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quinta-feira, 5 de novembro de 2015

M15 e M2 : Cinema-Novo e Astrofotografia

         
         Estive o inicio da primavera afastado da astronomia. Me vi envolvido com a busca pelo vil metal e acabei engajado em um projeto cinematográfico de caráter altamente experimental dirigido por um antigo diretor cuja a história inicia-se  nos tempos do Cinema Novo.  Não bastasse que o texto e as ideias  remontassem loucuras que,  embora não fossem glauberianas, eram da mesma estirpe. O projeto ainda apresentava dois fotógrafos nem tão experientes quanto nosso "herr director" e nem tão de acordo um com outro  . A Primavera tornou-se uma estação do ano que se passava dentro de um cenário maior que o estúdio que o continha e com três sóis iluminando o mesmo apartamento.

            Geralmente quando as coisas ficam neste pé eu começo a beber e fumar demais e o casamento começa a azedar. Ao terminar nosso projeto eu me sentia pronto para passar alguns dias pendurados em um cabide.
            Mas me lembrei que astrofotografia é sempre a melhor diversão e que depois de três sóis fotografar dois aglomerados globulares que não conhecia seriam uma boa ideia para voltar a realidade . E assim parti atrás de M 2 e de M 15.
            Depois de tantas aventuras  a la " nouvelle vague" continuidade tornou-se  uma palavra sem sentido . Resolvi que vou apresentar os dois na ordem inversa da sua entrada no catalogo Messier.

                M 15 é conhecido como o "Grande Aglomerado de Pegasus". Visualmente é como um gêmeo de M 2. O termo "grande" no título demonstra claramente como  os habitantes de latitudes boreais mais elevadas são inustiçados em matéria de aglomerados globulares.
            Apesar de sofrer quando comparado com maravilhas como Omega Centauro , Tuc 47, M22 e outros aglomerados visíveis mais ao sul da terceira rocha a partir do Sol M 15 é cheio de surpresas e atrações cosmológicas. Uma das grandes atrações do horizonte norte no Rio de Janeiro durante a primavera.


Esta foto teve u tratamento diferente da de cima. é a primeira vez que utilizo o fitswork para empilhar as fotos . Na foto superior o empilhamento foi realizado no Deep Sky Stacker. O  fits oferece muito mais possibilidades para o pós processamento . Mas ainda prefiro o DSS para realizar o empilhamento e alinhamento inicial.



            Ele é um dos seis globulares visíveis a olho nu a partir de latitudes boreais mais elevadas , ainda que necessitando de condições excelentes para este feito.  ( os outros são M2, M 3 ,M 5 ,M 13 e M 92)  .
            M 15 é facilmente localizado a partir do "Grande Quadrado" que forma o corpo de Pegasus. A partir deste siga para as estrelas que formam o pescoço e a cabeça do mitológico cavalo e estendendo-se a linha que liga Biham a Enif mais 4o você chegará ao aglomerado. Uma pequena estrela de 6a magnitude habita a oeste de M 15 e juntamente com este simula uma estrela dupla. mesmo pela buscadora você perceberá que uma delas é uma impostora... Esta é M 15.
            M 15 nos conta uma história comum as entradas do Catalogo Messier . Este DSO foi primeiro observado anteriormente por alguém , catalogado posteriormente por Messier e foi resolvido e determinado como um aglomerado globular  por uma observação realizada por Herschel... No caso foi descoberto por Maraldi II em  7 de setembro1746 , incluído no Catalogo Messier em 3 de junho de 1764. Herschel o observou em 1783.
            Messier o descreve da seguinte forma: " Nebulosa sem estrelas entre a Cabeça de Pegasus e Equuuleus. É circular e com centro mais brilhante. Sua posição foi determinada em relação a 8 Equulei. Maraldi menciona esta nebula no Memoires de l´Académie 1746..."
            Curiosamente Maraldi II descreve a nébula como uma brilhante e nebulosa estrela composta de pequenas estrelas. Uma visão muito mais exata do que nos descreve Messier anos mais tarde.
            Como a maioria absoluta dos globulares M 15 é um membro ancião do conselho do universo e possui mais de 12 bilhões de anos. Mas apresenta características que o tornam único . É possivelmente o mais denso aglomerado globular de nossa galaxia. É um dos 21 globulares de nossa galaxia a ter passado por um processo conhecido como colapso de núcleo ( existem mais candidatos a terem sido submetidos a este processo...) e assim apresenta um núcleo central muito pequeno em comparação ao tamanho do globular como um todo. M 15 se espalha por mais de 175 anos luz e sua parte mais central se concentra em menos de 2 anos luz. Mais da metade da massa de M15 se reúne  em um raio com menos de 10 anos luz. É duvidoso se isto ocorre devido as estrelas serem tão concentradas ou se isto é a prova da existência de um buraco negro em seu núcleo. Foto realizada pelo Hubble parece desacreditar a existência do mesmo...
            Não bastasse tantas peculiaridades M 15 é um dos 4 ( os outras são M22 , Pal 6 , e Ngc 6441) globulares a possuir entre seus membros uma nebulosa planetária. embora fora do alcance de Telescópios amadores ( mesmo grandes) Pease 1 habita entre as estrelas de M15 . Foi levantada a suspeita da existência de mais um NP entre suas estrelas em 1976 por Petterson mas estudos posteriores levaram a sérias duvidas sobre a natureza deste  objeto.  
            Não bastasse tudo isto M 15 é também um dos globulares com o maior numero de estrelas variáveis e possuidor de uma bela coleção de pulsares. Alguns motorizados por estrelas de nêutrons duplas ( PSR 2127+11C). Um prodigo da natureza e um colecionador de raridades cósmicas. Antes que me esqueça: esta a 33.600 anos luz de nós

            Agora vamos a M 2.
            Este é bem mais difícil de se localizar que o anterior. Habitando a apagada constelação de Aquarius. " O Jarro" é um asterismo que ajudara você a localizar a peça. Procure ao Sul de Enif ( que é a estrela que marca o nariz de Pegasus) . Com a ajuda de um atlas estelar tente perceber uma ponta de lança formada pelas estrelas Pi Aquarii , Zeta Aquarii, Sadachbia e Sadalmelik. O conunto da obra aponta para M 2. Tenha paciência. É importante em quase tudo que faz...

            M 2 assim como seu companheiro neste post é um aglomerado bem denso e não espere resolver estrelas no seu núcleo com menos de 300 mm de telescópio...
            É um desafio para ser observado a olho nu mas ele vai se revelar com qualquer auxilio óptico. è um interessante objeto binocular e escanear a região em busca deste com um destes pode ajudar em muito localiza-lo com telescópios.
            Assim  como M 15 ele foi descoberto por Maraldi , catalogado por Messier e resolvido por Herschel. Uma daquelas coincidências que nada tem a ver com as leis fundamentais do universo : Maraldi descobriu M2 exatamente 14 anos antes de Messier redescobri-lo de forma independente e cataloga-lo na noite de  11 de setembro de 1760...
            Messier o descreveu assim:
"Nebulosa sem estrelas na "cabeça de Aquarius. O centro é brilhante e cercado por uma nebulosidade circular. Recorda a bela nebulosa que repousa entre o arco e a cabeça do Sagitário. É claramente visivel com um  telescópio de 2 pés. No mesmo paralelo que a Aquarii. " Ele comenta que Maraldi observou a mesma nebula quando em busca do cometa de 1746.
            Penso e não chego a nenhuma conclusão do  porque ele citar M 22 na descrição e este ser uma entrada tão posterior em seu catalogo... Mesmo porque reza a lenda que ele somente decidiu-se a realizar um catalogo de nebulosas a não serem observadas depois de descobrir M 3...
            Um pouco mais distante que o aglomerado anterior este reside a 37.500 anos luz de nós. Se espalha por 175 anos luz e possui cerca de 150.000 membros. classificado como do tipo II na escala Shapley ele é extremamente denso.
            Apesar de não possuir a mesma riqueza de "estranhezas" de nosso convidado anterior neste post ele apresenta sua quota de variáveis: 42.  Uma de suas características mais notáveis é apresentar uma excentricidade orbital elevada. Assim ele pode se encontrar a menos de 30.000 anos do centro galáctico em um momento e a mais de 150.000 em outro. Momento, em escalas astronômicas, é um período de tempo bastante longo...
            M 2 e M 15 são semelhantes na forma. Tanto que devido a método de captura utilizado durante a sessão e provavelmente herdado do cinema-novo eu cheguei a achar que as fotos de um eram do outro. Felizmente venho desenvolvendo o habito de realizar uma rápida visita ao site  "astrometry" para descobrir se ha alguma novidade ou estrela curiosa nas capturas . E assim não misturar alhos com bugalhos.

            As fotos são resultado de pouco mais de uma dezena de frames de cada um dos DSO´s em questão. Todas com 25 segundos ( 3200 ASA)de exposição e realizadas sobre forte poluição luminosa na "Sobreloja da Stonehenge dos Pobres". Acrescentei 5 dark frames e 5 Bias . Nenhum flat.  As fotos foram empilhadas no Deep Sky Stacker e posteriormente visitaram o Fitswork onde tiveram seu gradiente reduzido e alguns outros processos básicos foram aplicados. As imagens apresentam mais detalhes do que você deve esperar ver junto a  ocular . Utilizei o Newton na captura e na observação ( Um refletor de 150 mm f8).  Creio ser o mais perto que se pode chegar ao lema  "Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão" quando se trata de astrofotografia. 
            

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