Ao ler-se o "Mémoires de l´Académie Royale"
para 1771 (publicado em 1774) o cidadão vai se deparar com a primeira versão do
Catalogo Messier. Esta famosa lista de
"cometas impostores" possuía aí apenas 45 entradas. É incrível ler ao
diário onde Messier revela a construção de seu Catalogo. Parece realmente que
você esta no Observatório da Marinha em Paris ao lado do Ilustre astrônomo.
Seguir os caminhos percorridos
por Messier na noite de 3 para 4 de agosto de 1764 é um roteiro
interessantíssimo.
Eu de forma desavisada acabei por percorrer este exatamente 252 anos e um mês mais tarde que Messier. E na noite de 3
de Setembro de 2016 coloquei meus olhos pela ´primeira vez em M 30 e revisitei
M 31 e M32 (A Grande Galaxia de Andrômeda e sua pequena companheira) . A grande
diferença é que quando Messier enquadrou M 30 em seu telescópio gregoriano com 150
mm de diâmetro e 104 X de ampliação
ninguém nunca o tinha feito antes. M 30 é um objeto original de Messier.
Uma descoberta sua.
Ele escreve: " A noite de 3
a 4 de agosto 1764 ,
descobri uma nebulosa abaixo da cauda de Capricórnio e muito próximo de
uma estrela de 6a "grandeza" . A quarenta e um desta
constelação segundo o Catalogo Flamsteed : é difícil ver esta nebulosa com um telescópio comum de
três pés (distancia focal) ; ela é arredondada e ali não vi nenhuma
estrela: Eu a examinei com um bom
telescópio Gregoriano que amplia 104 vezes (
esta é uma frase recorrente no texto de Messier. Parece ser seu telescópio
favorito), ela pode ter um diâmetro de 2 minutos. Eu comparei seu centro a estrela Zeta de Capricórnio , de 5a magnitude,
& determinei sua posição... Esta nebulosa
foi marcada sobre a carta do celebre Cometa de Halley que observei em seu retorno em 1759."
Sua descrição é rica em detalhes
e demonstra claramente como seus equipamentos eram modestos. Embora M 30 não se
resolva no Newton ( um telescópio newtoniano de 150 mm de diâmetro , o mesmo
que Messier) com 120X de aumento
algumas estrelas comparecem. Especialmente as de seus cornos. Este me parece ser um dos mais
interessantes traços de nosso globular. Ele é um Globular "com
chifres". Não poderia estar mais bem parado do que em Capricórnio. Ele é ,
indubitavelmente, o "DSO simbolo" desta constelação.
Smyth em seu "Cycles of
Celestial Objects" e com
equipamentos quase cem anos mais desenvolvidos ( ele possuía Refrator Tulley de 5.9 polegadas) já
fala em "duas linhas ou colunas de quatro ou cinco estrelas " pertencentes
ao globular.
" Um belo aglomerado
branco e pálido, sob a barbatana caudal da criatura e a cerca de 20o
oeste-noroeste de Fomalhault, aonde precede 41 Capricorni , uma estrela de 5a
magnitude , a menos de 1o. Este objeto é brilhante e a com fluxos dispersos de estrelas na sua borda
norte , possui um aspecto elíptico, com forte brilho central: existem outras
estrelas envolvidas e algumas "outliers". "
Smyth ainda destaca que o
aglomerado foi primeiro resolvido por William Herschel em 1784 utilizando um
Newtoniano de 20 pés (Distancia focal) .
Posteriormente diversos autores
mais modernos percebem os "fluxos
dispersos " da banda norte. São os chifres de M 30. Hartung os chama de dedos ( fingers) e
posteriormente O´Meara se refere a chifres ( horns).
Em seu "Deep Sky
Companions; The Messier Objects" O´Meara coloca M 30 como residente de
Sagitário. Deve ser um erro de impressão.
Neste ele destaca que perceber
os "chifres" de M 30 visualmente é o grande desafio a ser enfrentado por
amadores em modestos telescópios.
Localizar M 30 não chega a ser
muito difícil. Mas Capricórnio não tem estrelas muito brilhantes
e achar Zeta Cap pode ser duro em regiões com poluição luminosa. Desta
localizar 41 Cap não é tão complexo com auxilio óptico. E dai para M 30 é mais
um passo... Sua magnitude é de 6.9.
Com pequenos aumentos M 30 é
apenas uma área esfumaçada sem nenhuma resolução. O observei em noite de
transparência bem ruim e não o percebi pela buscadora ( 8X50) . Com 46X eu começo a desconfiar que ele
pode ser resolvido. E com 120X percebo os chifres mas não consigo resolver o
aglomerado completamente. Como M 30 sofreu um colapso em seu núcleo suas áreas
centrais são muito povoadas e resolver sua parte central é tarefa dura mesmo
pra grandes telescópios.
M 30 cresceu muito desde aquela
noite em agosto de 1764. Hoje em dia ele tem 12´ de diâmetro aparente. Os
espelhos e lentes melhoraram bastante desde então. E assim estando ele a 26.700 anos luz este se espalha por 93 anos
luz de diâmetro.
Fotografei M 30 sem grandes compromissos mas ele e seus
chifres se revelam mesmo com umas poucas exposições curtas em noite de
transparência ruim.
M 30 é a "cara" de Capricórnio.
E um dos mais ingratos objetos para quem realiza Maratonas Messier. Você terá
que lutar contra o sol nascente...