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sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

M 92 : Um Ancião entre Anciões



        M 92 é primo irmão de M 28. São ambos globulares de uma família que nasceu para ser ofuscada pela família dos “Grandes Globulares”. M 28 é praticamente esquecido devido a sua proximidade de M 22 (O Grande Aglomerado de Sagitário). M 92 sofre a mesma sina por habitar ne mesma constelação de M 13 (O Grande Globular de Hércules). Em minha missão auto imposta e já próxima do fim de fotografar todos os globulares Messier ele acabou ficando para trás provavelmente devido a isto e também por passear baixo no horizonte norte aqui pelas bandas do trópico de Capricórnio. Não bastasse isto sua foto acabou esquecida em uma pasta errada de meu HD e este aglomerado pé frio acabou esperando ainda mais tempo para ser aqui apresentado.  Uma Tremenda injustiça...
          Como Burnham nos diz “M 92 é um lindo e rico aglomerado globular que em qualquer outra constelação seria um espetáculo à parte. Mas em Hércules...”. Vocês podem imaginar como termina esta sentença.  
Localizado a cerca de 6o norte de Pi Herculis, que é a estrela que marca o canto nordeste do chamado “Keystone” de Hercules. Este é um asterismo em formato trapezoidal que permite uma fácil identificação da constelação.  Nos meus locais habituais de observação M 92 sofre um pouco com sua baixa altitude e é muito exposto a poluição luminosa. Mesmo assim (em noites boas) ele é perceptível como uma estrela enevoada em minha buscadora (50 mm) e evidente com meu 15X70 mm. Quando observado com o “Galileu” (um refrator de 70 mm) com 90X de aumento desconfio de alguma resolução em suas bordas. Ou ao menos um aspecto granular. Utilizando o Newton (um refletor de 150 mm) e com 120X suas bordas se resolvem e M 92 começa a mostrar seu charme.
M 92 retrabalhado. DSS+PixInsight+PS. É impressionante a semelhança com o registro de Trouvelot. (Um desenho). 

       Perceber M 92 não é difícil realmente. É um globular brilhante e certamente deve ser mais interessante ainda se observado do hemisfério norte da terra.  Sua orbita apresenta grande excentricidade e este ao longo de seu passeio de 200 milhões de anos do centro galáctico pode se encontrar a 5000 anos deste ou a 35.000 anos deste. Devido a precessão da rotação do eixo da Terra em 14.000 anos ele se encontrará a menos de 1o  do polo norte celeste e fora do alcance para habitantes da cidade Maravilhosa...  E meu projeto para fotografar todos os “Globs Messier” ou iria para o brejo ou sairia ainda mais caro.
M 92 reside, no momento, a 25.400 ano luz da terra e com um diâmetro aparente de 14 ´ se espalha por um latifúndio de quase 104 anos luz de universo. Sua descoberta se deve a Bode que o observou em 1777. Este foi redescoberto de forma o independente por Messier em 1781 e este nos diz tratar-se de “Uma bela e conspícua nebulosa, bastante brilhante, entre o joelho e a perna esquerda de Hercules. É claramente visível com um refrator de 1 pé (se refere a distância focal do equipamento).  Não contem nenhuma estrela. Seu centro é limpo e brilhante. cercado por nebulosidade e recorda o núcleo de um grande cometa...”. Herschel resolve o objeto e Smith, em 1844, relata: “Um aglomerado globular de pequenas estrelas, precede a perna de Hercules. Este objeto é grande, brilhante e resolvível (Smith utilizou sempre um refrator de 150 mm em seu trabalho), com um centro muito luminoso; e sob as melhores condições apresenta as bordas irregulares e radiantes”. Smith no legou um desenho de M 92.  Trouvelot também desenhou o aglomerado em 1877. Cem anos depois de sua descoberta.
M 92 é um globular muito antigo e sua idade foi durante muito tempo paradoxal. Muito pobre em metais houve um momento que ele seria mais velho que o próprio universo. Em modelos antigos da evolução estelar em globulares acontecia este “pequeno” problema. Mas isto devia-se a modelos cosmológico antigos onde a expansão do universo desaceleraria. De qualquer forma ele é um ancião entre anciões. 14 bilhões de anos....
Smith

Trouvelot

Nos tempos de Hipatia (minha montagem equatorial EQ 2-3) para localizar M 92 eu, geralmente, mirava com meu “red dot Finder” em Pi Herculis e calculava o salto até o aglomerado por esta. Depois partia para a minha buscadora optica (8X50 mm) e geralmente com rápida escaneada chegava até ele. M 92 passeia bem baixo no horizonte e pode ser enganadoramente estelar de Búzios e muito discreto do Rio.  O´Meara nos diz que é facilmente perceptível a olho nu. Com magnitude 6.5 é uma possibilidade. Se você morar em um local muito escuro e ao norte do equador.
As fotos que fiz do globular demonstram bem isto. Foram realizadas em Búzios 21 de julho de 2017. Mesmo com a lua quase nova havia muita nebulosidade no ar e embora a maioria dos mortais acredita-se ser uma noite “limpa” eu sabia que a transparência não estava lá estas coisas. O sensor de minha câmera sabia disto também e o ruído nas fotos evidencia isto mais ainda. 
Existe um recurso no Deep Sky Stacker (um software para astrofografia) que permite “ampliar” os objetos fotografados. Na verdade, você determina uma região a ser empilhada nas fotos capturadas utilizando o recurso de Drizzle deste. Quando suas fotos estão muito boas este pode revelar vários detalhes. Quando não este pode revelar muito ruído. Com “2X Drizzle” este se torna muito evidente e com “3X Drizzle” insuportável.  A técnica de drizzle foi elaborada pela NASA para as observações feitas pelo “Hubble Deep Field”. De maneira simples o que ela faz é que um objeto que na captura inicial ocupava apenas x pixels passe a ocupar 2x pixels (2X Drizzle) ou 3x pixels (3X Drizzle) na imagem processada.

sem drizzle

2 X drizzle

3 x drizzle

Desta forma apresento aqui M 92 em todas as suas versões fotográficas por mim obtidas. Tentei utilizar diversos softwares para melhora a coisa, mas sem grande sucesso. E curiosamente quando tentei utilizar o PixInsight para remover o gradiente das fotos o ruído se tornou ainda pior. Apesar deste ser um programa mais poderoso ele, neste caso, rendeu menos que o Fitswork na tarefa.
Acho importante frisar que a captura sofreu muito com a nebulosidade e diversos objetos fotografados na mesma noite passaram pelo mesmo problema. Evidentemente que DSO´s que se encontravam mais altos no céu foram menos influenciados. O DSS já dava dicas de problemas na captura de M 92. Dos 30 frames capturados ele nunca aceitou mais que 18. E mesmo assim com um limite muito baixo. Nas fotos aqui apresentadas e com um “threshold” de 9% ele só aceitou 11 fotos das 30 realizadas. As exposições foram de 30 segundos e o ISO 1600.
As fotos foram realizadas com o Newton, uma Canon T3 montadas sobre uma montagem equatorial HEQ 5 Pro da Skywatcher. Na observação visual este mal se apresentava na buscadora e havia muito pouca resolução nas bordas com 120 X de aumento.
 Mas missão dada missão cumprida. Faltam-me fotografar M 73 e M 68 no “Projeto Globulares Messier”. Como estou trabalhando até 22 de dezembro em busca do vil metal e com a esperança de poder me dar de presente um sistema de acompanhamento para o Newton este vai ficar para 2018...

                

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