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domingo, 27 de dezembro de 2020

Ngc 2264 : O Aglomerado da Arvore de Natal

 


                 Ngc 2264 é conhecido como o “Aglomerado da Arvore de Natal”. É um dos mais evidentes (claramente perceptível a olho nu) DSO`s da apagada constelação de Monoceros (O Unicórnio).  A constelação não se destaca por estrela brilhantes e é mais facilmente percebida como um buraco escuro cercado por Orion, O Cão Maior, Procion (Alfa Canis Minor) e Gêmeos. O que a constelação não apresenta em estrela brilhantes ela compensa com aglomerados abertos e nébulas sensacionais.  

                Sendo facilmente percebido a olho nu é curioso que o aglomerado tenha esperado por William Herschel para ser registrado na noite de 18 de janeiro de 1874. E em 1875 ele notou a nebulosidade envolvida no conjunto. Sob o mesmo número de 2264 o New General Catalog reúne tanto o aglomerado aberto como a nebulosa escura chamada de nebulosa do Cone.

                Como nos conta S.E. Dahm em seu estudo publicado em 2008 “The Young Cluster and star forming region of NGC 2264” o elemento é um aglomerado galáctico muito novo e componente dominante da Associação OB1 Mon. Localizado a aproximadamente 760 parsec é dentro do braço espiral local. O aglomerado está hierarquicamente estruturado (isso é bem evidente na foto analisada no Astrometry abaixo) com sub-aglomerados de membros suspeitos que se espalham ao longo de vários parsecs. Associado com o aglomerado está uma extensa nuvem molecular. O complexo se espalha por mais de 2o de céu. Forte formação estelar está ocorrendo na região e é evidenciada pela presença de numerosos aglomerados de proto estrelas encrustados, derramamentos moleculares e Objetos Herbig-Haro. Sua população estelar é dominada pela estrela múltipla O7 V, S Mon, e várias dúzias de estrelas do tipo B com zero anos de idade na sequência principal. Através de diferentes tipos de levantamentos já foram identificados mais de 600 membros de massa baixa e intermediaria distribuídos através do complexo de nuvens moleculares e mais densamente concentrados na região entre S Mon e a Cone Nebula.  A estimativa para o total de sua população estelar chega quase a 1000 membros alguns levantamentos fotométricos identificaram 230 candidatos de massa sub estelar.  A idade média de Ngc 2264 é de 3 Milhões de anos.  Isso faria o aglomerado contemporâneo do movimento tectônico que criou o Mar Morto e assistiu a Lucy se levantar e caminhar sobre duas pernas na Planície de Laetoli no norte da Tanzânia.



                O´Meara em seu Hidden Secrets diz que há especulações que os membros mais antigos talvez atinjam 30 milhões de anos (atualmente isto é considerado, quase, carta fora do baralho). E que nesse caso estes viram os primeiro Beija Flores tomarem néctar nas flores da Terra.  

                Embora minha captura fotográfica não destaque muito a Nebulosa do Cone que é descrita por mesmo O´Meara como uma estalagmite de mataria escura que se estica por 7 anos luz, a foto do Hubble faz bem o serviço.  Robert Burnham Jr.  no seu mais que clássico Handbook nos diz que se os antigos tivessem conhecimento de tamanha maravilha teriam chamada a nebulosa (Cone) por nada menos que o “Trono de Deus”. Aqui, como na Grande Nebulosa de Orion, até o observador moderno é tocado pela estranha sensação de estar sendo apresentado ao drama da Criação.

                Ngc 2264 é muitas vezes negligenciado devido a sua proximidade com a mais famosa (e de nebulosidade mais facilmente percebida) Nebulosa da Roseta. Mas eu aviso aos amigos que é uma briga de cachorro grande. Ou de homens fortes. Daquelas que não se aparta. Se aposta...

Todas as fotos são resultado de uma captura de 51 fotos de 50 segundos com ISO 1600. empilhadas  no DSS e processadas no PixINSight e no Photoshop. A foto que abre o Post foi rotacionada no PS. para reforçar a pareidolia. 300 mm f 5.6 Montagem Heq 5 . Câmera DSLR não modificada.


                Localizar A Arvore de Natal em locais escuros é bem fácil.  S Mon ou 15 Monocerotis são a mesma pessoa e facilmente percebidas a olho nu. Mas se tiver que navegar até elas em regiões de extrema poluição luminosa você pode partir de Gama e Xi Geminorum com 2 e 3ª Magnitude, nos pés dos gêmeos e dar seus pulinhos até Ngc 2264. O objeto é um dos 400 de Herschel e um dos mais fáceis da lista.  Será percebido maravilhosamente com um binoculo 10X50 e as coisas só melhoram com mais poder de fogo. A Nebulosidade ao redor é tarefa para céus mais escuros e mais amiga de CMOS e CCD´s que da retina. O Próprio Herschel na noite de 26 de dezembro de 1785 (um dia atrasado para o nome mais famoso do aglomerado entrar para a minha coleção de coincidências de Adams) nos diz: “É envolto (falando do aglomerado) em nebulosidade muito tênue que perde a si mesma na imperceptibilidade...

                A nebulosa do Cone é alvo para fotos ou telescópios de pelo menos 250 mm. Mesmo assim será discreta e com toda nebulosa escura e um objeto difícil visualmente.

                Já S Mon será dada. E sua cor vai ser percebida diferentemente por cada um. Eu a acho branca neve. Mas há registros de “a estrela mais azul que se pode ver” e o Admiral Smyth fala em um “tom de verde” ...  

                Ngc 2644 é um espetáculo dentre os espetáculos de Monoceros e um alvo bem no espírito das festas de Fim de Ano.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

A Bruxa de Cursa

 

          






         A Bruxa de Cursa é alvo de muita confusão. É um alvo difícil de se observar. Não conheço ninguém que tenha a observado visualmente, mas Herschel certamente o fez e com isto esta ganhou a entrada 1909 no New General Catalog.  Mas é duvidoso que ele tenha percebido, de fato, o que achou. Atualmente a maioria das publicações associa a Nebulosa Cabeça de Bruxa (O apelido mais popular da Bruxa de Cursa)) a IC 2118. O Index Catalog, assim como o Ngc, foi organizado por Dreyer. Uma diferença fundamental é que no IC Dreyer já contou com o auxílio da fotografia nos registros das nebulosas ali citadas. O Ngc é fruto apenas de descobertas visuais. Um feito incrível. Apesar do registro de Herschel sobre uma nebulosa na região, a maioria das fontes modernas atribui a descoberta a Max Wolf em 1909 através de uma foto. Este mesmo diz ter percebido algo por lá já em 1891. O próprio Wolf desconhecia que alguém tivesse percebido nebulosidade na região.

                Seu popular apelido foi dado por Hubble que é o primeiro a perceber a pareidolia.



                O Objeto, evidentemente, tem um caráter mais fotográfico que observacional. Novamente sendo alvo de disputas o Stellarium fala em magnitude 8 para A Bruxa. Mas quase todos as outras fontes falam em magnitude 13. E se espalhando por vários graus de firmamento isto implica em um baixíssimo brilho de superfície. Aprendi por experiencia própria que a Bruxa é pouco mais brilhante que o fundo do céu. E inclino mais para o 13 que para o 8...

                O Objeto sempre esteve no meio de confusão. Uma Bruxa encrenqueira. Há alguns anos um jovem apresentou algumas fotos da mesma com equipamentos simplíssimos. Evidentemente que levantou suspeitas sobre a lisura destas fotos. Ao ser denunciado criou-se uma celeuma onde muitas acusações foram trocadas e o garoto terminou muito mal na foto.  Depois de conseguir um esboço de captura de IC2118 tenho certeza de que as dúvidas levantadas eram totalmente fundamentadas.  Conheço poucas capturas, feitas aqui por Sucupira, do objeto.  

                Apesar de Cursa (Beta Eridani) ser a estrela que vai te levar mais perto e ser a guia mais próxima é Rigel (Beta Orionis) que ilumina a Nebulosa. É uma nebulosa de reflexão. Portanto não se trata de uma região HII. Rigel fica há uma distância de 40 UA da Nebulosa em si e não chega a Ionizar esta. Muitas fotos apresentam uma coloração azulada da nebulosas.  Fruto da reflexão da luz azulada de Rigel. Um fenômeno semelhante faz do céu da terra azul.

Sua origem também é alvo de discussão.  Ou se trata de uma remanescente antigo de uma supernova ou uma bolha de gás de outra origem. Nenhuma fonte bate o martelo.  

Mas de qualquer forma é certo que ha produção estelar na região e diversas proto estrelas (ainda antes de chegarem à sequência principal) são conhecidas na região. Diversas estrelas T-Tauri foram descobertas na região.  Como estas são, geralmente, associadas a nuvens moleculares. As nuvens moleculares da Cabeça da Bruxa são, possivelmente, associadas com a maciças estrelas da associação Orion-Eridanus OB e justaposta a bolha Orion- Eridanus.

Fotografar IC 2118 foi uma longa aventura.

Achar é facil. Tanto Rigel quanto Cursa são visiveis mesmo em céu bem claros.


Como podem perceber não se percebe nada em uma única exposição de 50 segundos e ISO 1600.  A Nebulosa é muito grande, com uma dimensão aparente de 3 o X 1o. Em um rápido ensaio no Stellarium percebo que tenho que utilizar, no máximo, uma 200mm para cobrir toda área.

E assim consigo trabalhar com f4. Bem claro.

Programo o Ptolomeu para realizar 130 fotos de 50 segundos da região. Queria ter Rigel e Cursa em quadro também.  Sei que tenho A Bruxa enquadrada e assim deixo tudo acontecendo. Um Lua crescente do lado oposto do céu vai atrapalhar um bocado a operação. Mal sabia quão temperamental poderia ser a Feiticeira.

Quando chegou a hora de processar as fotos começo a me preocupar. Percebo um fundo de céu muito claro. Com as 130 fotos o resultado é Batizado de “Fracasso Total. Jpeg”.  Mas indo na contramão da logica tento mais uma cartada. Seleciono apenas as fotos (75) do final da sessão. Estas a Nebulosa já ia mais alta no céu e quase zenital e a lua menos presente.  E desta forma consigo melhores resultados com um tempo menor de exposição total.

Fracasso Total... 132X 50 seg.. Desastre binário. 

Depois de muitas máscaras e de ralar um dobrado no PixIn Sight começo a achar as informações nos fotogramas luz. Mas foi quase um Tribunal da Inquisição. Muita tortura nos arquivos para obter um resultado que posso no máximo achar um registro razoável. Tirar Rigel da foto ajuda. Ela esculhamba totalmente a escala de cinza sendo tão brilhante. 

De qualquer forma achei que deveria postar e contar a experiência. Me lembrou de Álvaro Campos e seu Poema em Linha Reta:   

""Nunca conheci que tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos tem sido campeões em tudo".

Eu tomei uma coça da Bruxa... Mas nem por isso vou dizer que não foi divertido. E digo mais : No final da sessão estava "Indesculpavelmente  sujo."

Quando o PixInsight produziu essa Range Mask fiquei um pouco mais esperançoso. na verdade quando surgiram as primeiras mascara de luminância depois deesticar o resultado do tif do DSS com as 72 melhores fotos percebi que havia algo registrado na região. Não obtive muito detalhe . Mas a nebulosidade e a forma é evidente. 


 Confesso que conhecendo o histórico da Bruxa de Cursa achei que não ia conseguir nada. Agora tenho certeza de que em um céu mais escuro (fotografei a mesma de Búzios em um céu Bortle 6 ou 7, sendo otimista) e sem nenhuma lua o resultado pode ser bem melhor. Isto usando uma câmera DSLR sem nenhuma adaptação ou filtro.  Tivesse arriscado a Bruxa um dia antes e já acho que sairia melhor.  Mas na véspera obtive resultados bons com a Roseta e a Seagull Nebula (uma entrada no catálogo Sharpless) que me deram coragem para ir até o Coven entre Orion e Eridanus.



terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Back In Black: Aporema de verão 2020 2a parte

 

            


            Com a Aporema prolongada desse verão venho confirmando o paradoxo de Broken. Esse garante que quanto mais tempo tenho para observar menos dinheiro terei no mês seguinte. Em 2020 foi um ano atípico para Broken. Nem dinheiro nem observação.  Mas no final do ano a Dona Fortuna resolveu sorrir e apesar de ter pendurado um filme para a Johnnie Walker e outro para Nissan em dezembro devido ao retorno da covid aluguei meu apartamento, fugi para Búzios e depois ainda farei uma perna em Lumiar antes de decretar falência.

                Na noite de 19 para 20 de dezembro finalmente o céu se apresenta padrão. Sem nuvens e a lua já crescente se pondo ainda bem cedo. Ou pelo menos eu acredito nisso.

                Dessa forma monto toda a brincadeira de novo. As aventuras iniciais dessa Aporema anabolizada podem ser lidas aqui.

                Com meu novo intervalômetro a astrofotografia se tornou uma operação quase remota. Escolho o alvo, programo o cacareco, vejo o resultado da primeira foto e se tudo estiver no esquadro deixo Mlle. Herschel (mina cabeça equatorial HEQ 5 pro) e Ptolomeu (o intervalõmetro) se entenderem enquanto vejo uma série com meu filho. Ou cozinho alguma coisa. Ou Escrevo para o Blog. Um espetáculo. De vez em quando dou uma olhada e tenho tido noites bem produtivas. E não sou mais chamado de autista pela cara metade.  Enquanto assistia “Death by Magic” fotografei as Hiades (um alvo eu já tinha visitado, mas em companhia de suas meias irmãs Plêiades), Ngc 1647 (“The Pirate Moon Cluster”), ataquei novamente a Roseta na esperança de conseguir um resultado mais legal... e A Arvore de Natal (Ngc 2264). Ngc 2232 também recebe uma visita (por alguma razão estas fotos se perderam...). Alguns com pelo menos 51 X 50 Segundos. E de novo com a boa e velha 70-300 mm da Canon. As Hiades, por exemplo, são feitas sob medida para algo ao redor de 100 mm. Já os outros alvos demandam 300 mm. 


Hiades


                Há 00:00 resolvo atacar a GNM. Não sei por quanto tempo a janela vai permitir. mas com a zoom regulada ao redor de 150 mm sento o dedo no intervalômetro. Minha cunhada não acredita em podas e assim a horizonte sul do Quintal vai perdendo espaço para uma Aroeira já centenária e que se recusa a morrer.  Por conta disso também já estou com diversos cortes na cabeça causados por um galho de goiabeira que cruza a entrada de meu quarto na casa dos fundos.

Ngc 1647 ( Pirate Moon Cluster) 2 Drizzle 300 mm f 5.6


                Aproveito essa pausa para trocar a bateria da câmera e para baixar as fotos que já possuo e poder ir adiantando o processamento. Como já falei esse esquema de astrofotografia quase remote é o máximo.

                A noite está bem mais limpa que as anteriores e sem vento. O que é raro aqui pela Armação. Geralmente noite claras são bem ventosas. Por alguns instantes me arrependo de não ter trazido o Newton (meu refletor 150 mm f8). Mas ele não iria caber no Fiat Mobi que aluguei. O carro não tem mala nenhuma.

                Depois de espremer o que deu da GNM resolvo visitar um aglomerado aberto. Guiado por seu nome. Hagrid´s Dragon Cluster. O Aglomerado do Dragão de Hagrid. Uma citação ao Universo de Rowling e as história de Harry Potter. O nome verdadeiro do Dragão era Norbert. Aposto dinheiro que o apelido foi dado pelo O´Meara....  depois fazer os darks frames para empilhar todo o material. Já são quase duas da manhã. A noite rendeu, mas astrofotografia é uma caixinha de surpresas e só vou ter certeza dos resultados após a ‘revelação”. Mas meu sexto sentido (aquele que me garante que estou certo estando eu certo ou errado) me diz que as fotos desta noite serão mais dignas que as das enevoadas, brumosas e úmidas noites anteriores... 

Norberto...


              

2 drizzle Hagrid´s Dragon Cluster


Norberto parece ter vários apelidos...

              Agora é desmontar a câmera e os periféricos, embalar a cabeça em lona  e encerrar a sessão.  Depos que faço o alinhamento polar eu faço o impossível para não ter que mexer no “observatório”.

                Conforme o previsto as fotos ficaram muito melhores. A Roseta, que é a nebulosa que me derrubou em um primeiro momento, acaba se deixando levar. As primeiras fotos são, talvez, mais próximas do que você pode um dia almejar junto a ocular. Na verdade, todas as vezes que observei a Roseta visualmente percebi mesmo Ngc 2244, o aglomerado aberto associado a nebulosidade. Mas a nebula da Roseta foi, quando muito, uma leve desconfiança com o uso de visão periférica e técnicas milenares de Yoga. Mas seu bonito colorido e a forma de rosa propriamente dita parece-me ser algo de caráter fotográfico. Mesmo em céus muito escuros (a menos que você disponha de um telescópio muito porreta mesmo...) ela não vai ser tão bela. Foram 75 fotos com 50 segundos de exposição. Mas, enfim, tenho minha foto do icônico DSO. ( A Roseta é a foto que abre este post)

The Seagull nebula


 


                Depois disso vou tratar IC 2177, The Seagull Nebula, ou em bom português a nebulosa da Gaivota. A gaivota propriamente dita só é perceptível na imagem com 2 drizzle. Mas o campo aberto onde ela esconde o ninho é ainda mais sensacional. Diversos abertos (entre eles M 50) e muita nebulosidade fazem da região um espetáculo. Um daqueles lugares na Via Láctea que merecem número de vertebra. Tipo Rho Ophiuchus e a região da Lagoa (no caso a 13ª e 14ª vertebras.) O meu episódio favorito do Cosmos (o do Sagan) é “The Backbone of the night”. Fiz 51 fotos de 50 segundos. Sempre com a 70-300 mm d Canon em 300 mm f5.6. E as fotos foram processadas por um cocktail de DSS + PixInsight + Photoshop.

                As Hiades e o “Pirate Moon cluster” (Ngc 1647) receberam visitas rápidas. Cerca de 10X 50 segs. Ngc 1647 é um aberto bem legal em Touro e fácil de achar. É uma opção para escapar das batidas Plêiades e Hiades que são as donas do pedaço lá pelo curral celeste.

Christmas Tree Cluster


                Claro que nessa época não poderia deixar de Visitar o Grupo da Arvore de Natal em Monoceros. É um aberto com muita nebulosidade envolvida e nunca tinha feito um registro mais elaborado deste. É da mesma raça da Roseta. O aglomerado é fácil de se observar. A nebulosidade é coisa mais para CMOS e CCD que para retina.

A Grande Nuvem arborizou...

                E o Norberto é um aberto simpático. Tipo o Hagrid... Ngc 2301.

                Enquanto escrevo estas linhas tento quebrar uma maldição. Estou fascinado com meu novo set up. Deixei Mlle. Herschel e Ptolomeu sozinhos no quintal dos fundos tentando libertar a Bruxa de Cursa. Mais conhecida como Ngc 1909 ou A Nebulosa Cabeça de Bruxa. Um alvo difícil e que já causou cizânia na bolha astro fotográfica brasileira. E em se tratando de bruxas, astrofotografia e cia. Ltda é bom praticar um exercício de fé. Programei o Ptolomeu para realizar 99 exposições de 50 segundos com ISO 1600. Uma Lua crescente está do lado oposto do céu. Mas vou começar os trabalhos com ela presente pois será uma longa noite. No final da qual ou terei fotografado o tão sonhado Gral ou terei tirado a mais longa exposição de Cursa (Beta Eridanus) da história... De qualquer forma adorei o nome: A Bruxa de Cursa. Vou fazer um curta metragem um dia com esse nome.  É um nome sonoro e com tudo a ver com navegação. Vem de cursar. Me sinto como um velho marinheiro. Mal sei que vou dar de frente com um recife em poucas horas...

                As fotos estão acontecendo, mas, começo a desconfiar de algumas nuvens altas... Se a Roseta negou fogo sob essas condições eu começo a me preocupar se vai sair alguma Bruxa desse mato... Como dizia Stanislaw Ponte Preta de onde menos se espera é de onde não sai nada mesmo.  Continuo tratando as fotos da véspera e ouvindo Donovan. The Season of the Witch...

                Completei 100 fotos e início mais uma série. A Bruxa está quase zenital e o tempo bem limpo. Me preocupa agora a lua. Mesmo em lados opostos do céu temo que a bruxa seja também uma vampira e que qualquer luz a mate contra o fundo do céu... Isso se o enquadramento tão estudado não me trair. Estou com a 70-300 mm @ 200 mm. Quero a Bruxa de Cursa. Mas quero Cursa em quadro... Astrofotografia as vezes é meio angustiante. Tome com uma gota de Rivotril.

                Vou contar toda  a história da Bruxa de Cursa outro dia. Mas adianto que deu empate. As fotos e os borrões estarão lá.




                Decido que vou terminar o tratamento da foto do Aglomerado da Arvore de Natal e trocar de alvo. Ainda quero tirar umas fotos da Grande Nuvem e a janela observacional do quintal dos fundos é apertadinha para o horizonte sul.  Começo a pensar que a lua vai acabar com a brincadeira. (mal sabia eu que ela já estava esculhambando minhas fotos . Estava muito otimista com os resultados da véspera.) Amanhã, se não for o quarto crescente, é quase ele... Jamais chamaria minha filha de Selene.

GNM- 64X 50 seg. 200 mm f 5.6 Se quiser explorar a Grande Nuvem clique aqui


                Sobre tratamento de fotos: Existem diversos programas bons. Mas o PixInsight é muito melhor. O Photoshop é muito poderoso também. Mas, não é um programa para astrofotografia. Você vai ter muito mais trabalho. Já usei o FITS. Mas nunca me entendi bem com ele. É freeware, tem recurso, mas...  O Pix empilha também. Mas o Deep sky stacker é muito mais prático. Empilhar no Pix é a maior mão de obra. Tem que criar dark, criar flat, tratar quase foto a foto. Eu não me acostumo. O DSS é mais a prova de erro e muito mais rápido. Se você pretende extrair detalhes o Pix é um dinheiro bem gasto. Sou um astrofotografo preguiçoso. E tenho pressa. Adoro ter “bodycount” no fim da noite. Mas certos objetos são objetos para a noite toda. Outra coisa: certos objetos (abertos especialmente) são amigos do preguiçoso. Se você fizer umas poucas dezenas de frames você vai ter sua foto. Não vejo razão para tirar 300 fotos de M 35. Tudo bem que vai ter menos ruido. Mas, para mim, a foto é um registro. Se for para fazer arte eu trabalho com cinema. E aí me pagam para penar. Enquanto hobby não tem porque ser tão preciosista. Nas fotos individuais (antes de irem ao DSS) de Ngc 1909 (A Bruxa de Cursa) achei várias galáxias.  Que com 3 drizzle vão virar um belo registro para o projeto “tudo que existe”. Imagine que a própria Bruxa foi descoberta visualmente por Herschel. Aliás, todo o catálogo Ngc foi descoberto junto a ocular. O seu complemento IC já contou com placas fotográficas.

                A fase Buziana da Aporema se aproxima do fim. Agora é esperar o ano que vem e torcer para que o Clima em Lumiar colabore com a segunda fase da Aporema.  Com a lua brilhando o céu profundo vai adormecer... E neste interim apresentaremos todos os alvos registrados a caráter. História, lendas e cosmologia. No formato de sempre aqui no Nuncius Australis. Na contramão de Antônio Vieira as estrelas vão se fazer palavras.

                A Aporema é uma festa de origem indígena (Tupinambá) que ocorre sempre na Lua Nova mais próxima aos equinócios e solstícios. Uma data móvel que nem a Pascoa. O significado do termo vem de “Ver muito além”. Foi também o nome de um Cacique que, reza a lenda tinha a visão muito acurada. Via 14 estrelas a olho nu na Plêiades.

                Viva la Revolucion!

P.S.  Na noite seguinte foi o solstício. Houve a maior aproximação de Júpiter com Saturno em vários séculos e ainda se iniciou a Era de Aquários.  Eu não fotografei nada disso. Mas observei a aproximação máxima dos gigantes gasosos da praia com a família. Ao chegar em casa já mais de 22:00 hora e um pouco embriagado insisti e fotografei Meissa e M 67. Afinal a previsão do tempo avisa que vai nublar e a Lua vai vir forte de qualquer maneira. E não confio nas borboletas Tailandesas. Com tantas coincidências acontecendo Adams deve estar se revirando no tumulo e os mais fanáticos dizendo que o mundo vai acabar ou vendo o Elvis tomando chopp com o Jim Jones em Copacabana. Acordo e o Crivella (Prefeito do Rio e Bispo da IURD) foi preso.

Ohhh! Glória.  

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Back in Black: Aporema de Verão 2020 1a parte

 


                    2020 foi um ano triste. Quase não escrevi. Provavelmente fui tomado pelo espírito sombrio que anda por Sucupira e os textos do Nuncius costumam ter muitas palavras. Mas finalmente criei coragem e mesmo sendo acusado de ser comunista por muitos ex-amigos achei melhor dar as palavras o seu verdadeiro significado e através de um site comunista que faz seu dinheiro sem possuir um metro quadrado de terra aluguei minha casa (própria) a preço de ouro para outros comunistas que pagaram em dólar e com isto fui exercitar meu comunismo nas terras de José Eustáquio. Nada é mais comunista que observar estrelas na Armação dos Búzios e depois contar a história. Aliás História é uma matéria desnecessária e perigosa. Tão inútil como a filosofia.  Deve ser culpa de um jesuíta (comunistas ferrenhos...) que disse: As palavras hão de se fazer estrelas. Se chamava padre Antônio Vieira e foi anterior a Silvano Silva e seu Catálogo JESS de objetos estelares. Seu busto vigia a entrada da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.  Alis Gravis Niu. Com asas, nada é pesado.

                Dessa vez a Aporema (festa pagã e de origem indígena. Uma coisa horrorosa de se comemorar nos ideológicos dias atuais ...) seria de caráter binocular e fotográfico. Afinal, nós comunistas, descobrimos que a qualidade ótica das lentes da Pentax é infinitamente superiora aos espelhos made in china... E assim partimos eu, a cara metade e as crianças (uma já não mais tão criança, mas ainda a ponto de saber tudo), minha buscadora 10X50 mm e um velho Vanguard 10X50mm para iniciar nossa quarentena na segunda onda da série. Primeiro em Búzios e depois em Lumiar. O Rio de Janeiro foi tomado pela ignorância e é o maior centro de contágio de COVID no mundo.

                Chegamos e o tempo se encontrava fechado. Mas finalmente o vento nordeste bateu forte e na noite de 14 para 15 de dezembro lá estava eu, com meu novo intervalometro (made in china) pronto para fotografar. Uma tremenda mão na roda. Nada mais de ter que montar o computador do lado de Mlle. Herschel (minha montagem equatorial HEQ5. Também Made in China. Esses comunistas de olho puxado são fodas...); é só colocar a câmera em modo bulb, informar o tempo de exposição, intervalo das fotos e quantas fotos você deseja e o resto acontece sozinho.

                Realizei o alinhamento polar através de   meu método patenteado e utilizando Achernar como estrela guia. As 19:49:49 eu tinha o telescópio alinhado.  Coloquei a 300 mm na câmera e essa montada em Mlle. Herschel. Apesar de ter a impressão de que a noite ainda estava bem enevoada decidi tentar caçar por nebulosidades. As Hiades serviram apenas como um teste para o alinhamento e para checar a precisão do Go-to. Afina utilizei o menu de “1 star align”. Acreditava que meu alinhamento polar estava preciso. Com a cabeça checando quase cravada na Hiades vi que estava certo. Uma das vantagens de utilizar uma lente 300 mm em vez de um telescópio com 1200 é que a precisão e o acompanhamento se tornam bem mais fáceis. Percebi que poderia utilizar 1 minuto de exposição. Mas exposições muito longas, as vezes, sofrem muito com a poluição luminosa. Acabei decidindo por exposições de 45 segundos apenas. Da Hiades passei para as Plêiades. Só alvos fáceis. Depois achei que era hora de tentar acertar as contas com a Nebulosa da Roseta. Ngc 2244. Um alvo lindo e que nunca havia fotografado. Só iria saber se ia conseguir extrair a Roseta depois de revelar as fotos...

                Depois de mais de 50 exposições achei que era hora de tentar uma vizinha famosa. A Cabeça de cavalo. Essa já registrei. Mas quero tentar com mais aumento. No passado a registrei com uma lente de 75 mm junto com toda banda sul de Orion. Dessa vez, com a 300, espero detalhar mais a região. O Synscan dá uma vacilada e acabo fazendo algumas fotos da área da espada de Orion. Uma rápida correção e estaciono Alnitak e Alnilam no visor e volta a derrota planejada.

                Outra aquisição que fiz foi mais uma bateria para a minha câmera.  Com isto as noites têm rendido mais.

Depois das capturas fui para o processamento. Meu sensor está imundo. E a Roseta ficou muito aquém do esperado. Há nebulosidade. Mas os filamentos e cores que eu sonhava não comparecem. Vai voltar para a prancheta. A previsão é que dia 17 será a noite mais limpa de todas. Vou gastar inteira no projeto. As duas baterias...  Mas como astrofotografia é a melhor diversão processo todas as fotos engorduradas do sensor e aqui apresento.  Não sei se vou postar o Time Lapse que fiz ( Postei...). Mas neste fica evidente a grande quantidade de nuvens altas que se disfarçavam de escuridão para mim, mas se apresentavam para o CMOS da Canon.  Astrofotografia é meio como fotografia com película. Você só sabe mesmo o que fez depois de “revelar”.


Plêiades e Hiades -28 mm f4 12 X 45 seg



Roseta borrada... 5X 55 seg 300 mm f 4


               

Horse head- desastre total... Muitas fotos em vão...

             Na noite seguinte já sabia que não seria grandes coisas. O dia inteiro com cirrus passeando sobre minha cabeça. Decidi brincar com constelações. Primeiro tento o organizar uma reunião de beldades e fotografar as Hiades e as Plêiades no mesmo recinto. Depois seu famoso assediador Orion. e depois seu Cão Maior. Deu ..., mas nada espetacular. Loop de Barnard nem pensar. Tentei ainda fotografar algumas das estrelas famosas da constelação, mas o tempo nublou de vez. Meissa teve que esperar. Há anos quero tirar uma foto decente da cabeça do caçador. Afinal é um sistema múltiplo e um aglomerado Collinder.

                Mesmo com a forte nebulosidade brinquei por horas com meu binoculo 10X50. Há anos não fazia uma sessão binocular. E assim meu filho conheceu as Hiades, As Plêiades e toda coleção de maravilhas em Orion. Um dos melhores campos para se viajar com um binoculo. Ainda tirei alguma água de pedra percebendo o Aglomerado de Rosse em Lepus. Aglomerados globulares são um divertido exercício observacional com binóculos. Pequenas estrelas que se negam a fazer foco e que com atenção revelam sua natureza. Vi ainda M 41 e outros Ngcs pela região.  Depois vim contar a noitada para vocês e processar o que capturei. Astrofotografia é a melhor diversão. Mesmo quando não revela muita coisa... Nesta noite usei apenas a 18 =50 que acompanha toda DSLR da Canon. Kit mais básico de sobrevivência em campo...Quando coloquei a Canon 70 -300 (outra pé de boi) o tempo babou geral...

A Espada de Orion. O melhor da Noite. !2 X 45 seg

A Estrela Foragida

Rising Canis major

Rising Orion - 28 mm.O sensor todo pintado de gordura...

Star trail para enganar o tempo...


                No outro dia processei tudo. E sem grandes novidades descobri uma interessante estrela escondida em lepus. Bom de se fotografar imensos campos estelares é que sempre surgirão novidades após apresentar a foto ao Astrometry. Essa é a “Runaway star”. A estrela fugitiva. Ainda nada sei sobre a foragida, mas, em breve, contarei novidades por aqui.

 O Dia promete. É a primeira manhã que não vejo um cirrus decorando o topo do céu. As 15:00 horas percebo leve nebulosidade, mas nada semelhante aos dias anteriores. Rapidamente compro a cara metade e a filha mais velha. Deposito uma grana para a esposa e dou 50 pratas para a filha e aviso que essa noite elas vão sair as 17:00 horas e só podem voltar depois das 22:00. Tem a ingrata missão de dar um rolê sem se aglomerar. Proponho que se enfurnem no Porto da Barra e se escondam em uma mesa no deck do Bar do Gordo.

Lógico que as coisas não correm como o previsto. O tempo fecha completamente as 17:00 horas, a madrinha da minha filha, que é também a amiga mais pé de cana da cara metade aparece e acabo eu e o meu pequeno indo parar escondidos numa mesa do Bar do Gordo para comer pastel e tomar cerveja. Ela rapidamente arruma uma amiguinha e eu fico de papo com um casal de aposentados. Mantendo uma distância segura.  Melhor que aturar o papo de maluca da doida que baixou lá em casa. Seu projeto para o dia seguinte incluía ir dar um mergulho na Praia dos Ossos e depois visitar o tumulo de um amigo morto no cemitério que fica junto da Igreja que divide a paria do canto da Praia dos Ossos. Muito bucólico...

 Ao voltar para casa o tempo começa a abrir e eu resolvo ficar brincando com minha buscadora com as luzes acesas e as meninas enchendo a cara. Por incrível que pareça começo a achar um monte de abertos espalhados pelo céu e a região de Orion está espetacular. Era a melhor noite até o momento. Contrariando tudo que já foi falado e escrito consigo realizar um belo tour astronômico e ainda realizo registros aceitáveis de tudo que observei pela buscadora com luzes acesas e bar funcionando. As fotos da noite acabam sendo um belo exemplo do que você consegue observar com uma buscadora 10X50 em céus com Bortle entre 6 e 7.  Bortle é uma escala de poluição luminosa. Ao localizar um exemplar do “O Sul Profundo: O Catálogo Lacaille” na mesa da sala começo uma pequena Maratona Lacaille com resultados bem aceitáveis. Os objetos de Lacaille são bem brilhantes e excelente ideia para noites não tão generosas. Certamente o filé mignon do céu austral.

                Nem tudo são rosas. Mlle. Herschel apesar de estar centrando todos os alvos começa a fazer manha.  Realizo todo o procedimento de alinhamento do go-to pela rotina de “1 Star Align”. Ela vai lá e crava o objeto buscado. Depois de minutos fotografando esse (sempre 12 X 50 segundos) e peço para ela se encaminhar para outro alvo. Nada acontece. A cabeça não se move apesar do hand controler me dizer que o movimento está acontecendo. Desligo a cabeça e refaço todo o processo e tudo dá certo de novo. Aí faço as fotos e novamente o mesmo problema. É um saco ter que informar tudo de novo para o Synscan. Especialmente a hora com precisão de segundos. Isto acontece umas cinco vezes. Já começo a me irritar quando do nada ela começa a funcionar normalmente e com precisão incrível. Vai entender que se passa pela cabeça de uma mulher...

                Já mais de madrugada consigo inclusive perceber M 35 a olho nu. Sinal de dia ensolarado. M 44 também é um gradiente evidente.  A essa altura já tinha apagado luzes, fechado o botequim e colocado os “pés inchados” todos para dormir...

                Dia 17, segundo a previsão seria o mais promissor para a observação. Mas amanhece bem nublado e fica assim o dia todo.  M 35 e a previsão do tempo parecem ter sidos enganados por algum bater de asas de borboleta na Tailândia. Aproveito para levar o pequeno para dar um mergulho em Manguinhos e contar tartarugas marinhas. Vimos 8. E chegamos bem perto de 2 delas em um demorado mergulho. Depois Anchova na brasa e venho escrever as linhas que vocês estão lendo e tratar as fotos da noite anterior. Nada mal para uma noite “perdida”. 11 DSO`s ... M 41 em bela composição com Sirius, M 47 e 46, M 93, Ngc 2516, 2451,2477,3228, IC 2391, 2488 (todos membros do catálogo Lacaille) e de lambuja M 35 e 44.

                Todas as fotos são resultado de 12 exposições de 50 segundos iso 1600 com a 70-300 mm @5.6 f.  Fotografar usando a zoom é muito prático. Para alinhar Mlle. Herschel você pode começar com 70 mm e ir centralizando as estrelas guias até chegar em 300 mm.

                Aqui em Búzios é bom que consigo fazer o alinhamento polar de “ouvido”. Tive que mexer o observatório de lugar e não queria ter que realizar o alinhamento polar de novo. Nem pelo meu preguiçoso método patenteado. Mesmo assim consegui um acompanhamento e precisão suficientes para 300 mm. Isto usando o menu de “1 star align” no Synscan. Não podia perder a chance de contar um pouco de vantagem. Afinal foi uma noite de “observação de botequim” .... Nem todo astrônomo é Caxias.   Mesmo porque observar usando apenas uma buscadora 10X50 mm não é exatamente “Rocket Science”.  Quanto a tratamento das imagens usei o DSS para empilhar e o Photoshop para esticar... Abertos e campos grandes sem nebulosidade envolvida não “precisam” da PixInsight e o trabalho envolvido é excessivo para pela melhora obtida no poderoso programa. O único recurso que usaria do PixInsight seria a remoção automática de gradiente de fundo.  E o objetivo final é apresentar o que você vai observar visualmente. E mesmo assim você está sendo enganado aqui. Pela buscadora, na noite brumosa, a maioria dos aglomerados aqui apresentados não chegam a se resolver e explicam bem o nome nebulosas que possuíam na antiguidade. Minha buscadora é uma ótica infinitamente superiora ao equipamento utilizado por Lacaille no séc. XVIII e mesmo por muitos dos telescópios utilizados por Messier. E as minhas lentes não tinham nada sequer semelhante mesmo alguns séculos depois...  A 70-300 mm da Canon é inferior a 300 mm da Pentax. Tem mais cromatismo. Mas nada que comprometa muito. Observo e fotografo à lazer.

                Outra interessante reflexão: Com o recurso de drizzle no DSS (Deep Sky Stacker) consigo imagens muito semelhantes as que obtenho com o newton (meu refletor 1200 mm f8) fotografando com uma lente 300 mm em f 5.6 (com a Pentax consigo trabalhar em f4 com pouquíssima aberração cromática. E na verdade, como o sensor da T3 não é full frame, o distancia focal é na prática equivalente a 480 mm. (X 1,6). Com isto o Newton se tornou um recurso que só uso quando quero observar visualmente. Sua qualidade ótica não chegas aos pés das lentes que tenho. E O tamanho do embrulho fica bem reduzido usando lentes...  Somente em caso de objetos realmente muto pequenos (Nebulosas planetárias são a primeira coisa que me ocorre) é que acho que o esforço de alinhar com precisão nanométrica, apanhar para fazer o foco e trabalhar em f8 se justificam para utilizar o Newton em astrofotografia. Uma grande aquisição para o newton seria um focalizador dual speed... fazer foco com cremalheira é de fu...  Um sistema de acompanhamento seria importante também, mas com o Guedes achando bom o dólar a 5 e tal e importando soja fica difícil...

                Outra coisa legal é que trabalhando com campos mais abertos descobrimos vários aglomerados duplos. E, definitivamente, isso é um espetáculo celestial. Quase enredo de escola de samba. E assim M47 e M 46 formam um par muito charmoso bem como 2541 e 2477 também fazem bonito.  M 35 também tem um companheiro escondido...

M 47 e M 46 Plano aberto

2 drizzle

300 mm f 5.6 12 X 45 seg

 


                Ngc 3228 é um aglomerado mais charmoso de ser observado com mais aumento e merece o newton. Mas é um desafio para astrônomos experientes perceberem junto a buscadora e binóculos. A arte da caça não pode se perder em tempos de comodidades tecnológicas.  Ngc2190 é um objeto do projeto “Tudo que Existe”. Sua observação binocular é um exercício para um “Deep Sky Die Hard”. Uma expressão americana para viciados em céu profundo. Para astrônomos ocasionais é uma missão sem sentido. Com mais aumento é um aglomerado aberto pequeno. Daqueles que sobraram para o John Herschel.  Nem Lacaille nem Dunlop perceberam sua existência.  Seu vizinho Ngc 2925 é um pouco mais fácil. Uma espécie de aglomerado duplo para junkies observacionais...

3228 -3 drizzle 300 mm 

3228 -Wide field. É bom lembrar que ao se observar de binoculos ( ou junto a buscadora) é por esse tipo de coisa que deves procurar...




Só para viciados... 3 drizzle 300 mm


                IC 2488 é um favorito. Mas dessa vez o foco me traiu. É importante você checar o foco de tempos em tempos durante a noite. Ele acaba “escorregando” um pouco depois de várias fotos.



                M 41 é o objeto mais tênue registrado na antiguidade clássica. E um espetáculo divertido de binóculos. Apresenta caras diferentes cada vez que você o observa. Em noites muito boas ele chega e se resolver quase na integra. Dessa vez era um esfuminho onde, de tempos em tempos, uma estrela mais brilhante se acendia para apagar novamente. Provavelmente a brilhante estrela avermelhada que marca seu centro. Na foto consegui colocar Sirius e o aglomerado decorando o mesmo campo. Na buscadora isso é impossível.


M 41 3 drizzle

300 mm f 5.6 12 X 45 seg 4 darks


Ngc 2516 é amigo de binóculos e se resolve bem. Fácil de achar e resolver é um DSO ótimo para iniciantes. IC 2391, a Pequena Cassiopéia é do mesmo naipe.

IC 2391 - a pequena cassiopéia

2516 3 drizzle

Wide field


                M 35 é espetacular em binóculos. Mas assim com M41 o que vc vai ver varia de noite para noite e de lugar para lugar. Dessa vez era um grande esfuminho onde algumas estrelas tentavam se acender com visão periférica. Flicando como vagalumes.  Seu discreto parceiro demanda atenção e é um esfuminho discreto e que muitas vezes fica perdido no quadro. Mas com paciência e se sabendo de sua existência comparece quase sempre.




        M 44 fechou a noite. O Presépio. É um alvo binocular por excelência.  Por mais paradoxal que possa soar eu acho M 44 mais fácil de se perceber que a própria constelação de Câncer onde o Presépio se esconde bem “at plain sight”.

M 44 - O Presépio. Bem natalino... 


 Por fim na madrugada somos informados que Búzios decretou um novo lockdown devido a Covid. Nada como uma logística alemã na saúde... Enquanto no Peru se inicia a vacinação aqui os casos não param de subir e quem sabe um dia quem quiser vai poder se vacinar. Afinal somos uma democracia. Ser burro é garantido pela constituição e política de estado.

                As aventuras do Nuncius Australis vão seguir por aqui ao longo do mês. Espero ter mais e melhores noites ao longo do exilio familiar auto imposto. Se clima colaborar a perna ne Lumiar vai permitir que eu acerte as contas com a Roseta e revisite a Horse Head e a Chama. Em caso de intervenção divina vou tentar achar a Bruxa que habita entre Rigel e Cursa. Manterei informados...

Viva lá revolucion.

P.S. Esqueci da visita a M 93...