O mês de agosto,
apesar da fama, costuma me ser bastante amigável. Geralmente tenho bastante trabalho
e consequentemente quando entrar setembro possuo algum dinheiro (não, eu não
gosto de Beto Guedes, Lô Borges e afins...). Em contrapartida dificilmente
tenho tempo ou disposição para a observação astronômica.
Este agosto,
porém, consegui conjugar ambas as coisas. Me foi oferecido um trabalho em
Parati. Um comercial. Um diretor americano de renome foi contratado para filmar
a campanha de um grande banco.
O gajo também
tinha em mente comemorar seu aniversário com a nova namorada e diversos amigos
na histórica cidade que ele tanto aprecia. Assim sendo, apesar de algumas
dificuldades logísticas, o trabalho se tornou mais ameno do que é em condições
normais de temperatura e pressão. Diariamente
às três da tarde era declarado que a luz não era mais apropriada para
realização deste marco da propaganda mundial e voltávamos para a cidade
em nossa escuna. Aqui no Brasil chamaríamos o evento de “Trem da Alegria”.
Apesar de ter
sempre que despertar muito cedo sobrou algum tempo para viajar pelos céus. A
lua senão ajudava também não atrapalhava. Na verdade ela mesma permitiu algumas fotos para enriquecer a experiencia. Na visita de locação ela ainda ia bem cheia e permitiu um belo show em 300 mm de distancia focal e f 22...
Já durante as filmagens eu estava consciente de
que não poderia me dar ao luxo de telescópio e levei meu Vanguard 10x50. Tinha em mente explorar a região de Ophiuchus.
Esta foi alvo
da coluna "Binocular Universe", de Phill Harrington, no Cloudy Nights deste mês. E assim me parecia perfeito para a exploração
binocular.
Ophiuchus, o
encantador de Serpentes, não é exatamente uma constelação popular. De tempos em
tempos ele é lembrado como o décimo terceiro signo e para desespero dos astrólogos
é apresentada em algumas pautas desesperadas por noticias. Fora isso é um segredo
bem guardado por astrônomos. Ainda bem, pois é um poço quase inesgotável de DSO
´S. Sendo membro da tríplice fronteira no centro galáctico (junto com Sagitário
e Escorpião) abundam Aglomerados de todas as formas e tamanhos.
Ophiuchus
passa bem próximo ao zênite e assim é mais facilmente observado de binóculo.
Basta uma canga e uma praia escura e você lá deitadão...
Próximo ao
centro da galáxia Ophiuchus é o reino dos globulares. Nele se encontram não
menos que 20 Globulares do catalogo NGC. Mais que em qualquer outra
constelação.
Meus planos
não são tão pretensiosos e me contentarei em visitar cinco deles. Estes são
compartilhados pelo meu querido catalogo Messier.
Como recentemente visitei M9 começo por aí. Entre Sabik e Xi Ophiuchi ele se
encontra. Pequeno e quase estelar você deve prestar atenção para diferencia-lo
das estrelas na região. Com olhos treinados ele salta a vista rapidamente.
Depois volte a
Sabik (Eta Ophiuchi) e procure por Delta e Épsilon Ophiuchi , conhecidas também
como Yed Prior e Yed Posterior. A partir desta você vai localizar facilmente
M10 que se apresentará como uma pequena bola de algodão acinzentada. Os dois
são como um aglomerado duplo, cabendo no mesmo campo ocular. M10 é mais
evidente que M12.
Se você seguir
a ordem apresentada estará nas pegadas de Messier que descobriu estes
aglomerados em um espaço de dois dias. Primeiro M9 e depois os dois
apresentados. M11 ele também achou nesta mesma rodada. Mas este já tinha sido
avistado por alguém. Não é um Messier Original.
M 107 |
Depois tente M
107, um daqueles Messier Póstumos.Foi incluído na lista somente em 1947 por
sugestão de Helen Hogg. Escaneando para sul a Partir de Zeta Ophiuchi não será difícil
perceber a pequena estrela esfumaçada. Mas apesar de ser um dos globulares
menos densos que se conhece não espere resolver estrelas com binóculos. Na
verdade não espere resolver nada com menos de 200 mm de abertura... Vai
requerer muita atenção.
Para finalizar
tente achar M 14. Calcule um ponto aproximadamente entre Sabik e Celbarai (Beta
Ophiuchi) e boa sorte.
IC 4665 |
Como premio de
consolação, caso M14 se revele muito difícil, visite IC 4665. Um belíssimo aglomerado
aberto pertinho de Celbarai. E um daqueles que é mais bem visto de Binóculos
que em qualquer telescópio. É uma descoberta de De Cheséaux em 1745 e com apenas 40 milhões de de anos é bem jovem para um aglomerado aberto. De locais escuros é percebido mesmo a olho nu.
Este mês se
juntou o útil e o agradável...
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