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sexta-feira, 3 de maio de 2019

Um Plano de Ataque para as Galáxias de Virgem


            
          

            O Aglomerado de Virgem sempre foi uma pedra no meu sapato. Uma região repleta de galáxias e que sempre se recusara a colaborar com minha causa. Diversas vezes investi contra o aglomerado e até mesmo batalhas me foram negadas. Inicialmente poucas vezes me deparei com alguns esfuminhos aqui e ali e geralmente obtive registros fotográficos bem medíocres.
                Com o tempo aprendi que O aglomerado é um local onde as nebulosas ainda existem para o observador amador. A menos que você possua um telescópio muito grande e um céu muito escuro as galáxias do aglomerado serão apenas isso mesmo. Nebulosas. Todos esfuminhos com nenhuma ou pouca forma e sem nenhum detalhe mais evidente. As belas galáxias “face on” serão pouco mais que núcleos com alguma nebulosidade ao redor... Esqueça perceber belos braços espirais. Em geral estas são como globulares que não se resolvem com um núcleo mais brilhante. Algumas mais arredondadas e outras mais ovaladas. Galáxias lenticulares são um pouco mais amigáveis...  Para o amador com instrumentos modestos existem poucas galáxias que apresentam um nível de detalhamento digno de nota. 
                Assim como para os pioneiros Messier e Méchain as galáxias em Virgo serão, quase todas, “nebulosas sem estrelas que desaparecem com a presença da menor iluminação no reticulo.”  Esta descrição se repete inumeráveis vezes a longo do catálogo Messier.  Mesmo Herschel não melhora muito as coisas embora descubra mais e mais tênues nebulosas na região e em todo céu. Somente com Rosse e seu monstruoso telescópio que as galáxias da região irão apresentar suas estrutura de forma mais detalhada e as “nebulosas espirais” vão iniciar seu longo trajeto até o Grande Debate  entre Curtis e Shapley já em 1920. (http://www.nasonline.org/about-nas/history/archives/milestones-in-NAS-history/the-great-debate-of-1920.html ) .
Se você gosta de Objetos de Céu Profundo vai chegar um momento que a maior parte das coisas que lhe restam buscar são galáxias. Para ter uma ideia dos 114 primeiros objetos no New General Catalog 112 são galáxias. Então é bom ir se acostumando a caçar por objetos bastante discretos juntos a ocular... Ou ficar repetindo para sempre os mesmo DSO´s... 
Em Virgo residem algumas das mais brilhantes e chamativas destas. É o superaglomerado mais próximo e em quase qualquer lugar que seu telescópio pouse nas imediações existirão galáxias. Se você vai vê-las ou não é uma questão apenas de qual é seu equipamento, a poluição luminosa na local da observação, sua acuidade visual e sua experiencia.  A paciência e a insistência serão fatores fundamentais também. A primeira vez que ataquei o aglomerado achei que meu telescópio tinha algum problema. Na verdade, eu é que não sabia pelo que procurar. Com aparelhos modestos você procura por estrela muito tênues que depois de algum esforço e muita “averted vision” se revelam mais que isto. Elas estão lá e são muitas.   Reza a Lenda que mais de 2000. Outros ainda incluem a próprio grupo local onde habitamos como um subúrbio do Aglomerado.  O downtown esta a cerca de 60.000.000 de anos luz.   

Outra coisa fundamental quando caça por galáxias é ter feito o dever de casa. Um mapa preciso será fundamental para sua navegação por Virgo.  Você estará, muitas vezes, tendo de pular de um esfuminho tênue para outro mais tênue ainda. E qualquer esfuminho mais obvio é bom que você saiba qual é. Serão os faróis nesse arrecife traiçoeiro e nebuloso...  Outro truque útil é descobrir qual o brilho de superfície das galáxias que você está a procura e das que estão no caminho. Galáxias com brilho de superfície abaixo de 13 são “fáceis”. Na casa dos 13 serão visíveis sem anos de prática de yoga em céus muito escuros e acima de 14 serão mais um exercício da imaginação que da visão... Mesmo com Go-to as coisas não são tão fáceis quanto podem parecer. São muitas galáxias muito próximas e a precisão destes (bem... pelo menos do meu) é insuficiente quando a chapa esquenta e um desvio de poucos minutos pode te levar para o esfuminho errado ou a esfuminho nenhum...  Outro detalhe importante é como a galáxia se apresenta para nós. Quanto mais de lado mais fácil. Quando ela está de frente (como se víssemos ela de cima ou de baixo) com os braços todos a amostra costuma ser difícil...
O primeiro guia observacional que comprei chama-se “Turn Left at Orion”. Neste que é certamente o primeiro guia que você deve possuir, são abordadas poucas galáxias e o Aglomerado de Virgo propriamente dito é apenas um entorno. E M 65, M 66, M 51 e o par M 82 e M 81 são certamente os alvos mais difíceis do livro.  E algumas das mais generosas galáxias a se visitar...
Meu Star Watch foi companheiro de muitas observações. Guia observacional tem quem ser assim. Sofrido e usado. Fiquei com preguiça de achar o Sky atlas 2000. Tá em melhores condições . 

Já no segundo guia que comprei, “Star Watch” de Philip S. Harrington ( que durante anos escreveu a coluna Binocular Universe na Astronomy  Magazine  e que atualmente pilota a mesma no site Cloudy Nights) o aglomerado tem uma entrada só dele. Harrington é bem realista e como ele explica    na parte devotada a binóculos “ainda que seja possível ver todas as galáxias que Messier catalogou no Reino ( ele batiza a região de “O reino das Galáxias”) através de binóculos 50 mm ( acho muito pouco provável...) é importante ressaltar que isto não é tarefa para iniciantes. Recomendo fortemente que estes devem polir sua técnica em outros Objetos Messier. E só voltarem aqui quando estes estiverem sido exauridos.” Eu estenderia isto a qualquer iniciante com qualquer coisa menor que um telescópio de 150 ou 200 mm.

Harrington ainda propõe um plano de ataque conjunto ao aglomerado. Em vez de se procurar por objetos em particular você deve procurar por áreas especificas dentro do aglomera. É um bom plano. Já que geralmente existirão várias galáxias em um campo ocular. Ele propõe um ataque partindo de oeste a partir de Denebola (em Leão) e daí achar M 98. Esta um daqueles esfuminhos mais brilhantes e que você deve reconhecer. É um farol. Quase de perfil é mais amigável e apresenta mais detalhes que a média E a partir daí o dever de casa deve estar bem ensaiado.  M 100 é uma habitante ingrata embora famosa (A galáxia do cata-vento) que você vai localizar a partir daí. É um caso clássico de “espiral face on”; Embora fora do Messier Ngc 4216 é sensacional e uma das mais charmosas galaxias na area. Em noites escuras e com bom aumento se percebe seu caráter facilmente.
M 49 com o Newton (refletor 150 mm f8)

Já o ataque saindo de Leste parte de Vendimiamatrix em Virgo. A parir desta localize Rho Virginis. daqui para frente seu ataque é bem confuso e acaba te levando a M 49. Esta uma galáxia fácil e que parece um globular que não se resolve. Bem brilhante e obvia mesmo com visão direta. Mas eu nunca consegui seguir o caminho de tênues estrela que ele propõe. Em geral percebo dois discretos mais evidentes esfuminhos (The RhoTwins. Apelido eu que dei...) próximos a Rho e daí saio seguindo meus instintos e acabo por chegar em M49.  Daí para frente dever de casa e já achei diversas galáxias dignas de nota e visíveis com o Newton.
A Cadeia de Makarian Ponto inicial para o ataque. 

Mas definitivamente o melhor ataque, a meu ver, é calcular a posição de M 86 e 84 com uma buscadora red point e depois de algumas tentativas e erros você vai acabar localizando ambas. Duas galáxias bem brilhante e das mais amigáveis no aglomerado. Você chegou na Cadeia de Markarian e com u dever de casa bem feito vai navegar sem dificuldades até M 88 e M 91 E quase chegar ao final do ataque oeste proposto por Harrington.  



M 88 e M 91

Muito próxima e bem evidente estará o coração do aglomerado e sua maior galáxia M 87. Escaneando a partir deste conjunto você via ver dezenas de pequenas e nem tão pequenas nebulosas. É o filé do aglomerado e a parte mais simpática a possuidores de pequenos telescópios. Mesmo “The Eyes” será visível e merecerão o nome...


Recentemente fiz um ataque fotográfico ao aglomerado utilizando uma Lente 300 mm. E achei que é a melhor maneira de se reconhecer o terreno. Com este feito voltei a carga com o Newton e em uma noite muito especial localizei e observei quase todos os alvos do catálogo Messier visualmente. E descobri várias Ngc que estão altura e que não sei como escaparam a Dupla Messier-Méchain.  E ainda mais muitas das galáxias modestas e apagadas fizeram uma leve aparição nestas retinas já meio gastas. Mas iniciando com minha ocular de 40 mm e com o dever de casa bem feito ( com direito a levantamento fotográfico, O Sky Atlas 2000 aberto , algumas impressões bem ampliadas de mapas feitas a partir do cartes do ciel  e uma lanterna com muita gelatina vermelha na frente) e depois utilizando minha 17 mm ( minha melhor ocular) para ver as coisas maiores consegui extorquir até alguns braços aqui e ali .
A Grande Face 

O aglomerado de Virgem é uma brincadeira de gente grande. Foram quase dez anos para achar que lutei com alguma dignidade na região. Ou que pelo menos não tomei uma surra. Fico pensando se sobreviveria a uma Maratona Messier e se ao sair de Virgo ainda teria folego para o que faltar. É exaustivo e com o desempenho que tive não conseguiria “zerar” o jogo..., Mas definitivamente o ataque certo (pelo menos para mim) é partir da cadeia de Markarian. Dali para frente o Go-to de Mlle. Herschel deve ser usado com cautela. Os “hoops” são bem pequenos e achei mais confiável operar no manual do que no automático...

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