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terça-feira, 3 de março de 2015

Ngc 2232 e os 400 de Herschel

         

             William Herschel provavelmente é o maior observador visual de todos os tempos. Ele é sempre lembrado pela descoberta de Urano.
                Nascido Friedrich Wilhelm (William) Herschel  em 15 de novembro de 1738 em Hanover em uma Alemanha ainda não unificada. Para manter a veracidade histórica Hanover era parte do Sacro Império Romano Germanico e este era capitaneado pelos Von Habsburg.
                Em 1754 o jovem Herschel se muda para Inglaterra e acaba estabelecendo-se em Bath. Nestes tempos sua grande paixão era a musica e ele acaba por obter uma confortável vida como organista e professor de musica.  Em 1772 ele acaba por levar sua amada irmã Caroline para morar com ele. Era um momento de transição na vida de William. Sua paixão migrava da musica para a astronomia e a fabricação de telescópios.  Nove anos depois da chegada dela,  especificamente na noite   13 de março de 1781 ( uma terça feira valesse nosso calendário...) , Herschel observou o que viria a ser Urano. Ele reporta sua descoberta em  26 de Abril   e acredita que trata-se de um  cometa. Cálculos posteriores demonstram tratar-se de um novo planeta. Herschel o batiza em homenagem a seu soberano ( agora o rei Inglês)  com Georgium Sidus.  O nome não colou e posteriormente seu nome é "atualizado" e  honra o Deus Grego do Céu .  Pai de Cronos (Saturno) e avô de Zeus ( Júpiter).
                Depois disto William e declarado astrônomo ( e astrólogo) real e tanto ele como sua irmã ganham uma saudável "ajuda de custo" para continuarem a explorar o firmamento.
                Herschel ( e Caroline) após 20 anos de observações deixam nada menos que 2580 novas "nébulas" e aglomerados . Este trabalho acabou sendo registrado nos "Catalogue of One  new Nebula and Clusters of Stars" (publicado em 27 de abril de 1786) , " Catalogue of a Second Thousand              of New Nebula and Stars Clusters of Stars" e  no final "Catalogue of 500 new Nebula , Nebulous Stars, Planetary Nebulae and Clusters of Stars". Publicados respectivamente em 11 de junho de 1789 e em 1 de julho de 1802.
                A fim  de organizar a variedade de objetos que ele observou Herschel criou um sistema de classificação assim como Lacaille o fez anos antes dele. Em seu sistema criado por  Herschel        consistia na Letra H ( para Herschel) , um numeral romano para classificar a classe de cada objeto; onde: 
I- Nébula brilhante
II-Nébula tênue
III- Nébula muito tênue
IV- Nebulosa Planetária (Estrelas desfocadas, com aparência leitosa, com pequenos raios , com formas memoráveis e etc...)
V- Nébulas muito grandes
VI-Aglomerados muito concentrados de estrelas grande e/ou pequenas)
VII- Aglomerados de estrelas esparsos.
                E um Numeral romano que consiste apenas na ordem que o objeto de uma determinada ordem foi observado. assim H VII 11 é o 11o objeto da classe VII a ser observado.  Simples e empírico...
                De suas mais de 2500 entradas o catalogo Herschel apresenta uma vasta coleção de galaxias e nebulosas planetárias que são muito tênues e sem graça para o astrônomo amador médio. E dista nasce uma lista conhecida como Herschel 400. é uma especie de projeto observacional que pretende levar o amador a conhecer os 400 mais belos objetos das descobertas feitas por Herschel.  Conta-nos a história que os membros do Ancient CityAstronomy Club de St. Augustine na Flórida foram os responsáveis por esta lista. Nesta eles incluem 400 objetos descobertos por Herschel que seriam um desafio para amadores com telescópio de 150 ou mais mm de abertura.
                A contrario do que se pode imaginar por esta proposta muito dos objetos incluídos entre os "400 de Herschel" são alvos fáceis para observadores com modestos telescópios e mesmo com binóculos.
                Este é o caso de nosso convidado. Ngc 2232 ( H VII- 25 ) é um aglomerado aberto em Monoceros que é facilmente percebido até mesmo com modestas buscadoras de 7X30.
                Habitando a discreta constelação do Unicórnio ele acaba passando desapercebido na Via Láctea sendo sua base eclipsada pelas famosas constelações de Órion e Cão Maior.E também pelas mais famosas vizinhas na mesma constelação que carrega a nebulosa da roseta como grande estrela.
              a mag.) . Com este obvio na ocular de 25 mm não pude deixar de realizar umas poucas fotos para posteriormente pesquisar do que se tratava o obvio e esparso aglomerado que havia " descoberto". 
  Acabei por fotografar Ngc 2232 meio que por acaso. Passeando pela região em busca do mais famoso ( e menos brilhante)  Ngc 2244  , o aglomerado aberto associado a nebulosa da Roseta ( Ngc 2237)    acabei por perceber o esparso "ajuntamento" de estrelas brilhante concentrado ao redor de  10 Monoceros ( 5
                As fotos que você vê aqui revelam duas coisas sobre ótica.Uma é que telescópios newtonianos sofrem de um problema "genético" conhecido como "coma". As estrelas podem vir a se parecer com pequenas virgulas. A outra é que meu telescópio esta descolimado e que este desalinho do sistema  óptico aumenta a coma barbaramente...

                Acabei por descobrir que o aglomerado de virgulas que registrei tratava-se de 2232 . E depois descubro que assim como muitos aglomerados brilhantes e fáceis de serem observados ele faz parte da supostamente temível lista do "400 de Herschel".
                Localizar Ngc 2232 é bastante facil.  Trata-se de um brilhante embora pouco condensado aglomerado com aproximadamente 20 estrelas no entorno de 10 Mon. Percebo seus membros mais brilhantes ( 5 estrelas) facilmente com meu 10X50 mesmo no Rio de Janeiro . Em Búzios consigo perceber mais algumas estrelas a beira da resolução.



                Entre Betelgeuse  em Órion e Sirius na Cão Maior existem apenas duas estrelas mais brilhantes facilmente visíveis a olho nu . São Alfa e Beta Monoceros. Identifique Beta Mon e confirme a observando com cerca de 100X de aumento . É um interessante sistema triplo.  Depois pela buscadora localize 10 Mon. Será evidente pela buscadora a assim como os membros mais brilhantes do aglomerado.  Com  50X você vai perceber o aglomerado se destacando  do fundo galáctico. Mais magnificação e em telescópios maiores vão revelar mais estrelas em campo e tornar o aglomerado menos obvio.  2232 é o oposto do que se imaginaria em uma lista observacional teoricamente desafiadora...
                O aglomerado é relativamente bem estudado e é um caso daqueles DSO´s que rejuvenesceram. Papers mais antigos chegam a atribuir-lhe 100 milhões de anos de idade. Os dados mais recentes atribuem apenas  30 milhões de anos ao aglomerado. Há diversos estudos e observações confirmam  que Ngc 2232 apresenta poucos indicios de discos planetários que muita vezes se supõem  comuns em estrelas jovens . Seu estudo demonstra que os processos envolvidos na formação de sistemas planetários não são realmente ainda muito bem entendidos.  Localiza-se a aproximadamente 1200 anos luz da terra.  Ele localiza=se a cerca de 300 anos luz da grande nebulosa de Órion  e ha indícios que ambos podem ter se originado da mesma grande nuvem de gás e poeira de onde surgiu M42.

                Visitar Ngc 2232 e um interessante programa e ainda um bom começo no ambicioso projeto que é observar o "400 de Herschel".