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quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Meissa , Collinder 69, Um Livro Antigo, Mansões Lunares e outras Heresias

    


               Meissa (Lambda Orionis) é uma das estrelas mais apagadas (3,5 mag.) a possuir um nome próprio. Além disso é uma estrela dupla facilmente separável com pequenos instrumentos. Uma Lente de 300 mm realizou a tarefa. Sua componente principal é uma estrela do tipo O (O8) que “queima” a impressionantes 35.000 k. Sua secundaria embora mais apagada é também um monstro. Uma estrela do tipo B (B0) que queima a “modestos” 27.000 k.

                Não bastasse isso ela é ainda a principal luminária do aglomerado aberto de Lambda Orionis ou Collinder 69. Um jovem aglomerado aberto com aproximadamente 5 milhões de anos. Embora não registrado na foto o conjunto é ainda englobado pelo chamado Anel de Lambda Orionis. Um remanescente de uma supernova que ocorreu há pouco mais de 1 milhão de anos.



                Em noites nubladas eu gosto muito de fotografar estrelas. Nada de DSO´s. Afinal já sei que o tempo necessário de exposição será maior que os buracos entres as nuvens. Então Meissa se tornou um alvo Irresistível. Registrar a Cabeça do caçador e, de quebra, capturar um aberto pouco comentado. Um daqueles para o “Projeto Tudo que Existe”. Mais até que isso já que o Projeto pretende “apenas” registrar o New General Catalog. Ou a parte acessível deste a habitantes próximos a trópico de Capricórnio.

                Na pesquisa sobre Meissa fui obrigado a encarar um dos livros que mais respeito e um daqueles que fazem os livros do Mourão parecerem um filme de ação. The Stars names and Their Meanings , do Hinckley. Escrito em 1899 o seu inglês é cheio de arabescos. E sendo um livro sério suas pesquisas começam antes da Babilônia e quando ele chega no Phenomena de Aratus (uns 1000 anos antes de cristo) a pesquisa já vai alongada. Não bastasse isso ele, um purista, preserva a grafia original do grego em muitas de suas páginas. Bem com acredita que todos os leitores dominem o Latim.  Mas adoro que ele inicia o primeiro capítulo com uma citação de “Os Lusíadas” que tece a respeito do Zodíaco solar. Já falei nisto por aqui em algum lugar.

                Desta forma me vejo obrigado a pular o que o nobre colega fala sobre a constelação de Orion. É lindo, mas creio que a grande maioria iria desistir antes de chegarmos até a Meissa e seu Aglomerado particular.

                Pulando direto para Meissa ele nos conta primeiro que seus componentes apresentam as cores de Branco Pálido e Violeta . conta também que Firuzabadi ( em algum local há muito tempo atrás no tempo-espaço) identificou esta estrela como Alhena. Mas que essa é Gama Geminorum ( em Gêmeos como podemos notar...). Pior que isso a identifica como o antigo nome de Alhena que antes de ser traduzido do Arabe era Al Maisãn ( foi a primeira vez que vi o ~ ser utilizado em um livro em inglês na vida. Deve ter dado muito trabalho para uma gráfica em 1899) .Hinckel continua sua saga astronômico linguística e ficamos sabendo que devido a esse erro chegamos a Meissa. E que este foi o nome que pegou.





                Segundo nosso precioso autor o nome original da estrela vem do Árabe Al Hak´há, “O Ponto Branco” ou a “Região Branca” (The White Spot). Isso devido a luz adicional de Phi Orionis 1 e 2. A natureza nebulosa do conjunto foi registrada por diversos autores antigos. Cortando em miúdos um enorme rocambole podemos dizer que de seu nome Original surge ainda outro nome, Heka, e que ambos se referem a mansão Lunar árabe que é constituída pelo Conjunto de Lambda , Phi 1 e Phi 2 Orionis (Al Hak´há- A Região Branca.)  Nos primórdios da astrologia a região era considerada um mau presságio para relações humanas. Não sei a razão. Mas parece que a reunião de três estrelas muito próximas e de caráter nebuloso parece ser um mau presságio em várias antigas civilizações.

                Como estamos em uma maratona linguístico astronômica não poderia deixar de contar que os chineses chamam o mesmo conjunto de estrelas de “O Bico da tartaruga”.

                O asterismo (e não o aglomerado) é cantado ainda na região do Eufrates como mansão Lunar, Mas-tab-ba-tur-tur, os Pequenos Gêmeos.  E em conjunto com Betelgeuse (Alpha Orionis) e Bellatrix era chamado de Kakkab Sar, a constelação do Rei para os babilônios.

                Mansões lunares são associadas a zodíacos Lunares. Embora relacionadas com astrologia não são só isso. Então cuidado com preconceitos. Na verdade, o segundo capítulo do livro do Hinckley aborda os Zodíacos Lunares. O livro é de domínio publico e você obterá uma cópia em PDF facilmente.  Procure por “Star Names and their Meanings”.  Falei a respeito disso aqui.

                Já em tempos mais modernos (entre os gregos) a região acabou virando a cabeça de Orion.

                Collinder 69 é o nome de guerra do Aglomerado de lambda Centauro. è um aglomerado aberto com características bem interessantes. assim como Meissa se encontra a 1100 anos luz da terra. Com menos de 5 milhões de anos possui ainda diversas estrelas assentando na sequencia principal (T- Tauri)e muitas estrelas de baixa massa registradas. Bem com anãs marrons. Uma notável é LOri  167. Esta um largo sistema binário que consiste de uma anã marrom e um objeto com massa potencialmente planetária. 

                Agora em tempos já atuais vale ressaltar que a região é maravilhosa para ser explorada por qualquer tipo de aparelho ótico e separar os dois componentes de Meissa é algo relativamente fácil. Difícil dizer qual o menor poder de fogo que realizará a tarefa...  E Collinder 69 é um charmoso aglomerado. E por fim, creio, que registrar a anel de Lambda Orionis deva ser um exercício astro fotográfico para gente grande. A foto apresentada é um empilhamento de 6 exposições de 45 segundos sem maiores tratamentos. 

    Para encerrar este longo caminho astro etimológico eu pensei que Meissa e Melissa ( um nome bastante comum) poderiam ter alguma relação. Novamente aprendi que nem tudo é o que parece ser. Meissa , como vimos , vem do arabe Al Maisan. O significado literal é " A Iluminada". Logo conclui , erroneamente , que o nome Melissa seria a forma atual de chamar sua filha de " A Iluminada". Para delírio dos fãs dos filmes de terror. Mas não. Melissa nada tem a ver com Meissa. Melissa tem origem no grego Melissa . Originário de Melissa( incrível...). Chegou até nós do latim Melissa ( surpreendente...) e significa literalmente "Abelha".

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