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domingo, 28 de janeiro de 2018

Ngc 2169: O Aglomerado 37

                 
                  Ngc 2169 apesar de possuir muitos nomes é um DSO pouco visitado. Sendo um compacto aglomerado aberto em Orion é muitas vezes relegado devido a outras “estrelas” em tão rica região. Na fronteira com Monoceros é ainda mais difícil se destacar em uma área com abertos muito mais amplos e facilmente percebidos.
                Possuindo apenas 7´ de diâmetro aparente ele demanda pelo menos 120 X de ampliação para começar a revelar seus mistérios.
                Foi provavelmente observado pela primeira vez por Hodierna antes de 1654. Mas é uma entrada no mínimo controversa em seu catalogo pioneiro já que se trataria de um objeto muito discreto e pouco chamativo para os meios que este possuía. Não chego a perceber seu caráter em minha buscadora. E mesmo Walter Houston (criador e autor da coluna Deep Sky Wonders na revista “Sky and Telescope” por décadas) nos diz que “não estivesse Ngc 2169 já incluída no New General Catalog ele não a reconheceria como um aglomerado à primeira vista.”
                Acho curioso destacar que apesar da indiferença de Houston o aglomerado encantou seu antecessor Smith ainda no séc. XIX se não pelo o número de estrelas mas pela sua simplicidade: “Estes encontros ocorrem indiferentemente ao longo da Via Láctea e fora desta e despertam ainda mais a nossa admiração pela estupenda riqueza do universo, em cada parte na qual aparece tamanha profusão da criação onde podemos expressar por nós mesmo o trabalho do todo poderoso e não  podemos nunca  perceber  nenhuma redundância e muito menos trabalho em vão.”
                William Herschel registrou o aglomerado (é a entrada H VIII 24 de seu catálogo) em 15 de outubro de 1784: “Aglomerado, pequeno, pouco rico, bastante concentrado, estrela dupla Struve 848”.


                É um pequeno grupo de cerca de 20 sóis que reside em um dos vértices de um triangulo retângulo formado com as estrelas z e n Orionis. Estas ambas sentinelas se encontram até 1o de Ngc 2169 e podem todos serem abarcados com um telescópio de campo grande. Mas como já foi dito é necessária bastante ampliação para separar-se seus membros e as diversas duplas que tornam o aglomerado muito interessante.
2x drizzle

                O grupo é conhecido pela alcunha “Aglomerado 37” devido ao arranjo de suas estrelas, de fato, lembrar o desenho do número. Mas o mesmo possui diversos outros apelidos listados por O´Meara em seu “Hidden Secrets”: “As Pequenas Plêiades” e o “Aglomerado do Carrinho de Compras”. Acho ambos bastante criativos e nenhum à altura do mais famoso.
                Ngc 2169 é um aglomerado super jovem e atualmente os valores mais aceitos para sua idade não ultrapassam 10 milhões de anos. E diversos papers indicam ainda menos. 
O Trabalho de Jeffries, R. D.; Oliveira, J. M.; Naylor, Tim; Mayne, N. J.; Littlefair, S. P. realizado em 2007 “The Keele-Exeter young cluster survey - I. Low-mass pre-main-sequence stars in NGC 2169” onde foi realizada a fotometria com CCD do Newton telescope e com o espectroscópio de resolução intermediaria do Gemini North indicam 9 milhões de anos +- 2 Milhões de anos.  Este indica ainda que não há mais de 2,5 milhões de anos de diferença entre seus membros de massa inferior a 0,15 sóis. A maior parte de seus membros de baixa massa ainda se encontra ainda na pré sequencia principal. A maioria de seus membros são do tipo espectral A3 ou mais jovens.
                Ngc 2169 é um aglomerado muito delicado e bastante colorido que me recorda em sua miudeza o Aglomerado de Cheshire (Ngc 5281) e que como este demanda ampliação para ser de todo aproveitado. Um daqueles tesouros escondidos e que devem ser visitados apesar de sua elegante descrição.
Foto "girada" no PS. O " 37" fica mais evidente...



                Realizei poucas fotos de Ngc 2169 e com um alinhamento polar mal realizado. As fotos que ilustram este post são fruto do empilhamento de apenas 4 exposições (as melhores e com o menor drift) de 20 segundos realizadas no Rot n´ Stack e em uma delas realizei uma ampliação de 2 Drizzle no Deep Sky Stacker. Foi também utilizado o Photoshop para equilibrar as cores que são bem fiéis ao que se pode perceber junto a ocular. Não foram feitos dark frames.  O telescópio utilizado foi um 150 mm f8 newtoniano com uma Canon T3.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Astrofotografia de Ouvido e a Aporema de Verão

             

                 Chegou o verão. A primeira Aporema do ano (veja o significado desta festa aqui, aqui e aqui). Desta vez as regras foram seguidas à risca e a mesma foi comemorada na primeira lua cheia após o solstício de verão. Com uma casa alugada em Lumiar os céus seriam escuros. Mas também bem nublados. O verão nas Serras Fluminenses costuma ser ingratos com a astronomia e chove para burro... Como não poderia deixar de ser as noites mais abertas da temporada aconteceram nos dias que estávamos em Friburgo para comemorar o aniversário da Bisavó de meus netos. Avó da cara metade.
                Eu tenho informantes no Reino de Murphy e evidentemente coloquei o Newton (meu telescópio refletor 1200 mm f8) na mala do carro quando nos deslocamos de uma cidade para outra. A tarde choveu canivetes. As 21:00 o céu começou a abrir. Eu aproveitei para brincar com as crianças e apresentar diversos clássicos. E com o avançar da hora ainda acabei por localizar alguns dos DSO´s que tinha imaginado fotografar. Mesmo com um alinhamento polar feito de ouvido e com um céu que apesar de limpo apresentava uma transparência péssima fiz algumas fotos. Esqueçam a palavra colimação. Esta Aporema   já começara meio desacreditada. Como o sistema de guiagem para o Newton só vai chegar no final de janeiro não me via com grandes projetos fotográficos. Brincar com as crianças acabou sendo uma boa forma de comemorar a festa pagã e o aniversário da Bisa...
M 42 não parece indicar uma noite promissora...

                Com quase todas a luzes da casa acesas e com vários curiosos olhando coloquei Mlle. Herschel (minha montagem HEQ 5 pro) em “modo de segurança” e com um Synscan quase alinhado acompanhando um alinhamento polar pior ainda levei todos a visitar M 42. Percebo que há muita nebulosidade no céu. Depois M 41 muito tímido. Sobraram duas sobrinhas que parecem levar jeito para coisa e que acompanharam as observações até bem tarde.
                E assim visitamos Ngc 2516. O horizonte sul está mais generoso. O aglomerado faz sucesso com as meninas e com alguns retardatários. Depois sigo para Omicron Velorum. Ficam todos fascinados ao entenderem que o aglomerado é a pequena nebulosidade ao lado de Delta Velorum e que escolta Omicron. Descobrir o Falso Cruzeiro e aprender, de fato, a identifica-lo parece deixar todos bem orgulhosos.
                As Plêiades (a noite parecia estar melhorando) dão seu show junto a buscadora e o famoso aglomerado arrecada mais alguns fãs para seu imenso “entourage”. 
2516 em modo "como não fazer"...

                Faço uma exposição de 30 segundos de alguns dos objetos somente para apresentar a técnica as meninas.  O Alinhamento polar era de fato medíocre. Mas para a observação visual estava mais que bom... Pior era o Synscan (Go-to da cabeça) errante. Mas viajando por mares já muito conhecidos não chegava a irritar ninguém.
Little Cassiopéia no mesmo modo...

                Finalmente apresento o conceito de estrela dupla para as meninas. Com um seeing também “bem mais ou menos” acabo resolvendo Castor em Gêmeos com a minha ocular 17 mm acompanhada de uma Barlow 2X.  As meninas adoram. E acho um dos pontos altos da noite. Não visitava o gêmeo mortal (Pollux é imortal) há muito tempo. É uma dupla divertida de se dividir. Uma considerável diferença de magnitude.
M 93 em péssima forma...
                Depois já vai mais tarde e resolvo tentar cumprir algo do que tinha em mente. Fotografo (mesmo que de forma tosca) M 50 e M 93. Dois abertos do Catalogo Messier que nunca tinha registrado fotograficamente. Com o Synscan errante acabo também misturando M 48 com Ngc 2306 e registro o obscuro aglomerado. Mais um para o “Projeto Tudo que Existe” (apesar do nome a intenção é apenas fotografar todo o Catalogo Ngc).
M 50

Ngc 2306. Um engano meu , de Dreyer e originalmente de Herschel. 


                Finalmente as crianças se rendem e o Synscan errante não localiza Ngc 2169.Meu principal objetivo nesta Aporema seria fotografar os objetos que me faltam no Catalogo Hodierna.  Mas parece que vou ter que esperar por condições melhores. Acampado na casa dos outros e sem poder fazer os alinhamentos “by the book” vai ficar difícil. E Friburgo é uma cidade grande e com considerável poluição luminosa. Fora que a umidade está enorme, o frio aumentando e eu bem cansado.
                Para encerrar faço algumas capturas em Pig Back com um campo bem aberto. Coloco a 18-55mm @ 50 mm e f 5.6.
                Capturo a Falsa Cruz que fez tanto sucesso junto aos universitários e depois outra série de 12 fotos no entorno de Eta Carina. Sempre um espetáculo. Com estas eu posteriormente brinco tanto no Deep Sky Stacker como no divertido e menos exigente Rot n´ Stack.   Com um campo tão amplo o alinhamento polar se torna menos exigente.
Falsa Cruz 

                Já as fotos dos DSO´s tiveram que ser processadas apenas no Rot n Stack. A qualidade das capturas não é suficiente para o DSS. Neste tudo termina em rabiscos. Ou desastres binários como gosto de chamar tais desgraças...
Desastre binário

                No dia seguinte, após levar as crianças até as cachoeiras de um clube em Friburgo, (a cara metade resolveu encarnar a Rainha Má e implicou com a casa estilo “Woodstock” em Lumiar. Prorroguei a estada na casa da Bisa por mais uma noite...) fico brincando com as fotos feitas com a lente enquanto namoro o céu nublado com esperança de que este abra por volta das 21:00. A previsão assim o diz. Diferentes processamentos levam a diferentes resultados. As capturas foram todas feitas em jpg. Como não planejava fotografar sequer me lembrei de alterar as configurações da Canon.  O Rot n Stack me dava cor nas fotos. Já o empilhamento realizado pelo DSS embora apresenta-se mais detalhes era em escala de cinza. Não conseguia atinar a razão para isso. Finalmente reparo que o autosave em 32 bits e sem eu ter corrigido o RGB no próprio DSS apresenta cor. Ainda que o resultado deste arquivo que é gerado automaticamente seja sempre muito claro. Resolvo apenas converter o autosave para Tiff 16 bits no DSS sem nenhuma outra manipulação. Com este arquivo aberto no Photoshop rapidamente percebo que basta eu pedir o tom automático que a cor se revela. Depois curvas e cia LTDA e acho o resultado bastante satisfatório e mais realista do que trabalhando com a matriz do Rot and Stack. Na verdade, acho ambos bastante satisfatórios para 8 frames de 30 segundos empilhados.  Sem darks...
Esta foto é fruto da mesma captura da que abre este post. Porém processada no Rot n stack inicialmente. Tem mais cor . Mas encosta o "Caboclo Magenta" e acho muito forçada. 

                Finalmente a previsão se confirma e as 21:35 estou com a câmera na montagem. O Plano é utilizar a 75-300 mm @ 300 mm para fotografar as Plêiades. Por incrível que pareça o alinhamento polar é feito de novo no palpite e o Synscan é alinhado utilizando apenas a rotina de “1 Star Align”. Utilizando Canopus como farol. E com a lente @ 70 mm Mlle. Herschel chega até as Plêiades sozinha. Não centralizadas, mas quase... Depois é só ajustar o foco.  As “crionças” queriam porque queriam que eu montasse o Newton para elas poderem observar também. Mas fui obstinado e só cedi ao desejo das mesmas depois de realizar 80 exposições das “Sete Irmãs”.  Queria brincar mais de “laboratorista” (uma profissão quase extinta dos tempos da película fotográfica).


As Pêiades cropada no Photoshop... Foram diversos tratamento e serão abordados em outro post.

                Finalmente acabo cedendo e o Newton vai para a montagem. Levo as crianças para um belo passeio.  O horizonte sul é mais escuro na região do Cônego e assim se a região entre Sagitário e Escorpião é a décima terceira vertebra na “Espinha Dorsal da Noite” a área ao redor da Nebulosa de Carina pode responder pela alcunha de “Região Cervical” ... E assim levo elas por todos os clássicos austrais tão meus conhecidos. O Aglomerado da Pérola, O Poço dos Desejos, A grande Nebulosa em si, as plêiades do Sul e até um Acrux nascente é visitada. Para encerrar e sabendo que a pequena gostara de estrelas duplas apresento a “Albireo de Verão” (145 C Ma). Depois mando todos para cama e ainda consigo me acertar com Ngc 2169 e capturar suas imagens para o “Projeto Hodierna”. O Synscan está bem mais preciso que na véspera. Sem nenhuma razão aparente que não seja a incerteza...   O delicado aglomerado é bem discreto e só revela suas características mais marcantes com a ocular de 10 mm (120 x de aumento). Adoro projetos observacionais temáticos.  Uma ultima confissão: a foto de Ngc 2169 foi uma das piores que já tirei. Mas com as Plêiades indo tão bem acho que a média ficou aceitável. E aglomerado em questão também se inclui no “Projeto Tudo que Existe”. E neste eu nem considero a possibilidade de fotos bonitinhas para todo mundo. Vale o registro... O drizzle feito no DSS a partir de um empilhamento feito no Rot n Stack ficou medonho. Mas apresenta claramente o porque deste ser conhecido também como “O Aglomerado 37”. Se alguns dos resultados nos Logaritmos do Rot n Stack fossem feitos pelo Pollock valeriam um bom dinheiro...
Albireo de verão
Quase parece com Ngc 2169. 

                E assim encerro mais uma noite. Com dignidade e ainda cedo. 00:20 estou com tudo já meio encaminhado para sair na manhã seguinte rumo a minha casa na arvore e poder continuar minha saga como laboratorista digital. Fico muito feliz ao descobrir que a nebulosa de Merope e de Alcyone foram registradas claramente apesar da interrupção mirim. Meu plano era tirar pelo menos o dobro de fotos.            
Sem hora para nada...


São Sebastião de Lumiar




Depois da procissão...
                Dia 18 finalmente retorno para a “Casa Nas Arvores” em Lumiar. O céu ainda ia claro, mas me reuni com um antigo professor e a cerveja e o saudosismo atrapalharam a observação. A casa não possui nenhum horizonte livre e acabo tentando a sorte na rua em frente. Lógico que apesar do céu bem escuro não dá certo...  Daí para frente o templo nubla e haviam outras coisas a serem feitas para a harmonia familiar harmonizar. E assim fomos a procissão de São Sebastião de Lumiar, bebemos tonéis de cerveja, visitamos locais lindos e tomamos muito banho de rio.  Sem reclamar do céu nublado. Foi todo o set up para a mala do carro onde permaneceu até o Rio de Janeiro...
A Casa nas arvores

casa nas arvores II




                A Aporema de Verão foi diferente do planejado e por isto mesmo sensacional. Uma  versão nômade da festa. Veremos se em fevereiro   as coisas melhoram. Afinal o meu “Magnificent Mini Auto Guider” terá chegado e espero um mês mais seco que janeiro apesar do “Paradoxo de Newgear”.  

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

M 37 : O Melhor Messier de Auriga

          

            Continuando a apresentação dos aglomerados abertos pertencentes ao Catalogo Messier localizados em Auriga (O Cocheiro) chegamos a M 37. Este o único deles fora do perímetro do pentágono que caracteriza a constelação. 
                Os aglomerados Messier em Auriga nos contam uma interessante história.  Até os anos de 1980 eram todos descobertas de franceses. La Gentil tinha descoberto M 36 e Messier tinha descoberto M 37 e M 38. Mas, em um dado momento entre os lançamentos de alguns dos primeiros sucessos da Madonna (ahhhh...os anos 80) que foram “Into the Groove” e “Like a Virgin”, G.F. Serio, L. Indorato e P. Nastasi, publicaram o agora fundamental paper “Hodierna's Observations of Nebulae and his Cosmology” no “Journal of the History of Astronomy, Vol. XVI, No. 45, p. 1-36 (fevereiro de 1985). E pronto ... Todos os abertos Messier em Auriga passaram a ser descobertos pelo até então desconhecido padre siciliano Giovanni Battista Hodierna.  E antes de 1654. Com mais de um século de antecedência sobre nosso caçador de cometas favorito.  Ele o descreve simplesmente como “um local nebuloso”. É difícil saber se ele inclui M 37 em sua categoria de “Luminosae” ou “Nebulosae”. Ele certamente não percebeu estrelas em M 37 com a vista desarmada(Luminosae) mas também é pouco provável que tenha visto algo com auxílio telescópico (Nebulosae) afinal estamos nos primórdios da tecnologia telescópica. É difícil acreditar que Hodierna tenha resolvido algo em M 37 e o que ele de fato viu é matéria de discussão no paper de G.F. Serio.
Mapa de Auriga em  De systemate orbis cometici; deque admirandis coeli characteribus (1654) (Sobre a sistemática do mundo dos cometas e dos admivarveis objetos dos céus)

                Messier redescobriu M 37 na noite de 2 de setembro de 1764. Ele nos deixa a seguinte descrição: “Aglomerado de fracas estrelas a pouca distancia do prévio (M 36); as estrelas são tênues, próximas e contém alguma nebulosidade.”
                Observar M 37 a olho nu é um grande desafio para latitudes mais boreais e através de minha buscadora 10 X 50 mm apenas suas duas estrelas mais brilhantes e ao centro podem ser vislumbradas. Permanece uma impressão de nébula. Smith, demonstrando bem como o interesse astronômico mudou, se refere a M 37 como uma estrela dupla incluída em um aglomerado. E ainda demonstra profundo interesse em outra pequena dupla que também é membro do aglomerado.  Para se resolver o aglomerado é necessário um binóculo de 70 mm ou um pequeno telescópio com pelo menos 30 x de aumento. Telescópios maiores vão mostrar de 40 a 50 estrelas arranjadas em pequenos grupos. M 37 dá uma impressão muito mais concentrada que seus vizinhos M 36 e M 38.


                M 37 é o mais interessante dos aglomerados Messier em Auriga. Com mais de 2000 membros, das quais 150 são mais brilhantes que magnitude 12,5 e com 500 mais brilhantes que magnitude 15 ele apresenta 35 gigantes vermelhas as quais incluem seu membro mais brilhante com magnitude 9,5. Sua estrela mais desenvolvida ainda na sequência principal é uma relativamente jovem estrela do tipo B9. Isto indica uma idade mais avançada que seus companheiros e sua idade é estimada em 500.000.000 de anos.  Sua distancia é alvo de disputa e varia entre 4.300 e 6.700 anos luz. É mais aceito que ele se encontre no limite inferior destas estimativas e com isto ele ocuparia 33 anos luz de universo. Estudos recentes indicam 24 variáveis entre seus membros reais.
                M 37 é, sem dúvida, o mais belo dos abertos Messier em Auriga e quão maior for seu telescópio mais interessante este se torna.



                M 37 se localiza ao leste do ponto central de uma linha imaginaria que liga Mahasim a El Nath (Beta Taurus). Outra opção é iniciar seu “starhoop” a partir de Capella (Alpha Auriga) em locais extrema poluição luminosa. Será um longo caminho e você passará por M 36 e M 38 na jornada. Considero o mais difícil dos aglomerados Messier em Auriga para se localizar. O mesmo passou desapercebido por La Gentil. 

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

M 36 e as Coincidências de Adams

             


              Dezembro foi um mês dedicado ao trabalho. A cada vez mais dura jornada por cada vez menos vil metal me manteve bastante ocupado até o dia 23. Depois disto vieram as festas de fim de ano e o clima na terceira rocha a partir do Sol não colaborou com a já tradicional Aporema do fim do ano. O ano novo se passou e não vi nada de novo nos céus.
                Mas o mundo gira e a Lusitana roda. Assim acabei me deparando com um interessante post de um amigo virtual onde surgiu uma das tão queridas aqui pelo Nuncius Australis “Coincidências de Adams”. Estas são relações que apesar de parecerem relacionadas a coisas muito profundas não tem nada a ver com as leis fundamentais do universo. São assim chamadas devido a uma passagem do livro “Guia do Mochileiro das Galáxias” de autoria de Douglas Adams. Neste post o amigo nos mostra que em um triangulo retângulo onde o cateto maior possui o tamanho da soma do diâmetro da Lua e da Terra e o cateto menor possui o tamanho da terra vai nos levar a uma hipotenusa com o valor de Phi. E voilá:  Proporção Aurea, Fibonacci e outras numerologias se apresentam. Mais uma das “Coincidências de Adams” para minha coleção.

                A Astronomia é cheia delas. A Lei de Titius-Bode é uma das mais famosas e de tão incrível foi alçada a lei. Não é. Outra que desafia as fronteiras do saber é o “Paradoxode Newgear”. Este talvez diretamente relacionado a fase “ponto morto” aqui do blog. O paradoxo nos diz que “Sempre que alguém adquirir algum equipamento de qualquer espécie que permita que este alguém aumente sua capacidade de observar o universo este irá conspirar para que as condições atmosféricas neste determinado local do universo impeçam isto por pelo menos 60 dias terrestres.”
                Recentemente ganhei uma antiga câmera Pentax que veio acompanhada de diversas lentes. Com isto K.O. Newgear já ligou para Murphy. Não bastando isto minha tia me presenteou com um sistema de guiagem para Mme. Herschel (minha montagem equatorial HEQ 5 pro). Esta só vai chegar no final de janeiro. Desta forma não levei quase nada para o réveillon que passei em Itaipava. Espero poder desafiar Newgear com alguma margem de vantagem mais a frente no mês em uma temporada que pretendo passar em Lumiar. Lá será Lua nova e com uma janela maior é sempre possível que as borboletas conspirem a meu favor e eu consiga enganar Newgear e Murphy em alguma noite feliz. Ainda sem o sistema de guiagem as chances serão razoáveis.
                Acho importante frisar que em tempos de obscurantismo crescente que as “Coincidências de Adams” não são de forma alguma relacionadas as “Relações de Tornhill-Scott”. Nestas, fatos como Buzz Aldrin e apocalipse possuírem ambos 10 letras, são prova conclusiva de que a relatividade é uma grande fraude promovida pelos reptilianos.  E que o eletromagnetismo resolve qualquer questão fundamental sobre a vida, o universo e tudo mais...
                Desta forma, devido a “ Paradoxo de Newgear” e a encontrar perdidas no HD fotos de quase exatamente um ano atrás, cheguei até três belos aglomerados abertos em Auriga que eu não poderia deixar de apresentar de forma mais aprofundada aqui. É evidente que falo dos três aglomerados abertos do catalogo Messier que residem na constelação. E em gesto de solidariedade a Tornhill vou apresenta-los em ordem “numerológica”. Vou começar por M 36. E ao decorrer do mês apresentarei M 37 e depois M 38.  A menos que tenha sorte na viagem para Lumiar.
                Antes de falarmos de M 36 acho interessante apresentar Auriga. Uma das mais antigas constelações e uma das regiões mais ao norte dos céus cariocas onde ainda é possível se perceber alguma coisa em locais de forte poluição luminosa (Bortle acima de 6).

                Auriga (“O Cocheiro” em mapas lusófonos) é uma das 48 constelações listadas por Ptolomeu no século II. Mas sua história remonta ha muito mais tempo. Os primeiros registros de suas estrelas remontam aos tempos da invenção da escrita e assim aos primórdios da História. Na Mesopotâmia. Chamada de GAM a constelação representaria uma cimitarra. Embora existam duvidas de se este titulo se referia a constelação em si ou apenas a sua estrela mais brilhante (Capella).  Já no tempo dos gregos e dos mitos mais bem contados de todos os tempos a constelação, que possui a forma evidente de um pentágono formado pelas estrelas Alpha Aurigae (Capella), Beta Aurigae, Iota Aurigae, Theta Aurigae e a “emprestada” Beta Tauri, esta  passa a representar Erichtonius de Atenas. Este filho de Hefáistos e criado pela deusa Athena. Foi o inventor da Quadriga. Uma espécie de “Ferrari” das carruagens com 4 HP (Puxada por quatro cavalos) de potência. Auriga significa Carruagem. Segundo a lenda inspirada na carruagem de Zeus. Este o colocou no Céu em tributo a sua engenhosidade e feitos heroicos. Não bastasse isto Capella (Alpha Aurigae) representa a cabra Amalthea. Esta foi que amamentou Zeus. Capella significa “pequena cabra”. É a 6a estrela mais brilhante dos céus. Trata-se de um sistema quadruplo.
                Com a Via Láctea cortando a constelação é berço de diversos DSO´s .

                Finalmente M 36....
                Este aglomerado aberto foi descoberto por Hodierna na Ilha da Sicília em 1654. Mas como o Catalogo por este organizado teve uma distribuição ainda menor que “O Sul Profundo” sua descoberta só chegou a publico, de fato, em 1984. Apenas 330 anos depois... E assim todos os guias observacionais clássicos (e mesmo Burnham) indicam La Gentil como seu descobridor no ano de 1749. Messier observou o mesmo em 2 de setembro de 1764 e escreveu: “Aglomerado de estrelas no “Cocheiro”. Com um simples refrator de 3 ½ pés suas estrelas são mal percebidas; o aglomerado não contém nenhuma nebulosidade. 9´ de diâmetro”.
Cerca de um século mais tarde Smyth, em seu Bedford Catalogue (o volume II de seu livro “Cycles of Celestial Objects”) nos dá uma descrição curiosa do mesmo: “Um dispositivo de uma estrela cujo os raios são formados por pequenas estrelas.”  D´Arrest parece ter uma impressão semelhante e diz “extremamente rico e bonito aglomerado. Originando-se do centro muitas estrelas se arranjam em três finas espirais.”
                Observando com o Newton (um refletor de 150 mm f8) com 48 X de aumento ele me recorda uma versão minimalista das Plêiades. Estudos posteriores indicaram que minha impressão era bem correta.
                M 36 é um aglomerado bem jovem como as Plêiades e sua população é bastante semelhante. Mas se encontra dez vezes mais distante há 4300 anos luz.  O aglomerado possui 178 membros confirmados. Sua estrela mais brilhante é uma gigante azul de um jovem tipo espectral B 2. Todos os seus membros mais brilhantes são da classe B e atestando sua juventude não possui nenhuma gigante vermelha em suas fileiras. Algo entre 20 e 40 milhões de anos apenas.


                De locais altos, escuros e mais ao norte M 36 pode ser percebido a olho nu como uma estrela enevoada. Já realizei o feito, mas estava no hemisfério norte e na entrada de um parque nacional muito preservado. Aqui do Rio ele será percebido pela buscadora  (10X50 mm) e irá começar a se resolver. Geralmente parto de Capella e navegando pela buscadora não é difícil perceber M 36. Atenção para não se confundir com M 38 que é bem próximo. Junto ao centro do aglomerado habita uma delicada e fácil dupla: Struve 737.