Lince |
Walter Scott
Houston foi o autor da minha coluna favorita na minha revista de astronomia
favorita durante varias décadas. Chamam-se, respectivamente, Deep Sky Wonders e
Sky and Telescope.
Ele, repetidas
vezes, falou que você deveria observar o céu que ia bem acima de sua cabeça: “Ao
mover o telescópio para longe do zênite nós começamos a olhar através de mais
atmosfera, poeira, poluição e outras coisas nefastas que não só escurecem, mas
também reduzem o contraste e diminuem a quantidade de detalhes visíveis em objetos
que já são tênues e difusos a principio.”.
Pois é
exatamente isto que o Nuncius Australis pretende fazer. Como já é praxe tudo
errado.
Vamos visitar hoje
a constelação do Lince (Lynx). Uma constelação moderna. É importante esclarecer
que quando falamos em constelações modernas nos referimos aos sec. XVII e
XVIII. As mais antigas remontam a Mesopotâmia.
Esta obscura constelação foi criada por Hevelius,
um astrônomo e artesão polonês. Em seu Prodromus (1690) ele lista a constelação como Lynx sive Tigris. Lince ou Tigre. Posteriormente
em uma gravura em Firmamentum Sobiescianum ele se refere apenas como Lince. Dizem
as más línguas que nem a constelação nem o desenho lembram a criatura. De
qualquer maneira Hevelius sempre alegou que o nome fora dado porque ele
acreditava que eram necessários olhos de Lince para observar suas apagadas estrelas.
Línguas ainda mais ferinas dizem que ele
assim batizou a constelação para que ninguém esquecesse que Gassendi falou isto
dele (que possuía olhos de Lince...) quando foi apresentado aos desenhos de seu
mapa lunar.
Lince habita
um “espaço vazio” entre Gêmeos, Auriga e a Ursa Maior. Desta forma é uma
constelação que viaja baixa, próxima do horizonte norte, nas latitudes mais
austrais.
Mas ela
esconde diversos DSO´S muito interessantes e nem tão conhecidos. Estes são a
razão de ser deste passeio pela pantanosa atmosfera que cerca a região.
Um dos objetos
mais interessantes que vaga na região é um aglomerado globular que está aonde
não deveria estar. Ngc 2419. O Vagabundo
Intergaláctico. Ele já foi apresentado aqui no Nuncius Australis e pode ser
visitado aqui.
Walter Scott Houston (de novo...) também nos
ensinou que ,apesar de suas estrelas apagadas,
Lince é um celeiro para aqueles que gostam de caçar galáxias. O Burnham´s Celestial Handbook lista nada
menos que 13 galáxias em Lince. A maioria acima da 13ª magnitude.
Aqui vou
apresentar apenas as que passeiam no extremo sul desta obscura região do céu e que
se encontram ao alcance de telescópios amadores de no maximo 150 mm.
A primeira e
mais brilhante destas galáxias é Ngc 2683. Um farol em meio a escuridão que nos
aguarda. Brilhando com mag. 9.3 esta espiral, de perfil para nós, apresenta a característica
forma de um charuto. É importante ressaltar que para observa-la basta binóculo.
Mas é importante que este esteja firmemente apoiado em algo. O patrono deste post (Scott Houston) fala que binóculos
que passeiam livres por aí vem algo como de 1 ½ a 2
magnitudes menos que aqueles em tripés.
Existem diversos registros da mesma sendo
observada com telescópios de 60 mm. Eu mesmo já a capturei com meu 70 mm a
90x. A melhor forma que encontrei para
acha-la foi usando o “red dot finder” e fazendo uma triangulação usando Alpha Lince,
Pollux (em gêmeos), e Iota Câncer. A seguir, em céu suburbano, a percebo na buscadora 9x50
usando visão periférica.
Como quase
tudo foi descoberta por William Herschel.
Em 1788.
As outras três
galáxias que apresento são apadrinhadas pela mesma estrela.
Ngc 2793, 2832
e 2859 se encontram bem próximas a Alpha Lince. Com mag. 3.10 é a coisa mais
brilhante nesta escura região.
Nenhuma das
donzelas fica muito além de um campo ocular de Alpha com o uso de baixa
magnificação. Logo fácil de achar... Ver
é outra história.
Vamos começar
por Ngc 2859. Este é um daqueles DSO´s preguiçosos. Para localizar esta espiral
que é a maior e mais brilhante do trio basta você centralizar Alpha Lince e
esperar por 3 ½ minutos. O resto à rotação da terra faz por você.
Esta é uma galáxia
abençoada e amaldiçoada por Alpha Lince. Então tente manter a estrela fora do
campo ocular. O núcleo será facilmente percebido. Já os braços... Eu não vi. Mas
existem registros onde foram percebidos com uso de visão periférica e
telescópio de 100 mm (refrator).
Também foi descoberta por William Herschel de
novo em 1788. Me pergunto se não na
mesma noite que a anterior.
Ngc 2793 vai
demandar céus mais escuros e pelo menos 150 mm. Fica a menos de 1º de a oeste
de Alpha. Devido a seu pequeno tamanho é melhor caça-la a partir de Alpha com
pelo menos 100 x de aumento. Brilhando
com 12.6 de mag. eu gostaria de
acreditar que a vi. Mas eu não acredito em fantasmas...
Esta é uma
descoberta de John Herschel (o filho) em 1828
Ngc 2832
reside no limite maximo para observação com um 150 mm. Eu mesmo não a observei.
Mas há diversos registros de quem o fez. Acredito que tenha que ir mais ao
norte para ter esperanças. Com magnitude 13 é uma galáxia discreta. Fica a menos de 1º de Alpha.
Outra
descoberta de Herschel (Pai). Em 1785
.Recomendo Muddy Waters como trilha sonora para esta caçada.
Valeu
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