A constelação de Órion domina o céu de nosso verão austral. Carrega sobre seus ombros as brilhantes Betelgeuse e Bellatrix . Com as três Marias ( Alnitak , Alnilam e Mintaka) marcando o cinturão do caçador e com Rigel e Saiph para o sustentar como suas pernas é um das primeiras constelações que o astrônomo amador vai conhecer.
Com
pouco esforço o amador vai perceber a
espada de Órion dependurada em seu cinturão.
Quando
se olha para esta peça a maioria vai concordar
que a espada é representada por uma linha de três estrelas facilmente percebidas
a olho nu. Sem muito esforço percebe-se que a estrela central se apresenta
"esfumaçada". Theta Orionis é
esta estrela e o esfumaçamento é M 42 . A Grande nebulosa de Órion. Poucas visões causam maior excitação ao
astrônomo noviço que perceber a olho nu a mais famosa das nebulosas. E esta só aumenta com o auxilio de qualquer
equipamento óptico que começa a revelar ainda mais detalhes desta grandiosa
paisagem. M 43 rapidamente se junta ao conjunto. E este acaba por roubar a cena de uma das
regiões mais belas do céus. A região é lotada de outras nebulosas e
aglomerados que acabem sendo engolidos por M 42. Mas a espada de Órion
apresenta varias outras histórias que merecem ser contadas .
Logo
de cara é importante notar que a estrela mais ao norte da espada de Órion não é
só uma estrela ( assim como a estrela central que já falamos...) .
Trata-se de Ngc 1981. Um aglomerado
aberto . Este agrupamento frouxo de 20 ou mais estrelas cobre uma área comparável a uma lua cheia.
Com o uso de Binóculos se resolvem cerca de uma dezena de estrelas. Nela se
abrigam duas belas estrelas duplas que são as mais brilhantes do pacote.
Struve 750 e Struve 743. Belas duplas
binoculares. Smyth em seu "Cycle of
celestial Objects" destaca que Struve 743 é um belo desafio para pequenos
telescópios e que requer um bom seeing para serem separadas.
Ngc 1981 foi identificada como uma entidade
individual pela primeira vez por John Herschel em 1827. Ele a
descreve assim: " Aglomerado bem
brilhante , circular mas levemente irregular, estrelas (brilhantes) dispersas".
Esta
localizada a 1.300 aos luz de nós. Faz parte do cinturão de Gould e possui uma idade de aproximadamente 5 milhões de
anos . Um belo trabalho a respeito de Ngc 1981 foi realizado por pesquisadores brasileiros . ( http://arxiv.org/pdf/1005.3047.pdf ).
Agora
no extremo sul surge a estrela mais
brilhante da espada. Iota Orionis. E junto com ela uma daquelas confusões que
merecem algum esclarecimento. Ngc 1980 é uma nebulosa associada a Iota Orionis mas que a maior parte dos
astrônomos ignora e que acaba se confundindo com M 42 propriamente dita. Mas ele possui sua
história própria.
Ela
nasce em 31 de janeiro de 1786 quando William Herschel escreveu: " Iota Orionis e suas estrelas vizinhas
são envoltas em uma nebulosidade leitosa extremamente tenue de grande
extensão." Ele catalogou esta nebulosidade como o 31o
objeto de sua classe V ( nebulosas extremamente grandes) .
Qualquer
um que observe Ngc 1980 vai perceber que ele esta envolta por um loop que se
lança de M 42. Não só isto . Ngc 1980 é também um belo aglomerado aberto
liderado por Iota Orionis ( esta uma tripla...) fazendo deste um objeto bem
complexo . Como Herschel fala em estrelas envolvidas na nebulosidade também é atribuída a ele a descoberta do
aglomerado associado a nebulosidade hoje
conhecido como Ngc 1980. A fim de colocar mais lenha na fogueira hoje em dia ha
quem chame o aglomerado de Collinder 72 e a nebulosidade apenas de Ngc
1980. É importante lembrar que tudo isto
faz parte da grande nuvem molecular de Órion que tem em seu coração M 42.
Agora
de volta a o meio da bagunça visitaremos o que é conhecido como o complexo de Ngc
1977. Esta nebulosa hoje dia conhecida como "The Running Man Nebula" esta a 1500 anos luz daqui e foi observada por
William Herschel em 30 de Janeiro de 1786 que a descreveu da seguinte forma:
" A 1a e 2a c Orionis e as estrelas a sua volta são
envoltas em uma nebulosidade extremamente tênue e de brilho pouco
homogêneo."
Ngc
1977 é uma nebulosa de emissão e de reflexão das mais brilhantes e uma das
maiores provas da capacidade de M 42 roubar o show. É incrível que esta só tenha
sido registrada como um ente independente já no fim do seculo XVIII. E novamente a nebulosidade tem estrelas
envolvidas. Mas neste caso as estrelas são muito espalhadas para que se suponha
que Herschel e seus modestos 15´ de campo de visão esteja se referindo a elas.
E assim embora alguns considerem o aglomerado e a nebulosidade como Ngc 1977 a
maioria dos livros , atlas e programas
planetarios loteiam o "Complexo Ngc
1977" em Ngc 1977 , Ngc 1975 e Ngc
1973. Tudo em volta de 42 e 45 Orionis...
Depois
de fazer este reconhecimento da espada visite Orion e percorra toda Grande Nuvem
Molecular que engloba tanto M 42 e 43 , os convidados acima
apresentados e mais M 78 , a Nebulosa da Chama , a Cabeça de Cavalo e diversos abertos no grande
complexo OB de Órion.
256 exp X 30 Seg -Canon T3- zoom 75 -300 mm @ 75 mm f 5.6 HEQ 5 pro. |
Orion
além de ser uma constelação dominante é uma das áreas mais dinâmicas nos nossos
arredores galácticos . Um curso completo de astronomia em uma unica
constelação.
Sensacional texto!!! Que aula!!! =D
ResponderExcluirCéus limpos!!