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quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Ngc 2301: O Dragão de Hagrid

 




             Ngc 2301 é um pequeno e delicado aglomerado aberto em Monoceros. Sendo vizinho da Roseta, do aglomerado daArvore de Natal, do “Paraiso Pirata” e de M 50 é difícil que se destaque. Mas de uns tempos para cá ele se tornou mais popular.

                O´Meara o batizou de o “Aglomerado do Dragão de Hagrid”. Com uma filha com 17 e um filho com 7 anos a saga de Harry Potter é frequentemente alvo de longas maratonas aqui em casa. Então quando descobri no “Hidden Treasures” (guia observacional de O´Meara na já clássica série “Deep Sky Companions”) essa indicação tive minha curiosidade despertada.

                Para aqueles que desconhecem o trabalho de J.K. Rowling uma breve introdução.

                Hagrid é um misto de gigante, guarda-parque, professor e um dos mais simpáticos personagens da série. Ele acaba por cuidar de um ovo de dragão e deste nasce um dragãozinho (original...) invocado. Este é batizado de Norberto. Alguns capítulos mais tarde e muitas aventuras se descobre que Norberto é na verdade Norberta. Seu comportamento agressivo e furioso denuncia seu gênero. As fêmeas dos Dragões Noruegueses de Crista (Ridgeback Dragons) são bastante temperamentais.

                O aglomerado também é chamado de o “Aglomerado do Grande Pássaro” e ainda de “O Aglomerado do verme dourado de Copeland”.  De qualquer forma, um dragão na constelação do Unicórnio é bem apropriado.

                Já que o nome do Aglomerado virou a casa da mãe joana eu vou dar meu palpite também. Seu formato me lembra o de um Biguá voando.  Biguá é um pássaro preto aquático e muito comum aqui no Rio de janeiro. Abundantes na Lagoa Rodrigo de Freitas. Seus bandos formam lindas esquadrilhas com seu formato de cunha e com o líder se sucedendo a frente. 





                Já que o Dragão que deu origem a série mudou não só de nome como de gênero acho coerente a confusão.

                Agora de volta a cartório. Ngc 2301 é extremamente brilhante (6ª Mag.) e bem destacado aglomerado. Quando observado com um binoculo 10X50 ele forma uma evidente linha de estrelas centradas em uma dupla. Com o uso de um telescópio e mais aumento se percebe que este repousa no plano galáctico e o campo é bem contaminado.  Mas aglomerado se destaca das estrelas de campo.





                Sendo Monoceros um campo sem estrelas muito brilhantes localizar o Dragão pode ser um pouco difícil. Mas Triangulando com Betelgeuse, Prócion e 22 Monocerotis e fazendo seu dever de casa você chegará lá. Sendo um do “400 de Herschel” O´Meara apresenta um caminho bem diferente em seu “Herschel Observing Guide”. Eu não vou apresentar o caminho aqui pois ele só vai funcionar se você possuir uma cópia do mesmo.



                O Burnham´s Celestial Handbook não declara seu amor ao aglomerado e o apresenta apenas entre os DSO´s presentes em Monoceros na entrada genérica no começa de cada apresentação. Neste estará a descrição do NGC (New General Catalog de 1888): “Mag. 6, diam 15'. class D; L, Ri, about 60 stars mags 8.” As abreviações do Catálogo de Breyer também são obrigação.  Uma dica: L é para Large. Ri é para Rich...

                Devem ter percebido que aqui no Nuncius Australis temos evitado traduzir toda e qualquer coisa. Se você pretende se dedicar a astronomia a sério é fundamental que se aprofunde na língua de Shakespeare. 

                Ngc 2301 foi descoberto, evidentemente, por William Herschel (é um dos 400 de Herschel...) na noite de 27 de dezembro de 1786. Eu o observei 233 anos e 355 dias depois.  Sem levar em conta os anos bissextos...  A Lua quase nova em ambos os casos.

                Herschel nos diz: “Um aglomerado muito denso e lindo. Tênue e com Estrelas bem brilhantes (?) 20´ de diâmetro.” Atualmente ele diminuiu. Possui 15´de diâmetro. Metade do tamanho da lua.

                Vamos há alguns dados; o aglomerado tem 110 milhões de anos o aglomerado já foi submetido a um levantamento fotométrico que abrangeu mais de 800 estrelas. Apenas 80 se revelaram membros bonne fide do aglomerado. Localiza-se a 2500 anos luz da terra e se espalha por 11 anos luz de universo.

                Uma dupla marca sua extensão norte. Uma delas possui ,claramente, um tom “mais quente”. Smyth, Lunginbuhl e Skiff falam a respeito. E enquanto fala em "palha clara" (pale straw) os outros falam em avermelhado. Não observei o aglomerado com aumento suficiente para tanta poesia. Nas fotos tendo a me inclinar em direção a Smyth . Ou , ainda, cravar coluna do meio...

                Lealand Copeland fala em um "grupo curvilíneo de estrelas com uma cunha voadora de estrelas". Como daí se chegou ao “Aglomerado do Verme Dourado de Copeland” é um dos mistérios da astronomia amadora mais bem guardados.

                Um passeio “zoo-mitológico” moderno pelos céus. O verão é a época de visitá-lo.

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