Cap. 5- Os telescópios e equipamentos
Os equipamentos disponíveis para a realização do Catalogo José Eustaquio e Silvano Silva de Nebulosas e Objetos Estelares foram utilizados em um metódico levantamento dos céus austrais por nossos dois astrônomos pioneiros e era também o resultado de avanços tecnológicos que se desenrolaram ao longo de vários séculos de pesquisa astronômica.
Sabemos pelos textos de Silvano e Silva que José Eustaquio “herdara” um dos telescópios que Lacaille trouxera em sua expedição para o Sul. Este teria ficado em poder de seu pai que segundo dados circunstanciais parece ter servido ao Abade em sua estada no Rio de Janeiro.
Sabemos por diversas fontes que o grande astrônomo francês não deixara saudade e tampouco a sentia em relação a cidade maravilhosa . Em diversos textos o abade falava da sujeira e do mau cheiro que invadia a Rua do Rosario. Foi ali que ele montou sua banca. Apesar da grande herança deixada por Lacaille ele realizou todos os seus feitos com telescópios deveras simples. Na realidade pouco mais que pequenas lunetas. Instrumentos de cerca de 25 mm de diâmetro de objetiva. E com aumentos da ordem de 6 a 9 vezes. É impressionante que este homem tenha deixado seu catalogo e mais uma família de constelações nos céus austrais com equipamento tão simples.
O próprio Silvano Silva nos diz:
“... o telescópio de Eustaquio pouco mais é que um monóculo de opera. E apesar disto ele reconhece centenas de nebulosas. Sua criação junto aos marinheiros deixou-lhe um profundo conhecimento dos céus e de seu comportamento.”
Já o equipamento de que dispunha o padre parecia ser mais sofisticado. Segundo suas próprias palavras seu aparelho era em muito superior ao pequeno newtoniano de Messier. Porém com uma menor distancia focal. Apesar de não citar valores em nenhum dos textos encontrados podemos fazer algumas suposições.
Os telescópios que Messier utilizou são conhecidos pela história e pelas palvras de Silvano podemos fazer sérias conjecturas .
Segundo Frommert e Kronenberg (SEDS) Charles Messier observou e/ou possui alguns telescópios;
1. Refrator de 8 metros de Distancia focal, Mag. 138x
2. Refrator Acromático, 4 metros DF Mag. 120x
3. Refletor Newtoniano 1500 mm DF, Mag. 60x
4. Refrator Acromatico, 1200 mm DF (Dollond), Mag. 120x
5. RefratorCampani, de propriedade do M. Maraldi, Mag. 64x
6. Refrator 6 m DF, Observatorio de Paris, Mag. 76x
Estes são apenas alguns dos telescópios utilizados por Messier . É importante lembrar que devido a tecnologia da época eles eram bem mais limitados do que sugerem as grandes distancias focais. Percebe-se também que na época a idéia de oculares variadas ainda não havia feito escola.
Mas devido a um pequeno recorte encontrado entre os escritos de Silvano Silva dois destes aparelhos se mostram muito significativos para minha pesquisa.
“... Tive a felicidade de conservar comigo dois belos aparelhos que ainda curtos me apresentam alta qualidade e aumento de 60x e 120x. O primeiro um modelo como o de Newton e o outro , meu favorito , um belo modelo inspirado em Galileu.
São muito semelhantes aos telescópios que utilizei em França . Sendo que um deles é um Dollond...”
Até devido a viagem que trouxe Silvano Silva ao Brasil lhe era impossível possuir um telescópio de grande porte aqui na Colônia. Mas sua temporada em Paris o ensinou a conhecer equipamento astronômico e ter acesso ao que havia de melhor em seu tempo.
Messier utilizou com freqüência telescópios com objetivas de 90 mm e 1200mm de distancia focal e 120 x de magnificação. Um deles feito por Dollond. Silvano Silva se refere ao mesmo textualmente.
Estes refratores acromáticos são capazes de observar todo o catalogo Messier assim como alguns alvos mais difíceis.
Como já foi dito quando se observa o céu o obsevador é tão ou mais importante que o diâmetro ou qualidade ótica do próprio telescópio.
E a descrição do Newtoniano não deixa muitas duvidas de se tratar de um aparelho semelhante ao descrito por Messier. Com 1500 mm de ditancia focal e com cerca de 90 mm de espelho. Na época os newtonianos sofriam do uso de espelhos especulares e isto seria aproximandamente um 60 mm moderno.
Já o Refrator acromático era um show de tecnologia em uma das fronteiras do mundo conhecido. E Silvano Silva sabia disto.
E ele sabia também que ele poderia descobrir o véu sobre o céu profundo que vivia escondido abaixo do Equador.
Em outro trecho ele deixa clara sua ambição:
“... com os meus equipamentos em muito superiores serei capaz de mapear um numero de nebulosas muito maior que os encontrados pelo Abbe... e com isto enaltecer o brilhantismo da Terra Lusitana e a gloria de nosso Rei.”
Acredita-se que a pequena luneta de José Eustaquio e o Refrator de Silvano Silva foram a tecnologia que nos levou até o Catalogo J.E.S.S. O pequeno Newtoniano também ha de ser lembrado e coforme saberemos este torna-se um favorito de José. Segundo alguns escritos pode-se suspeitar que este tinha um grande campo de visão. Seria um telescopio de menor razão focal e por isto util para observação do céu profundo. Bem como mais portatil.
É aceito hoje que nenhum dos telescópios descritos aqui seja superior a um refrator de 100 mm ou um refletor newtoniano de 150 mm moderno. Segundo algumas opiniões até mesmo um bom refrator de 60 mm de diametro seria um forte opositor.
Todos os objetos descritos nesta pesquisa são acessíveis a tais telescópios e em sua grande maioria estão ao alcance de Binóculos 10x50. A pequena luneta descrita por Silvano Silva como de propriedade de José não superaria de forma alguma um bom binóculo moderno. Mas novamente sou obrigado a lembrar que o observador é parte importante do equipamento. A mais importante.
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