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terça-feira, 17 de novembro de 2015

Riders of the Storm: Transparência e Astrofotografia

         
               Vem chegando sexta feira e depois de passar o dia lutando contra um comerciante que envergonharia a classe mesmo em um mercado no Oriente Médio acabei por conseguir retirar meu novo veiculo automotor e ainda fazer o seguro do mesmo.  Lógico que pretendo ir para Búzios aproveitar a lua  quase nova. Depois de arrumar mala ,cuia e todos os "quéri queris" astronômicos vejo  que,q apesar das ideias homicidas, valeu a pena insistir com o picareta da concessionária e retirar o veiculo ainda a tempo de aproveitar o fim de semana. Agora toda a tranqueira cabe com sobras na mala do veiculo automotor.       
                Astronomia não é para os fracos e  chegando no portão da casa já pronto para começar os trabalhos descubro que minha querida filha ( uma aborrescente puro sangue) deixara  a chave na outra mochila dela. Achar o caseiro , ressuscitar o cabra e finalmente conseguir entrar em casa. Lógico que o céu já ia fechando. A terrível maldição da sexta feira 13 parece se comprovar. Mas como é uma tradição astronômica lutar  contra as trevas e a superstição monto todo o circo  e depois de algum tempo estou com a buscadora alinhada. Curiosamente utilizei M 42 para tal. Nunca tinha alinhado uma buscadora utilizando um DSO como referência...
                O alinhamento do go-to foi difícil. Com nuvens entrando e saindo e com mais de 70% do céu encoberto as estrelas oferecidas pelo "Synscan" ( é o aparelho que comanda o o mecanismo de acompanhamento e de busca de  da montagem. Me refiro a ele tanto como Synscan como simplesmente  "go-to") e pelo céu propriamente dito não chegavam nunca a um armistício. Depois de muita luta e blasfêmias que chocariam  até um marinheiro russo bêbado em um prostíbulo em Santos  eu acabo conseguindo alguma precisão utilizando Sirius e Aldebarã como ancoragem. Em um ato de sensatez incomum decidi que nem tentaria montar o set up para astrofotografia. Com o mar de nuvens e observando "o que desse" nos buracos que se abriam nestas   apontava o "Newton" ( Um telescópio 150 mm f8) hora ao sul , hora ao sueste e raramente para horizonte norte . Eu sabia que fotografar seria uma tremenda perda de tempo. 
                E assim pilotando por aparelhos calculava qual o  DSO que iria se encontrar com os buracos nas nuvens e mandava o Synscan se dirigir para o destino e ficava aguardando com um olho na buscadora e outro na ocular. 
                Aprendi  que a escala de transparência deve ser uma escala aberta . Não ha limites para quão ruim pode ser a transparência atmosférica e quão obcecado pode ser um astrônomo amador.  Desta forma em uma escala de 0 a 10 eu observei M 42 , M41 e Ngc 2244 com a transparência em -2.   M 41 eu observei literalmente escondida nas nuvens. O no aglomerado de Tau Canis Majoris eu percebia a estrela matriz claramente e o aglomerado em si de forma muito discreta com estrelas "flicando" ao seu redor. Mesmo assim somente com auxilio de visão periférica. .  Como muita sensatez torna as coisa muito chatas eu tentei ainda M 78. A duplinha que se esconde na nebulosa eu percebi. Mas a nebulosa já era querer demais.
                Apesar das condições extremas e talvez por causa delas me dei por feliz e realizado. As 3:00 eu estava dormindo...
                No dia seguinte acordei as 9:30 e bem disposto. Nada como não encher o pote na véspera.  Depois de fazer as compras para o "almo jantar" a família parte para a praia.
                Camarão ao alho e óleo, Anchova na Brasa e um Sauvignon blanc me separam de uma nova luta.
                O céu se apresenta menos encoberto . Mas a transparência continua na parte negativa da escala...
                Começa a batalha. O go -to se recusa a colocar algo dentro do campo até mesmo da buscadora. Eu sei que devemos respeitar alguns pré-requisitos na escolha das estrelas do alinhamento do mesmo. Mas nada parecia resolver tirei um pouco de chumbo do contrapeso. Nada. Virei o telescópio. Nada ainda. Descobri que estava usando Peacock em vez de Alnair e assim mentindo para a maquina. Mesmo assim nada. Só me resta melhorar o alinhamento polar que era apenas um sentimento devido as péssimas condições da noite anterior.
                As 22:55:53 eu estou com Achernar cruzando o meridiano e  um alinhamento polar digno de nota foi obtido. Novamente utilizando Sirius e Aldebaran como faróis consigo algum sucesso. M 41 aparece centralizado na ocular de 25 mm. Yessssss!!!!
                A foto de Sirius  ( a que abriu este post...) com um "Halo Lunar" ao redor demonstra bem o conceito de escala de transparência aberta. - 2 ou -3...
                Mas resolvo fazer algumas fotos de meu velho conhecido Aglomerado de Aristóteles ( M 41) . Não chega a ser de tirar o folego. Mas astrofotografia é a melhor diversão. Depois o mesmo com M42. Dois manjados show pieces que sobrevivem a nebulosidade. Esta estava tão forte que impossibilitava observar até mesmo Tuc 47. O Horizonte sueste era o que apresentava as condições mais aceitáveis . E assim decido realizar  umas fotos de um desconhecido. Ele deve  ser bem interessante em condições menos desumanas. De qualquer forma Ngc 2244 , o aglomerado do satélite é uma nova aquisição e um fardo a menos na minha auto imposta e quixotesca missão de observar "' tudo que existe".
                Depois disto fico lutando com Ngc 2477 .Começo a achar que o go-to enlouqueceu novamente. Mas como 2477 fica muito próximo de Ngc 2451 ( os dois cabem no mesmo campo com meu 15X70) eu rapidamente descubro que a luta contra as brumas esta sendo perdida.  Encerro a sessão e parto para dentro dos restos de bebida que existe pela casa e coloco Riders of the Storm ( uma versão remix do Snoop Dog) para rolar.
                 Já de volta ao Rio me preparo  para tratar as imagens obtidas. Monto um play list que desfia Charlie Parker, Herbie Hancock, Ella Fitzgerald e todo o "Take Five" do Brubeck. Sei que deverei ser paciente.   O material não é exatamente de primeira... A transparência era muito baixa e as imagens que fiz de meu velho conhecido M 41 deveriam indicar quase uma magnitude a menos do que seria normal... M 42  que visualmente se apresentava de uma das formas mais discretas que já vi ( e trata-se de  uma vedete...) nas fotografias não chegava a ser inspiradora. Ngc 2244 aparece como um aglomerado aberto  bem modesto. Estranho para um aglomerado apresentado com  apelido no Stellarium e membro do catalogo Caldwell. Perceber a Nebulosa da Roseta que habita em seu entorno ( Ngc 2237) seria considerado um caso de delírio grave e invocara cuidados psiquiátricos urgentes...
                A primeira série a ser empilhada foi M 42. Aprendi que nebulosidade além de apagar as estrelas e as nebulosas se traduz em ruido na imagem final... Depois de passear pelo DSS , Fitswork, Photoshop e Noiseware o resultado melhorou um pouco . Mas ficou muito aquém de suas possibilidades. Curiosamente as péssimas condições tornavam fácil fotografar o "Trapézio" de estrelas no centro de M42. Ele em geral fica muito super exposto. com o filtro de nuvens ele se apresentava facilmente mesmo em exposições mais longas . E com exposições mais curtas era praticamente a única estrutura de M42 que se apresentava claramente... As condições estavam tão precárias que a companheira M 43 não chega a se revelar claramente nem nas fotos.  Foram empilhados 21 frames de 25 segundo de exposição , 7 dark frames e 7 Bias. E em outra versão não foram utilizados bias frames. . O ruido ficou menor sem estes... 
Quase 9 minutos de exposição costumam revelar muito mais coisas em M42. Na verdade já realizei fotos com 30 segundos melhores do que isto...

 
8 segundos de exposição...
                M 41 apesar de mais apagado que de costuma pareceu sofrer menos com a nebulosidade. Na verdade estava em uma brecha de céu privilegiada e assim não  foi necessário tanto pós processamento. É um de meus DSO´s favoritos e com uma bela estrela vermelha em seu centro é sempre um bom parâmetro sobre as condições do céu. No caso eu não percebia nenhuma cor observando visualmente .  Foram realizadas 11 exposições de 25 segundos com 1600 ASA, 7 darks e 4 bias

                Ngc 2244  se apresentou praticamente entre nuvens . E  ruido presente revela isto. Após muito processar a imagem ele ainda se apresenta bem aquém de sua possibilidades. Visualmente era mais com um ajuntamento de estrelas do que como um aberto . Poderia passar facilmente por um asterismo.  7 exposições de 25 segundos 1600 ASA , 4 darks e dois bias.
Depos de muito passear pelo Photoshop ... Levels , Curves , Brilho e saturação . Ruido removido tanto no Fitswork como no Noiseware...

                Como falei eu abandonei a batalha derrotado por Ngc 2477. Mas sabia que estava no lugar certo. Por desencargo de consciência  fotografei 2541 ( apenas um frame) só para confirmar que não estava sendo enganado pelo Go-to. Um velho conhecido que achei difícil até mesmo reconhecer tão desfigurado se encontrava pelas brumas. Uma violência... Mas o "Astrometry" fez a analise de DNA e confirmou sua identidade.  
 

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