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sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Mu Columbae: A Estrela Fugitiva

              


                As vezes de onde menos se espera é de onde não sai nada mesmo. Essa máxima de Stanislaw Ponte Preta (vulgo Sérgio Porto) é quase uma profecia. Mas como bom profeta ele, as vezes, erra a data. E assim cheguei até Mu Columbae, a estrela fugitiva.

                Em noite sem pretensão devido ao grande número de nuvens cirrus fotografei descompromissada mente regiões do céu que se encontravam limpas. Desta forma fui parar em algum lugar entre o Cão Maior, Columba, Orion e Lepus.

                Se a tríplice fronteira já é o paraíso para foragidos imagine uma fronteira quadrupla.

                Depois de fotografar o Cão maior com M 41 quase centrado no quadro resolvi explorar as bordas da região. E utilizando o Deep Sky Stacker decidi realizar um duplo drizzle no canto direito superior da foto. Meio desorientado achei que estariam lá algumas estrelas de Lepus. Errei. Columba dominava a região. Com auxílio do Astrometry identifiquei as estrelas e para minha surpresa estava lá um rotulo que me atiçou a curiosidade. “The Runaway Star”.   

                Nunca havia escutado o termo e desconhecia o elemento. Em rápida busca descobri que o mesmo se tratava de Mu Columbae. Em tempos politicamente corretos se trata de uma “elementa”. Nos tempos atuais talvez deva-se utilizar “Elemente” e não incorrer em nenhuma forma de preconceito binário ou não -binário. Gênero tornou-se algo bem complexo na gramática atual.  

                Mas como falam os americanos “Let´s cut the crap” e falemos de Mu Columbae, a estrela foragida.

                Esta é uma das poucas estrelas do tipo O visíveis com vista desarmada.

                E assim sendo um   alvo para utilizarmos como modelo de estrelas fugitivas.

                O que são estrelas fugitivas?

                Estas são estrelas pesadas (tipo O e B) que viajam pelo espaço interestelar em velocidades excepcionalmente altas. E embora possuam uma estrela relacionada esses pares não caminham juntos pelo espaço. Na verdade, se distanciam em direções distintas de um ponto em comum com velocidades relativas ainda mais excepcionais que ao meio interestelar. No caso de Mu Columbae sua parceira é AE Aurigae. Mais legal ainda é que ambas saíram da região do trapézio na Grande nebulosa de Orion.  Se você possui um telescópio e prática astronomia há mais de 1 mês deve conhecer bem a região.  

                Quando a direção do movimento de uma estrela no espaço é conhecida podemos reconstruir seu caminho pelo mesmo. E, ainda mais interessante, descobrir o local de onde originariamente esta estrela saiu. O endereço de sua maternidade.

                Acontece que o caminho de muitas estrelas OB fugitivas pode ser traçado de volta as chamadas associações OB, que são grupos de 10 a 100 estrelas tipo OB que se localizam nos braços da galáxia.

                Cerca de 50 associações do tipo OB são conhecidas na Via Láctea. Na verdade, a maioria das estrelas OB conhecidas fazem parte dessas associações. então não é surpreendente é que as estrelas do tipo OB fugitivas tenham se originado nessas associações.

                Mu Columbae se formou na associação OB de Orion. Mas o que a torna tão legal é que ela se formou na área mais badalada da vizinhança. Ela fugiu (ou foi expulsa) de uma das vizinhanças mais chiques da galáxia. A associação OB de Orion se divide em 4 subgrupos:

·        * Orion OB1 a - Este reside na região a noroeste do cinturão de Orion e possui dúzias estrelas maciças com aproximadamente 12 milhões de anos. Dentro deste há ainda outro subgrupo. 25 Orionis subgrupo. Localizadas próximas a Bellatrix.

·         * Orion OB1 b- Se encontram em torno do cinturão de Orion (As três Marias). Suas estrelas têm cerca de 8 milhões de anos.

·        *  Orion OB1 c- Se formam na espada de Orion junto 42 Orionis, Theta Orionis e Iota Orionis.  Possuem entre 3 e 6 milhões de anos.

·        *  Orion OB1 d- São as estrelas que se formam na Nebulosa de Orion M 42 (e M 43). São as mais jovens.

Como já disse, traçando as rotas reversas de Mu Columbae e de AE Aurigae eles se interceptam bem no coração da associação Orion OB 1 d.

Espada de Orion. Podemos ver OB 1 c e OB 1 d


 

E assim chegamos ao processo que cria estrelas fugitivas.  Há duas fórmulas. Uma é através de explosões de supernovas. Afinal estrelas OB vivem rápido e morrem jovens. E explodem como super novas. Desta forma este é o cenário mais comum para a criação destas estrelas fora de rumo e lugar e proposto por Blaauw em 1961.

        Outra forma é em regiões OB mais densas (como é o Trapézio em M 42) choques e encontros e empurrões gravitacionais levam a uma festa Punk e alguns dos presente são ejetados a grande velocidade do local. Geralmente aos pares e um em cada direção. Quando falamos em processo astrofísicos as coisas são sempre um pouco mais complexas do que parecem. mas grosso modo a situação ilustra bem o que deve ter levado Mu Columbae a se tornar uma estrela fugitiva.

Mu Columbae se encontra a 1300 anos luz de nós e sua velocidade relativa a AE Aurigae é de 200 km /s.  é conhecida antiga dos astrônomos chineses e é chamada de Pinyin. Significa “O Excremento” ou “As Secreções”. Parece que os antigos já sabiam que ela tinha sido expelida com força...

Outra peculiaridade e estrelas fugitiva é que elas levam consigo ondas de choque. No caso de AE Aurigae isso é bem evidente com ela inflamando a “The Flamming Star nebula”. Embora ela não tenha nascido na nebulosa sua imensa velocidade e onda de choque acabou por iluminar e animar as coisas nesta região de Auriga.

Mas esta já é outra história e vai ter que esperar que eu visite a região.

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