M 16 e Ngc 6611 |
M 16 é uma das mais belas nebulosas do
céu. Localizada na constelação de Serpente (Cauda) é conhecida com a Nebulosa
da Águia.
Suas nuvens escuras ,em contraste com a
nebulosa em si, dão seu nome. Ela foi descoberta
por de Cheseaux em 1745 ou 46. Messier a redescobre de forma independente em 3
de Junho de1764.
detalhes de M16- (Hubble) |
É um DSO riquíssimo.
Herschel o inclui em seu catalogo.
A nebulosa em si é denominada M 16. Mas
o aglomerado que se encontra envolvido é denominado Ngc 6611.
Existem algumas controvérsias que o
aglomerado não teria sido incluído no New general Catalog tendo sido incluído
apenas em 1908 no Index Catalog (IC) como IC 4703 (segundo a Wikipédia).
Me parece tolice... Ngc 6611 é o
aglomerado associado a M 16. E IC 4703 já é M 16. O NGC 2000.0 classifica erroneamente 4703 como um aglomerado independente.
Localiza-los não é difícil.
Partindo do Asterismo do Bule em
Sagitário e seguindo a Via Láctea você irá percebê-la até a olho nu em locais
escuros. Outra opção é achar Gama Scutum e Nu Ophiucus. A nebulosa fica entre
estas estrelas e é facilmente localizada pela buscadora. Em locais de muita
poluição luminosa você vai perceber apenas o aglomerado Ngc 6611.
O Aglomerado é muito jovem e não tem
mais que 5.5 milhões de anos. Sendo assim é uma área de intensa formação
estelar. Localizada a cerca de 7000 anos luz do sol a nebulosa habita o Braço
de Sagitário – Carina na Via Láctea.
Observada por pequenos Telescópios M16
não é tão proeminente com a Nebulosa da Lagoa ( M8) e o aglomerado é bastante
chamativo. Com grandes ampliações se suspeita os “Pilares da Criação” . É uma
bela imagem com minha ocular 17 mm (70X).
Smyth a descreveu da seguinte forma em
1835:
“...Um aglomerado disperso porém
bastante grande , nas margens do Escudo de Sobiesky ( antigo nome de Scutum) .
Na galáxia. Descoberto por Messier em 1764 e registrado como uma massa de
pequenas estrela envoltas em tênue luminosidade. As estrelas estão dispostas em
diversos pares circundados por pontos evanescentes com componentes se
espalhando por vários minutos...”
Bem poético .
Mas o mais interessante em região de
M16 é que podemos ter uma lição bastante esclarecedora sobre evolução estelar.
Os Pilares da Criação |
Uma foto famosa, feita Pelo Hubble Space
Telescope em 1995, apresenta a região . Foi batizada como “Os
Pilares da Criação”. O nome não poderia se mais bem dado.
As nuvens negras que dão nome a
nebulosa são um berçário de estrelas. São nelas que surgem os embriões para que surjam protoestrelas . É onde
se inicia o trajeto da matéria para tornar-se uma estrela.
São nestes pilares frios e
escuros que acontece um dos maiores espetaculos da natureza.
Vamos pensar um pouco sobre estas
nuvens frias e escuras. Estas nuvens moleculares não são completamente homogêneas.
E nestas irregularidades o gás é um
pouco mais denso do que as áreas vizinhas na nuvem escura. Como esta
irregularidade vai conter um pouco mais de matéria que suas áreas circundantes
ela vai possuir um campo gravitacional levemente mais forte. E assim esta
irregularidade vai atrair o gás próximo. Desta forma esta irregularidade começa
a crescer. E o ciclo se repete. Finalmente aquela irregularidade atraiu
trilhões de toneladas de gás e possui diversas vezes a área de nosso sistema
solar. Esta formado embrião de uma estrela.
É
importante notar que o processo através do qual a irregularidade cresce vai
ocorrer apenas se a temperatura na nuvem for muito fria. Algo com 10 K ou
menos. Caso contrario a velocidade nos átomos do gás será alta demais para que
a condensação comece a ocorrer. E assim a irregularidade não seria capaz de
conservar o gás que ela atraiu.
È curioso, como quase tudo na
física, que vá um pouco contra o senso comum que as fornalhas estelares venham
do frio. Astrofísica é quase sempre assim... E irregularidade(s) é uma palavra chave para diversos processos naturais. De uma olhada em "Instabilidade de Jeans"...
Conforme este embrião começa a se contrair e se comprimir a pressão, densidadee temperatura começam a crescer. Formou-se uma protoestrela. Finalmente
a temperatura no núcleo da protoestrela atinge tal extremo que os núcleos de
hidrogênio estão viajando rápido o suficiente para a fusão ocorrer. Estes
processos estão ocorrendo no interior dos Pilares da Criação. E diversos termos
desenvolvidos por cosmos físicos são utilizados para denominar as diversas
partes deste processo. EGG´s, Glóbulos de Bock e etc...
Neste
momento acho que devemos apresentar o Diagrama Hertzsprungel – Russel a vocês.
É uma das ferramentas mais poderosas para se entender o universo e a natureza
das estrelas...
A outra é a espectrografia. Mas
esta vai ficar para próxima.
Em 1911 o astrônomo dinamarquês Ejnar
Hertzsprung desenhou um gráfico com a magnitude absoluta em um eixo e com a
classe espectral em outro. Dois anos depois o americano Henry Norris Russel fez
a mesma coisa. Ele pode ainda apresentar Luminosidade e massa em seus eixos e
diagramas com estas constantes (e outras...) serão de enorme valia para a
compreensão do universo...
O que torna o diagrama H-R tão
importante é que se percebermos é que o gráfico não é recoberto de pontos de
uma forma desordenada e totalmente randômica. Na verdade podemos perceber que
estas se reúnem em três grupos principais.
Cruzando o diagrama na diagonal estão as estrelas pertencentes a sequencia
principal. Quase todas as estrelas observáveis a olho nu pertencem a ela. A
sequencia principal se estende das brilhantes, azuis e quentes estrelas do lado
superior esquerdo até as frias, vermelhas e apagadas estrelas no canto inferior
direito do diagrama.
Enquadrando estas temos os gigantes vermelhas no canto superior direito e as
anãs brancas no canto esquerdo inferior.
Quase
toda estrela avermelhada que se percebe a olho nu é uma gigante vermelha.
Não
se vê nenhuma anã branca sem auxilio telescópico.
Aplicando o diagrama H-R ao aglomerado Ngc 6611 que é extremamente jovem e foi
criado a partir de protoestrelas dos Pilares que forma M16 podemos aprender
mais ainda sobre a evolução estelar.
Os
astrofísicos descobriram que todas estas estrelas recém-nascidas virão a ser
membros da sequencia principal.
Um
astrofísico japonês, C. Hayashi foi capaz de demonstrar teoricamente como estas
protoestrelas em processo de contração se tornam estrelas da sequencia
principal. . Quando estas proto estrelas começam a emitir luz elas ainda são
grandes e relativamente frias. Mas apesar de sua posição no diagrama H-R elas
não devem ser confundidas com gigantes vermelhas. Muito rapidamente estas
proto estrelas estas protoestrelas diminuem de tamanho e mantém sua temperatura
superficial. A curva de Hayashi ou a "Contração Hayashi"( Hayashi tracks) , que estas protoestrelas vão seguir, depende de
sua massa. No diagrama abaixo vocês podem ver a evolução das protoestrelas até
que assentem na sequencia principal.
Hayashi T |
Nós vamos poder observar estrelas que estão “quase” atingindo a
sequencia principal, ainda no começo de sua vida no nosso aglomerado Ngc 6611.
Elas se encontram na fase pré-sequencia principal. Diversos de seus
membros são candidatos ao posto de serem estrelas pré sequencia
principal.
Este
elo perdido estelar pode ser visto aqui. Este fenômeno também já foi
observado em Ngc 2264. Este o aglomerado envolvido com a famosa Nebulosa da
Roseta em Monocerros. Veja como as estrelas na Roseta também se encontram logo
acima da sequência principal.
. Estas estrelas se encontram nos
estágios finais de sua contração e as reações termonucleares em seus núcleos
estão se iniciando. Muitas delas são variáveis eruptivas de um tipo batizado como T Tauri. Elas apresentam variações erráticas e rápidas de seu brilho.
Provavelmente devido a fato que ainda estão se contraindo. Ainda não atingiram equilíbrio hidrostático.
Ahh! não posso me esquecer . Toadas as estrleas na sequencia principal tem em comum o fato de terem reações termonucleares acontecendo em seu nucleo...
Quando você visitar M 16 você vai
observar uma etapa belíssima da vida de diversas estrelas.
Em um paralelo conosco (é sempre
assim...) você vai ver a concepção, gestação, infância e adolescência. E
algumas das estrelas já estarão adiantadas a caminho a maturidade.
Já na sequência principal.
Só para não ficar com aquela sensação de que esqueci algo gostaria de apresentar como algumas estrelas vão evoluir . E o passeio que elas farão através do Diagrama H-R. Me foi muito esclarecedor. Espero que seja para vocês também.
Creio que este seja o primeiro post do Nuncius Australis que apresenta bibliografia. Mas admito que apesar de parecerem chatos os textos indicados são bem mais leves do que supõe a vã filosofia. E muito menos ainda se suporem cosmo-física , quimica , diagramas e etc...
Mais sobre evolução estelar em:
http://nunciusaustralis.blogspot.com.br/2012/09/m-007-e-mais-evolucao-estelar.html
Mais sobre evolução estelar em:
http://nunciusaustralis.blogspot.com.br/2012/09/m-007-e-mais-evolucao-estelar.html
Bibliografia :
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