Geralmente quando as coisas ficam
neste pé eu começo a beber e fumar demais e o casamento começa a azedar. Ao
terminar nosso projeto eu me sentia pronto para passar alguns dias pendurados
em um cabide.
Mas me lembrei que astrofotografia é
sempre a melhor diversão e que depois de três sóis fotografar dois aglomerados
globulares que não conhecia seriam uma boa ideia para voltar a realidade . E
assim parti atrás de M 2 e de M 15.
Depois de tantas aventuras a la " nouvelle vague" continuidade
tornou-se uma palavra sem sentido . Resolvi que vou apresentar os dois na ordem
inversa da sua entrada no catalogo Messier.
M 15 é conhecido como o
"Grande Aglomerado de Pegasus". Visualmente é como um gêmeo de M 2.
O termo "grande" no título demonstra claramente como os habitantes de latitudes boreais mais
elevadas são inustiçados em matéria de aglomerados globulares.
Apesar de sofrer quando comparado
com maravilhas como Omega Centauro , Tuc 47, M22 e outros aglomerados visíveis
mais ao sul da terceira rocha a partir do Sol M 15 é cheio de surpresas e
atrações cosmológicas. Uma das grandes atrações do horizonte norte no Rio de Janeiro
durante a primavera.
Ele é um dos seis globulares
visíveis a olho nu a partir de latitudes boreais mais elevadas , ainda que
necessitando de condições excelentes para este feito. ( os outros são M2, M 3 ,M 5 ,M 13 e M 92) .
M 15 é facilmente localizado a
partir do "Grande Quadrado" que forma o corpo de Pegasus. A partir
deste siga para as estrelas que formam o pescoço e a cabeça do mitológico
cavalo e estendendo-se a linha que liga Biham a Enif mais 4o
você chegará ao aglomerado. Uma pequena estrela de 6a magnitude
habita a oeste de M 15 e juntamente com este simula uma estrela dupla. mesmo
pela buscadora você perceberá que uma delas é uma impostora... Esta é M 15.
M 15 nos conta uma história comum as
entradas do Catalogo Messier . Este DSO foi primeiro observado anteriormente
por alguém , catalogado posteriormente por Messier e foi resolvido e determinado
como um aglomerado globular por uma observação realizada por
Herschel... No caso foi descoberto por Maraldi II em 7 de setembro1746 , incluído no Catalogo
Messier em 3 de junho de 1764. Herschel o observou em 1783.
Messier o descreve da seguinte
forma: " Nebulosa sem estrelas entre a Cabeça de Pegasus e Equuuleus. É circular e com centro mais brilhante. Sua posição foi determinada em relação a
8 Equulei. Maraldi menciona esta nebula no Memoires de l´Académie 1746..."
Curiosamente Maraldi II descreve a
nébula como uma brilhante e nebulosa estrela composta de pequenas estrelas. Uma
visão muito mais exata do que nos descreve Messier anos mais tarde.
Como a maioria absoluta dos
globulares M 15 é um membro ancião do conselho do universo e possui mais de 12
bilhões de anos. Mas apresenta características que o tornam único . É
possivelmente o mais denso aglomerado globular de nossa galaxia. É um dos 21
globulares de nossa galaxia a ter passado por um processo conhecido como
colapso de núcleo ( existem mais candidatos a terem sido submetidos a este
processo...) e assim apresenta um núcleo central muito pequeno em comparação ao
tamanho do globular como um todo. M 15 se espalha por mais de 175 anos luz e
sua parte mais central se concentra em menos de 2 anos luz. Mais da metade da
massa de M15 se reúne em um raio com menos de 10 anos luz. É duvidoso se
isto ocorre devido as estrelas serem tão concentradas ou se isto é a prova da
existência de um buraco negro em seu núcleo. Foto realizada pelo Hubble parece
desacreditar a existência do mesmo...
Não bastasse tantas peculiaridades M
15 é um dos 4 ( os outras são M22 , Pal 6 , e Ngc 6441) globulares a possuir
entre seus membros uma nebulosa planetária. embora fora do alcance de
Telescópios amadores ( mesmo grandes) Pease 1 habita entre as estrelas de M15 .
Foi levantada a suspeita da existência de mais um NP entre suas estrelas em 1976
por Petterson mas estudos posteriores levaram a sérias duvidas sobre a natureza
deste objeto.
Não bastasse tudo isto M 15 é também
um dos globulares com o maior numero de estrelas variáveis e possuidor de uma
bela coleção de pulsares. Alguns motorizados por estrelas de nêutrons duplas (
PSR 2127+11C). Um prodigo da natureza e um colecionador de raridades cósmicas.
Antes que me esqueça: esta a 33.600 anos luz de nós
Agora vamos a M 2.
Este é bem mais difícil de se
localizar que o anterior. Habitando a apagada constelação de Aquarius. " O
Jarro" é um asterismo que ajudara você a localizar a peça. Procure ao Sul
de Enif ( que é a estrela que marca o nariz de Pegasus) . Com a ajuda de um
atlas estelar tente perceber uma ponta de lança formada pelas estrelas Pi
Aquarii , Zeta Aquarii, Sadachbia e Sadalmelik. O conunto da obra aponta para M
2. Tenha paciência. É importante em quase tudo que faz...
M 2 assim como seu companheiro neste
post é um aglomerado bem denso e não espere resolver estrelas no seu núcleo com
menos de 300 mm de telescópio...
É um desafio para ser observado a
olho nu mas ele vai se revelar com qualquer auxilio óptico. è um interessante
objeto binocular e escanear a região em busca deste com um destes pode ajudar em
muito localiza-lo com telescópios.
Assim como M 15 ele foi descoberto por Maraldi ,
catalogado por Messier e resolvido por Herschel. Uma daquelas coincidências que
nada tem a ver com as leis fundamentais do universo : Maraldi descobriu M2
exatamente 14 anos antes de Messier redescobri-lo de forma independente e
cataloga-lo na noite de 11 de setembro
de 1760...
Messier o descreveu assim:
"Nebulosa
sem estrelas na "cabeça de Aquarius. O centro é brilhante e cercado por
uma nebulosidade circular. Recorda a bela nebulosa que repousa entre o arco e a
cabeça do Sagitário. É claramente visivel com um telescópio de 2 pés. No mesmo paralelo que a Aquarii. " Ele comenta que
Maraldi observou a mesma nebula quando em busca do cometa de 1746.
Penso e não chego a nenhuma
conclusão do porque ele citar M 22 na
descrição e este ser uma entrada tão posterior em seu catalogo... Mesmo porque
reza a lenda que ele somente decidiu-se a realizar um catalogo de nebulosas a não serem observadas depois de
descobrir M 3...
Um pouco mais distante que o
aglomerado anterior este reside a 37.500 anos luz de nós. Se espalha por 175
anos luz e possui cerca de 150.000 membros. classificado como do tipo II na
escala Shapley ele é extremamente denso.
Apesar de não possuir a mesma
riqueza de "estranhezas" de nosso convidado anterior neste post ele
apresenta sua quota de variáveis: 42. Uma de suas características mais notáveis é
apresentar uma excentricidade orbital elevada. Assim ele pode se encontrar a
menos de 30.000 anos do centro galáctico em um momento e a mais de 150.000 em
outro. Momento, em escalas astronômicas, é um período de tempo bastante
longo...
M 2 e M 15 são semelhantes na forma.
Tanto que devido a método de captura utilizado durante a sessão e provavelmente
herdado do cinema-novo eu cheguei a achar que as fotos de um eram do outro. Felizmente venho desenvolvendo o habito de realizar uma rápida visita ao site "astrometry" para descobrir se ha alguma novidade ou estrela curiosa nas
capturas . E assim não misturar alhos com bugalhos.
As fotos são resultado de pouco mais
de uma dezena de frames de cada um dos DSO´s em questão. Todas com 25 segundos
( 3200 ASA)de exposição e realizadas sobre forte poluição luminosa na "Sobreloja da Stonehenge dos Pobres". Acrescentei 5 dark frames e 5 Bias . Nenhum
flat. As fotos foram empilhadas no Deep
Sky Stacker e posteriormente visitaram o Fitswork onde tiveram seu gradiente
reduzido e alguns outros processos básicos foram aplicados. As imagens apresentam
mais detalhes do que você deve esperar ver junto a
ocular . Utilizei o Newton na captura e na observação ( Um refletor de 150
mm f8). Creio ser o mais perto que se
pode chegar ao lema "Uma ideia na
cabeça e uma câmera na mão" quando se trata de astrofotografia.
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