A foto que abre o post é resultado do stacking de cerca de 10 exposições de 30 seg. com ISO 1600. O Newton ( Refletor 150 mm f8) montado na Mdle. Herschel ( Montagem equatorial HEQ 5pro) . Camera Canon T3. Foi utilizado o DSS (Deep sky Stacker) para empilhar as fotos e posteriormente a foto foi "esticada" no PixInSight 1.8. Foram utilizados uns poucos dark frames. Nem Flat nem Bias....
Finalmente
tendo reparado o esquecimento vamos ao que interessa: M80
M
80 habita Escorpião. Certamente é a mais desafiadora entrada do Catalogo
Messier em suas franjas. Não chega a ser um grande feito. Todas as outras
entradas do Catalogo do caçador de cometas na constelação são muito fáceis
e perceptíveis a olho nu mesmo de locais nem tão escuros. Trata-se de um
globular pequeno e extremamente denso. Shapley II. O Mais denso dos Globulares
do tão famoso catalogo de impostores cometários. Na verdade, é um exemplo didático destes. Com pequenos
aumentos é um exemplar perfeito de um “cometa paraguaio”. Messier iniciou seu
trabalho buscando relacionar DSO´s que pudessem confundir astrônomos na sua caça
por cometas. Era essa a moda na época. As pequenas e grandes nebulosas que
encontravam pelo caminho não eram tão dignas de nota. Ele organizou um catalogo
de objetos a não serem procurados...
M
80 é um clássico globular do halo interno. Com uma orbita pequena e nunca se
afastando muito do downtown galáctico. Sua orbita completa ao centro da Via Láctea
não demora mais que modestos 70 milhões de anos. O nosso sol realiza seu
percurso (um ano galáctico) em 225 milhões de anos. Mesmo com tal diferença de
velocidade o sol teria meros 25 anos (aproximadamente) e M 80 será um Matusalém
cósmico com cerca de 200 anos. Globulares
e suas estrelas são algumas das coisas mais velhas que se pode observar...
Ngc
6093, o outro eu de M 80, é um aglomerado relativamente pobre em metais e isto
atesta sua idade.
Localizado
a pouco mais de 4o NO de Antares (Alpha Scorpio) M 80 tem a
paternidade disputada. Messier e Méchain eram um misto de colaboradores e
concorrentes. Apesar de algumas fontes falarem o contrário tudo indica que M 80
é um Messier original. Ele teria chegado até o mesmo 3 semanas antes de Méchain
no amanhecer de 4 de janeiro de 1781.
Ele nos lega este registro: “[4
de janeiro 1781] nebulosa sem estrelas em Escorpião. Entre as estrelas g (atualmente
Rho Ophiuchi) e d . foi comparada a g
para ter sua posição determinada. Essa nebulosa é circular, o centro é
brilhante e recorda o núcleo de um pequeno cometa circundado por nebulosidade. M. Méchain o Observou em 27 de janeiro de
1781”.
Em
minhas pesquisas acabei por esbarrar em no que pode ser um antigo erro tipográfico
ou um deslize de uma de minhas astrônomas favoritas. Mary Proctor, em seu adorável
Evening with the Stars ( 1924) , alega que M 80 teria sido descoberto por
Herschel em 1781 ( pag. 98). É um mal-entendido evidentemente. Herschel é o
primeiro e resolver o Globular em estrelas e este é um objeto que o fascina e
que é significativo para a cosmologia que este “cria”. Ele fala: “A mais rica e
condensada massa de estrelas que o firmamento oferece a contemplação para os astrônomos.”. devido a M 80 se encontrar junto a uma região
com muita poeira e de varias nebulosas escuras Herschel passa a acreditar que
ele teria capturado toda matéria e estrelas na região deixando aquele vazio no
espaço a seu redor. O “Loch on Himmel “. Herschel inclusive apresenta um artigo
no Philosophical Transactions de 1785 chamado “Uma abertura no Céus” (An opening
in the Havens) relacionando o globular e a região escura...
A
seguir Smith (grande fã de Herschel) o apresenta no que pode ser considerado o
primeiro guia observacional da história (A Cycle of Celestial Objects- The Bedford
Catalogue): “Um comprimido aglomerado globular de estrelas diminutas no pé
direito de Ophiuchus, que é as costas do Escorpião. Este belo e brilhante
objeto foi registrado por Messier em 1780 (outro equivoco histórico) que o descreveu
como lembrando o núcleo de um cometa, que de fato de seu brilhante centro para
suas bordas atenuadas possui um aspecto cometário.” Smith também nos fala da importância do
objeto para o entendimento da dinâmica dos céus e apresenta as ideias de Herschel.
M
80 é um dos poucos s e foi o primeiro globular a ter uma Nova registrada. T
Scorpii. Esta é já registrada no que veio a ser o segundo guia observacional da
História. Web em seu celestial Objects for Common Telescopes nos diz que “...
quase central, ou mais provavelmente entre o aglomerado e nós está a estranha variável
T que em 1860, entre 18 de maio e 21 brilhou com sétima magnitude ofuscando o
globular inteiro, e já havia se extinguido quase completamente em 16 de junho.
Nunca reapareceu.”
Web
parece ter se equivocado e hoje é aceito que T Scorppi seria um membro do
aglomerado. A explosão foi provavelmente fruto de uma colisão estelar. Devido a
sua densidade tais eventos parecem ser relativamente comuns em M 80.
A
nova foi primeiro percebida por Auwers. Agnes Clerk também, dá um relato bem
completo dos acontecimentos. Burnham, em seu Celestial Handbook, nos apresenta
os estudos de J.G Hill e C.A. Day (1976) realizados na Universidade de
Michigan. Em um aglomerado contendo um milhão de estrelas cerca de 335 colisões devem ter ocorrido ao
longo de 12 bilhões de anos. Em um
globular denso como M 80 este evento pode acontecer 2700 vezes.
M
80 possui cerca de 1 milhão de estrelas e a massa de 400.000 sóis. Sua distância
parece ser alvo de controvérsia. O meara nos diz 27.000 anos luz. Já Stoyan
fala em 48.260. A pagina da SEDS aposta
em 32.600. Parece que a maior parte das
fontes que visitei parece concordar com a SEDS.
O
Hubble localizou 305 “Blue Stragglers” no aglomerado (são estrelas em uma fase
evolutiva anterior a que deveriam ter dada a idade do aglomerado.) Parecem corroborar
a colisões calculadas pelo time de Michigan.
Localizar
M 80 não chega a ser difícil. Repousando aproximadamente no meio da reta que
liga Alpha e Beta Scorpii ( Antares e Acrab (ou Graffias) uma busca atenta com uma buscadora 8X50 vai revelar
sua natureza para o observador atento.
M
80 é um objeto interessante. Com pequenos telescópios ela vai ser exatamente o
que Messier viu. A conforme for aumentando o poder de fogo vai ir cada vez mais
se assemelhando a visão de Herschel.
A região no seu entorno é maravilhosa e M
80 habita um dos campos mais interessantes da Via Láctea.
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