Translate

domingo, 4 de agosto de 2013

Astrofotografia, Obras Publicas e Ngc 6025 e 6067

            
            Depois de céus amazônicos (Bortle 2) o retorno ao meu “canteiro de obras” aqui no Leblon me deixou bastante desgostoso. O péssimo habito de utilizarem luzes apontando para o céu em vez de para a obra continua a todo vapor. Mesmo depois de diversas visitas e de já ter explicado isto para quase todos os mestres de obras do projeto. As obras publicas deveriam ser baseadas no principio da eficiência previsto em lei. Como é habito em nosso país mais uma lei é rasgada.
            No meu negocio sempre se diz que quando se tem que escolher entre o bom, o rápido e o barato só é possível ter duas dessas variáveis. Por exemplo: Se é rápido e barato não pode ser bom...
            No sistema de obras publicas nacionais ocorre algo que supera qualquer lógica. As obras são lentas, caras e ruins... 
            De qualquer forma não posso me render ao poder publico e sua incapacidade. Moro muito próximo a nosso governador e este já parece ter entendido que o recreio acabou e que ele não se elegerá nem mesmo sindico de prédio daqui para frente. E desta forma me sinto realizando um exercício de desobediência civil enquanto planejo uma sessão de fotos de diversos aglomerados abertos que estarão desfilando pela minha janela.  E não corro o risco de tomar uma bala de borracha no meio da cara.
            Com os alarmantes graus de poluição luminosa este projeto não é fácil.  Preparo de véspera um plano de ataque. Com o Stellarium aberto em meu computador (que parece estar em fim de carreira...) eu percebo que partindo de Alfa Centauro, que é uma das poucas estrelas que resiste aos refletores patrocinados pelo meu dinheiro, e torcendo para conseguir perceber Beta Trapézio Australis e utilizando de “reza braba” para perceber alguma coisa no corpo de Norma eu imagino que tenho três aglomerados abertos lindos e bastante claros para vitimar. Seriam eles Ngc 6025, 6087, 6067. Como back up tenho Ngc 5662, bem perto de Alfa Centauro. Acredito nunca ter fotografado nenhum deles.
Área de Navegação
            Finalmente sabadão. A lua quase nova. Parto para meu plano. Começo pela manhã comprando pilhas para o motor drive e movendo moveis pela sala. Com a chegada de um novo rebento prevista para breve a casa se encontra de pernas para o ar e diversos móveis ocupam locais que não deveriam na minha “Stonehenge dos Pobres”.
            Pretendendo começar a observar por volta dos 21h00min h (quando a cara metade e a filha estariam concentradas na novela...).
Esculturas na Catacumba: Nijinski.

            Muito antes disto vou passear com minha filha pelo Parque de Catacumba e ter um maravilhoso steak tartar no Bar Lagoa. De volta  eu chego ao lar. E começo os trabalhos mais cedo.
Novamente o alinhamento polar. Assim faço uma aproximação razoável e me dou por satisfeito. Os aglomerados que tenho em vista são bastante claros. Todos eles entre 5ª e 6ª magnitude. Lembrava-me deles na Amazônia e todos eram evidentes a olho nu naquele paraíso de céu escuro. Aqui em compensação...
           Para testar o alinhamento polar resolvo fazer algumas fotos de uma velha conhecida. Ngc 4755, A caixinha de Joias de John Herschel. Embora uma descoberta de Lacaille o primeiro a associar seu colorido às pedras de uma caixa de joias foi “Herschel, o filho”.
            De novo (como se fosse para eu lembrar...): todos os aglomerados aqui citados são bastante claros e se o alinhamento me permitir algo como 15 segundos de exposição e utilizando 3200 asas terei um registro bastante fidedigno do que se poderá ver pela ocular... Aqui no Nuncius a missão é sempre esta. Nada muito além do que se pode observar visualmente já me deixa bastante satisfeito.
            Claro que as coisas não correm tão bem e depois de mais alguns (muitos...) ajustes me parece possível fazer algumas fotos com um mínimo de dignidade.
RnS  14 exp.X10seg.  6400 asa

          



Caixa de Jóias DSS+ Photoshop 


          Uma das maiores qualidades da Canon T3 sobre a minha antiga350D é que posso utilizar ASA mais alta nas fotografias. E assim acabo com exposições de 10 segundos e ASA 6400. A nova câmera suporta bem o ruído gerado por este abuso.
            Mas não deixarei que a Caixa de Joias roube a cena. Já a fotografei anteriormente e a quem interessar possa clique aqui para um post só dela ( o qual prometo melhorar em breve...)
            A poluição luminosa se encontra em níveis que nunca imaginei. Mas seguindo meu plano e com muita atenção junto à buscadora acabo por localizar Ngc 6025.
            Já tinha tentado fotografa-lo. Mas os resultados foram abaixo da autocrítica. E Assim fico muito feliz por ter obtido um resultado um pouco mais honesto desta vez. Na verdade o fotografei duas vezes. A poluição luminosa esta tão brava por aqui que iniciei todas as navegações (“Star Hooping”) partindo de Alpha Centauro.  Para chegar em 6025 eu calculei que deveria marchar dois campos de buscadora para o Norte e um pouco menos de um campo para leste.  E depois torcer para que o mesmo estivesse por perto. Dificílimo de perceber pela buscadora. E Assim era chutar e olhar pela ocular 25 mm. Balançar um pouco para lá e para cá e depois de uma dezena de tentativas conseguir entrar na vaga. 
RnS 14 exp X 10 seg


          
DSS + PS
  Faço logo a substituição da Ocular pela câmera e realizo 14 fotos rapidamente. Depois me dou por satisfeito e num rápido balançar e num tremendo golpe de sorte e acabo navegando as cegas e muito rapidamente até Ngc 6087. Mas não vai ser desta vez que ele vai ser fotografado. Um descuido, uma trava solta e perco-o. Tento retornar, mas já é tarde demais. Depois tento refazer o caminho a partir de Alpha Triângulo Austrais. Mas o caminho só me leva de volta até 6025 e acabo por fazer mais fotos deste desta vez com a câmera em outra posição em relação ao tubo do telescópio.
            O DSO em questão estava nos meus planos. Já o havia observado anteriormente. Mas se me recordo bem jamais com o “Newton” (um refletor 150 mm). Mesmo com tanta PL ele se mostra mais “completo" que no meu pequeno refrator ou em qualquer de meus binóculos. Ela ocupa uma boa área da ocular 25 mm. É o que eu chamaria de um aberto típico... Nem barro nem tijolo. Bastante brilhante ele é um bom alvo para qualquer instrumento. Em condições de forte poluição luminosa ele é bem discreto na buscadora.
            Ngc 6025 é um aglomerado galáctico bastante estudado. Foi descoberto por Lacaille em seu levantamento dos céus austrais realizado entre 1751 e 1752.  Localizado dentro das fronteiras de Triangulo Australis ela é também conhecida como o Aglomerado de Lambda Circinus. Um mistério a ser respondido pela IAU. Seu membro mais brilhante é a estrela HD143448. Esta uma “ Blue Straggler”. Uma estrela que é mais jovem que a maioria dos membros do aglomerado. O Processo de formação de “Blue Stragglers" ainda é objeto de estudos. A idade estimada do mesmo é de 84 milhões de anos. Sua modulo de distancia é de 9.08_+ 0.006 (psc). Sua Magnitude é de 5.10 e ele se espalha por cerca de 12´ de céu. Entre as joias da coroa austral eu diria trata-se de um pequeno adorno. Talvez um delicado broche.
            Mais informações e diversos papers podem ser encontrados em:

            Mas a noite não acabou.  Retorno pela enésima vê para Alpha Centauro e com esta centralizada na buscadora parto saltitando pela poucas estrelas que resistem aos refletores patrocinados pelo nosso dinheiro espero chegar ao “perdido” Ngc 6087. Conforme o previsto chego perto. Ngc 6067 fica pertinho de Kappa Norma.  É um belo campo estelar e o pequeno aglomerado é bem concentrado. È a estrela da noite. Também creio que é a primeira vez que o observo com o refletor. E certamente a primeira vez que o fotografo.   Kappa [e bem evidente na foto logo abaixo do aglomerado]. Outras estrelas relativamente brilhantes o emolduram e o mesmo apresenta um belo colorido com diversos membros avermelhados.
RnS 18 exp X10 seg. ASA 6400

         
DSS + PS
  
        Ngc 6067 é uma descoberta de James Dunlop. Apesar de seu brilho só foi identificado em 1826.  Brilhando com magnitude 5.6 e ocupando 13´de firmamento ocupa uma vizinhança nobre na Via láctea e seu campo estelar (com Kappa norma envolvida) é uma bela visão com o auxilio de qualquer instrumento ótico. Localizado a 1800 parsecs o aglomerado deve ter meia idade com diversos membros já se afastando da sequencia principal. Entre as joias da coroa eu o consideraria um belo bracelete.
            Mais sobre a peça em:
             Há algum tempo sem fotografar DSO eu me esquecera de alguns truques que são de grande valia. O primeiro é marcar o ponto de foco da câmera  na cremalheira. Para isto uso um pilot.
Marcando o foco...
            E o segundo é travar o espelho da câmera suspenso. Basta para tal utilizar o “Live View” da câmera. Embora você talvez não veja nada no LCD você vai evitar muitas vibrações na câmera e na sua foto
               Depois de lutar contra a absurda poluição luminosa e o desperdício publico eu acabo me dando por muito satisfeito. Fiquei muito impressionado como vai mal a situação por aqui depois de meu passeio amazônico. Todos os aglomerados que suei para localizar por aqui eram evidentes a olho nu na Aldeia Kaunã.
Apesar de tudo e de um alinhamento polar no limite do aceitável a noite acabou rendendo bastante e dois novos aglomerados foram fotografados e uma velha conhecida me deu uma canja. Não levei as fotos para grandes peregrinações durante o pós-processamento. E assim novamente percebo que em se tratando de uma astrofotografia mais “mambembe” o Rot n´Stack não faz feio. Pela primeira vez utilizei um dark frame que eu mesmo obtive nele (em vez do auto gerado). O resultado meu pareceu bem melhor.  O dark frame "auto gerado" tem forte desvio para o verde.
Já o Deep Sky Stacker, embora mais poderoso, demanda mais tempo de computador e maior capricho na captura das fotos. E para extrair dele o máximo são necessários outros programas no HD. Especialmente se pretende obter mais cor e saturação na imagem gerada por este.

Foto do DSS sem nenhum tratamento posterior.

O resultado mais obvio é que as imagens obtidas via RnS são mais semelhantes ao que se observa na ocular. 

Como dizem os montanhistas: “Desistir nunca. Retroceder jamais.”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário