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quinta-feira, 1 de maio de 2014

Ngc 5286 : A Teimosia e o Catalogo Caldwell

                

                
                A teimosia é aquele apego obstinado as próprias idéias.
            Ela é um mal que me assombra e este pode ser , as vezes, uma qualidade. Ela torna possível a pratica da astronomia na "Stonehenge dos Pobres". Também conhecido como " O Observatório mais Urbano do Mundo".   Com as obras de ampliação do péssimo metro carioca a todo vapor as coisa se tornaram ainda mais extremas. E ainda assim eu volto sempre naquela janela entelada para localizar pequenos e esmaecidos fantasmas cósmicos. Nestes momentos a teimosia é promovida a persistência. ´Percebe-se pela foto abaixo quão teimoso sou eu...


            Recentemente vi um dos novos episódios do remake da serie "Cosmos". Nele William Herschel conta para seu filho John como ele vê fantasmas no céu. E explica como telescópios são maquinas do tempo.  
            Desta vez vou em busca de um fantasma que vem se escondendo de mim a algum tempo. Ngc 5286.
            Este é um globular pouco comentado. Habitando o Centauro  junto ao gigante Omega Centauro e ainda por cima bem próximo a fera é  relegado ao esquecimento.
          Estava eu a brincar no lap top e como o Stellarium passou a identificar os membros do Catalogo Caldwell por seu numero neste e eu  ainda por cima sou um grande admirador do finado Sir Patrick Moore  estava escolhida minha assombração.
            O catalogo Caldwell tem este nome porque Sir Patrick tem pelo lado de sua mãe o nome que batiza a lista de 109 DSO´s. Ele não podia usar o M de Moore por razões óbvias. Messier o fizera mais de duzentos anos antes dele...
             Ele pretendia criar uma lista de observação que incluísse diversas maravilhas não pertencentes a catálogos mais manjados e que também apresentasse diversos objetos renegados devido a sua latitude. Como  tudo que se refere ao céu austral é querido aqui pelo Nuncius...
             Depois de perceber que C 84 seria um interessante objeto e que encontra-se bem posicionado para a limitada janela observacional de que dispõe a "Stonnehenge dos Pobres" eu achei que seria uma vitima fácil. Em tese.
          Localizado no mesmo campo ocular que M Cen ele seria facilmente localizado. M Cen é bem próxima a e cen. A ultima é visível facilmente mesmo sob a forte poluição luminosa do Rio de Janeiro.
            Porém em uma primeira tentativa tive problemas para me entender com a buscadora e também com a compreensão da família. Acabei indo visitar um outro fantasma pouco conhecido.
             Desta vez estava decidido a capturar o cabra. E tinha uma nova arma secreta.
          Meus óculos tinham chegado. E depois de um bom período sem os mesmos tinha até esquecido como é bom ver. Perdi meus óculos há algum tempo em uma viagem a um lugar muito escuro e como nunca me achei muito cegueta deixei para lá. Preciso fazer uma pausa aqui e a permissão de usar um travessão e alguns  pontos de exclamação.
            - Rapaz! Como é bom ver de novo!!!
            Com meus novos óculos e Centauro é um farol. Meus velhos olhos passaram a enxergar no mínimo mais duas magnitudes  com a "nova velha tecnologia". E como meu astigmatismo piorou conseguir alinhar a buscadora com o  que esta no céu tinha se tornado uma árdua tarefa. La vecchiaia é bruta.
            Partindo de e  caminhar meio campo de buscadora rumo a M Cen. A estrela é facilmente percebida na minha 10X50. Com esta centralizada vá para a ocular. C 84 estará lá.
            Com a 25 mm ele se apresenta pequeno porém obvio mesmo com visão direta. Uma pequena condensação onde não resolvo nenhuma estrela. Com visão periférica o globular aumenta um pouco de tamanho. Utilizando a 10 mm continuo não resolvendo nada e o globular requer mais atenção para ser percebido. Minha melhor ocular é uma 17 mm. Mas não faz muita diferença. A 25 mm é a mais bem sucedida na operação...
             Agora é fazer um registro fotográfico do bruto. A primeira foto revela um alinhamento polar inexistente. No já tradicional sistema de um chute para lá e outro para cá... .
            As câmeras modernas fazem milagres. É um DSO tímido. E como estou na função de tomar conta do bebe pois a Dona Patroa foi ao aniversário de uma amiga fico feliz de conseguir algo... Não bastasse isso as baterias do motor começam a fraquejar e finalmente este para.
            Este registro não apresenta nenhuma qualidade . A não ser  o fato de que o aglomerado se apresenta de forma muito semelhante ao que percebo na ocular . Bem discreto.
4 expX 4 seg ASA 6400 Rot n´Stack ( modo mean)
            Uma outra curiosidade que deve fazer a alegria de possuidores de equipamentos muito modestos é que este registro foi feito totalmente fora do que se possa chamar  de alinhamento polar e foi resultado do empilhamento de apenas 4 fotos com 4 segundos de exposição... ASA 6400.
            Mas a foto em si ficou tão ruim que resolvi realizar um alinhamento polar mais digno.
           
             Este foi o insight da noite.
          
          Não sei se alguém já alinhou uma cabeça equatorial da forma que eu realizei. Mas se você não possui horizonte suficiente para tentar o método do  drift e nem uma cabeça computadorizada que resolva as coisas para você é um excelente sistema.
            A necessidade é a mãe da invenção.  Você só precisa dispor de um horizonte sul desobstruído (ou quase...) .
            Me dirigi até o Stellarium e depois de uma rápida pesquisa descobri  a hora exata que Acrux ( Alfa do Cruzeiro) cruzaria o Meridiano. Nesta noite seria as 21:44 PM horário Local. De posse desta informação e também da altura que esta passaria pelo meridiano eu espero conseguir um alinhamento polar bom.
            Ela irá passar a 44 graus de altura. Deixo a cabeça regulada para esta altitude. Depois a idéia é conseguir alinhar o eixo polar com Acrux neste exato momento. Quanto mais exatamente você conseguir ver Acrux centralizada no instante que ela cruzar o meridiano pelo pequeno buraco onde deveria habitar uma buscadora polar melhor será o alinhamento.
            Quando bate 21:35 meu querido filhinho acorda e abre o berreiro. Mas eu , teimoso, não desisto . As 9:42 estou sentado no chão ao pé do telescópio com o pequeno no colo. Em posição digna de um Iogue. Ele achando tudo muito interessante e milagrosamente calado. As 9:44:41 tenho Acrux e a cabeça equatorial exatamente onde eu queria. Agora é só usar o inclinômetro e baixar a cabeça até 23 graus de altitude . Devo estar com o eixo apontando exatamente para o polo sul celeste.   Com meu 15 x70 mm sobre a cabeça eu checo o campo visual que tenho a minha frente. Bingo.  s Octans se encontra abaixo e a esquerda de meu campo de visão. Tenho uma discreta estrela quase centralizada. BQ Octans. A idéia parece ter sido uma daquelas que funcionam. As vezes eu acerto...
            A prova dos nove vem no dia seguinte. Com novas pilhas no motor- drive enquadro rapidamente M Cen. Meu óculos novos são uma espetáculo.
            Parto logo para  para o tudo ou nada. 30 segundos de exposição. Não fosse o foco estabanado o acompanhamento me deixa bem feliz. Mas a tela da janela não. E também a poluição luminosa se torna muito presente com tanta exposição. Faço mais uma série de fotos agora com vinte segundos e com ASA 3200. Melhor.
1 exp..x 30 seg. ASA 3200



1 expX20 seg,

            Finalmente descubro um bom equilíbrio com mais exposições em 15 segundos. Faço mais de 30 light frames e este é o melhor resultado da noite.
            De tão feliz com meu novo sistema para alinhar o telescópio faço dez darks frames e em um ato impensável realizo ainda mais 8 flats. Não sou um fotografo muito caprichoso.  Mais ou menos que nem a história sobre os tipos de  piratas que já contei aqui.
            Os resultados são infinitamente mais satisfatórios que na noite anterior. Percebe-se uma evidente granulosidade nas bordas do aglomerado e até mesmo M Cen tem seus spikes razoavelmente preservados mesmo através da tela. Resultado de um alinhamento decente e de um foco mais cuidadoso.  As fotos foram empilhada no Deep Sky Stacker. E ele aceitou todas com um Threshold de 20%. Quase chego a escutar sinos tocando...
34 exp. X 15 seg ASA 3200 Deep Sky Stacker e Levels no Photoshop CS5.
            Ngc 5286 foi incluído no catalogo de James Dunlop em 1827. Com uma magnitude de 7,3 (O´Meara) ele é um globular bastante brilhante. Ele fica um pouco "escondido" no brilho de M Centauro a meros 4´a sudeste. M Cen é uma estrela bastante complexa. Ela é uma dupla com  a primaria brilhando com magnitude 4,6 e uma companheira com magnitude 11 ( não sei se visível na foto). Esta é ainda uma binaria espectroscópica e suspeita-se que  uma variável. O aglomerado é pouco estudado. Sabe-se que ele possui 16 estrelas variáveis (Liler). Todas do tipo RR Lyra.
            Sua idade é alvo de uma curiosa disputa. Segundo Nikolai Samus ele possui uma idade entre 14 e 18 bilhões de anos. Mais possivelmente 17 bilhões. Isto é bastante controverso já que estudos mais recentes estimam que a constante de Hubble e outros parâmetros indicam que a idade do universo seria de apenas 13 ou 14 bilhões de anos.  Ele se encontra a 36.000 anos luz da terra.
            Dunlop o observou com um refletor de 225 mm e disse:
"Uma nebulosa elíptica extremamente bem definida, com cerca de 1´de diâmetro, extremamente condensado até suas bordas e com um brilho crescente em direção ao seu centro. Provavelmente possível de ser resolvido em estrelas”
            Com meu 150 mm ”pas une chance".
            Ele é ofuscado por M Cen e  por seu vizinho mais famoso. Fosse ele a mesma distancia que Omega Cen ele ainda seria 2,5 X menor e 10 X menos brilhante


            C 84 seria uma modesta  jóia da Coroa Austral. Um pingente. 

P.S. Em processamento posterior a imagem visitou o IRIS para reduzir o gradiente de fundo e foi ainda possivel recuperar algo do brilho alaranjado de M Cen que é evidente na observção visual. Sendo uma estrela do Ti´po G8/K0III trata-se de uma gigante amarela já deixando a sequencia aprincipal e sua coloração bate com seu tipo.  


Esta imagem fez uma peregrinação mais longa. Foi empilhada no DSS posteriormente passou por uma visita ao Photoshop onde foi aplicada Level e Curves. Depois teve o Gradiente de fundo melhorado no IRIS. Uma nova visita ao Photoshop ode foi espremida para se obter mais saturação de cores. Para terminar Noiseware (Default) nela.  Foi a salão e fez maquiagem completa...


Um comentário:

  1. A primeira vez que observei esse objeto de ceu profundo achei que fosse uma galáxia, aqui em minha casa acho ele com facilidade, mas não consigo resolver as estrelas do conjunto, mas é digno de nota. att. sergio

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