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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Canopus e a Convenção de Genebra


                

               Com a lua cheia  e com o canteiro de obras ao pé do "Stonehenge dos Pobres" cada vez maior e mais claro eu tenho tido "dias" bem duros em busca de DSO´s.

            Mas retornando cedo do botequim e com o "Newton" ( um refletor de 150 mm) pedindo para brincar eu calço uma ocular 25 mm e tento localizar a Nebulosa da Tarântula. 

            Não sei se devido a a Lua , o canteiro de obras ou ao botequim eu não acho nada . Nem mesmo Beta Dourado , a estrela que indica o caminho para este alvo inter galáctico, consegui achar.

            Mas em um arroubo astronômico raro minha esposa me pergunta qual é a estrela brilhante que  se apresenta no ainda baixa no horizonte sueste. Olho e rapidamente realizo que é Canopus. Falo um pouco a respeito e a cara metade volta ao  seu habitual desinteresse pelo papo astronômico.

            Como ela ( Canopus)  já enquadrada na buscadora resolvo fazer algumas fotos da mesma. Fotografar estrelas brilhantes é sempre divertido . Não se faz necessário exposições muito longas e com o Newtoniano elas sempre apresentam " Spikes"  interessantes.

            E assim faço varias fotos utilizando diferentes asas e tempos de exposições.

            O alinhamento polar é , no máximo, uma aproximação.

             Como fotografei através de uma tela de proteção existe um efeito semelhante a um prisma que destrói os belos spikes que o Newtoniano realiza nas fotos.

Canopus

            Mas se por um lado este efeito atrapalha as fotos ele  revela cores que me levantam uma suspeita. Será que estrelas diferentes apresentam cores diferentes quando submetidas a este "prisma" de nylon ?

            Um experiência científica presume um certo controle. E aí a porca torce o rabo.

            Mas se  for um "ensaio de experiência"?

            É tudo que posso oferecer aos caros leitores ( pronto perdi os leitores "caxias"...) .

            Então resolvo testar a "hipótese". Coloco o Newton em posição e enquadro Alpha  Centauro. É  uma péssima opção. Trata-se de uma estrela dupla das mais manjadas. Mas sua altura no horizonte garante pelo menos alguma semelhança com a posição de Canopus. Só para constar o seeing estava bem ruim e não a resolvi ( separar as duas estrelas componentes...) nem com uma ocular 5 mm.  Mas mantendo um mínimo de dignidade eu utilizo a mesma asa e o mesmo período de exposição. E  assim o controle.


Alpha Cen


            Acontece que o ângulo entre o telescópio e a tela nunca será idêntico e assim consigo o  efeito de prisma mas o padrão dos mesmos é bem diferente.

            Para melhorar as coisas eu faço fotos respeitando os mesmos parâmetros usando Beta Centaurus . E Consigo padrões mais semelhantes que com Canopus.   


Beta Cen



            Com o auxilio do PhotoShop separo  os "arco iris" obtidos com cada uma das estrelas que foram submetidas ao "Prisma de       Nylon" ( Espero que estas me perdoem...).  E eles são diferentes. 


Da esquerda para direita: Alpha Cen , Canopus e Beta Cen. Percebe se claramente a diferença entre Canopus e Alpha. Em Beta cen ( a foto maior)  não se percebe muita coisa...  


            Lógico que não espero utilizar os resultados para determinar as composições químicas de cada uma das estrelas envolvidas. Afinal creio que o método utilizado seja proibido pela convenção de Genebra. Mas que foi divertido isto foi. E se não foi uma "experiência" foi um bom ensaio...

            A espectrografia é uma das ferramentas mais poderosas para o estudo das estrelas. Augusto Comte , o pai e a mãe do positivismo, certa vez disse que nunca seríamos capazes de determinar do que seriam feitas as estrelas . Graças a espectrografia isso tornou-se  uma afirmação que o autor deve se arrepender...



Comte


            Agora vamos falar a sério.

            E começar pelo começo é sempre um bom começo e assim vamos falar de Canopus.



            Canopus é uma estrela austral por excelência. Antes de se tornar lugar comum  a presença de bussolas em embarcações os pilotos a improvisavam como estrela polar ( desde que ao sul suficiente para vê-la). É a segunda estrela mais brilhante do céu.  

            Uma lenda que passeia por aí e que não achei nenhuma confirmação diz que Canopus já foi a estrela mais brilhante nos céus terrestres em três diferentes épocas ao longo dos quatro últimos milhões de anos. Outras estrelas aparecem como mais brilhantes durante relativamente curtos períodos de tempo durante os quias elas aproximam-se o suficiente para desbancar a grande dama. Há cerca de 90.000 anos Sirius se aproximou o suficiente para isto e pretende permanecer assim pelos próximos 210.000 anos. Mas em 480.000 anos Canopus voltará ao seu posto e permanecerá lá por 510.000 anos. A história é bastante suspeita mas é interessante suficiente para ser contada. Mesmo a Wikipédia avisa que isto é duvidoso. E minha velha Brittanica ( que ocupa toda a estante de meu corredor) não fala nada a respeito...

            De qualquer forma Canopus é a estrela intrinsecamente mais brilhante em um raio de 700 anos luz da Terra.

            Canopus é uma super gigante do tipo espectral ( olha o espectro aí de novo) F0.II ou F0. Ib ( Ib significa que é uma super gigante "menos luminosa")   e este tipo estelar é raro e pouco compreendido.  Um tipo que pode estar evoluindo em seu caminho rumo a uma gigante vermelha ou estarem extremamente distantes disto. Isto tornou extremamente difícil determinar qual seria o real brilho de nossa dama. E determinar sua distância. Esta só foi realmente confirmada nos anos de 1990 pelo Hipparchos ( The High Precision Parallax Precision Satellite). Atualmente sabemos que ela se encontra  a 310 anos luz da Terra (96 parsecs) . Anteriormente os palpites iam de 96 até 1.200 anos luz.

            Ela brilha 20.000 vezes mais que o sol.

            Estivesse ela no local de nosso Sol e sua corona se estenderia até 90% da órbita de Mercúrio.

            A temperatura de superfície é de 7350 K. Sua cor é  branco amarelado ou  amarelo esbranquiçado. Eu voto na segunda opção...

           

            Ela já foi descrita e nomeada por diversas culturas. Mas seu nome mais comum é associado aos gregos.

            Canopus é hoje a estrela Alpha de Carina. Carina já foi parte da antiga constelação de Argos Navis ( que foi esquartejada por Lacaille). Logo fazia parte do Navio que levou os Argonautas em sua missão. Mas o nome Canopus vem de outra lenda marítima grega .

            Canopus foi o piloto do navio do Rei Menelau que foi em resgate de Helena de Tróia .

            Outro nome comum e esporadicamente empregado é Suhail. Este de origem islâmica. É importante ressaltar que os antigos gregos não viam Canopus.   

            Quase todas as civilizações que residiram em latitudes austrais o suficiente possuem um nome e uma lenda para esta brilhante estrela. E assim podemos citar os Navajos , Chineses, Guaranis , Egípcios e mais um monte de civilizações e etnias...


           

Um comentário:

  1. Ótimo artigo!
    Uma experiência perfeita pra passar o tempo com um 150mm hahaha

    Céus limpos!

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