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quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Ngc 55 : O Colar de Pérolas

               


                              O Nuncius Australis é um diário. Um Blog.
                         Blog – “ Web log”.
                  Log é uma palavra da língua inglesa que significa registro.
                 Neste aqui um registro de histórias de fundo astronômico.
                  Uso muito uma expressão que é “ folclore familiar”.
              Imagino que cada família tenha o seu. É uma coleção de histórias, expressões, manias e outra coisitas más que só fazem sentido para um determinado grupo de pessoas. 
                  Até mesmo das histórias que se contam a seus descendentes.
                Uma doce recordação folclórica é de meu tio  contando histórias de livros que já tinha lido. Durante minha infância eram sempre livros de aventura, suspense e guerra.  Um de meus programas favoritos era ouvir as histórias enquanto subíamos pelos teleféricos através da montanha. Um de meus favoritos era “Beau Gest”.  
                No meu núcleo mais próximo (eu, cara metade e os filhos) uma data sempre celebrada é a “Aporema”.  Assim festejamos os solstícios e equinócios. Na verdade é uma festa “quase pagã”. Possui a data móvel. É sempre festejada na lua nova mais próxima dos respectivos eventos que seja possível visitar céus mais escuros.  É o momento quando é possível observar o céu que determina qual é estação que estamos.   Determina qual são os Dso´s a serem abatidos e que tem a temporada de caça aberta.
                Recentemente fomos festejar a Apoema e depois de dois dias de “apoemar” muito chegou a família e em aventuras mais diurnas fiz a travessia da Praia da Azedinha para a praia de João Fernandes. Eu e minha mais velha. Saudoso e querendo lhe dar uma doce recordação no caminho contei a história de Beau gest para ela. Ela que nasceu na idade das trevas digital me encheu de esperança.
                - Põ pai! Quero ler. Compra para mim?
                Por conta das hsitórias que meu tio me contou conheci e posteriormente  li toda a obra de Frederick Forshythe  ( os melhores são “ O Dossiê Odessa”, “ O Dia do Chacal” e “ Cães de Guerra”), Durante a semana contei-lhe varias destas hsitórias que meu tio . Que no futuro vou contar para o pequeno. Folclore familiar. Assim como as "histórias da Suzana". Uma amiga doida de meu tio. 
                Ainda falando de folclore familiar é claro que existe uma hierarquia. Algo como o Olimpo.
                Na mitologia grega antes dos deuses vem as forças. Uma ideia bem moderna até hoje em dia. 

                Segundo uma das versões gregas da criação Existe ou vem existir em um determinado local além do tempo algo chamado por eles de “Caos”. Este é um elemento hermafrodita. Dele nasce Nix, a segunda criatura. A personificação da noite. Neste desmembrar caótico surgem algumas partículas fundamentais conhecidas. Além de Nix surge Erébus (A trevas abismais). Destas forças fundamentais surgem toda mitologia e deuses olimpíacos.



                -No folclore familiar, minha vó Musa ocuparia seguramente o lugar de Nix.  A noite. A primeira partícula a ocupar o existir. Primeira filha de Caos.
                NGC 55 pode se apoderar da imagem que O ‘Meara utiliza para descrever Ngc 253:" A ordem começando a surgir do caos".  
O aspecto de um nuclêo triplo justifica bem o seu apelido de Colar de Pérolas. E é a parte mais facilmente percebida visualmente. Esta foto é bem posterior ao post. Foi processada no PI. e no PS.

Na Aporema “atrasada” deste ano Ngc 55 foi um dos DSO mais distantes observado. E certamente o mais interessante dos alvos da temporada.  “Aporema” é tupi para “aquele que vê longe”.
                Localizada próxima de Ankaa (Alpha Phoenix) é meu objetivo principal na noite de2 para três de novembro de 2016. Na véspera ou antevéspera do Dia dos Mortos.
                Para deixar o cenário bem dramático eu passaria esta Aporema só. O núcleo base só chegaria dois dias depois.  
                Ngc 55 é também chamada de “ O Colar de Pérolas”. Um dos tesouros austral. Um dos maiores tesouros austrais.             

                Em condições suburbanas claras (Bortle 6 quase rebaixado para 7) ela é um alvo visual difícil para o Newton (um refletor 150 mm f8).
                Nas condições de Búzios você procura por um triangulo de fracas estrelas. Uma vez achado o triangulo cabe acertar o campo e conseguir ver Ngc 55. É uma tarefa factível. Mas implica em boa adaptação noturna e algum treino.  É certamente mais fácil perceber Ngc 55 do que M 33 em locais de poluição luminosa. Ela possuí regiões de forte concentração que formam algo como uma nebulosa com vários núcleos. Uma vez percebidos a nebulosidade que os conecta se torna mais evidente com visão periférica.  Olhando a foto abaixo você vai perceber que sua parte sul é bem mais tênue que o restante. Ela possui inclusive uma entrada diferente no catalogo IC. Creio perceber a estrutura, mas apenas por saber que esta existe.
40 exposições de 20 e 30 seg . ASA 3200 ( a grande maioria..) Rot n Stack sem dark frame adicionado. Gimp.

                Trata-se de uma galáxia espiral barrada que se apresenta quase de perfil para nós. Sua distância é algo discutida. Varia entre 4.2 milhões de anos luz e 7,5 milhões. Aceitando-se os valores mais baixos ela residiria entre o grupo local e as margens do Aglomerado de Escultor. Aceitando-se os valores superiores ela se encontra no Aglomerado de Escultor propriamente dito.
                Ngc 55 é cantada em prosa e verso por diversos autores como uma das galáxias mais interessantes para possuidores de pequenos telescópios. Walter Houston, autor por anos da coluna Deep Sky Wonders diz “ que certos DSO´s nos oferecem experiências visuais de tirar o folego”. De céus suburbanos claros (bortle 6 ou 7) é me parece um pouco otimista. Mas sem dúvida Ngc 55 será um show de detalhes em céus bem escuros.   Algumas fontes mais antigas dizem que a galáxia é o maior membro do Grupo de Escultor. Não é verdade. Ngc 253 não só é maior como  se apresenta mais facilmente para pequenos instrumentos.
                Tendo localizado a porção de céu onde habita Ngc 55 é provável que você perceba apenas algumas pequenas estrelas que cercam um conjunto de estrelas mais tênues ainda alinhadas. Estas estrelas alinhadas são condensações nos braços de Ngc 55. Regiões de intensa formação estelar. Com visão periférica, hiperventilação e outros truques você irá perceber que todas estão envoltas em nebulosidade que se acentua conforme você vai insistindo na observação. Cobre um belo campo de uma ocular de 25 mm. Uma de suas extremidades é muito discreta e pouco mais é que um suspiro de existência.
1 X 25 seg. 3200 ASA canon T3 Creio que muito do ruido deva-se a muita umidade presente em uma noite supostamente limpa... Semelhante ao que se observa visualmente. Com esforço, tempo e visão periférica você poderá perceber alguns detalhes ocultos ao CMOS...

                John Dunlop foi o primeiro a observa-la e esta tornou-se a 507aentrada de seu catálogo de 1827.   Sua impressão me faz lembrar que Cozens, em sua tese, comparou seu refletor de 9 polegadas e com espelho especular com um moderno refletor de 150 mm (igual ao Newton).  “Uma bela e longa nébula com 25´ de comprimento; posição norte precedendo (Noroeste) Sul seguindo (sudeste), levemente mais brilhante em direção ao centro mas extremamente tênue e diluída em direção as extremidades. Eu vejo diversos pontos minúsculos ou estrelas como se através da nebulosidade. A matéria nebulosa de sua extremidade sul é extremamente rara e de delicada tonalidade azul. ”
                Apesar de desenhos e a descrição acima Swift tenta se apropriar de um dos braços de Ngc 55 e isto acaba por criar IC 1537. Esta extremidade parece se separar do corpo da galáxia por uma faixa escura e isto leva Swift a se apoderar deste pequeno reduto. “ Como Sir John Herschel não marcou isto (Ngc 55) como sendo um objeto memorável parece-me plausível a ideia de que isto (IC 1537) não tenha sido percebida nem por ele. ”
Favorita. As 15 melhores fotos+ 10 darks no DSS. Acredito que uma visão semelhante possa ser obtida visualmente de céus mais generosos que Búzios.

                São assunções bastante duvidosas. Dunlop fala claramente em quão discreta era a nebulosidade na região em questão com John Herschel nos diz em sua observação de 4 de outubro de 1836 que é “ Uma muito longa, irregular e granulosa cauda composta de três núcleos, sendo o segundo composto de estrelas”. De qualquer forma Ngc 55 e IC 1537 são partes de uma mesma galáxia.
                Ngc 55 possuem diversas regiões HII é uma das poucas galáxias onde possuidores de pequenos telescópios podem notar tais estruturas “facilmente”; São os “núcleos” que você percebe inicialmente na sua observação.
                           

                Localizar Ngc 55 partindo-se de Ankaa e seguindo um pequeno zig-zag de estrela binoculares não chega a ser difícil. Mas é necessária bastante atenção para saber que se chegou a ponto certo. Em locais de muita poluição luminosa ela será um alvo para astrofotografia.  Recomendo que estude bem a região utilizando um mapa para localizar um padrão de estrelas composto por um pequeno triangulo que aponta para duas estrelas. Uma estrela de 7 magnitude se sobrepõe a galáxia e a denúncia.
                Ngc 55 foi batizada como “Colar de Pérolas” por Carolyn Shoemaker ao vê-la em uma foto realizada por seu marido Eugene e David Levy. Famosos caçadores de cometas.  Ela mesma tomando a galáxia como um cometa em fragmentação.  Muitos dos presentes devem se lembrar do Cometa Shoemaker que se espatifou contra Júpiter.

                Apesar de possuir um brilho de superfície relativamente baixo seus “ núcleos” ajudam a localizar esta joia. É uma das mais interessantes galáxias austrais e por isto foi incluída por Sir Patrick Moore na sua lista de objetos favoritos e conhecida como o catalogo Caldwell. É por isto também chamada de C 72. Um DSO obrigatório para amadores abaixo (e os nem tão acima) da linha do equador.

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