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sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

IC 2177 : A Nebulosa da Gaivota e o Paraiso Pirata


 


           Este post vai tratar de uma região menos visitada e merecedora de mais créditos. O´Meara em seu “Hidden Secrets” batiza o conjunto da obra de “O Paraiso dos Piratas” (Pirate´s Paradise).

                Como andei explorando Monoceros na última Aporema acabei esbarrando em IC 2177 meio ao acaso. Enquanto dava uma namorada no Stellarium esperando a captura da Roseta terminar esbarrei no sugestivo nome de “The SeaGull Nebula” ou A Nebulosa da Gaivota. IC 2177 é pequena e discreta, mas habita em um campo maravilhoso e é uma espécie de coração de uma nebulosidade muito maior onde se escondem diversos aglomerados abertos dignos de posts futuros.

                Rapidamente (nem tão rapidamente assim. A captura da Roseta durou cerca de duas horas.) dirigi Mlle. Herschel (minha montagem equatorial Heq 5) para o alvo. Na câmera tinha montada a “pé de boi” 70- 300 mm da Canon @ 300 mm f 5.6.

2 Drizzle no DSS


                Fiz uma foto e percebi que me encontrava na região certa e ainda capturava, de lambuja, M 50. Este as margens do “Pirates Paradise”. O texto de O´Meara que conta a história desse mar de corsários e bucaneiros, na verdade, aborda o aglomerado aberto de Ngc 2353 (Avery´s Island cluster). O aglomerado em si não foi capturado na foto realizada. M 50 é mais atraente... de qualquer forma é esse aglomerado que acaba inspirando o nobre colega em batizar a região que aqui apresento como o Paraiso dos Piratas.  O capitão Avery foi um pirata de curta carreira que ficou conhecido como “O Falso Rei de Madagascar”. Sua captura, em 1695, do Ganj-i-Swai, o maior navio do império mongol, o torna uma lenda. E como uma boa lenda ele termina a história cercado de riquezas inenarráveis em uma ilha tropical paradisíaca. A história difere da lenda e tudo indica que após se retirar da pirataria encerrou sua vida de forma bastante miserável na vila de Bideford em Devon.

Paraiso Pirata


                Neste Paraiso Pirata “estendido” de minha foto temos como butins principais M 50, IC 2177, Ngc 2335 (Um interessantíssimo aberto em região rica em nebulosidade) e Ngc 2343. Todos esses alvos ao alcance de binóculos. Ou quase.



                IC 2177, para se revelar digna do nome, vai precisar de mais aumento que um modesto binoculo. Mesmo meu 15x70 não chega a revelar a Gaivota. Mas IC 2177 é apenas o núcleo da imensa Nebulosa de Wolf que delimita as margens do Paraiso Pirata.

                Essa região especificamente (e as nebulas e aglomerados etc., envolvidos) se relaciona diretamente com a Associação CMa OB1.  Segundo Fernando Comeron (ESO) a intensa formação estelar na associação foi detonada por uma explosão de supernova a cerca de 1 milhão de anos atrás.  As coisas estavam esquentando por lá enquanto o Homo Erectus transitava em Habilis e começava a dominar o cozimento de alimentos aqui pela terra.

                A explosão desta supernova ocorreu nas margens de uma densa nuvem de gás e poeira que media 3 anos luz de largura e possuía uma massa de 1000 sóis.  E a cerca de 100.000 anos atrás as ondas dessa explosão invadiram as calmas águas de uma outra nuvem disparando uma intensa formação estelar que se desenrola até hoje.  Essa região se tornou Canis Majoris R1.

                Toda a região entre Monoceros e Cão Maior é digna de nota e deve ser explorada em busca de butins. Estrela mimetizando safiras, rubis e outra pedras preciosas abundam na área.

                 Cma R1 é uma saudável região de formação estelar e se espalha por 100 anos luz. Está incrustada em uma região de nebulosas escuras, nebulosas de emissão que é composta por IC 2177 e o seu conjunto (LBN1036). Embora a nebulosidade pareça se encontrar um pouco mais próxima que a associação e ainda que incerto é possível que o anel de emissão (Wolf´s nebula) seja um remanescente da Supernova de 1 milhão de anos.

Na região de IC 2177 os dois abertos, Ngc 2343 e Ngc 2335 forma uma espécie de aglomerado duplo que merecem atenção por seus próprios méritos. Com 6 e 7ª magnitude são alvos viáveis com quase qualquer auxílio ótico.

Não faltam confusões associadas a IC 2177 (A nebulosa da Gaivota). Em algumas fontes a nebulosa é identificada com Gum 1. (No meu Sky Atlas 2000.0 do Tyrion ela está assim identificada). Em outras fontes ela seria apenas uma parte de Gum 1. No Uranometria está é identificada como Van der Bergh 93. Outra ainda identificam a mesma como Ngc 2327. Na foto percebe-se que isto é um equívoco.

IC 2177, segundo Dreyer no Second Index Catalog de 1908(Já realizado com o auxílio da fotografia), foi descoberta por Isaac Roberts. Este anuncia a descoberta de uma brilhante nebulosa ao redor da estrela de 7ª magnitude BD 10 1848 (HD 53364).  Esta é, de fato, a nebulosa mais brilhante da região e a descrição não nos deixa dúvidas; “Bem brilhante, extremamente grande, irregularmente arredondada e bem difusa.”

Em fotos a Gaivota escura se destaca sobre a Nebula. Especialmente com amis aumento do que consegui com meu set up peso leve. 

Posteriormente Wolf destaca o resto da obra.

Uma das mais belas regiões menos cantadas em prosa e verso nos alfarrábios por aí. Não perca a chance de navegar por esse paraíso pirata e achar outros tesouros escondidos.

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