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terça-feira, 26 de março de 2013

Carl Sagan, Giordano Bruno e um Desafio


 
   Sempre quis falar, aqui no Nuncius Australis, a respeito de dois astrônomos que habitaram a minha infância e foram como heróis para mim. Mas como aqui não é a Wikipédia não encontrava razão para tal. O post iria ficar parecendo um verbete de dicionário. 
   Mas graças ao you tube tive a chance de juntar este desejo a um desafio observacional.  E assim vi o verbete completo...
   Carl Sagan foi um dos maiores divulgadores de ciência de todos os tempos e através do site já citado tive o prazer de rever seu testamento para a humanidade. A serie “Cosmos” foi provavelmente uma das maiores responsáveis pelo meu interesse em astronomia.
   Este post é cheio de lendas e de fatos não confirmados. Mas é exatamente assim que ele deve ser. Quase todos os seus parágrafos poderiam começar com um de meus bordões favoritos: “E assim reza a lenda”.
   Sagan conta-nos no episódio numero quatro de sua obra magna sobre diversos impactos cósmicos. O episódio se chama “Heaven and Hell” (Céu e Inferno).

   Reza a lenda que este episódio em especial se encontra bloqueado no you tube em diversos países. Não é uma informação confirmada. Mas pode ser verdade. 
   Ele começa falando sobre o “Evento de Tunguska”. Este um dos maiores mistérios astronômicos recentes e que voltou a moda com o bólido que derrubou casas pela Rússia. Nem tão distante de Tunguska...
   Posteriormente ele fala de um impacto na lua que serviria para confirmar a hipótese “cometaria” de tal evento. 
   Este evento que ele descreve se encontra entre “Os Contos de Canterbury”. O titulo  poderia também ser traduzido para “As Lendas de Canterbury”.  
    Reza a lenda (promessa é divida) que em 18 de junho de 1178 cinco monges viram algo muito estranho acontecendo na Lua. Em tempos em que o céu era imutável estes praticamente calaram. Seria uma grande perda para ciência. Mas estes, felizmente, descreveram sua “visão” (para eles só poderia ser uma visão...) para o cronista da Abadia, Gervase, que o “Chifre” superior da lua se dividiu em dois. Posteriormente este escreveu :
“De uma área central uma tocha flamejante lançou um brilho a uma considerável distancia, este envolto em carvões em brasa e faíscas. Entrementes o corpo da Lua tremeu como que se tomado por ansiedade. O que observaram isto com seus próprios olhos me garantiram que o fenômeno se repetiu algumas vezes e que a Lua tremeu. Posteriormente tudo voltou ao normal e a Lua escureceu...”.
    O evento e seu desenrolar é belamente descrito no vídeo. Eu recomendo que o veja...

    O fruto deste evento, que ocorreu em tempos históricos, me leva a falar de outro astrônomo que sempre habitou minha imaginação. Provavelmente devido a seu triste fim.
Giordano Bruno foi um homem a frente de seu tempo, mas também de seu tempo. Fiel seguidor da teoria Heliocêntrica ele foi um dos primeiros a pensar a respeito de um universo infinito e de vislumbrar a dimensão do Cosmos.  Ele antecipa a relatividade e considera em seu ideário a importância do observador na compreensão de fenômenos. Ele “pregou” um universo infinito e com uma multitude de estrelas planetas e a possibilidade de vida inteligente espalhada por ele.  
   "Nós declaramos esse espaço infinito, dado que não há qualquer razão, conveniência, possibilidade, sentido ou natureza que lhe trace um limite." (Giordano Bruno, Acerca do Infinito, o Universo e os Mundos, 1584).
    Ele não foi queimado por defender a ideia heliocêntrica como se pensa. 
   Bruno era crente que tudo possuía vida e que tudo possuía alma. E isto foi demais para o Século XVI... Terminou na fogueira. E no imaginário de todos os astrônomos e livres pensadores.
    Agora voltamos ao mundo presente. 
   O evento descrito nos “Contos de Canterbury” foi analisado posteriormente e com o estudo da superfície lunar se chegou à conclusão de que uma cratera que homenageia o pioneiro Bruno teria sido formada naquele evento observado pelos monges. O aspecto claro da ejeta que cerca a cratera Giordano Bruno leva a crer que se trata de uma formação muito jovem.
    Essa lenda foi primeiramente defendida pelo geólogo Jack B. Hartung e parece que a ideia foi encampada por Sagan.  É um bom fiador para mim.  O alto albedo da raiação que é centralizada na cratera também é um forte indicio de haver algum fundo de verdade. Este sistema de raios se estende por mais de 150 km.

    Giordano Bruno é uma cratera de impacto de 22 km de diâmetro no lado distante da lua. Exatamente logo após o Limbo nordeste.
   Sua posição é que a faz um grande desafio para os observadores situados na Terra (como Giordano Bruno já dizia: tudo é relativo ao observador...).
   Habitando a zona das librações ela é, em teoria, visível (em parte) para observadores na terra. Não espere perceber detalhes. Se perceber suas encostas já será um feito. Em um tópico do Cloudy Nights é discutido se é ou não possível observa-la. A mesma consta dos objetos disponíveis na lista da Série Nexstar de telescópios GO-TO (Celestron). Imagine que você deve busca-la numa libração super favorável.  
    Situada entre as Crateras Harkebi ao noroeste e Szilard ao sudoeste e com a cratera Fairy ao norte sendo a maior coisa por perto Giordano Bruno é um grande desafio.
"The Pale Red Dot" indica a posição de Giordano Bruno
Perceba que a libração tem que ser muito especial... 

    Segundo o Virtual Moon Atlas a mesma pode ser observada (em uma libração excelente) dois dias depois da Lua Nova e um dia após a Lua Cheia. E a mesma estaria ao alcance de telescópios de 50 mm. Eu duvido... 
    Tentei a sorte duas vezes e não vi nada. Gauss é uma cratera grande e que pode te ajudar no caminho. Só cheguei até ela.  Imagino que nunca tentei em uma libração favorável.  E pelo que vi esta tem que ser muito especial...

   Se você conseguir observa-la é possível que voc~e veja uma das poucas, senão a única, cratera na superfície lunar que surgiu durante a presença humana na Terra...

PS Libração, é um balanceio da Lua, fazendo com que mostre parte de sua face oculta. Notadamente, o nome refere-se ao balanceio da Lua em relação à Terra, mostrando partes de sua face oculta. 





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