadas e com espelho especular com um moderno refletor de 150 mm (igual ao Newton).  “Uma bela e longa nébula com 25´ de comprimento; posição norte precedendo (Noroeste) Sul seguindo (sudeste), levemente mais brilhante em direção ao centro mas extremamente tênue e diluída em direção as extremidades. Eu vejo diversos pontos minúsculos ou estrelas como se através da nebulosidade. A matéria nebulosa de sua extremidade sul é extremamente rara e de delicada tonalidade azul. ”
                Apesar de desenhos e a descrição acima Swift tenta se apropriar de um dos braços de Ngc 55 e isto acaba por criar IC 1537. Esta extremidade parece se separar do corpo da galáxia por uma faixa escura e isto leva Swift a se apoderar deste pequeno reduto. “ Como Sir John Herschel não marcou isto (Ngc 55) como sendo um objeto memorável parece-me plausível a ideia de que isto (IC 1537) não tenha sido percebida nem por ele. ”
Favorita. As 15 melhores fotos+ 10 darks no DSS. Acredito que uma visão semelhante possa ser obtida visualmente de céus mais generosos que Búzios.

                São assunções bastante duvidosas. Dunlop fala claramente em quão discreta era a nebulosidade na região em questão com John Herschel nos diz em sua observação de 4 de outubro de 1836 que é “ Uma muito longa, irregular e granulosa cauda composta de três núcleos, sendo o segundo composto de estrelas”. De qualquer forma Ngc 55 e IC 1537 são partes de uma mesma galáxia.
                Ngc 55 possuem diversas regiões HII é uma das poucas galáxias onde possuidores de pequenos telescópios podem notar tais estruturas “facilmente”; São os “núcleos” que você percebe inicialmente na sua observação.
                           

                Localizar Ngc 55 partindo-se de Ankaa e seguindo um pequeno zig-zag de estrela binoculares não chega a ser difícil. Mas é necessária bastante atenção para saber que se chegou a ponto certo. Em locais de muita poluição luminosa ela será um alvo para astrofotografia.  Recomendo que estude bem a região utilizando um mapa para localizar um padrão de estrelas composto por um pequeno triangulo que aponta para duas estrelas. Uma estrela de 7 magnitude se sobrepõe a galáxia e a denúncia.
                Ngc 55 foi batizada como “Colar de Pérolas” por Carolyn Shoemaker ao vê-la em uma foto realizada por seu marido Eugene e David Levy. Famosos caçadores de cometas.  Ela mesma tomando a galáxia como um cometa em fragmentação.  Muitos dos presentes devem se lembrar do Cometa Shoemaker que se espatifou contra Júpiter.

                Apesar de possuir um brilho de superfície relativamente baixo seus “ núcleos” ajudam a localizar esta joia. É uma das mais interessantes galáxias austrais e por isto foi incluída por Sir Patrick Moore na sua lista de objetos favoritos e conhecida como o catalogo Caldwell. É por isto também chamada de C 72. Um DSO obrigatório para amadores abaixo (e os nem tão acima) da linha do equador.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

M 34 e Algol


             M 34 é um aglomerado aberto que habita a constelação de Perseu. Esta passeia baixa nos céus na latitude do trópico de Capricórnio. Consequentemente apesar de ser um DSO bem brilhante eu jamais havia rendido homenagem a este belo aglomerado...
            A constelação é sempre lembrada pelo ainda mais boreal “Aglomerado Duplo” (Ngc 869 e Ngc 884) que curiosamente não foi incluído por Messier em seu Catalogo.
            M 34 é uma descoberta original de Messier e foi observado pela primeira vez em 26 de agosto 1764 “Aglomerado de fracas estrelas entre a cabeça da Medusa em Perseu e o pé esquerdo de Andrômeda, levemente abaixo do paralelo de  g. As estrelas podem ser detectadas com um refrator simples de três pés. Sua posição foi determinada a partir de b Persei na cabeça da Medusa”.

            É interessante frisar que b Persei é a estrela Algol. Uma das estrelas variáveis mais interessantes para o amador.  Sua magnitude oscila entre 2,12 e 3,39 em 2.8 dias.  Na verdade a “ Estrela Demoníaca” brilha a maior parte do tempo com magnitude de 2.1, mas de quase três em três dias seu brilho despenca para 3.4 e retorna para 2,1 em apenas 10 horas. Isto se deve a tratar-se de um sistema binário eclipsante. Duas estrelas compartilham um mesmo centro de massa que reside em nossa linha de visada. E assim uma secundaria maior, mas menos luminosa, eclipsa a primaria brilhante em 79% de seu brilho a exatamente cada 2 dias 20 horas  48 minutos e 56 segundos. Este comportamento é conhecido desde a antiguidade e emprestou a Algol seu carinhoso apelido.  O sistema de Algol é ainda mais complexo que isto e parece envolver quatro estrelas. Mas apenas as duas citadas são responsáveis pelo espetáculo que observamos da Terra.
            Smyth em seu clássico “Cycles of Celestial Objects” demonstra como o interesse por DSO variou ao longo da história. Seu livro é do meio do século XIX e nestes tempos o maior interesse era por estrelas duplas. De fato, ao descrever M 34 ele fala de “ Uma estrela dupla em um aglomerado”   como se o par que habita no centro do aglomerado fosse a raison d´étre deste para ser um objeto interessante.  Ele se refere ao par que habita o centro do aglomerado (h 1123).  O aglomerado possui muitas estrelas duplas e mesmo baixo no horizonte é uma visão bem dramática.  Apesar de seu comentário inicial Smyth destaca que o aglomerado é um encontro de “ charmosos pares” e que trata-se de “ disperso mas elegante grupo”.  
            De seus membros verdadeiros o par composto por Struve 44 são as estrelas mais brilhantes do aglomerado. (Magnitude 8.4 e 9.1)
            Com um diâmetro aparente de 25´ e habitando a 1450 anos luz de nós podemos calcular que seus aproximadamente 60 membros se espalham por 10 anos luz de universo. Suas estrelas têm cerca de 100 milhões de anos o que fazem dele um aglomerado de idade intermediaria. Sua magnitude total é de 5,2 e ele pode ser facilmente notado de locais escuros e mais ao norte.  De latitudes mais austrais M 34 é facilmente percebido com quase qualquer auxilio óptico. Resolvi quase todo o aglomerado com uma buscadora 9X50. 

            Apesar de não ser um dos objetos Messier mais falados M 34 é um aglomerado aberto de primeira classe e um interessante alvo ao alcance de amadores em quase todo o território nacional. 

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Astrofotografia , Crise, Crentes e o Dia dos Mortos


              Se aproxima o Dia de Finados. Para coroar um semestre “daqueles” meu computador deu pau e eu já duro tenho que comprar um novo. Com um prefeito eleito que acredita que a Terra tem pouco mais de 6000 anos acho melhor partir para Búzios. Vai que o louco resolve cobrar dizimo por eu olhar o céu. A cidade está tão dura quanto eu.
                A beira de um ataque de nervos convenço a cara metade me deixar partir uns dias antes e aguardar por ela e as crianças já em Búzios.
                Com a casa vazia e milagrosamente uma madrugada de Finados que não está chovendo consigo um pouco de lazer. Na verdade, muito lazer.
                Depois de meses com o universo parecendo conspirar contra a minha pessoa parece que as coisas vão melhorar. Contrariando algumas das leis fundamentais do Universo a minha sessão de observação acontece como o planejado. Ou quase... 
                Como o Newton estava já na terra de Zé Eustáquio eu chego na Armação de ônibus levando apenas o novo computador e a mochila da câmera. Pouco antes da 16:00 horas.   Rapidamente estou com o telescópio colimado. Ou quase...
                Depois de uma rápida consulta a nova versão do Stellarium (muito boa) que instalara na véspera decido utilizar n Octans como estrela guia para meu alinhamento polar. Ela estaria cruzando o Meridiano exatamente as 19:49:17. Com magnitude de 3.7 eu esperava que ela comparecesse na Buscadora ainda no lusco fusco. Pouco minutos antes da hora ela se acende no canto da buscadora. Com uma altitude de 33o ela me permitiu realizar o alinhamento em posição confortável e rapidamente.
                Como tenho planejado fotografar Ngc 55 acho uma boa ideia utilizar Ankaa (Alpha Phoenix) como uma das estrelas de alinhamento do Synscan. Um truque que aprendi é utilizar como a segunda estrela (supondo que você esteja alinhando o Synscan utilizando apenas 2 estrelas) uma que esteja próxima ao alvo desejado. Isto vai “garantir” que o go-to funcione com bastante precisão. Pelo menos até você buscar algo mais afastado da estrela que foi utilizada.
                Mesmo com esta precaução eu sabia que teria que esperar ficar mais tarde para conseguir observar Ngc 55. O céu ainda estava muito claro para galáxias distantes.

                Assim resolvo testar as coisas com M 30. As fotos que fiz do mesmo na última temporada ficaram bem ruins e espero melhorar um pouco as coisas. Tudo corre bem e o aglomerado surge quase centralizado na buscadora. E dentro do campo da ocular de 40 mm.  A Primeira foto foi feita as 19:58.
Nada pode ser assim tão fácil e no momento que consigo finalmente chegar até Ngc 55 esta está quase cruzando o meridiano e o Newton (um telescópio refletor de 150 mm f8) acaba se enroscando nas pernas de seu próprio tripé. Vou ter que partir para outro alvo e retornar mais tarde. Mas pelo menos já tinha feito um bom reconhecimento das vizinhanças e esperava não ter problemas para localizar a galáxia novamente. Não é um alvo fácil apesar da proximidade de Ankaa.

                Depois disto faço um pouco de hora em M 31. Mas novamente as fotos não ficam grandes coisas.  Ela passeia muito baixa e sempre dentro do arco de poluição luminosa da Armação ao norte.  
                As 22:58 eu estou de volta a Ngc 55. Prefiro não expor o novo computador a umidade e assim faço as fotos (80) da galáxia pelo método antigo. E assim fico mais de uma hora ao lado do telescópio disparando a câmera a cada 30 segundos....

                Quando venho para Búzios sozinho é sempre meio solitário. E assim costumo observar com o rádio ligado. Mas desta vez parece que o Crivella já anda aprontando e somente consigo sintonizar rádios evangélicas. Felizmente com o advento do telefone celular isto não chega a ser um problema. Rapidamente estou com uma seleção do The Who tocando via You Tube.
                Depois de cumprir a lição de casa e ter meu alvo principal capturado eu fujo um pouco de script e acabo conhecendo um Messier que nunca visitara. M34. Faço umas poucas fotos do simpático e pouco visitado aberto.
                Agora de volta a derrota planejada ... M 77. E levando Murphy a loucura ela aparece bem no centro da buscadora. E não exige sequer visão periférico para se denunciar mesmo possuindo uma brilhante estrela a lhe assombrar.

                Normalmente eu sigo sempre uma mesma rotina quando avisto um DSO. Primeiro dou uma namorada utilizando ou a 26 ou a 40 mm (oculares). Depois texto mais magnificação com a 10 mm. E só depois retiro o suporte para ocular e encaixo a câmera para fotografar. Depois faço quantas fotos me der na telha e sigo viagem.  O número de fotos vai depender de diversas variáveis. O Interesse do objeto, quão tênue este o é, o alinhamento polar ter sido bem feito, a transparência estar boa ou não e etc...
                The Who vai fazendo bem seu papel:
“ Out here on the fields / I fight for my meals/ I will turn back to my living. ” Na verdade ultimo verso não é esse. Mas me pareceu apropriado.
                Já mais embriagado percebo que Sirius surgiu por trás das bananeiras a leste e percebo que isto se deu exatamente a meia noite. Começo a delirar.... Me ocorre que Dia de Finados, o Halloween, O dia dos Mortos tudo isto deve ter algo a ver com o dia que Sirius  nascia a meia noite nos Egito antigo. Fico louco para falar pro Crivella que o que ele comemora é uma festa pagã.  Aí me lembro de Zeitgeist e acho melhor abrir outra cerveja.
                O Fim da noite é observacional. Me divirto seguindo a numeração do catalogo Messier e visito em rápida sucessão M 35, M 36, M37, M38. Nunca vou conseguir decidir qual dos Abertos de Auriga acho mais interessante.  Dou um pulinho e aproveitando a história do “ Rising Vênus” vou a M41. Depois M 42 e 43. Tudo utilizando a 40 mm.  É sensacional como é divertido passear pelo céu com ela. Dá uma tremenda impressão de profundidade.  M 44 é sensacional na mesma e faz grande contraste com M67. Os dois abertos de Câncer não poderiam ser mais diferentes. M 45 também combina bem com a moça.

                M 35 se funde com Ngc 2158 e percebo claramente como um é mais distante que o outro. Um efeito que só percebo com o grande campo oferecido pela 40 mm “baixo orçamento”.
                Depois fico subindo e descendo pela espada de Orion e visitando mais de uma dezena de DSO ´no apertar de um botão. The Running Man Nébula é evidente visualmente. A noite rendeu...   
                Dia seguinte me divirto tratando as fotos e testando a velocidade absurda de meu novo computador. Vai me levar a falência. Mas pelo menos não estarei nem louco nem puto...
                A noite me preparo para o alvo que ficou faltando na noite anterior. Eu tinha algumas opções na manga. Um bom plano observacional tem que possuir isto.
                                Pensava em tentar Ngc 300 ou o Quarteto de Grous. Mas como já tinha passeado muito pela região e sabia que os dois objetos seriam alvos puramente fotográfico e que não tinha nenhuma chance de percebê-los visualmente decido me virar de costas para o mesmo e tentar algo que há anos venho adiando.
                Para me fazer companhia eu coloco o Cosmos (o do Carl Sagan) rolando no celular. Passei o dia sem falar nenhuma palavra. Ou quase pois é comum eu pensar alto...
                Finalmente fotografo Ngc 7331. A equivocadamente batizada de Galáxia do Cervo no novo Stellarium. Mas apesar do que eu imaginava esta também só se revelou para a minha câmera. Visualmente não desconfiei nem de seu núcleo. Novamente o Synscan mostrando seu valor.
                O tempo começa a nublar, mas eu já estou realizado.

Depois de processar as fotos chego à conclusão que preciso, definitivamente de um novo focalizador. Crawford e dual-speed de preferência. Com o atual conseguir um foco digno é missão quase impossível. O original do Newton empenou e foi substituído por uma ruim e o mais barato. Se o original já não era estas maravilhas o atual combina bem com a atual status quo e é quase medieval (afinal durante a idade das trevas a astronomia sobreviveu muito graças a registros chineses).
                 
                No dia seguinte chegou a chuva, os amigos e a família. Começo a elaborar um plano para permanecer até terça feira. As crianças perderiam aula a lua já estaria se pondo mais tarde, mas eu teria a oportunidade de ficar sem trabalho em local agradável e observar mais.

                No domingo à noite se abrem pequenos buracos no céu e aproveito para fazer algumas rápidas capturas. Visito rapidamente Selene ( A Lua)  Consigo registrar M 42 com um pouco de dignidade. Apesar de não focar nenhuma Brastemp e de eu descobrir (ou redescobrir)               que a umidade se transforma em ruído. De qualquer forma fico feliz que o trapézio se apresenta na captura. É difícil não sobre expor o conjunto que ilumina a nebulosa. Nas fotos abaixo pode-se perceber bem isto. As vezes em busca de se conseguir um registro grandioso da nebulosa se perde muitos detalhes e mais ainda do que realmente se observa. Um registro astronômico se torna uma obra impressionista. Nada contra. Meu museu favorito no mundo é o Orsay. Mas uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa...



                Tento a sorte com a Nebulosa da Roseta. Mas com as nuvens entrando e saindo me conformo em registrar apenas 2244 (o aberto envolvido com a nebulosidade que responde por um outro número no New General Catalog.


                Depois dito e com o céu cada vez mais nublado registro algumas estrelas só para me maravilhar como o synscan estava se comportando bem. Era só escolher a estrela e ela aparecia centralizada no view finder da câmera.

Aldebarã



              
Bellatrix
Betelgeuse

Meissa e O Collinder associado

Rigel



Mintaka


               Segunda-feira o dia amanhece ensolarado. Depois de um praião ele nubla novamente e resolvo não esperar mais. É hora de voltar para o Rio e torcer para o telefone tocar. Afinal sempre preciso do vil metal.
                Mas sempre terei o céu sobre nós e não creio que o alinhamento  entre o  Bispo e o Trump cause o fim do mundo.  
                  Tenho um amigo que sempre diz -" Calma ! Isto também passará."  
                  E para momentos mais desesperado tenho um outro amigo que sempre recita este mantra: " Ri melhor que Rivotril". 
                   Espero realmente que as coisas melhorem para acertar minhas contas com a Nebulosa da Roseta este verão....