Translate

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Astrofotografia em Familia





Semana Santa. A Lua ainda quase cheia...
Com meu irmão viajando a casa de Buzios vai estar vazia. E eu rapidamente começo a imaginar as possibilidades. Após um rápido dialogo estamos a caminho do posto avançado e dos céus mais escuros da Região dos Lagos. Mesmo com a lua cheia o céu em Geribá é muito mais generoso que o do Rio de Janeiro.
            Estamos dentro do carro eu, a cara-metade, minha filha, sogrinha e sogrão. Poderia dizer que será uma viagem “astronômico familiar”. E desta forma o “Newton” fica (um refletor 150 mm) e embarcam juntos “Galileo” (um reftator 70 mm) e meu binóculo 15X70 mm. Assim evito ter que amarrar o “Caixão de Newton” no teto do veiculo e mantenho a cara-metade na zona de conforto.
Ao contrario da previsão a estrada esta vazia e em pouco tempo chegamos ao destino. Depois de descarregar tudo começa o feriado.
Dizem que observação e “birita” não se misturam. É verdade. Mas também não devemos ser dogmáticos. Foi um encontro interessante o de meu binóculo 15X70 com uma garrafa de “Grants”. Depois de ter derrubado (com um grande auxilio de meu sogro) algo como metade da garrafa eu me encontro sozinho debaixo do céu. Este que se encontrava parcialmente nublado limpou na madrugada.
Saturno e planetas em geral não são grandes amigos de binóculos. Mas o Skymaster não faz feio. O planeta me faz lembrar Galileu, que descreve Saturno como se possuidor de orelhas. Percebo um disco acompanhado de alguns apêndices que recordam um formato discoide abaixo deste. Titã não se mostra. HIP 71469 e mais algumas estrelas de campo se apresentam emoldurando o Senhor dos Anéis. Faço um esboço no envelope de meu extrato bancario...
A coloração é bem mais amarelada...

Passeando pelo horizonte norte-nordeste eu me deparo com uma nebulosa bastante evidente. Mas aí começa a história de que álcool e observação não se misturam. O formato evidente era de uma nuvem. Ou eu estaria vendo  uma galáxia que depois de muitas pesquisas poderia ser Ngc 5812. Mas galáxias de 11ª magnitude não gostam de se apresentar para binóculos e muito menos em noite de lua cheia.
A madrugada ia avançada e eu me viro para o Sul. Já era bem tarde mesmo e eu começo a passear por campos que, em geral, se visitam mais a frente no ano. A fronteira Escorpião- Sagitário.
Pescar por essas águas é sempre sensacional. De binóculos então é sempre fartura. Nunca sei exatamente onde vou chegar.
Desta vez (e quase sempre...) começo por M7. Ele é um alvo binocular por excelência e começa o show. Se resolve em grande estilo.  Enche a rede e se não chega a transbordar é porque o 15x70 tem um campo de cerca de 3º. O “Aglomerado de Ptolomeu” não teme a Lua.
M6 é caminho obvio a partir daí. E o “Aglomerado da Borboleta” apresenta seu “shape” característico se resolvendo parcialmente. Adoro abertos que se resolvem parcialmente. As estrelas que não se resolvem dão um clima enevoado ao conjunto que é muito agradável ao olhar...
Eu sei que ao redor destes dois famosos aglomerados abertos habitam diversos outros menos populares. E assim fico escaneando pela região em busca de esfuminhos. Um me salta claramente aos olhos e se destaca da patuleia. É Ngc 6416. Um esfuminho grande e um pouco a oeste de M 6. Preciso me lembram de visita-lo com telescópio. Ele deve ser uma graça resolvido...
Depois é só seguir a Via Láctea. E diversos DSO´s se rendem ao 15X70 mm.
M8, M22, M21, M20 e diversos outros aglomerados (globulares e abertos) se apresentam. Uns mais discretos e outros menos. Esta região é sempre espetacular. E nem me dei ao trabalho de identificar cada um dos esfuminhos que compareceram a minha navegação etílica...
A ultima parada é um clássico: M11 “O aglomerado do Pato Selvagem”.  Finalmente sou vencido pelo cansaço e pelo goró.  Me retiro.
Já na sexta feira vai entardecendo e o céu se apresenta "empedrado” Não chega a ser inspirador ainda que permita algumas fotos de caráter mais artístico que astronômico...
De qualquer forma percebo que o horizonte sul vai se tornando mais claro e menos “empedrado”. E assim coloco o “Galileo” na montagem EQ 3-2 que se revela muito mais sólida com ele que com o meu telescópio maior (o que é obvio...). E preparo também a câmera em seu tripé. Com a família reunida eu não via me dedicando plenamente a “Arte Difícil”. E assim preparo-me para realizar algumas fotos de campos estelares e de constelações. E de quebra observar alguns “blockbusters” pelo “Galileo”.
Fiz um alinhamento polar seguindo mais os instintos que propriamente o bom senso.
Não sou um cara com paciência para o método do “drift”. E assim, em geral, utilizo Sigma Octans como minha guia. Deixo o telescópio e a montagem o mais no esquadro possível e utilizando a própria buscadora do telescópio alinho o conjunto. Centralizo Sigma na Buscadora e depois dou um pulinho para lá e dois para cá e voilá.  Às vezes fica melhor às vezes pior. Mas em todo caso estou com um setup que vai me permitir exposições entre 15 e 30 segundos sem muitos rabiscos no produto final. E não levo mais que 15 minutos para tal. Acho que nunca publicarei fotos na Galeria dos Leitores da Astronomy.
Faço varias fotos do Cruzeiro do Sul com a câmera no tripé. E depois do campo próximo a Alpha e Beta Centauros.  Por fim faço uma exposição da região onde reside Omega Centauro. Todas utilizando minha 75-300 mm @ 75 mm .
Fazer fotos desta forma é bem divertido e com a 70 mm consigo fazer exposições de até 20 segundos mantendo o rastro das estrelas aceitáveis.
Meu sogro fica curioso sobre o que estou fazendo. E porque de tantas exposições aparentemente idênticas. Eu explico que em astrofotografia as fotos , embora digitais, te que ser submetidas a “revelação”. E que estas serão  “empilhadas” e assim obterei mais detalhes.Ele parece não entender. Ou não dar a mínima. Ou os dois.
Ainda bem que não falei na tal  “razão sinal-ruido”...
. Na foto do Cruzeiro consigo perceber diversas estruturas. Ngc 4755 é evidente abaixo da Mimosa (Beta Crux). Logo acima de Acrux percebe-se claramente Ngc 4349. No canto da foto 3766 é claro. E se prestando atenção diversos outros DSO´s se escondem na paisagem. O Saco de Carvão é que não se apresenta.
Outro detalhe interessante nesta foto (na verdade fotos) é que elas foram “reveladas” de formas distintas. Em ambos os casos foram  empilhadas 15 fotos de 20 segundos de exposição (as mesmas fotos...). A diferença é o software utilizado. Na primeira foi utilizado o Deep Sky Stacker.. Este, em tese e também na pratica, mais poderoso que o Rot n´Stack. Mas novamente percebo que o RnS preserva melhor as cores. O DSS parece gerar uma imagem em escala de cinza. A Rubiácea (Gama Crux) é um excelente exemplo desta diferença. Repare nas fotos.
Deep Sky Stacker                                                                           Rot n´Stack

Omega Centauro se apresenta claramente em uma única exposição de 20 segundos com a zoom @80 mm.


Depois disto apresento a “Caixa de Joias” (Ngc 4755) para o sogrão com 52X de aumento: - Incrivel. Um triangulo perfeito!
 E rapidamente retorna para a garrafa de “Grants”.

Como já estou brincando de astrofotografia com minha "zoom barata" faço algumas fotos da região de Alpha e Beta Centauro.Com atenção e boa vontade você vai perceber Ngc 5662, 5316 e 5281. Todos aglomerados abertos discretos e entre 5a e 6a Magnitude. Vai perceber também que entrou luz pela lente adentro...

Logo resolvo tentar a sorte com meu alinhamento polar tabajara e faço algumas exposições de Omega Centauro através do “Galileu”. Ele definitivamente poderia estar melhor. Mas Omega é um gigante e é sempre um bom modelo. Uma dica: sempre que você conseguir perceber as Letras C e H impressa por sobre e em meio ao Gigante é porque o alinhamento polar não estava lá essas coisas. Já percebi isto em diversas fotos. Minha e de outros... Nas fotos individuais o efeito é claro. Na empilhada o erro se disfarça. Definitivamente o “Newton” tem mais poder de fogo e melhor qualidade que meu pequeno refrator.
Uma  exposição ( o efeito descrito não é claro devido a compressão do Blogger)
Muito semelhante ao que se vê na buscadora e em binóculos. A lua ainda vai bem cheia...

15 exp. de 25 seg. Rot n´´ Stack. É mais uma licençaa poética que um registro...

Depois disto não poderia deixar de fazer algumas fotos da lua. É fácil e sempre ficam bonitas. Desta vez as nuvens ainda brincavam e consegui diversos efeitos de luz e sombra por sobre a superfície lunar.





Depois disto me rendi novamente aos chamados de Baco e abri uma cerveja. E depois outra. E depois o “Grants”...
Já mais do lado ébrio da vida fiz algumas fotos da região que tinha visitado na madrugada da véspera (Sagitário-Escorpião) e com o céu “empedrado” consegui alguns resultados senão bons pelo menos diferentes. ( A compressão do Blogger novamente atrapaha um "pouco")

Sabadão choveu a cântaros...
Astronomia não tem que ser um fim em si mesmo. E tem de ser divertida. E desta forma o foi. Em um passeio com a família eu não poderia deixar a minha fixação dominar o ambiente e me tornar um cara antissocial. Um péssimo habito é querer manter todos no escuro. Mas mesmo sem realizar a operação “by the book” é possível obter resultados bastante interessantes e ainda apresentar a pratica astronômica a quem não é e nem deseja ser do ramo.
No domingo já nos preparávamos para entrar no carro. Sogrão e Sogrinha na maior água e o céu de repente abre. Não sei o que vejo. Depois descubro... faço uma rápida série de fotos do que deve ser o campo ao redor de Procyon. De novo com a 75-300 @ 75 mm. Não é exatamente um espetáculo. Com o Logaritmo do modo sort no Rot n´Stack ( já disse em algum lugar que este modo foi feito ou pelo Wharol ou pelo Miró) aparece algo no mínimo “estelar"...


Astrofotografia em familia...

Nenhum comentário:

Postar um comentário