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quarta-feira, 16 de junho de 2021

Ngc 4052: O Vice do Cruzeiro do Sul

 


                Estava com Newton (meu refletor 150 mm f8) de molho há muito tempo. Preguiçoso só vinha fotografando o céu. E fotografar usando minha Pentax 300 mm ED é muito mais fácil que com o telescópio. Com a distância focal dividida por 4 o acompanhamento das estrelas se torna muito mais fácil. Mesmo com um alinhamento polar “medíocre” você consegue 45 segundos de exposição. 1 minuto na maioria das vezes. Até mais em noite inspirada. Já com os 1200 mm do Newton as coisas não ficam tão fáceis. Sem guiding scope eu dificilmente arrisco mais que 30 segundos. Até dá, mas muitas fotos se perdem e a noite rende muito pouco.

                Dessa vez queria observar, com meus olhos, um discreto aberto que era uma pedra no meu sapato há tempos. Ngc 4052. Um discreto embora relativamente rico aglomerado no Cruzeiro do Sul.

Na terça feira 15 de junho de 2021 juntou-se a fome com a vontade de comer. Sem trabalho há muito tempo (a Covid e o atual governo vêm se esforçando para acabar com o cinema nacional de uma forma que deixariam o Collor ruborizado) e  com muito tempo e sem quase nenhum dinheiro  achei que era o momento de me lançar parcela celestial do planeta.  Uma espécie de Ismael cósmico. Limpei o espelho do Newton e coloquei as tranqueiras a postos na Stonehenge do Pobres (esta é a janela da sala do meu apartamento). No inverno o Cruzeiro cruza o meridiano logo no início da noite. Utilizando Acrux para realizar o alinhamento polar estou pronto as 19:20 para me lançar a caça de Ngc 4052.

Utilizando Acrux e Beta Centauri para alinhar o go-to de Mlle. Herschel (minha cabeça equatorial HEQ5) sei que chegarei cravado no alvo. Fica muito próximo de Acrux. Esse é u truque útil. Sempre que você for caçar um alvo próximo de uma estrela utilize esta estrela para alinhar o Go-to de sua cabeça. Embora isto não esteja escrito em nenhum manual eu aposto que a precisão da cabeça é maior pelas bandas do céu próximas as estrelas guias.

Tiro e queda. O Aglomerado possui pequena estrelas, mas com duas estrelas bem brilhantes (na verdade a dupla q1 e q2 Crux) para compor o quadro e guiar o caminho mesmo uma navegação por starhoop não é difícil.



Pequeno, bem concentrado e reativamente rico ,embora o Stellarium e outra fontes o classifiquem como Trumpler II 1 p. Dreyer no Ngc parece concordar mais comigo: o descreve como Cl, pRic, 1C ( o pRic significa “pretty rich”). O mesmo apresenta um belo colorido. Melhor observado com a ocular de 10 mm pois devido ao pequeno tamanho 240X de aumento dão ao mesmo mais forma e caráter. Mas é interessante na 25 mm com as duas estrelas guias fazendo um belo quadro. Embora aí seja difícil resolver o mesmo. Mas o esfuminho das estrelas não resolvidas dá um charme de nebulosa ao mesmo que deixa as coisas ainda mais poéticas.

As fotos foram realizadas com uma canon T3 -Newtoniano 150 mm f8- 30 esposições de 30 seg 1600ISO +10 darks- Pós DSS, PixInsight e PS. 


Ngc 4052 é um objeto modelo do Projeto Tudo que Existe. É um aglomerado aberto, pertencente ao New General Catalog e que nunca foi incluído nos Guias Observacionais clássicos ou modernos. E ao contrário da maioria dos objetos em questão este escapou do O’Meara na série “Deep Sky Companions”. E é um delicado e colorido aberto. Bonito mesmo. A maioria dos objetos do “Tudo que Existe” é bem sem graça...

Com Magnitude 8.8 e 10´ de diâmetro não é um alvo fácil no Rio de Janeiro. Aqui da Stonehenge do Pobres ele é bem discreto. Mas um excelente exercício de visão periférica. Em céus mais escuros vai ser um passeio. Mas se resolve com paciência e técnicas milenares de respiração.  



Foi descoberto por John Herschel em 8 de março de 1837. É a entrada h 3373 do Catálogo Herschel.  O trabalho mais aprofundado sobre o mesmo foi realizado por Engver, N. em 1966. Neste ele nos diz que este se encontra a 1900 pc de distância, Trumpler anteriormente assumiu uma distância um pouco menor: 1600 p.c.  Em um chute culto aposto em cerca de 6000 anos luz. Engler calcula que o mesmo possua pelo menos 56 membros com magnitude superior a 14. O tipo espectral mais jovem encontrado é B 3 segundo Stock. Desta forma podemos imaginar que estrelas do Tipo O já tenham evoluído e calcular uma idade intermediaria para nosso amigo.  Um dado curioso  é que , ao contrário da maior parte do universo esse se aproxima de nós. Possui uma velocidade radial positiva : +2,7 km/s.

Ngc 4052 é um alvo pouco visitado, mas digno de nota. Uma bela novidade no Cruzeiro e certamente uma bela opção para já batida Caixinha de Joias. Na verdade, acho o segundo aberto mais interessante da constelação. Ngc 4755 continua imbatível.  Ngc 4052 é vice...

quinta-feira, 29 de abril de 2021

Ngc 2335 e 2343: Um Aglomerado Duplo

 


           Hoje vamos matar dois coelhos com uma só cajadada. Ngc 2335 e Ngc 2343 são intrinsecamente relacionadas e, com jeitinho, você vai espremer os dois no mesmo campo ocular de um telescópio de 150 mm f8 utilizando uma ocular de 26 mm. Com a minha 40 mm é tarefa fácil. Mas sendo pequenos o maior aumento da 26 vai resolver melhor os aglomerados e dar uma visão melhor da obra. Creio que já os apresentei aqui em um artigo sobre aglomerados duplos binoculares. Mas no caso estes serão simples esfuminhos em uma região maravilhosa de ser observada com pequenos aumentos propiciados pelos mesmos. O´Meara batizou a área do “O Paraiso Pirata” tantos são os tesouros que ali se encontram.

                Ngc 2335 é um membro fidedigno do Projeto Tudo que Existe.  Neste reúno DSO´s que não foram enquadrados (não possuem uma entrada só deles) em nenhum Guia Observacional atual ou passado. Já Ngc 2343 quase entrou no projeto. Mas quando descobri que esse era chamado de o “Aglomerado Doublemint” já sabia que o mesmo O´Meara havia colocado as mãos nele. Está escondido no menos conhecido, mas ainda assim muito bom, “Deep Sky Companions: The Secret Deep”.

                Ambos aglomerados foram descobertos (certamente na mesma varredura) por William Herschel em 1785. Ngc 2335 possui magnitude 7,2 e Ngc 2343 de 6,7.  Mais concentrado e com estrela levemente mais brilhantes acho 2343 mais fácil de se perceber. Mas depois de algum tempo observando Ngc 2335 se revela maior, mais rico e o acho mais interessante. Apesar disto Ngc 2343 tem mais história e é mais conhecido. A primeira delas é um equívoco. O´Meara diz que este foi descoberto por John Herschel. E não William.  Depois disto outro equívoco. Admiral Smyth em seu histórico “The Cycles of celestial Objects” nos diz que o mesmo se trata de uma estrela dupla.



                Ambos são cosmologicamente muito semelhantes e possui uma história comum. Clariá (1974b) nos diz que que eles formam um sistema duplo e que possuem 100 milhões de anos. Dividem ainda a mesma distância: 1150 parsecs. Clariá realizou um trabalho relacionado a distribuição de estrela do Tipo O e B da Aglomeração de canis majoris e conclui que ambos seriam parte da mesma e que o mesmo processo teria criado as condições para a produção estelar que os deu origem. Atualmente, devido a idade derivada dos mesmos, se duvida que a associação e os nossos aglomerados tenho tido origem na mesma nuvem proto-estelar. Mas há controvérsias...  A associação estelar OB de Canis Majoris parece ter passado por várias fases. Mais precisamente 4 gerações de eventos.  A mais recente e responsável por diversos DSO´s na região se deve a uma supernova que ocorreu acerca de 1 milhão de anos. Mas as coisas já vinham rolando por lá ha mais tempo. E desta forma nossos aglomerados seriam membros da primeira geração de ondas de choques, supernovas e cia. Ltda que acontecem por aquelas bandas...  



                Localizados em Monocero (O Unicórnio) localizar os mesmos não é exatamente fácil. A região dispõe de poucas estrelas brilhante. e de muito aglomerados abertos. Saber exatamente quem é quem em campos tão ricos nem sempre é fácil.  Primeiro localize Sirius e Procion. Em algum local entre estes dois brilhantes faróis (Sirius é a estrela mais brilhante do céu) habita o paraíso pirata. Geralmente o primeiro DSO que percebo na região é M50. Com ele em quadro você está relativamente perto. Olhe o mapa com atenção, faça a seu dever de casa e localizar nosso aglomerado duplo não será tão difícil. Ngc 2343 costuma saltar primeiro ao olhar como uma pequena pirâmide de estrelas. Com ele em na ocular Ngc 2335 vais estar lá também. Mesmo que tenha que passear com poesia de um lado para o outro com seu telescópio. Com aumentos maiores ambos não vão caber no mesmo campo. Mas com minha ocular de 10 mm (Aumento de 120 x) ambos se resolvem na integra e revelam dezenas de estrelas.

                Dois aglomerados galácticos bastante interessantes e nem tão visitados. Um belo programa.

               

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Deep Sky Stacker X Sequator

 

     

     Recentemente recebi uma pergunta sobre minha opinião sobre dois diferentes programas de stacking.

Qual seria o melhor?

O Deep Sky Stacker ou o Sequator?  

Mesmo já sabendo a resposta decidi fazer uma espécie de Telecatch Montilla (os maisjovens nunca devem ter ouvido falar disso) entre os dois. Mas aqui não ia valer saco de groselha nem truques para enganar o espectador.

                O combate é simples.

Ambos os programas vão empilhar exatamente as mesmas fotos, serão utilizados 4 dark frames e ambas as fotos finais serão esticadas no PixInsight. Vou apresentar como resultado os  arquivos originais gerados por ambos os programas ao natural. Depois apenas com o Histograma esticado. E depois essa matriz com o Histograma esticado é tratada com uma máscara de luminância e tem apenas curvas aplicadas.  Sem grandes pirotecnias.  Vou até deixar as manchas do sensor sujo presentes. Bem raiz...

                 Os Light frames foram capturados se utilizando uma Canon T3 sem mod, uma lente Pentax 300 mm. Tudo montado sobre Mlle. Herschel. Uma Montagem equatorial HEQ 5 pro.

                A GNM foi fotografada sob um céu Bortle 6 ou 7.  As capturas  realizadas em raw.

                A Versão do DSS utilizada foi a 4.22.

                O Sequator é famoso por sua rapidez.

                O DSS demorou quase 6 minutos para realizar o stacking da GNM. 60 subs de 1 minuto ISO 1600.

                O Sequator realizou o mesmo processo em 4:23 minutos. Ele é bem mais rápido que o DSS. Mas acho importante lembrar que o DSS vem acelerando. Até recentemente estava utilizando o DSS 4.1.1. E demoraria muito mais tempo que os quase 6 minutos.

                Logo em uma primeira analise percebo mais detalhes no DSS. Seu autosave, Tiff 32 bits, embora lavado evidentemente carrega mais informação que o Tiff 16 bits do Sequator.

                Abaixo as fotos como saídas do forno.

DSS

Sequator; Repare que este não gira as fotos automaticamente


 

                Agora apenas com o Histograma esticado.

DSS Histograma esticado.



 

Sequator

                E agora com as máscaras de luminância e as curvas aplicadas.

 


                Parece claro que o DSS é muito mais poderoso.

                Mas, para ser justo, o Sequator é um programa útil. Quando fotografando fotos mais “a lá paisagem " e menos devotadas a objetos de céu profundo pura e simplesmente ele possui uma ferramenta bastante útil. Ele permite escolher ( fazendo uma mascara com o uso de um pincel) a parte da foto que você vai empilhar e congelar o primeiro plano. Mantendo assim a paisagem terrestre sem os borrões característicos do DSS. Sem a necessidade de se realizar um composite a posteriori para se encaixar o céu na paisagem. Ainda que você vá obter menos detalhes na parte celeste da foto. Mas em fotos típicas (como a Via Láctea sobre uma montanha e afins) os resultados serão muito aceitáveis e demandarão bem menos esforço. Mas esse recurso só funciona para foto sem acompanhamento. Ele vai empilhar e alinhar a parte celeste e manter o solo. Mas isso não se aplica se você tiver utilizado um acabeça equatorial. Boa para fotos wide field sem acompanhamento.   

                O DSS apresenta muito mais recursos que o Sequator. Existem diversos algoritmos para se realizar o empilhamento. Kappa Sigma, mediana, entropia e etc...

                Fora o recurso de Drizzle . O Sequator tem um recurso semelhante que integra 4 pixels em um. E pode se escolher áreas na foto a serem empilhadas. Assim como no drizzle do DSS. Mas os resultados deixam muito a desejar.  O Drizzle no DSS é infinitamente superior.

                O Sequator tem uma interface bem mais fácil que o DSS. Mas o DSS não chega a ser um programa com uma curva de aprendizado muito longa. Um rápido tutorial vai resolver todos os seus problemas.

                O Sequator me pareceu muito com uma versão envenenada do antigo Rot n´ Stack. Outro recurso legal é que no Sequator você pode , em vez de alinhar as estrelas, escolher o método star trails. E assim fazer , redundantemente, fotos de "Star Trails".

                Enquanto programa para stacking o DSS ainda segue liderando com mais de um corpo de vantagem. 

                Outro detalhe que observei é que o Sequator parece saturar mais as imagens. Apresenta um certo desvio para o magenta em objetos mais brilhantes. A Parte das cores no DSS necessitam de um programa de edição dedicado para se apresentarem em todo seu potencial. As fotos abaixo demonstram bem isso. São resultado da captura de 10 frames de 1 min em RAW ISO 1600. Foram submetidas ao pacote completo de tratamento. Poderia ter destacado mais cores no DSS se assim desejasse. Mas achei o  resultado mais natural do jeito que está. 

               

Sequator

DSS

                No Cloudy Nights vi uma bela definição: O Sequator serve para você ter uma ideia do potencial de sua captura. Rapidamente. Se essa mostrar potencial parta para o DSS.

                  Me recordo de rodar o DSS , nas antigas, com 4G de RAM. Mas se você pretende manter sua qualidade de vida e empilhar fotos recomendo pelo menos 8 G. Não tenho nem certeza se as versões atuais do DSS rodam com menos que isso. O Sequator fala em seu site que essa é a configuração mínima. 

                No nosso Telecatch o Ted Boy Marino é o DSS.


Versões do DSS; 

https://github.com/deepskystacker/DSS/releases?fbclid=IwAR3eoOVnSieEcEdoOlEDLM5qJmoriH_swdflW7xcPaSeUs3acuHp bokP5ME 


Sequator:

https://sites.google.com/site/sequatorglobal/download 



domingo, 11 de abril de 2021

Divagando sobre Programas para Astro Fotografia

 

                Existem dezenas de programas para realização de astro fotos. Não é a intenção deste post apresentar todos. Foi me concentrar, especialmente, nos que uso com mais frequência. E também contar um pouco da história e da evolução destes programas.  E falar de algumas novidades ...

                Me lembro, lá nos primórdios da minha aventura astro fotográfica, ainda com uma cabeça equatorial EQ 1 sem acompanhamento e utilizando uma camereta Point and shoot adaptada em uma ocular de 20 mm no Galileo (um refrator 70 mm F 13) com um tubo feito com cartolina e fita crepe....

                Eram tempos de Rot n´ Stack. Na época eu achava o máximo os resultados que conseguia com o mesmo empilhando dezenas de fotos com1 ou 2 segundos de exposição. Era tudo muito tosco e o Olavo de carvalho ainda era um cara que a gente ia sacanear no Grupo dele no Orkut. Sua filosofia era do mesmo naipe do Rot n´ Stack. Algo mais para pop art que para Astrofotografia. Felizmente, para a astrofotografia, os programas de stacking evoluíram rápido e muito. Já o Olavo e seus Olavetes caminharam rumo e idade média a passos ainda mais rápidos. Se as notícias foram ótimas para astrofotografia não foram tão boas para o país.

De volta ao Rot n´Stack. O Programa era bem simples. Você carregava todas as fotos que pretendia empilhar e ia, de uma em uma, marcando dois pontos de referencia para serem utilizados no empilhamento. Um com o botão direito do mouse e outro com o esquerdo. Ele podia fazer isso de forma automática. Mas isso só funcionaria se sua captura fosse perfeita. Com todos os frames idênticos e sem nenhum drift entre elas. Com uma montagem eq 1 isso nunca vai acontecer. Mesmo com uma E Q 5 sem acompanhamento. E assim para se empilhar 100 fotos era necessário dois clicks para cada foto. E mais um para mudar a foto. Com isso eram, no mínimo 300 clicks de mouse para se empilhar 100 fotos. O programa devia vir com um plano de saúde “bundled” para tratar dos problemas associados ao movimento repetitivo.  Depois disso ele gerava 4 arquivos finais do que tinha sido empilhado. Um chamado “Min”, o outro “Med” o Outro chamado “Max “e por fim um chamado “Sort”. Um tinha a foto final com os pixels de menor brilho registrados (Não sei porque), o Outro com os médios (em geral o mais realista), ou outro com os mais brilhantes (que costumava a parecer algo meio estranho) e o Sort. Que podia apresentar resultados extremamente criativos... Só aceitava frames em Jpeg ou PNG.

                Como seu processo era totalmente manual ele empilhava qualquer coisa. Mesmo que sua captura fosse um monte de rastros de estrelas...

                Com a evolução do meu equipamento e a chegada de Hipatia ( uma cabeça equatorial EQ3-2)   e do Newton ( Um refletor 150 mm f 8) as capturas tiveram uma grande melhora e minhas fotos começaram a ser aceitas ( ainda que na maioria das vezes com um threeshold baixo) pelo Deep Sky Stacker. Esse sim um senhor programa para empilhar as fotos e melhorar a razão sinal ruído de suas imagens.   Acho que a primeira versão que utilizei foi a 2.0.10. Nela foi adicionado o método de stacking Kappa Sigma. Anteriormente o mesmo só possuía o HDR e o de Media auto adaptativa (auto adaptative weighted average). Sempre utilizei o HDR. É o mais eficiente e o que demanda mais memória de seu computador. Nas primeiras versões e no meu antigo lap top reindeirar 100 fotos podia demorar algumas horas. Atualmente As coisas demoram minutos. O Processo de stacking de seus light, darks, flat e bias é totalmente automatizado e a interface super simples. Outro recurso ótimo é o de drizzle que permite ampliar áreas destacadas de seus light frames e extrair mais detalhes destas áreas. Esse processo   foi criado para se trabalhar com as fotos do deep field do Hubble.

                O DSS é o melhor programa de stacking gratuito com larga margem. E eu (não estou só nessa opinião) acho ele o melhor no conjunto da obra. Embora existam diversos programas que empilham e editam pagos e com altíssima qualidade o processo de stacking no DSS é muito mais simples, rápido e eficiente. Por exemplo, empilhar no PixInsight é a maior trabalheira para obter um resultado muito semelhante. Pra mim o melhor é empilhar no DSS e depois editar no PixInsight 1.8.  O DSS apresenta algumas funções de edição. Mas são bem rudimentares. Embora na versão atual a ferramenta de saturação tenha melhorado muito em relação aos primórdios. O DSS vai gerar um arquivo final (autosave) no formato tiff ou fits, ao gosto do cliente. Em 32 Bits. E pode também gerar um ficheiro com 16 Bits. Nem todo programa de edição abre seu arquivo 32 Bits...  O DSS trabalha mais rápido e os resultados são consideravelmente melhores se suas capturas forem realizadas em Raw.

                Foi lançada recentemente a versão beta 4.2.6.  Eu confesso que ainda preciso atualizar. Estou com a versão 4.2.2. E achando ótimo... Recentemente tive problemas com a versão 4.2.4 que se recusava a salvar o arquivo final depois do processo de stacking ser concluído.   Aqui você tem um histórico e acesso as diversas versões: 

  http://deepskystacker.free.fr/english/ReleaseNotes.htm

 

E aqui você pode conseguir baixar as mais recentes:

https://github.com/deepskystacker/DSS/releases?fbclid=IwAR2xGBBPyKLLQI-hLJr-Zd3zXYrQiCa2QYOdDbA5DSF782TeNJVS5ntHYb8

 

                Recentemente apareceu o Sequator para competir com o DSS. Usei pouco o Sequator. Me pareceu que as imagens terminam com mais saturação de cor. Puxa um pouco para o magenta. Por fim o output do mesmo só sai em 16 bits. Acho que isso encerra a questão. O Sequator é mais fácil para o iniciante. Para astrofotografia o DSS ainda é melhor.

                Quando partimos para edição eu utilizo atualmente o PixInSight 1.8. É uma ferramenta poderosa para se “esticar” as fotos e possui uma ferramenta de auto extração do gradiente de fundo fundamental. Quase dispensa o uso de dark frames (embora ache melhor utilizá-los no stacking...). É um programa caro e como possui muitos recursos tem uma curva de aprendizado longa. Mas é certamente o melhor editor de astrofotografia que conheço.  Classifico minhas fotos em AP e DP. Antes e depois do PixInsight. Este realiza stacking também. Fiz uma única vez. É extremamente trabalhoso e é preciso “fabricar” diversos arquivos em fits para se utilizar todo o seu potencial.  Quase todos os recursos do mesmo você pode conseguir utilizando o PhotoShop. Mas como é um programa dedicado a astrofotografia o uso de mascaras nele é muito mais simples que utilizando o concorrente da adobe.  Extrair a máscara de luminância é muito fácil e um passo fundamental no pós processamento.

                Não é um programa para computadores pangarés.

                Existe o Fitswork. Já usei muito antes de ter o Pix. É gratuito. A comparação é simples. É como usar o Gimp ou o Photoshop.  Tem os recursos ..., mas é mais difícil de usar e não tão poderoso.  

O Pix ainda tem uma versão gratuita, sem todos os recursos. Mas é boa... o PixInsight LE.  Atualmente é possível se obter cópias piratas do 1.8. Mas prepare-se para lutar contra malwares e ter um bom conhecimento de informática para fazer o bruto rodar... Não colabore com a pirataria.

                Estou louco para utilizar o Astro Pixel Processor. Parece ser um concorrente a altura do PixInsight. Mas ainda não testei.

                Outro poderoso e Multifunções é o Maxim DL. Nos tempos que comecei a levar astronomia a sério ele era o bam bam bam. Mas há tempos que não escuto falar do mesmo. Caro, complicado e poderoso. Ele permite desde controlar o telescópio, a câmera e ainda fazer o stacking e a edição das fotos. Com ferramentas inimagináveis. Consegui utilizar a versão trial por um tempo. há muito tempo atrás. Não me entendi bem com o programa. Uma curva de aprendizagem longa e demorada. Coisa para observatórios mais profissionais que o A Stonehenge dos Pobres.

https://diffractionlimited.com/product/maxim-dl/ 

                Outro bom programa para capturas é o APT. Astrophotography tolls.  Mas acabei substituindo o mesmo por um disparador remoto para minha câmera. Nele posso fazer tudo que fazia no APT. Determinar o numero de frames a serem capturados, a velocidade do obturador, o intervalo entre as fotos, o ISSO e etc. E não preciso expor meu lap top ao sereno. Equipamento bom e barato. Fundamental eu diria.

                Não vou nem falar do Photoshop. Ele é a cereja do bolo. E um programa que você deve ter para o acabamento pós PixInsight. Além de que é um editor para suas fotos em geral. Sua contrapartida gratuita é o GIMP. Bom editor. Mas bem menos amigável...

                  Recentemente a Fix The Photo lançou uma lista com o s melhores programas para astrofotografia. Fiquei muito curioso sobre o SIRI L. vou testar. Aqui o artigo:

https://fixthephoto.com/best-astrophotography-software.html 

domingo, 21 de março de 2021

Brilho de Superfície: Ver ou Não Ver

 


Recentemente recebi uma pergunta no Nuncius Australis.  No post sobre “Magnitude Limite” o amigo rsuzano indaga o seguinte:

                “Olá, gostei do post, mas tenho dúvidas... li ali q vc diz "...tenha em mente que quando digo que um telescópio de 150 mm pode ver estrelas de 13ª magnitude isto não significa que ele vai revelar uma galáxia de 13ª magnitude..."

 

Pois bem, tenho um Newtoniano de 200mm, teoricamente, +13.6 de magnitude limite. Mas por exemplo, uma Galáxia como a NGC5128(+6.64) ou a NGC4945 (+7,91) ... praticamente a metade da magnitude limite do meu equipamento eu não consigo ver...

Já NGC5139 (+3,68) - Aglomerado Ômega Centauri, eu consigo ver...

O que mais influência nisso?”

                Quando falamos de DSO´s (Objetos de Céu Profundo. DSO é uma abreviação e um anglicismo para tal. Vem de Deep Sky Objects) muito mais do que a magnitude o que vai definir o que você vai ou não ver é o Brilho de Superfície do DSO em questão. São também de fundamental importância a poluição luminosa e a pratica do observador.

                De volta ao brilho de superfície e o que você vai ou não ver... A resposta é, tornando curta uma longa resposta, é o tamanho.

                Quando falamos em magnitude esse é um conceito que se aplica bem a estrelas. Dessa forma é de se esperar que seu telescópio chegue ao seu limite quando observando estrelas. Mas estas são fontes pontuais. Todo o brilho da estrela se concentra em um único ponto. Quando falamos em brilho de superfície “toda essa magnitude se espalha” por uma área muito maior que um único ponto.

                Glenn Chaple, autor durante anos em uma coluna da Astronomy Magazine, dá um exemplo didático da questão. Ele usa como exemplo a Helix Nebula e a Nebulosa Saturno. Ambas em Aquário. Embora a Helix Nebula tenha a magnitude de 7 e a Nebulosa saturno tenha a magnitude de 8 a segunda é muito mais fácil de se observar que a primeira. Por um motivo bem simples. Enquanto a Helix Nebula se espalha por uma área de quase meia lua cheia em sua ocular a Nebulosa Saturno se concentra em um disco do tamanho aproximado de Saturno. E desta forma sua luz é muito mais condensada que na Helix.  Enquanto a Helix apresenta um brilho de superfície de 20,4 magnitudes por segundo de arco, A Nebulosa saturno possui um Brilho de superfície de 14,6 magnitudes por segundo de arco.

                Relacionando o tamanho do DSO que você quer ver com a magnitude indicada a você chega ao seu brilho de Superfície. Um dado muito mais realista se você vai ou não ver o objeto em questão.  Como regra geral você pode considerar que objetos com brilho de superfície abaixo de 22,0 magnitudes por segundos de arco (13 ,0 magnitudes por minutos de arco) são ossos duros de se roer... Muito tênues.

                Tenha em mente que o Brilho de superfície é apenas o brilho por uma unidade de área. E assim podemos chamar isso de A/B. Então se magnitude é igual a -2,5 X Log Brilho (m= -2,5 x log B) então “a magnitude de superfície” =-2,5X log (A/B). Um pouco de álgebra nos conduz até (-2,5X logB) + (-2,5X log A). Como a magnitude original era (é ainda) -2,5X log B simplificamos e S= m+ (2,5 log A). 

Não entendeu nada? Sem problema. Descubra o tamanho (em minutos de arco) e a magnitude do objeto desejada e entre em:

   http://www.users.on.net/~dbenn/ECMAScript/surface_brightness.html

Melhor ainda. No Stellarium vem o brilho de superfície dos objetos catalogados.

                Falta falar algumas coisas importantes. Tudo que foi dito vale se o objeto tiver um brilho homogêneo. O que geralmente não acontece.  Um outro exemplo de Chaple é didático. Peguemos a galáxia de Andrômeda. Você a “observa” facilmente de locais de extrema poluição luminosa. Embora seu brilho de superfície seja de 22.3.  É bom lembrar que o brilho de superfície é uma média. M 31 (a Galáxia de Andrômeda) possui um núcleo super brilhante que rapidamente dá lugar a tênues braços espirais que se espraiam por mais de 4 graus de firmamento. Ver o núcleo é uma coisa. Os braços, outra. Embora o brilho de superfície seja um dado muito mais valioso do que a magnitude de um DSO ele não é, por si só, uma garantia de que você vai ver algo. Seria muito útil se os guias observacionais nos dessem uma medida de brilho de superfície para o núcleo das galáxias e outro para o resto...

                Dessa forma podemos dizer que (de uma forma genérica) que uma galáxia de 10a magnitude que se espalha por 3 minutos de arco vais ser mais fácil de se observar que uma galáxia de 10a magnitude que se espalha por 15 minutos de arco. A menos que a segunda possua um núcleo super brilhante. É muito comum, quando você navega pelo aglomerado de Virgem perceber muitas estrelas muito tênues. Não são estrelas. São núcleos galácticos. Só que você não ´percebe a real natureza do que está vendo. Quando você fotografa a região as galáxias pipocam em grande quantidade...

                Por fim, a qualidade do céu que você observa (galáxias só se revelam mesmo abaixo de Bortle 4/3) e da sua experiencia como observador são fatores fundamentais. Técnicas como visão periférica, respiração e etc. são importantíssimas.  Meu amigo rsuzano nos diz que não percebe Ngc 5128 com seu 200 mm. Provavelmente observa de um local de forte poluição luminosa. Eu já a observei diversas vezes como Galileo. Um refrator de 70 mm. De local escuro. É uma galáxia fácil já a observei com o Newton (Newtoniano de 150 mm f8) de Búzios. Bortle 5/6.  

             Observar é um exercícioE como já dizia Raul Seixas: - O homem é o exercício quem faz.

sábado, 13 de fevereiro de 2021

Ngc 2423: O Super Aglomerado das Hiades, Leis, Hipoteses, Lendas e Coincidências

 


                Quem acompanha o Nuncius Australis já deve conhecer as Coincidências de Adams. Essa são coincidências que levam a crer que dois fenômenos não relacionados tenham algo a ver com leis fundamentais do Universo. Mas são apenas uma coincidência.  São uma criação de Douglas Adams, autor do “Guia do Mochileiro das Galáxias”. Uma obra obrigatória para qualquer amador .

Dois exemplos clássicos:

1.     1  Em um triangulo retângulo onde o cateto maior possui o tamanho da soma do diâmetro da Lua e da Terra e o cateto menor possui o tamanho da terra vai nos levar a uma hipotenusa com o valor de Phi. E voilá:  Proporção Aurea, Fibonacci e outras numerologias se apresentam. Uma “Coincidências de Adams” para minha coleção.

2.        2  A Lei de Titius Bode. Apesar de parecer as orbitas planetárias não são quantizadas. Outra para a coleção. Esta alçada a lei, mas é apenas uma licença poética.

Na hierarquia do método, depois das Coincidência de Adams, vem as hipóteses.

Estas, as hipóteses, podem ser entendidas como sendo pressuposições sobre o esperado. Ter uma ou algumas hipóteses vão contribuir para orientar a direção da sua pesquisa. Logo, ajuda você a manter o foco.

Mas não se preocupe, não existem normas para criação de hipóteses. Elas podem ser provenientes de conhecimento de: senso comum; observação de uma situação pelo pesquisador; comparação de estudo; dedução lógica de teoria; cultura na qual a problemática é observada; analogias entre duas ou mais variáveis.

hipótese é algo que não é, mas que fazemos de conta que é, para ver como seria se ela fosse.

Uma hipótese que sobreviveu a observação, experimento e mais algumas premissas se candidata a lei.

Uma lei é provada matematicamente e sobrevive a qualquer escrutínio lógico e permite prever o que vai acontecer em qualquer local do universo em qualquer data.

Na ciência existe ainda algo que caminha na tênue linha entre a hipótese, a coincidência e a lei... São as Lendas da ciência.

Dizem que lendas sempre tem um fundo de verdade.  Ou que são mentiras que ganharam a autoridade do tempo.

E assim, meandrando pelo método científico, chegamos até Ngc 2423 e ao super aglomerado das Hiades.



Até Ngc 2423 chegamos porque eu fotografei o aglomerado por acaso. Ele fica muito próximo a M 47. E quando descobri que M 47 tinha mais um agregado além de M46 (estes dois aglomerados de Messier tem um que de siameses) fiquei boquiaberto. Mais ainda quando descobri que este era um alvo perfeito para o “Projeto tudo que Existe”; este inclui todo e qualquer DSO que escapou das garras de O´Meara, Burnham e cia ltda e não se encontra em nenhum guia observacional que eu possua. Na verdade, uma vítima perfeita já que é um belo aglomerado, com um tamanho razoável, visível com quase qualquer equipamento e por incrível que pareça relativamente bem estudado.

Mais que isso. Um possível remanescente do lendário Super aglomerado das Hiades.

Hiades


As Hiades são o aglomerado mais próximo da terra e conhecido desde a antiguidade. Localizadas ao redor de Aldebarã (a Estrela laranja que representa o Olho do Touro e não é um membro de fato das Hiades) dispensam apresentações. Se você já olhou para o céu com alguma atenção já as viu. Mesmo sem saber.

Mas, de volta a Ngc 2423, vamos ver como estes se relacionam. Começa a nascer uma hipótese. Quando fotografo um objeto o passo seguinte é pesquisar sua história e cosmologia. Geralmente começa caçando o mesmo na minha biblioteca. Quando esse escapa e todos os meus alfarrábios parto para a internet. E aí descubro que apesar de ignorado por todos os pervertidos que assim como eu adoram caçar DSO´s pouco conhecidos o nosso aglomerado é bem conhecido nos círculos mais sérios da astronomia por um motivo muito em moda atualmente. Ao redor de uma de suas estrelas foi encontrado um planeta exo solar. Pelo que entendi Ngc 2423-3 possui um Júpiter quente ou um anão marrom. Isto é alvo de discussão.  Uma coisa leva a outra e vários papers começam a surgir a respeito do aglomerado com um planeta. Um deles me chama a atenção. Reconheço o nome do autor. Não sei bem da onda. tipo aquela música “esqueci seu sobrenome, mas me lembro de você”. Não sei lá o que Eggden...

Vamos voltar um pouco no tempo. Quando estudamos o universo é uma ferramenta útil. Para o horror de alguns astrônomos mais Caxias a história é também uma ciência. Aliás as ciências humanas, a filosofia e etc... tem papel fundamental no avanço da ciência. Na verdade, para desespero de alguns, toda e qualquer ciência é humana. A menos que você conheça uma paca ou um tatu (cotia não) que tenha exposto de forma lógica e coerente alguma ideia e estabelecido alguma lei fundamental toda ciência é humana. Uma exclusividade da espécie. Se você me apresentar um primo do Dr. Spock também posso dar o braço a torcer.

Richard A. Proctor, no prefacio de seu “Myths and Marvels of Astronomy” (1903), consubstancia minhas afirmações acima: “O principal charme da Astronomia, entre muitos, reside nas maravilhas reveladas a nós pela ciência, mas também na tradição e lendas relacionadas com sua história, as estranhas fantasias com as quais foi associada pelos antigos, aos mitos meio esquecidos ao qual deu à luz. Em nossos tempos também, a astronomia tem também seus mitos e fantasias, sua natureza, invenções e paradoxos surpreendentes...

...Mitos astronômicos, que na devida proporção, relacionam-se a algumas das principais maravilhas que a moderna astronomia nos revelou.

                É esse mesmo Proctor (do também super clássico e charmoso “Half -Hours with a Telescope. Um guia observacional do tempo do onça...) que primeiro lança luz sobre o Super aglomerado da Hiades. Um misto de mito astronômico moderno ou quiçá uma hipótese a ser provada.

                O chamado Super aglomerado das Hiades é também conhecido como a Corrente da Hiades. Proctor em 1893 percebeu que diversas estrelas espalhadas pelo céu e distantes destas compartilham um movimento similar pelo espaço.  Em 1908 Lewis Boss reportou quase 25 anos de observação que suportavam esta premissa. Boss publicou um mapa que traça o movimento destas estrelas de volta até um ponto de convergência. Alguns anos depois Eggden (meu velho desconhecido que estava refugiado em algum local de meu córtex cerebral...)   assume que estas estrelas (e aglomerados menores) são relictos do que ele chamou do super aglomerado da Hiades. O argumento de Eggden (1958), de que grupos deste tipo são, de fato, remanescentes do super aglomerado continua em debate. Afinal o fenômeno pode ser causado por mecanismos completamente diferentes dos propostos por Proctor, Boss e Eggden.  Famaey reporta que cerca de 85% das estrelas na “corrente da Hiades” se mostraram completamente dissociadas do aglomerado inicial se relacionarmos estas por sua metalicidade e idade.; seu movimento semelhante pode ser atribuído a efeitos de maré do maciço braço rotatório no centro da Via láctea. Mas entre os remanescentes membros da corrente temos elementos tão espalhados como as estrelas de Ngc 2423 e Iota Horologii. No mapa abaixo podemos perceber a vasta distribuição destas. Curiosamente, seja por uma coincidência de Adams ou por uma lei desconhecida tanto Iota como Ngc 2423 são portadoras de exoplanetas recém descobertos e por isso renovam as suspeitas de que há algo além de uma lenda nesta hipótese. Talvez um fundo de verdade.

Podemos perceber como se dispersaram pelo firmamento os supostos membros do Super aglomerado das Hiades ou A " Corrente das Hiades". 


                Continuando minhas investigações cheguei a um paper bem mais recente de Eggden (1983) e lá está:  Ngc 2423 and the red giants do super aglomerado das Hiades.

(http://articles.adsabs.harvard.edu/cgi-bin/nph-iarticle_query?bibcode=1983AJ.....88..190E&db_key=AST&page_ind=0&data_type=GIF&type=SCREEN_VIEW&classic=YES )

                Neste ele apresenta similaridade das estrelas das Hiades com as de Ngc 2423.

                Ele conclui o trabalho assim:


 

 

                    E assim nascem as lendas.

               

                Ngc 2423 possui 750 milhões de anos. E está a cerca de 2500 anos luz de nós. Sua idade (embora calcular idades estelares seja algo meio Mandrake...) é contemporânea da Hiades. Bem como seu digrama HP também.  Iota Horologii é outra contemporânea. Mas esta seria uma estrela fugitiva e desgarrada de qualquer subgrupo do superaglomerado original. Recentemente falamos de uma estrela semelhante (embora muito mais jovem) por aqui.

                  Algo que pode ser uma coincidencia ou ser relacionado a leis mais fundamentais do universo é a presença de exoplanetas registrados ao redor de gigantes vermelhas nas Hiades, Ngc 2423 e em Iota Horologii.

                    No mais o aglomerado é um belo alvo é interessante que um objeto cercado de tantas histórias, cosmologia e ao lado de um dos aglomerados duplos mais manjados dos céus (M47 e M 46) seja tão pouco visitado e não tenha sido descrito em nenhum guia observacional clássico ou moderno.

                Localiza-lo é tarefa fácil e ele se presenta plenamente resolvido com um telescópio de 150 mm f8 com 60 X de aumento. As fotos aqui apresentadas foram realizadas com uma Lente Canon 300 mm f 5.6. São resultado de 10 exposições de 1 minuto empilhadas no Deep Sky Stacker e processadas no PixInsight. 4 dark frames para calibragem.   


                Um belo programa para o amador nesse fim de verão é iniciar pela Hiades, seguir rumo ao sul passando por 2423 (e visitar seus lindos arredores) e depois visitar Iota Horologii. Esta uma tarefa difícil em locais de céus menos generosos. Você vai passar em vários exo planetas pelo caminho. e não vai ver nenhum. Mas eles existem... Não são lendas, hipóteses ou coincidências.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

M 72 , a Era de Aquário e a Escala de Pagel

 




        

  David Pagel, em um dos mais celebrados artigos da Climbing magazine (Leviathan: The legendary route on the legendary Eiger), nos conta:

“Viajar metade do mundo para ver ou fazer alguma coisa é considerado uma peregrinação. Está entre comportamentos considerados normais.  Realizar tal jornada duas vezes é, ainda, considerado aceitável. Quem entre nós não se permitiu, nostalgicamente, revisitar alguma experiencia memorável de nossa juventude? Já fazer isso uma terceira vez começa a levantar algumas suspeitas – dão pistas de uma obsessão.  Lá estava eu encarando pela terceira vez a Face norte do Eiger, com os olhos de um moderno Ahab.  E pela terceira vez em minha vida estava lá eu tremendo de frio na sombra de minha baleia.  Eu ainda podia me considerar sortudo; tenho um amigo que já havia estado ali oito vezes e ainda esperava pela oportunidade de se encordar para um ataque a montanha.”

                Quando li essas palavras não pude deixar de me identificar. Como um membro da comunidade dos “Conquistadores do Inútil” eu não podia deixar de me lembrar das 6 vezes que atravessei as trilhas da Diamantina indo até um poço frio de uma das cachoeiras mais altas do Brasil. A primeira vez arrastando a cara metade e me fiando em um mapa desenhado por uma menina que tinha feito a jornada alguns anos antes., para piorar, depois disso fiz a Travessia do Vale do Paty também três vezes em menos de um mês. Sendo a primeira vez sozinho e confiando em um mapa que vira desenhado nas paredes de uma pequena pousada chamada “O Tatu Feliz” no Vale do Capão.

                Mas, novamente naquela noite de setembro de 2020, eu me lembrava das palavras de Pagel. Dessa vez com mais preocupação. Era a enésima vez que eu procurava por M 72. O último globular do Catálogo Messier que me faltava conhecer. Essa peregrinação já me levara por muitos milhares de anos luz da galáxia e se mostrava novamente infrutífera. Em uma Armação dos Búzios cada vez mais iluminada e vagava por aquário e nada do miserável se apresentar. Nem mesmo com o auxílio de Mlle. Herschel. Uma cabeça equatorial com goto e que deveria, em tese, achar tudo que eu pedisse para ela.  

                Provavelmente Olavo de Carvalho deve nos dizer que Aquário é um signo de muita luz. Aliás não conheço nenhum astrólogo que localize constelações no céu (bem, talvez Escorpião) ... e se me apresentar um que localize a constelação de Aquário ganha uma lata de presuntada de presente. É um lugarzinho no universo difícil de se navegar e bem apagado. Nenhuma estrela brilhante (as estrelas mais brilhantes de Aquario são de 3 mag.) e poucas estrelas em geral para se tentar realizar um “starhooping” até qualquer DSO. Em céus muito escuros você terá alguma chance de perceber algo a olho nu na região. Aliás esse papo de que a era de Aquário já começou e que a Luz venceu não parece estar de acordo nem com a constelação e menos ainda com os novos tempos cada vez mais medievais...



                Bem, lá estava eu perdido no espaço, caçando por M 72 e tentando concluir a minha peregrinação cósmica auto imposta de observar e fotografar todos Globulares do CatálogoMessier.  Não sei se por causa da noite com muita umidade, se o espelho do Newton (meu telescópio 150 mm f8) sujo ou se devido a uma conspiração dos Pleidianos e do Papa eu não achava o maldito globular. O último da coleção.

                Finalmente, depois de muitas horas, desconfio que há uma pequena mancha enevoada na ocular. Mas uma daquelas no limite do existir.  Quase sou obrigado a invocar Espinoza para acreditar no seu existir, um exercício de monismo quase absoluto.



                Na dúvida apelamos para a tecnologia e depois de muitas fotos M 72 comparece. Ainda que de forma tímida. O último do Globulares Messier a se revelar para esse que vos escreve não é nenhum “showpiece”. Mas eu, enfim, conseguira completar minha peregrinação. Chegára até Meca. Ou melhor ao Nirvana. Meca entre os Globulares Messier fica em M 22.

                Foi Pierre Méchain que descobriu M 72 na noite de 29 para 30 de agosto de 1780. Um dos mais difíceis Globulares Messier para se localizar (4 de 5 segundo Stoyan). Messier o observa em outubro e descreve o mesmo como “nébula, a luz tênue como o prévio (M 71). Uma estrela telescópica próxima.

                Herschel é quem denota sua verdadeira natureza em 1810. Seu filho posteriormente faz uma descrição que me agrada; “Tênue, arredondado, 2´ de diâmetro; resolvível, mas eu não vejo estrelas separadas o suficiente para contar. Um objeto bastante insignificante.”

                O Admiral Smyth, em seu Cycles of celestial Objects, utilizando seu refrator de 5.9 polegadas diz perceber estrelas diminutas.

                Se localiza entre 58.510 e 62.750 anos luz de nós. Dependendo da técnica utilizada. A esta distância ele se torna um dos Globulares Messier mais distantes no catálogo. Sua localização o coloca muito além do centro galáctico e este circula a galáxia em uma orbita retrógrada. E assim é, muito provavelmente um Globular sequestrado da Galáxia anã de Sagitário. É um dos globulares menos densos da lista com IX na escala Shapley. Com sua distância e sua estrela apagadas não será resolvido com nada menor que um telescópio de 200 mm ou mais.  Com metalicidade bem baixa é um objeto do halo galáctico externo. A pouco mais de 1º norte de M 72 habita a galáxia Anã de Aquário. Mas não são relacionados. Esta está a 3 milhões de anos luz.

                Observar M 72 é mais fruto de uma obsessão do que uma peregrinação. Pelo Menos se seguirmos a “Escala de Pagel”.