Ainda colocando em ordem as Galáxias
de Virgem cheguei a M 88. Esta bela espiral
marca o ponto mais a noroeste da Corrente de Markarian. Como já sabemos de
posts anteriores o Superaglomerado de Virgem tem seus subgrupos entre seus membros.
A Corrente de Markarian é um dos mais conhecidos e é uma das áreas mais
conhecidas do aglomerado. Sua imagem é icônica e quase qualquer amador a
reconhece. M 88 é um pouco mais afastada da região central, mas é um membro bonna
fide de corrente e seu último elo.
M 88 e M 91 |
Ela
forma um belo par com M 91 e é a mais dada da dupla. Sob céus escuros seu
formato de agulha é facilmente percebido mesmo com visão direta.
Embora
existam fontes nos dizendo que M 88 habita a meros 47 milhões de anos luz é
hoje mais aceito que esta se encontre há 57,2 Milhões. Uma supernova do tipo I
a foi observada nessa em 29 de maio de 1999 pelo Observatório Lick. Em 12 de
junho atingiu sua máxima magnitude, 13,4. Bem acessível para telescópios
amadores. Como sabemos supernovas são eficientes velas padrão e permitiram
refinar a distância de M 88.
M
88 foi descoberta por Charles Messier na prolifica noite de 18 de março de 1781.
Nesta noite ele descobriu sete outros membros do aglomerado (M 84, M 85, M 86,
M 87, M 89, M90 e a durante muito tempo perdida M 91. De lambuja o aglomerado M
92 em Hercules).
Ele
a descreve da seguinte forma: “Nebulosa entre duas estrelas e pequenas e uma
estrela de 6a magnitude que aparecem no mesmo campo telescópico que
a nebulosa. Sua luminosidade é das mais tênues e recorda aquela reportada em Virgo,
no 58 (M 58)”.
John
Herschel a seguir nos diz que é “uma brilhante, muito grande, extremamente
extensa e precedida por uma nebulosa dupla.”.
Não
consigo descobrir do que se trata a tal “Nebulosa Dupla”. No mesmo campo, em fotografias,
percebe-se claramente IC 3476 e 3478. Mas estas são entradas do Index Catalogue
(IC)e certamente não foram percebidas por Herschel. Este foi realizado já em
tempos fotográficos. É possível que seu registro se deva a Dreyer embora não
exista documentação especifica a respeito além do IC em si.
Smyth
discorre e filosofa longamente durante a sua apresentação de M 88 e nos deixa
claro a quantas andava (ou não andava...) o entendimento do que viria a ser o
Grande Aglomerado de Coma Virgem. Esse é o atual nome do superaglomerado galáctico
mais próximo de nós e que, em última instancia, nós habitamos uma das franjas. Eu, particularmente, acho o texto bastante
confuso e sem sentido. E por isso mesmo bastante representativo...
“Uma longa nebulosa elíptica, no lado exterior
da asa esquerda de Virgem. Sua cor é um branco pálido e se alinha de Noroeste
para sudeste; e com as estrelas que a acompanham formam um belo desfile. A
Parte inferior ou norte, em um campo invertido (Smyth observava com um Refrator
sem diagonal...) é mais brilhante que a sul,
uma circunstância que, com sua figura de fuso de tear, abre um grande campo
para conjecturas. Esta é uma maravilhosa região nebulosa, e a matéria difusa
ocupa um espaço extenso, no qual vários dos melhores objetos de Messier e Herschel
serão facilmente captados pelo observador atento em extraordinária proximidade...
Raciocinando sobre o princípio de Herschel, isso pode reverentemente ser
assumido como a parte mais fina ou mais rasa de nosso firmamento; e o vasto
laboratório do mecanismo de segregação pelo qual a compressão e o isolamento
são amadurecidos, no curso de idades não-compreendidas. O tema, por mais
imaginativo que seja, é solene e sublime.”
Herschel
foi o maior observador de todos os tempos e seu legado é enorme. Mas, definitivamente,
sua cosmologia não deixou nenhum legado significativo.
M
88 é uma das mais amigáveis galáxias espirais em Virgo para o amador com
modestos equipamentos. Inclinada 30o da nossa linha d visada é vista
quase de perfil e apesar de sua magnitude de 9,5 ela apresenta um brilho de superfície
na casa de 12,9. E assim abaixo dos “Tristes Trezes”.
O Brilho de superfície
é um indicador muito mais confiável que a magnitude quando falamos de objetos
extensos. E se divide da seguinte forma.
Existem os “ Pacatos Onze” onde você vai ver detalhes mesmo com visão direta,
os “Desconfiados Doze” onde você vai precisar de visão lateral para perceber
algo mais que apenas a existência do objeto , os “Tenebrosos Treze” onde você vai
começar a precisar de técnicas milenares de respiração e finalmente os “ assombrados
14” onde só com auxílio mediúnico você talvez perceba algo... São um paralelo Astronômico para o que as
latitudes geográficas significam para os Navegadores em geral e as velejadores
em particular. Na terra temos os “ Roaring Forties” a partir de 40o de latitude ,os “Furious Fifties” já quase na
altura do Estreito de Drake e finalmente os “ Screaming Sixties” que no paralelo
60 marca o limite norte do oceano antártico
e é a volta ao mundo mais curta que você pode dar sem encontrar terra . Só para
esclarecer o círculo polar fica a mais 6,6 graus ao sul...
De volta a galáxia
mais ao norte da Corrente de Markarian ela se apresentará como um pequeno fuso
esfumaçado em um campo onde você poderá perceber ou não M 91 com um binóculo de
15X70 mm. Ela é mais oferecida que sua companheira e como foi dito uma das mais
amigáveis espirais de Virgem. Com o Newton (meu refletor 150 mm f8) em 120 X chego
a desconfiar de alguma estrutura espiral, especialmente na parte sul que é a
mais apagada. Creio que possa ser uma ilusão, mas devido ao menor brilho as
partes escuras se sobressaem mais e dão esse efeito. Nas fotos isso é bem
evidente. A presença de estrelas enriquece o quadro. Em 240 X a imagem já se
degrada e creio que apenas em noites muito especiais consiga obter algo.
A melhor forma(a meu ver) para se localizar M 88 é partir de M 84 e M 86 e depois de estudarbem o caminho seguir a corrente até lá. Navegar pelo aglomerado é uma tarefa
para observadores já com alguma prática. Céus escuros e noites de boa
transparência serão de imensa ajuda.
M 88 possui um
diâmetro físico de 115. 000 anos luz e com uma massa de 250 bilhões de sóis. É
uma galáxia Seyfert do tipo 2linhas de emissão nos 5´´ centrais de M 88 indicam
um imenso objeto central com sinais de acreção. Tudo indica que em meio a esse núcleo galáctico
ativo habita um buraco negro com massa de 107,9 sóis.
M 88 foi uma
das 14 “Nebulosas Espirais” descobertas por Lorde Ross em 1850. Foi um grande
passo entre as ideias de Herschel e a constante de Hubble e a expansão do
universo. M 88 e M 31 foram peças fundamentais nesse processo.
Muitos autores
comparam M 88 com uma versão miniatura de M 31, a Galáxia de Andromeda. É uma
excelente referência e há alguma semelhança.
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