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quarta-feira, 29 de maio de 2019

M 88 : Uma Espiral Fácil em Virgem


            

                  Ainda colocando em ordem as Galáxias de Virgem cheguei a M 88.  Esta bela espiral marca o ponto mais a noroeste da Corrente de Markarian. Como já sabemos de posts anteriores o Superaglomerado de Virgem tem seus subgrupos entre seus membros. A Corrente de Markarian é um dos mais conhecidos e é uma das áreas mais conhecidas do aglomerado. Sua imagem é icônica e quase qualquer amador a reconhece. M 88 é um pouco mais afastada da região central, mas é um membro bonna fide de corrente e seu último elo.
M 88 e M 91

                Ela forma um belo par com M 91 e é a mais dada da dupla. Sob céus escuros seu formato de agulha é facilmente percebido mesmo com visão direta.
                Embora existam fontes nos dizendo que M 88 habita a meros 47 milhões de anos luz é hoje mais aceito que esta se encontre há 57,2 Milhões. Uma supernova do tipo I a foi observada nessa em 29 de maio de 1999 pelo Observatório Lick. Em 12 de junho atingiu sua máxima magnitude, 13,4. Bem acessível para telescópios amadores. Como sabemos supernovas são eficientes velas padrão e permitiram refinar a distância de M 88.
                M 88 foi descoberta por Charles Messier na prolifica noite de 18 de março de 1781. Nesta noite ele descobriu sete outros membros do aglomerado (M 84, M 85, M 86, M 87, M 89, M90 e a durante muito tempo perdida M 91. De lambuja o aglomerado M 92 em Hercules).
                Ele a descreve da seguinte forma: “Nebulosa entre duas estrelas e pequenas e uma estrela de 6a magnitude que aparecem no mesmo campo telescópico que a nebulosa. Sua luminosidade é das mais tênues e recorda aquela reportada em Virgo, no 58 (M 58)”.
                John Herschel a seguir nos diz que é “uma brilhante, muito grande, extremamente extensa e precedida por uma nebulosa dupla.”.

                Não consigo descobrir do que se trata a tal “Nebulosa Dupla”. No mesmo campo, em fotografias, percebe-se claramente IC 3476 e 3478. Mas estas são entradas do Index Catalogue (IC)e certamente não foram percebidas por Herschel. Este foi realizado já em tempos fotográficos. É possível que seu registro se deva a Dreyer embora não exista documentação especifica a respeito além do IC em si.
                Smyth discorre e filosofa longamente durante a sua apresentação de M 88 e nos deixa claro a quantas andava (ou não andava...) o entendimento do que viria a ser o Grande Aglomerado de Coma Virgem. Esse é o atual nome do superaglomerado galáctico mais próximo de nós e que, em última instancia, nós habitamos uma das franjas.  Eu, particularmente, acho o texto bastante confuso e sem sentido. E por isso mesmo bastante representativo...
 “Uma longa nebulosa elíptica, no lado exterior da asa esquerda de Virgem. Sua cor é um branco pálido e se alinha de Noroeste para sudeste; e com as estrelas que a acompanham formam um belo desfile. A Parte inferior ou norte, em um campo invertido (Smyth observava com um Refrator sem diagonal...)  é mais brilhante que a sul, uma circunstância que, com sua figura de fuso de tear, abre um grande campo para conjecturas. Esta é uma maravilhosa região nebulosa, e a matéria difusa ocupa um espaço extenso, no qual vários dos melhores objetos de Messier e Herschel serão facilmente captados pelo observador atento em extraordinária proximidade... Raciocinando sobre o princípio de Herschel, isso pode reverentemente ser assumido como a parte mais fina ou mais rasa de nosso firmamento; e o vasto laboratório do mecanismo de segregação pelo qual a compressão e o isolamento são amadurecidos, no curso de idades não-compreendidas. O tema, por mais imaginativo que seja, é solene e sublime.”
                Herschel foi o maior observador de todos os tempos e seu legado é enorme. Mas, definitivamente, sua cosmologia não deixou nenhum legado significativo. 
                M 88 é uma das mais amigáveis galáxias espirais em Virgo para o amador com modestos equipamentos. Inclinada 30o da nossa linha d visada é vista quase de perfil e apesar de sua magnitude de 9,5 ela apresenta um brilho de superfície na casa de 12,9. E assim abaixo dos “Tristes Trezes”. 
O Brilho de superfície é um indicador muito mais confiável que a magnitude quando falamos de objetos extensos.  E se divide da seguinte forma. Existem os “ Pacatos Onze” onde você vai ver detalhes mesmo com visão direta, os “Desconfiados Doze” onde você vai precisar de visão lateral para perceber algo mais que apenas a existência do objeto , os “Tenebrosos Treze” onde você vai começar a precisar de técnicas milenares de respiração e finalmente os “ assombrados 14” onde só com auxílio mediúnico você talvez perceba algo... São  um paralelo Astronômico para o que as latitudes geográficas significam para os Navegadores em geral e as velejadores em particular. Na terra temos os “ Roaring Forties” a partir de 40o  de latitude ,os “Furious Fifties” já quase na altura do Estreito de Drake e finalmente os “ Screaming Sixties” que no paralelo 60  marca o limite norte do oceano antártico e é a volta ao mundo mais curta que você pode dar sem encontrar terra . Só para esclarecer o círculo polar fica a mais 6,6 graus ao sul...
De volta a galáxia mais ao norte da Corrente de Markarian ela se apresentará como um pequeno fuso esfumaçado em um campo onde você poderá perceber ou não M 91 com um binóculo de 15X70 mm. Ela é mais oferecida que sua companheira e como foi dito uma das mais amigáveis espirais de Virgem. Com o Newton (meu refletor 150 mm f8) em 120 X chego a desconfiar de alguma estrutura espiral, especialmente na parte sul que é a mais apagada. Creio que possa ser uma ilusão, mas devido ao menor brilho as partes escuras se sobressaem mais e dão esse efeito. Nas fotos isso é bem evidente. A presença de estrelas enriquece o quadro. Em 240 X a imagem já se degrada e creio que apenas em noites muito especiais consiga obter algo.

A melhor forma(a meu ver) para se localizar M 88 é partir de M 84 e M 86 e depois de estudarbem o caminho seguir a corrente até lá. Navegar pelo aglomerado é uma tarefa para observadores já com alguma prática. Céus escuros e noites de boa transparência serão de imensa ajuda.

M 88 possui um diâmetro físico de 115. 000 anos luz e com uma massa de 250 bilhões de sóis. É uma galáxia Seyfert do tipo 2linhas de emissão nos 5´´ centrais de M 88 indicam um imenso objeto central com sinais de acreção.  Tudo indica que em meio a esse núcleo galáctico ativo habita um buraco negro com massa de 107,9 sóis.
M 88 foi uma das 14 “Nebulosas Espirais” descobertas por Lorde Ross em 1850. Foi um grande passo entre as ideias de Herschel e a constante de Hubble e a expansão do universo. M 88 e M 31 foram peças fundamentais nesse processo.
Muitos autores comparam M 88 com uma versão miniatura de M 31, a Galáxia de Andromeda. É uma excelente referência e há alguma semelhança.   

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