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terça-feira, 17 de novembro de 2015

Riders of the Storm: Transparência e Astrofotografia

         
               Vem chegando sexta feira e depois de passar o dia lutando contra um comerciante que envergonharia a classe mesmo em um mercado no Oriente Médio acabei por conseguir retirar meu novo veiculo automotor e ainda fazer o seguro do mesmo.  Lógico que pretendo ir para Búzios aproveitar a lua  quase nova. Depois de arrumar mala ,cuia e todos os "quéri queris" astronômicos vejo  que,q apesar das ideias homicidas, valeu a pena insistir com o picareta da concessionária e retirar o veiculo ainda a tempo de aproveitar o fim de semana. Agora toda a tranqueira cabe com sobras na mala do veiculo automotor.       
                Astronomia não é para os fracos e  chegando no portão da casa já pronto para começar os trabalhos descubro que minha querida filha ( uma aborrescente puro sangue) deixara  a chave na outra mochila dela. Achar o caseiro , ressuscitar o cabra e finalmente conseguir entrar em casa. Lógico que o céu já ia fechando. A terrível maldição da sexta feira 13 parece se comprovar. Mas como é uma tradição astronômica lutar  contra as trevas e a superstição monto todo o circo  e depois de algum tempo estou com a buscadora alinhada. Curiosamente utilizei M 42 para tal. Nunca tinha alinhado uma buscadora utilizando um DSO como referência...
                O alinhamento do go-to foi difícil. Com nuvens entrando e saindo e com mais de 70% do céu encoberto as estrelas oferecidas pelo "Synscan" ( é o aparelho que comanda o o mecanismo de acompanhamento e de busca de  da montagem. Me refiro a ele tanto como Synscan como simplesmente  "go-to") e pelo céu propriamente dito não chegavam nunca a um armistício. Depois de muita luta e blasfêmias que chocariam  até um marinheiro russo bêbado em um prostíbulo em Santos  eu acabo conseguindo alguma precisão utilizando Sirius e Aldebarã como ancoragem. Em um ato de sensatez incomum decidi que nem tentaria montar o set up para astrofotografia. Com o mar de nuvens e observando "o que desse" nos buracos que se abriam nestas   apontava o "Newton" ( Um telescópio 150 mm f8) hora ao sul , hora ao sueste e raramente para horizonte norte . Eu sabia que fotografar seria uma tremenda perda de tempo. 
                E assim pilotando por aparelhos calculava qual o  DSO que iria se encontrar com os buracos nas nuvens e mandava o Synscan se dirigir para o destino e ficava aguardando com um olho na buscadora e outro na ocular. 
                Aprendi  que a escala de transparência deve ser uma escala aberta . Não ha limites para quão ruim pode ser a transparência atmosférica e quão obcecado pode ser um astrônomo amador.  Desta forma em uma escala de 0 a 10 eu observei M 42 , M41 e Ngc 2244 com a transparência em -2.   M 41 eu observei literalmente escondida nas nuvens. O no aglomerado de Tau Canis Majoris eu percebia a estrela matriz claramente e o aglomerado em si de forma muito discreta com estrelas "flicando" ao seu redor. Mesmo assim somente com auxilio de visão periférica. .  Como muita sensatez torna as coisa muito chatas eu tentei ainda M 78. A duplinha que se esconde na nebulosa eu percebi. Mas a nebulosa já era querer demais.
                Apesar das condições extremas e talvez por causa delas me dei por feliz e realizado. As 3:00 eu estava dormindo...
                No dia seguinte acordei as 9:30 e bem disposto. Nada como não encher o pote na véspera.  Depois de fazer as compras para o "almo jantar" a família parte para a praia.
                Camarão ao alho e óleo, Anchova na Brasa e um Sauvignon blanc me separam de uma nova luta.
                O céu se apresenta menos encoberto . Mas a transparência continua na parte negativa da escala...
                Começa a batalha. O go -to se recusa a colocar algo dentro do campo até mesmo da buscadora. Eu sei que devemos respeitar alguns pré-requisitos na escolha das estrelas do alinhamento do mesmo. Mas nada parecia resolver tirei um pouco de chumbo do contrapeso. Nada. Virei o telescópio. Nada ainda. Descobri que estava usando Peacock em vez de Alnair e assim mentindo para a maquina. Mesmo assim nada. Só me resta melhorar o alinhamento polar que era apenas um sentimento devido as péssimas condições da noite anterior.
                As 22:55:53 eu estou com Achernar cruzando o meridiano e  um alinhamento polar digno de nota foi obtido. Novamente utilizando Sirius e Aldebaran como faróis consigo algum sucesso. M 41 aparece centralizado na ocular de 25 mm. Yessssss!!!!
                A foto de Sirius  ( a que abriu este post...) com um "Halo Lunar" ao redor demonstra bem o conceito de escala de transparência aberta. - 2 ou -3...
                Mas resolvo fazer algumas fotos de meu velho conhecido Aglomerado de Aristóteles ( M 41) . Não chega a ser de tirar o folego. Mas astrofotografia é a melhor diversão. Depois o mesmo com M42. Dois manjados show pieces que sobrevivem a nebulosidade. Esta estava tão forte que impossibilitava observar até mesmo Tuc 47. O Horizonte sueste era o que apresentava as condições mais aceitáveis . E assim decido realizar  umas fotos de um desconhecido. Ele deve  ser bem interessante em condições menos desumanas. De qualquer forma Ngc 2244 , o aglomerado do satélite é uma nova aquisição e um fardo a menos na minha auto imposta e quixotesca missão de observar "' tudo que existe".
                Depois disto fico lutando com Ngc 2477 .Começo a achar que o go-to enlouqueceu novamente. Mas como 2477 fica muito próximo de Ngc 2451 ( os dois cabem no mesmo campo com meu 15X70) eu rapidamente descubro que a luta contra as brumas esta sendo perdida.  Encerro a sessão e parto para dentro dos restos de bebida que existe pela casa e coloco Riders of the Storm ( uma versão remix do Snoop Dog) para rolar.
                 Já de volta ao Rio me preparo  para tratar as imagens obtidas. Monto um play list que desfia Charlie Parker, Herbie Hancock, Ella Fitzgerald e todo o "Take Five" do Brubeck. Sei que deverei ser paciente.   O material não é exatamente de primeira... A transparência era muito baixa e as imagens que fiz de meu velho conhecido M 41 deveriam indicar quase uma magnitude a menos do que seria normal... M 42  que visualmente se apresentava de uma das formas mais discretas que já vi ( e trata-se de  uma vedete...) nas fotografias não chegava a ser inspiradora. Ngc 2244 aparece como um aglomerado aberto  bem modesto. Estranho para um aglomerado apresentado com  apelido no Stellarium e membro do catalogo Caldwell. Perceber a Nebulosa da Roseta que habita em seu entorno ( Ngc 2237) seria considerado um caso de delírio grave e invocara cuidados psiquiátricos urgentes...
                A primeira série a ser empilhada foi M 42. Aprendi que nebulosidade além de apagar as estrelas e as nebulosas se traduz em ruido na imagem final... Depois de passear pelo DSS , Fitswork, Photoshop e Noiseware o resultado melhorou um pouco . Mas ficou muito aquém de suas possibilidades. Curiosamente as péssimas condições tornavam fácil fotografar o "Trapézio" de estrelas no centro de M42. Ele em geral fica muito super exposto. com o filtro de nuvens ele se apresentava facilmente mesmo em exposições mais longas . E com exposições mais curtas era praticamente a única estrutura de M42 que se apresentava claramente... As condições estavam tão precárias que a companheira M 43 não chega a se revelar claramente nem nas fotos.  Foram empilhados 21 frames de 25 segundo de exposição , 7 dark frames e 7 Bias. E em outra versão não foram utilizados bias frames. . O ruido ficou menor sem estes... 
Quase 9 minutos de exposição costumam revelar muito mais coisas em M42. Na verdade já realizei fotos com 30 segundos melhores do que isto...

 
8 segundos de exposição...
                M 41 apesar de mais apagado que de costuma pareceu sofrer menos com a nebulosidade. Na verdade estava em uma brecha de céu privilegiada e assim não  foi necessário tanto pós processamento. É um de meus DSO´s favoritos e com uma bela estrela vermelha em seu centro é sempre um bom parâmetro sobre as condições do céu. No caso eu não percebia nenhuma cor observando visualmente .  Foram realizadas 11 exposições de 25 segundos com 1600 ASA, 7 darks e 4 bias

                Ngc 2244  se apresentou praticamente entre nuvens . E  ruido presente revela isto. Após muito processar a imagem ele ainda se apresenta bem aquém de sua possibilidades. Visualmente era mais com um ajuntamento de estrelas do que como um aberto . Poderia passar facilmente por um asterismo.  7 exposições de 25 segundos 1600 ASA , 4 darks e dois bias.
Depos de muito passear pelo Photoshop ... Levels , Curves , Brilho e saturação . Ruido removido tanto no Fitswork como no Noiseware...

                Como falei eu abandonei a batalha derrotado por Ngc 2477. Mas sabia que estava no lugar certo. Por desencargo de consciência  fotografei 2541 ( apenas um frame) só para confirmar que não estava sendo enganado pelo Go-to. Um velho conhecido que achei difícil até mesmo reconhecer tão desfigurado se encontrava pelas brumas. Uma violência... Mas o "Astrometry" fez a analise de DNA e confirmou sua identidade.  
 

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O Verão e Órion

             


               Vem chegando o Verão. Na verdade este se iniciou por volta das 9:00 do dia 21 de dezembro.  
                O Sol já vai a se por no mar quando visto do Arpoador e  a humanidade ( ou pelo menos a parte mais feliz desta...) aplaude.
                E logo após Órion se assenhora do céu nascendo no horizonte leste e com isto fazendo a alegria de uma outra parte feliz da humanidade.
                Logo que comecei a me interessar por astronomia Órion foi uma das primeiras constelações que aprendi a identificar. As Três Marias formando o cinturão do caçador e indicando para o sul Sirius e para o norte Aldebarã foram um dos primeiros guias que tive pelos céus. Consequentemente M42 e as Plêiades foram alguns dos primeiros DSO com que tive contato.
                Quando observamos esta região do céu em geral M42 , a Grande nebulosa de Órion, rouba a cena. Mas fuçando o meu HD achei algumas fotos feitas com minha lente 75-300 e assim abarcando toda região. Mais precisamente 20 fotos feitas a quase exatamente um ano. 20 exposições de 15 segundos cada feitas com a lente @ 75 mm. Depois de passear com elas pelo Deep Sky Stacker obtive esta foto.
                E assim me lembrei que entre ao redor do cinturão de Órion se escondem ( na verdade não se escondem...) diversos DSO que são muito vezes renegados devido a presença da manjada nebulosa.

                 E assim comecei a imaginar um tour de force que me agrade quando retornar para Búzios neste verão.

           


Como temos que partir de algum lugar e para variar um pouco vamos partir do DSO mais ao norte em nosso fotografia. M78 é a mais brilhante nebulosa de reflexão dos céus. E foi uma grata surpresa percebe-la facilmente como uma pequena estrela desfocada nesta foto de campo tão grande. Percebemos claramente as estrelas que a iluminam na ampliação. Embora não se perceba cor na fotografia ela tem um brilho azulado na ocular. São partículas de poeira brincando com a luz. Por processo semelhante o céu aqui na terra é azul... 
          








 Seguindo o trajeto rumo ao sul outra captura inesperada ( ainda que sutil) na foto é Ngc 2024 , A Nebulosa da Chama. Mesmo com tão pouco tempo de exposição ( 5 minutos se tudo for somado) ela se apresenta claramente ao lado de Alnitak ( Zeta Orionis). Esta é uma nebulosa de emissão e faz parte da mesma nuvem que forma M 42 ( Veja o post sobre o Loop de Barnard aqui)  .
           



 Agora que já falamos em Alnitak vamos tratar de Cr 70. Este é o aglomerado associado as Três Marias e forma um imenso grupo móvel de estrelas associadas que cobre a região. É uma das mais belas regiões do céu para se passear com um binóculo.  (Mais sobre Cr 70 aqui)
                Logo ao lado de Alnitak percebemos Sigma Orionis que é uma estrela múltipla bem interessante e que é associada com a Nebulosa Cabeça de cavalo. Esta uma nebulosa escura que infelizmente não foi capturada nesta modesta incursão fotográfica.
            





Agora já na espada do caçador começamos com Ngc 1981. A olho nu o conjunto parece ser a estrela mais ao norte da espada. O aglomerado é possui o apelido de " A Carroça  de Carvão " ( Coal Car Cluster) . Não me perguntem por que...  Consta que ele é melhor observado com cerca de 100x de aumento pois assim ele se destaca das estrelas de campo. 
         



 Descendo a espada chegamos a uma região de muito nomes mas apenas uma nebulosa. Pelo menos é o que observo. Entre M43 e Ngc 1981 se encontram Ngc 1977 , !978 e 1973. Para mim são todos a mesma coisa. Mas Alguns irão dizer que um é a nebulosa , o outro é o aglomerado de estrelas envolvido e o outro alguma outra formação. O catalogo Ngc vive em revisão. De qualquer forma a espada também é uma região sensacional de se visitar com um binoculo e se tem a clara sensação de que estrelas brotam a partir de M42 ( o que é verdade...). 
         









 Agora chegamos em M43 , também chamada da Nebulosa de Marian. Trata-se de um apêndice de M42 e confesso nunca ter entendido como Messier a separou da Matriz... ( Jádiscutimos isto aqui. A Inveja é uma merda).
                Chegamos a M 42. Dispensa comentários. Na verdade a razão de ser deste post é apresentar os DSO que são esquecidos devido a esta dama.  M 42 já possui o seu particular.
            







Finalmente no extremo sul da espada de Órion encontramos um belo aglomerado com nebulosidade que é a entrada de numero 1980 do New General catalog ( NGC...) .
            

A região visitada neste post esta quase toda ao alcance de binóculos. Separar Sigma Orionis pode ser difícil desta forma . Mas é facilmente factível com um pequeno telescópio. M 78 não será lá estas coisas com pequenos aumento também. A nebulosa da chama só é perceptível visualmente de locais muito escuros. 
                Este é um belo passeio para o astrônomo iniciante e um reencontro anual sempre emocionante para os mais experientes.
                Bom verão.

                

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A Grande Nebulosa de Orion - M 42

M42 - Grande Nebulosa de Orion


A Grande Nebulosa de Orion se tornou a 42ª entrada do catalogo Messier de Nebulosas. E assim ganhou seu mais famoso “apelido”: M 42.
Sua história remonta até a pré-história sendo que existem registros de sua presença nos céus em diversas culturas espalhadas pelo mundo. Chineses, Maias, Tribos espalhadas pela América do Norte deixaram registros que podem ser associados a grande nebulosa.
Devido a seu aspecto alguns a associaram a fumaça de fogueiras realizadas por diversos deuses... Os Maias, em seu mito da criação, falam na fumaça do incenso Copal.
A nebulosa é facilmente percebida a olho nu mesmo em locais de relativa poluição luminosa.
Curiosamente nem o Almagesto (escrito por Ptolomeu no Sec. II) ou “O Livro das estrelas Fixas” de Al Sufi (964 A.D.) registram a Nebulosa embora ambos registrem regiões nebulosas em outros pontos do céu.  Al Sufi nos deixa os primeiros registros das Nuvens de Magalhães que visíveis do sul do atual Iêmen.
Região de M42 desenhada por Galileu

Galileu Galilei também não fala a respeito da nebulosa embora tenha apontado seu telescópio para região e deixado registros das estrelas na área. Inclusive percebendo três das quatro estrelas que compõem o “Trapézio” (asterismo no coração da Nebulosa).
A natureza nebulosa da região é , em geral, creditada ao astrônomo francês Nicolas- Claude Fabri de Peirsec . Ele a teria avistado em 26 de novembro de 1610 utilizando um telescópio refrator de propriedade de seu patrão Guillaume du Vair.
A primeira observação publicada a respeito da Nebulosa foi obra de do matemático e astrônomo Jesuíta Johan Baptist Cysat de Lucerna. Aconteceu em 1619 em uma monografia sobre cometas. Suas observações podem remontar ao ano de 1611.  
Messier 

Messier a percebeu em 4 de março de 1769 e a inclui na primeira edição de seu catalogo publicado em 1774.
A real natureza da Nebulosa é uma história a parte. Assim como de todas as s nebulosas.

Em seu HALF-HOURS WITH THE TELESCOPE: Being a popular guide to the use of the telescope as a means of amusement and instruction escrito em 1868 Richard A. Proctor demonstra em que pé se encontravam as coisas no final do século XIX.

È importante ressaltar que Proctor era um astrônomo britânico respeitado e trabalhou em conjunto com William Dawes (o do limite de Dawes)

Segundo Proctor:

““... O que é esta maravilhosa nuvem de Luz?

 Telescópio após telescópio se voltaram para este maravilhoso objeto na esperança de resolver sua luz em estrelas. Mas ela se mostrou intratável para o grande refletor de Herschel, para o refrator de dois pés de Lassel, para o refletor de três pés de Lord Ross...  Lord Ross mesmo escreveu para o Professor Nichol (?) em 1846:

 Eu posso dizer com segurança que ha pouca, ou nenhuma, duvida a respeito da” resolvibilidade” da Nebulosa – tudo na região do Trapézio é uma massa de estrelas e o resto da nébula abunda em estrelas.”

Ele segue:

“Não foi com pouca surpresa que os astrônomos receberam a analise espectral realizada por Huygens que prova que a nebulosa é composta por matéria gasosa.

 Qual o verdadeiro tamanho de universo gasoso não nos é permitido saber.

É opinião geral de que a Nébula se encontra muito mais distante que as estrelas fixas. Se isto for verdade o tamanho da nebulosas de Orion é de fato imensa. Muito maior que todo o sistema solar.

 Eu acredito que esta opinião é fundada em insuficiente evidencia...

 Eu gostaria apenas de apontar que a nébula ocorre em uma região rica em estrelas, e se não, como a grande nébula em Argo (Hoje em Carina...) aglomerada em volta de uma estrela notável. 

 O fato de a nebulosa possuir o mesmo movimento aparente das estrelas do trapézio me parece inexplicável se a nebulosa se encontrar espacialmente separada das estrelas do Trapézio.”

Henry Draper- Primeira foto

O interesse do texto de Proctor é, historicamente, enorme e demonstra como desconhecíamos o tamanho do universo antes de Hubble.  É impressionante a evolução da cosmologia (e da tecnologia) em pouco mais de um século.

Atualmente sabemos que M 42 um dos componentes da Nuvem de Órion, uma imensa nuvem de gás e poeira que se espalha por mais de 10º do céu e que inclui diversos outros DSO`s notáveis.

A região mais brilhante deste conjunto é M 42. E como foi desenhada por Huygens em 1659 a região mais brilhante de M42 é chamada de “Região Huygens”.

Huygengs region (Herschel)

Mais um dos golpes de sorte da astronomia.

Hodierna

O primeiro desenho de M42 foi de Hodierna. Mas como seu obscuro catalogo só foi redescoberto nos anos de 1980 ele não foi lembrado...

Possui cerca de três Anos Luz.  Isto demonstra que ,apesar da incredulidade de Proctor, o sistema solar é de fato muito menor que a nebulosa...

A nebulosa é uma área de intensa formação estelar e um verdadeiro berçário. Protoestrelas, estrelas jovens, discos protoplanetários, aglomerados e diversas estruturas galácticas compõem o cenário e torna M 42 um dos objetos mais estudados e fotografados do céu.

Para o astrônomo amador ela apresenta enorme interesse apresentando-se par qualquer equipamento. Pequenos binóculos são suficientes para revelar sua aparência nebulosa. Pequenos telescópios vão revelar o trapézio e as estrelas que iluminam M 42.

Você vai encontrar todos os componentes para estudar evolução estelar espalhadas em M42 e na região ao seu redor.

M 42 foi a primeira nebulosa que vi por um telescópio.

 Lembro-me claramente desta noite.É um alvo fácil.  

Ache as Três Marias. E “penduradas” esta a espada de Orion. A sua “Estrela” central é a Nebulosa. 

 


M 43 é um apêndice a M 42 e faz parte do conjunto. Nunca entendi a razão de Messier a catalogar separada da matriz...

M 42 com M 43 acima

Esta foto foi feita mais de 100 anos depois da foto acima.
Com um telescópio muito menor. E um tempo de exposição também muito menor. Assim caminha a Humanidade.
M 42 faz parte desta evolução desde os primórdios...

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Astrofotografia , Colimação e Carnaval





Chegou o carnaval. E apesar da data depender de varias efemérides (ele começa 40 dias antes do primeiro domingo depois da primeira lua cheia depois do equinócio ou algo assim) a pratica astronômica durante o período é, no mínimo, diferente.

E durante o período reza a lenda que um homem possui como seus maiores adversários ele mesmo, seus amigos e a bebida. Mas ele é homem e não pode recuar perante tais adversidades.

Desta forma vou em direção a Buzios.

Meu plano é perfeito.

Saio na Sexta Feira na parte da manhã. Eu, minha filha e toda a parafernália astronômica. Fizemos uma viagem tranqüila e chegamos a Buzios sem maiores percalços.

Algum tempo depois eu tenho o telescópio montado e percebo que a colimação não esta lá estas coisas. Após mexer um pouco para lá para cá me dou por satisfeito embora soubesse que a colimação poderia ser mais bem realizada. Mas no momento eu tinha outra preocupação. Alinhamento polar.

Sempre que observei em Buzios eu alinhava colocando o eixo equatorial de forma paralela ao muro da casa. Para observação visual era mais que suficiente. Mas para fotografar...

Rapidamente percebo que preciso afinar melhor o alinhamento. E é ai que a porca torce o rabo...

Seis horas mais tarde e com diversas fotos imprestáveis colecionadas consigo um alinhamento razoável. Bom não. Mas acredito que possa melhorá-lo mais e mais ao longo do carnaval. Isto iria implicar em manter o tripé morando fora de casa, mas me parecia ser um projeto viável.

Ao contrario do que se imagina a pratica astronômica é um evento com muita atividade física envolvida. Depois de seis horas levantando e movendo o telescópio para lá e para cá em busca do pólo sempre tendo que me colocar em posições pouco ortodoxas para acompanhar estrelas junto à ocular minha coluna começa a achar que estou de sacanagem com ela. Já que é assim ela me sacaneia com mais força. É hora de dormir e tentar esticar a lombar.

No dia seguinte chegam dois fortes adversários. Meu amigo mais pinguço e varias caixas de Cerveja. O Espírito das Highlands eu havia levado pessoalmente...

Depois de um dia de praia imagino que a noite promete. Eu estava certo. Só não sabia o que ela prometia.

Crente que o alinhamento polar seria satisfatório eu retiro a lona que cobria a cabeça e o tripé e instalo o telescópio. Dirijo-me para Naos (Zeta Popa) e rapidamente localizo Ngc 2477 na buscadora. E só. Olho na ocular e nada...

Afina daqui afina de lá e nada...

Com Júpiter se pondo resolvo que vou afinar a buscadora com precisão “nano métrica”. Enquanto isso meu camarada vai me garantindo um fornecimento continuo de Stella Artois. E outros drinks que levariam qualquer um a acreditar que se trata de um químico frustrado.

Percebo que a colimação estava péssima e tenho a brilhante idéia de chamar meu camarada para me ajudar na operação. Eu ficaria com o olho na ocular enquanto ele moveria os parafusos do espelho primário. O objetivo seria ter aquele padrão perfeito de um ponto negro no meio de um Júpiter fora de foco. Rapidamente o planeta parecia um quarto crescente...

A colimação ficou tão fora de esquadro que se tornou impossível afinar a buscadora. Lá pelas tantas eu pensava em colocar um pequeno calço no suporte da buscadora.

Este post teve vários nomes até chegar ao que vos apresento. Um deles foi "Carnaval, Colimação e o astrônomo bêbado".

Finalmente tomo uma dose de “Faísca” e resolvo que a única solução seria colimar o telescópio de uma forma mais ortodoxa. Amanhã.

A poluição luminosa também se apresentava muito acima da média. A cidade muito cheia fazia que domos de luz povoassem os horizontes. O horizonte sul era o menos mau. O norte só acima de 30º

Colimação é algo relativamente simples. Mas uma colimação perfeita é bastante trabalhosa para ser obtida. Agradeço por meu telescópio ser F8. Um telescópio mais claro me levaria à loucura. Minha próxima aquisição será um colimador laser.

O que eu não sabia é que além de causar coma (um aspecto de vírgula quando olha para estrelas) uma má colimação torna difícil até mesmo afinar uma buscadora. Surpreendeu-me a precisão necessária. Outra lição é que nunca deixe alguém leigo tocar nos parafusos de ajuste do seu secundário. Quando você fala girar um pouquinho para este ele desconhece quão pouco é um pouquinho. Astronomia e ciências em geral quando falam de pouco é muito pouco. E quando falam de muito em geral usam notação cientifica...

Finalmente chega a terceira noite. E um pouco de sobriedade. Finalmente começo a noite me dedicando a observação visual e apresentando alguns DSO as crianças. Plêiades do Sul, Eta Carina, NGC3766 e uma enorme série de aglomerados abertos que seguem a Via láctea. Pouco depois Marte se apresenta e parto para magnificações maiores. O seeing não esta lá grandes coisas, mas percebo algum detalhes. As calotas são evidentes e com bastante atenção percebo Syrtis Major e de relance consigo notar a mancha do Mare Acidalium. Mas os momentos de seeing são raros.

Resolvo me arriscar em algumas fotos e rapidamente percebo que o alinhamento não é suficiente.

Começo com exposições de 20 seg. com a nebulosa de Eta Carina. Depois caio para 15 e finalmente 10 seg.
Eta Carina

Mexe para lá e para cá e nada de melhorar. Decido fazer algumas fotos em Piggy Back.

Outra aquisição que vai ser útil é uma ocular com reticulo iluminado. O Drift para o alinhamento polar vai ser bem mais eficiente e rápido.

Faço algumas imagens do Cruzeiro. Como podem perceber o Rot n´ Stack é um programa bem criativo. Um dos Logaritmos que ele usa nas fotos finais é realmente um artista...
Cruzeiro do Sul Numa Visão do Rn´Stack

Os dias se sucedem e eu desisti de manter a cabeça do lado de fora da casa. Todo dia eu começo fazendo um alinhamento polar e um drift. E sempre demora. E Os resultados são diferentes a cada dia.


Não poderia deixar de fotografar M42. O Alinhamento poderia ser melhor. Mas a Nebulosa é linda de qualquer maneira...

Desta forma também visito Saturno. Embora uma DSLR não seja o ideal fiz alguns registros. As exposições curtas não careciam de alinhamento. Utilizei uma barlow 2x para o planeta dos anéis. Mas ainda não me entendi com o Registax...

Durante os alinhamentos acabo empenando um dos parafusos da cabeça. Removo uma pequena peça que fica a frente da cabeça e que serve para fixação deste. É incrível como a remoção deste torna a cabeça mais instável. O espelho da câmera causa trepidação suficiente para inviabilizar a maior parte das fotos.

Após retirar e substituir o parafuso a cabeça volta a sua forma.

Aproxima-se o ultimo dia e meu plano de fotografar vários Lacaille começa a parecer distante.

Resolvo ir para o jardim de frente da casa. Parece que apesar de um pouco mais exposto as luzes da cidade foi uma decisão acertada. O povo fica mais pelo jardim dos fundos e a solidão é amiga do astrônomo. Bem como uma distancia maior do isopor com as cervejas...

Coloco o tripé no chão e coloco o telescópio. Não faço drift. Simplesmente aponto para Regor (Gama Vela) e faço uma foto. 15 seg. e... Voilá. Nenhum risco. O alinhamento esta pronto. O melhor da semana.

2547 sem dark frames

Com dark frames...

Começo com Ngc 2547, um aglomerado aberto que o Abbe catalogou como Lac III. 2. O enquadramento poderia ser mais digno, mas ainda assim ele preserva sua forma de coração. O Aglomerado também é chamado como “The Broken Heart Cluster”. Faço diversas exposições de 15 seg. E por incrível que pareça o DSS aceita quase todas na hora de empilhar.

Ao contrario do Rot n´Stack o DSS não é muito criativo e adora recusar seus frames.

Ngc 3766 é o próximo. Começo a realizar o plano inicial. Este é o DSO Lac III. 7.


Novamente varias exposições de 15 seg.

Um fato interessante destes dois últimos aglomerados é que suas fotos finais (Tiff), APÓS PROCESSAMENTO NO DSS, apresentaram mais ruído quando foi adicionado Black frames. As fotos sem adição de Black frames apresentaram menos ruído e menos desvio de cor para o azul. Não sei a razão disto.

A noite vai indo bem e rapidamente coloco mais um Lacaille no finder. Lac I. 5 ou Ngc 5139. O Imenso globular de Omega Centauro. Muitas fotos. 15 e 20 seg. E muitos dark frames. Dá tudo certo. 1600 asa e pouco ruído. Vai entender¿¿¿



Agora tirei o atraso. Ngc 4755, a Caixa de Jóias. Lac II. 12 é um de meus favoritos. Novamente sento o dedo e só paro quando recebo a mensagem “full card”.

Com isto resolvo que é hora de caçar mais algumas coisinhas a moda antiga.

Calço a 25 mm na ocular e coloco a 10 mm no bolso.

Steve O´Mehara em seu Hidden Treasures faz um paralelo entre astrônomos amadores e piratas.

Segundo ele os piratas se apresentavam de duas formas. Aqueles que abordavam um navio e o saqueavam rapidamente. Passavam poucos minutos a bordo e seguiam sua viagem rumo à próxima vitima. Outros não gostavam desse frenesi. Chegavam a bordo. Tomavam chá com capitão atacado. Olhavam o porão calmamente e visitavam cada parte do navio presa.

Eu me identifico mais com os primeiros. Quando estou fazendo uma observação visual sou do estilo “body count”. Olho o DSO com uma ou duas oculares. Pratico um pouco de visão periférica e assim que tenho certeza do avistamento sigo em busca de outros botins. Já quando fotografo o objetivo é fazer um registro mais apurado. Mas ainda assim sou um pouco apressado. Na verdade gosto de preservar alguma semelhança do que o ser humano é capaz de ver. Então quaisquer tantas dezenas de exposição me satisfazem. Mas a astrofotografia demanda maiores cuidados. E conseqüentemente visitas mais longas ao navio... Sua buscadora tem que estar bem alinhada. A colimação correta. O alinhamento polar idem. Através dela me faço um astrônomo mais caprichoso. Não por gosto. Mas por necessidade.

Astrofotografia não é uma atividade momesca. Depende de duas coisas que não são tão triviais quanto dizem. Alinhamento Polar e Colimação. Isto para não falar em outras cositas más...

Com vontade de caçar parto em busca de M 104. É um dos “star hops “ que mais gosto. Vou pulando de estrela em estrela. A partir de Algorab vá até Eta Corvus. E daí siga para HIP 61212 e mais um pouco até HIP61296. Daí ache três pequenas estrelas que formam um pequeno triangulo. E deste mais um grupo triplo ainda mais discreto. Tudo pela buscadora. Do pequeno grupo parta para a ocular e você vai achar... Olhe no Cdc ou no Stellarium. O caminho é bem legal e fácil.

Depois quero mais uma abordagem antes do fim. Um rápido pulo a Beta Corvus e um pulinho lhe deixa em M68. Um discreto globular que fica no mesmo campo que HIP 61621. Tire a estrela do campo para não intimidar o discreto globular.

Acabou o carnaval e entre mortos e feridos salvaram-se todos.


M 41 também sofreu saques...