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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Eminências Pardas e Patinhos Feios



François Leclerc du Tremblay (4 Novembro 1577 – 17 Dezembro 1638), também conhecido como Pére Joseph, foi um frei capuchinho que poucas pessoas vão identificar.
Mas foi uma figura importantíssima na corte francesa e um dos homens mais poderosos de seu período. Ele é a “eminência parda” original. Vivendo a sombra do mais famoso Cardeal Richelieu ele foi uma das figuras chaves de diversos eventos históricos e na vida de diversas pessoas passaram por sua mão.  O termo que posteriormente identifica aqueles que detêm o poder de uma forma disfarçada se deve a cor das vestimentas deste “obscuro” religioso.
O inverno vem chegando. Dia 21 será o solstício e com ele se dá o inicio da estação. E junto com este estará dominando os céus à belíssima constelação de Escorpião. Mas não é dela que pretendo falar hoje. Afinal a eminência parda dos céus invernais é Sagitário.
A constelação que mais se assemelha a um bule é o um dos maiores celeiros de DSO´S do firmamento. Localizada no centro galáctico é simplesmente a constelação com o maior numero de Objetos Messier que existe.  A lista é grande e não irei abordar a todos.

Na verdade iremos hoje prestar também o tributo a Hans Christian Andersen, escritor dinamarquês, e fazer um paralelo com uma de suas mais famosas historias: O Patinho Feio...
Os dois DSO´s que pretendo apresentar são como o herói desta história. Cercados por maravilhas cósmicas como as famosas Nebulosas da Lagoa, Trifida e Globulares antiguíssimos como M22 e M28 nossos convidados passam em geral despercebidos em navegações pela região.
Os aglomerados abertos M 23 e M25 são belos.  Mas são vitimas das circunstancias. Estivessem no céu em outra estação ou em outra constelação e seriam “showpieces”.
Para localizar ambos os aglomerados parta de Kaus Borealis, a estrela que aponta o topo do bule celestial (Mag. 2.80).  A partir dela caminhe mais ao norte e localize a mais fraca Mu Sagitário (Mag.3.80). Depois disto caminhe cerca de um campo da buscadora (5º) ora para o leste (M 25) ora para o nor-noroeste (M23).  Com Mu sendo centro do relógio M 25 estaria as 2:00 horas e M 23 estaria em uma posição entre 8:00 e 9:00 horas.
Ambos serão percebidos pela buscadora de alguma maneira. M23 como uma área mais nebulosa e M25 se resolvendo em algumas (3) estrelas.
No telescópio M 23 é uma coleção de aproximadamente 30 estrelas na casa de 9ª e 10ª magnitude envoltas em uma “neblina" de estrelas mais tênues. Quanto maior seu telescópio menos neblina... Você vai perceber também uma estrela de 6.5 mag. no mesmo campo. Não relacionada.


M 23

M 23 possui mais de 100 estrelas em uma nuvem espalhada por aproximadamente 30 anos-luz. Se localiza há aproximadamente de 4.000 anos luz da Terra. É um aglomerado característico por possuir a maior parte de seus membros com o mesmo tamanho e brilho  A maior parte de seus membros pertence  a classe espectral “B” com uns poucos membros sendo gigantes amarelos mas nenhum membro vermelho ou laranja presente.  










M 25
M 25 é menor e mais compacto. Em pequenos telescópios você vai perceber cerca de seis estrelas envoltas em cerca de duas dúzias de estrelas muito mais tênues.  Dos dois patinhos M 25 é o mais desinteressante... Ele se encontra 2.000 anos luz e é um “bola murcha” com cerca de 20 anos luz de diâmetro. Sua estrela “central” é U Sagitarii, uma variável cepheida que oscila entre as magnitudes 6.3 e 7.4 no período de seis dias e 18 horas.  


domingo, 10 de junho de 2012

Em Lira: A Dupla-dupla, um sistema mais que duplo, Épsilon Lira




          
            Para localizar este belíssimo sistema estelar múltiplo primeiro ache um dos mais famosos asterismos do céu. Olhando para o horizonte norte ache o conhecido “Triangulo de Inverno” (para nós austrais).
 Ele é formado por Deneb (Alpha Cignus), Altair (Alpha Aquila) e Vega (Alpha Lyra). A mais brilhante destas estrelas é Vega.  Esta localiza-se no vértice noroeste do Triangulo.
            Épsilon Lira é uma dupla particularmente fácil. Aponte sua buscadora para Vega e no mesmo campo você vai perceber que o que parece uma estrela única a olho nu é na verdade uma dupla.  Para aqueles dotados de uma excelente visão perceberão a dupla até mesmo com a vista desarmada.

            Mas este par é especial. Em noites com a atmosfera estável e em que estrelas se apresentam como pontos de luz em vez de pequenas bolhas rebolantes, com um seeing bom, cada membro deste par se apresentará como duas estrelas. Um sistema quádruplo...

            Claro que isto depende de seu telescópio ter o diâmetro suficiente. E suficiente neste caso é 60 mm. Confesso que já avistei com meu 70 mm. Mas existem diversos registros do feito com menos abertura.

           Caso não consiga resolver o par em dois pares não se desespere. Volte outra noite e condições mais estáveis vão revelar o segredo da “Dupla-Dupla”.
            Este par de duplas é um verdadeiro desafio para os proprietários de pequenos telescópios.
            A “Dupla- Dupla” (Épsilon Lira) é um complexo sistema múltiplo localizado há 200 anos luz de nós. O par mais ao norte, 1A e 1B se encontram cerca de 150 UA distantes uma da outra e demoram cerca de 1000 anos para se orbitarem. O par mais ao sul, 2A e 2B, também se encontram a 150 UA afastadas uma da outra. Mas demoram apenas 600 anos para completarem seu trajeto ao redor de seu centro de massa. São mais maciças e viajam mais rápido. A posição de ambos os pares mudaram significantemente no ultimo século. Os dois pares também se orbitam mutuamente. São separados por 0.2 anos luz e completam seu trajeto em volta do centro de massa deste lindo sistema em aproximadamente 500.000 anos.
            Todas as estrelas são brancas. 1A tem Magnitude 5.1 e 1B 6.0.  Já 2A brilha com 5.1 e 2B com 5.4.

              Pesquisa recentes mostram que o sistema  possui mais membros . Mas nada que você vá ver...

terça-feira, 29 de maio de 2012

A Juba do Leão


No Leão: Algeiba, Uma Estrela dupla, Gamma Leonis.

Localizar Algeiba ( ou Algieba...) é uma tarefa relativamente simples. Primeiro localize Regulus (Alpha Leonis) e o asterismo que marca a busto do Leão. Parece claramente com um ponto de interrogação de cabeça para baixo (¿). Só que visto em um espelho.

A constelação de Leão é uma das poucas que permite visualizar o animal facilmente. Olhando para o horizonte norte (abaixo do equador) você vai visualiza-lo bem próximo a meridiano no começo da noite  ou logo ao entardecer  ao decorrer do outono.  Durante o mês de Junho é um bom alvo para começar as observações. A estrela é bem brilhante e você vai perceber mesmo durante o crepúsculo.

De volta ao “ponto de interrogação” que é composto por seis estrelas procure  a segunda mais brilhante e  terceira abaixo no horizonte contando a partir de Regulus.

É Algeiba.

Com ela na buscadora você vai perceber varias estrelas brilhantes. Ela será a mais brilhante com uma companheira mais fraca logo ao sul (40 Leo).  Centralize a buscadora na mais brilhante e parta para a ocular.

As duas componentes são bem próximas com a primaria sendo amarela e a secundaria levemente mais alaranjada. Mas cada pessoa percebe cor de forma um pouco diferente. Logo há controvérsias.  Observar durante o crepúsculo ajuda a ressaltar as cores de suas componentes.

Use a maior magnificação possível. Algeiba é orgulhosa e não se rende facilmente. Especialmente em pequenos telescópios. Nunca a separei com menos que 240X. Ela requer um seeing pelo menos razoável para ser resolvida em telescópios modestos.
Algeiba

Burnham,em seu “Celestial Handbook”, considera Algeiba uma das mais belas duplas do céu.

Algeiba esta há um pouco mais de 100 anos luz de nós e sua companheira a rodeia em uma orbita elíptica de quase 300 UA (unidades astronômicas) de diâmetro.  Demora quase 600 anos para completar seu trajeto. Desta maneira os astrônomos vêm acompanhando seu movimento relativo a mais de cem anos e sabes-se que sua orbita é bastante excêntrica e  se encontrará na sua maior distancia da primaria por volta de 2100. Estará então há  aproximadamente 175 UA e sua separação, vista da terra, será de +- 5 segundos de arco. Isto é algo como 4 vezes a distancia entre Plutão e o Sol (na verdade mais...).

A estrela primaria se classifica com uma gigante amarelo alaranjada ainda jovem (K0III). Isto a faz 16 vezes maior que nosso sol, com uma massa 4 vezes maior e com uma luminosidade equivalente a 80  vezes ao de nossa estrela "matriz" e apresenta uma magnitude de 2.6. A secundaria apresenta  como  tipo espectral  G7III. Também gigante.  Com 50 vezes a luminosidade do Sol.Sua magnitude: 3.8

Algeiba apresenta ainda uma disputa quanto ao significado de seu nome. Sua grafia , logo de cara, pode ser Algeiba ou Algieba...  O seu nome parece derivar do árabe “Al Jebbah” que significa “ Testa”. Mas sua posição no corpo do Leão leva a acreditar que seja a parte ou o todo  da Juba do Leão. Por isto Allen considera que o equivoco é fruto do nome latino (A Juba) ter se “arabizado” com o tempo ou ser fruto de algum mal entendido ou erro tipográfico nos primórdios da imprensa.

A fim de botar mais lenha na fogueira acho importante dizer: Burnham , Allen , e  Consolmagno e Dan Davis chamam Gamma Leonis de Algeiba. Já o Stellarium e o CdC a batizam de Algieba... Todos, inclusive este modesto astrônomo amador que vos escreve, concordam que é evidente que Algeiba ou Algieba significa “A Juba” em qualquer língua que se queira...  

Estrelas duplas são excelentes alvos para astrônomos urbanos e Algeiba sobrevive mesmo em grandes centros. 

quinta-feira, 24 de maio de 2012

O Astrônomo Desastrado e o Pai da Invenção



Sem visitar o posto avançado em Buzios e aproveitar de um céu um pouco mais escuro ( Bortle 5) desde o carnaval eu tinha grandes planos para a noite de quarta feira.  
Com Selene no terceiro dia após a lua nova tudo se mostrava ideal. O 7timer indicava condições bastante favoráveis à observação. Tudo estava “ideal demais”...
Saí do Rio acompanhado de minha cunhada ainda cedo. O transito ajudou. Chegamos em pouco mais de duas horas.
Montei o telescópio e com tempo sobrando resolvi inventar. Dizem que a necessidade é a mãe da invenção. Pode ser verdade. Mas o ócio é o pai...
Procurei por uma ocular com um reticulo iluminado em diversas lojas (ok, em duas...) e não encontrei. Enquanto aguardo por uma de verdade eu invento...
Possuo algumas oculares Kelner que praticamente não utilizo. Daí a  tal da invenção...
A casa passou por algumas reformas desde a ultima visita e rapidamente me assenhoreei do novo coreto.
 Com o telescópio montado na sua frente utilizei a pequena mesa como minha base.  Uma rápida visita a loja de ferragens e a padaria e “voila”.
Descasco um fio paralelo e acabo com quatro fios de cobre de+- 0,1 mm.
Com o auxilio luxuoso de um rolo de fita crepe fabrico uma ocular reticulada de 20 mm. E assim me mantenho fiel a astronomia de baixo custo. 
A ida até a padaria é também parte do plano de observação.
Quando você vai passar a noite junto a um telescópio alguns luxos são necessários. A alimentação é algo fundamental. Logo duas latas de red Bull , um queijo minas e uma barra de chocolate serão meus companheiros. Compro também meia dúzia de Stella Artois. Estas para depois de realizar o grosso das observações planejadas. Como já contei aqui os amigos, a bebida e você mesmo são os maiores inimigos que um homem pode ter. Desta vez vim sem amigos e não poderia deixar as coisas correrem tão frouxas assim. Afinal o homem é o exercício quem faz...
Quando comecei a observar me lembro de ter lido em quase todos os lugares que uma visita até um clube de astronomia e consequente convívio com outros astrônomos seriam uma das melhores coisas que eu poderia fazer.  Eu nunca realizei isto. A astronomia para mim é uma atividade solitária. E prefiro aprender (ou não...) tudo do jeito mais difícil. Admito que como nunca observei junto a outros astrônomos tenho por principio que quanto mais gente por perto pior para a pratica astronômica.
Meu plano inicial é dar continuidade a meu projeto de fotografar todo o Catalogo Lacaille.  E se possível fazer um tour visual pelo aglomerado de Coma-Virgo. È outono e assim sendo “Galaxy Time”.
Mas o objetivo principal é fotografia.
Astrofotografia demanda um alinhamento polar muito mais preciso que o costumeiro. E por isto a ocular reticulada. Veja este vídeo e você vai entender o porque de tanta criatividade....
Recentemente fiz um post falando como realizar o método do drift.   E com este texto aberto no computador e com a minha reticulada tabajara no telescópio aguardo o sol se por e poder começar o meu alinhamento. Aproveito para nivelar a cabeça. Isto é um procedimento que as vezes esquecemos e que torna o alinhamento muito mais difícil , senão impossível. Tudo correndo perfeitamente. Talvez “perfeitamente demais”...
 Como comecei as preparações muito cedo ( 3;30 pm) tive todo o tempo necessário para fazer tudo que não tinha feito. Como adoro buscadoras possuo duas ao telescópio. E assim consigo ainda dar mais uma saída e comprar uma bateria para minha “red dot”. E descubro que esta sendo de 3 volts qualquer modelo serve. A bateria indicada é a 3026 ( a mais fina...) só que Buzios em geral e Geribá em particular não oferece muitas opções . Assim compro uma 3032 ( a mais grossa). E funciona também. Vivendo e aprendendo. Tudo dando certo. Talvez “certo demais”...
Um ajuste na colimagem. Só para não perder o habito e finalmente anoitece.
Ajustar as buscadoras. As coisas começam a não dar tão certo...
E agora o bendito do alinhamento. Será que a “reticulada” vai funcionar? Faltava ainda iluminar o reticulo. Meu plano era realmente mambembe. Com minha lanterna de led vermelha presa a aranha do secundário eu iluminava o reticulo. O problema era que as estrelas que eu utilizaria para o alinhamento teriam que ser bem brilhantes. Curiosamente a ocular até que funcionou. Já o alinhamento polar nem tanto.  Nem tanto até demais...
A parte boa é que meu projeto continua na prancheta e creio que o próximo “protótipo” é promissor...
Era dia de improvisar e com minha cunhada instalando luminárias novas pela casa o meu projeto começa a desandar ( como eu disse quanto mais gente por perto pior para observar...). Assim após ver que era possível fazer o drift com a reticulada eu desisto de tanto elaboração e parto para a ignorância.
Faço algumas fotos de Ngc 6231 em Escorpião. Um horror . Em vez de me comportar da forma certa  e recolocar a “nova ocular” e refazer o drift eu prefiro ir por tentativa e erro. E abro uma cerveja...
M7 
Ao final da noite tinha algumas fotos medíocres de 6251 e de M28. M7 também foi vitimado pelo autor...  Pelo menos 6251 e M7 fazem parte do catalogo Lacaille. Respondem respectivamente pelas entradas Lac II. 13 e Lac II. 14. 
M 28

Ngc 6231


Como bônus M71 foi um objeto que avistei assim meio que por acaso. Não me recordo de já o ter  avistado antes. E como se encontrava  naquela posição que foi responsável pela criação da  palavra “incomodo”  eu desisti de fotografa-lo. Definitivamente cabeças equatoriais e objetos muito próximos ao meridiano são inimigos mortais.
Por fim, já com a coluna cansada de malabarismos junto a ocular com DSO´s que vão agora próximos ao zênite  pego meu binóculo mais novo e me deito em uma canga. E faço um tour clássico. Começo pela cauda de escorpião com M7 e M6 no mesmo campo binocular. E aí é só seguir a corrente. A partir do Bico da chaleira ( asterismo que identifica a constelação de Sagitário): Ngc 6522 , M28 , M22, M8 , M21, M20. Um pulo para o outro lado do rio galáctico e M 17, M18 , Ngc 6605  e mais vários aglomerados abertos e globulares que não me dou ao trabalho de identificar ( M25 e M23 liderando o pelotão..). Depois tento os Globulares Messier mais discretos que se escondem embaixo da chaleira. M69, M70 e M54. Pequenas estrelas que nunca dão foco. Mas são alvos para mais abertura.
No final entre mortos e feridos salvaram-se todos . E a noite foi divertida.
Quanto a meu plano inicial eu me consolo que tudo estará lá pelo menos durante o próximo milhão de anos.
No dia seguinte o tempo fechou e voltei para casa e para prancheta. Espero mostrar em breve minha “nova” ocular com reticulo iluminado “home made”. Agora com 10 mm e com um Led vermelho no proprio corpo da ocular. Quase de verdade... 

P.S. - Quando já entrava no carro para retornar para o lar Murphy mandou seu recado. O tempo limpou como que por mágica. Mas aí já era tarde para abortar a missão. Tiro uma foto da Lua como consolo. Pelo menos desta vez não vi varios riscos cruzando a foto...  

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Escala Bortle

     Escuridão é uma palavra que eu acho muito bonita. 
     Segundo o pai dos burros significa :"... qualidade de ser escuro, ausência de luz, negrume ou treva". Termos todos bastante sinistros . E que fazem a alegria dos astrônomos... Já falamos a respeito disto ha algum tempo. 
      Agora por razões praticas volto a esse assunto .
     Como determinar quão escuro é o local que você observa?
      Em 2001 John Bortle , um astrônomo amador veterano e caçador de cometas, criou a hoje já conhecida escala Bortle de escuridão ou de Poluição Luminosa. Eu prefiro a primeira opção.Uma escala para medir escuridão soa mais poético. 
       É uma escala de 9 pontos ( quanto menos melhor...) para classificar  a qualidade do céu que nos cerca.  
       A escala Bortle é bastante exigente e causou depressão em muitos astrônomos  .Locais que antes eles consideravam perfeitos não "ranquearam" exatamente bem na escala. 
       Vamos a ela....

Escala Bortle
Cor em mapas de PL
Descrição do céu
1
Preta
 Local com céu escuro excelente:
·          Nelm (Magnitude limite a olho nu) 7,6 a 8.0
·          Luz Zodiacal, Gegenshein e faixa zodiacal são visíveis.
·          M 33 é obvia a olho nu
·          A via láctea junto a Escorpião e Sagitário apresenta obvias sombras difusas
·          Objetos terrestres (arvores, carros, pessoas...) são invisíveis.
2
Cinza
  Local de céu muito escuro:
·          Nelm de 7.1 a 7.5
·          M33 facilmente visível com visão direta
·          A luz zodiacal continua suficientemente brilhante para lançar sombras longo após o nascer ou o por do sol.
·          Nuvens são visíveis como buracos escuros ou vazios no céu
·          Objetos terrestres só são percebidos vagamente, a menos que se projetem contra o céu.
3
Azul
Céu Rural:
·          Nelm 6.6 a 7.0
·          Alguma poluição luminosa evidente ao longo do horizonte
·          A via láctea apresenta estrutura complexa
·          Aglomerados globulares brilhantes (Omega centauro, M22 etc..) são facilmente percebidos a olho nu.
·          M33 é notada com visão periférica.
·          Objetos terrestres vagamente percebidos entre 6 e 10 metros.
4
Verde
Transição Rural / Urbano:
·          Nelm 6.1 a 6.5
·          Domos de poluição luminosa evidentes em diversas direções no horizonte
·          Via láctea apresenta estrutura apenas próxima ao zênite.
·          Luz Zodiacal é evidente mas se estica somente até metade do caminho até o zênite.
·          M33 é difícil mesmo com periférica e mesmo assim acima de 50 graus.
·          Objetos terrestre percebidos facilmente mesmo a distancia
5
Laranja
Céu Suburbano:
·          Nelm 5.6 a 6.0
·          Indícios de luz zodiacal somente em dias especiais
·          Via Láctea se apresenta lavada próxima ao zênite e praticamente imperceptível junto ao horizonte
·          Fontes de Luz artificial presente na maioria, senão todas, as direções.
·          Nuvens são obviamente mais claras que o céu.
6
Vermelho
Céu Suburbano Claro:
·          Nelm 5.5
·          Luz zodiacal invisível
·          Via láctea só percebida bem próxima ao zênite.
·          Nuvens muito brilhantes em qualquer lugar do céu
·          Omega Centauro ou M31 dificilmente percebidos a olho nu.
7
Vermelho
Transição Suburbano/Urbano:
·          Nelm 5.0
·          Via láctea Invisível
8
Branco
Céu Urbano:
·          Nelm 4.5
·          Céu alaranjado
·          Podem-se ler manchetes de jornal sem lanterna
·          Algumas constelações familiares são difíceis de perceber
9
Branco
Mega cidade:
·          Nelm 4.o ou menos
·          Todo céu é claramente iluminado
·          Diversas constelações familiares são invisíveis


sexta-feira, 4 de maio de 2012

Conquistadores do Inutíl, Astronomia Urbana e Ngc6541


          
            Astronomia urbana é uma luta inglória.
A batalha começa dentro de casa. Sua mulher e sua filha evidentemente que não compreendem o significado de adaptação ao escuro. É  só você começar a observar que começa a circulação pela casa. Acendem a luz do corredor , da cozinha e finalmente a da própria sala. Quando muito pedem desculpa.
            Os vizinhos então parecem até astrônomos, tamanha a técnica  que possuem para sabotar. A praxe é deixar acesa a luz que mais pode atrapalhar sua visão.  
         Muitos, como eu, são obrigados a observar pelo restrito espaço de uma janela. E assim não ter exatamente muito céu a seu dispor.
 Existe a possibilidade de se subir no telhado do prédio ( Atividade na Laje...). Isto costuma levar os vizinhos a loucura e torna-lo conhecido como um pervertido. E ainda se ver obrigado a dividir o observatório com roedores e outros animais.
            Assim sempre me lembro de um de meus livros favoritos “Os Conquistadores do Inutíl”. Um clássico do Montanhismo.
            A categoria inclui Caçadores de cometas, de Borboletas, de Nebulosas e Amadores em geral.
            De qualquer forma e de qualquer maneira eu insisto. Se não acabarei por me dedicar a meu tão querido hobby apenas uns poucos dias por ano. Se me limitar a observar quando viajo para Buzios ou locais de céu mais escuro não observarei mais que uma  dezena de dias ao ano.
            Como bom conquistador do inútil não só observo da janela de casa como caço tênues nebulosas no período de lua cheia...
            Desta vez pretendo me superar.
            Da janela de casa. Ainda cedo. Sexta feira. E no dia seguinte vem a maior lua do ano. Tudo jogando contra . Mulher e filha a todo vapor. Os vizinhos com tudo aceso.  Supermoon .
            Começo cedo e logo após o anoitecer parto para cima da Acrux. A bela dupla é a prova de bala. Separa-se com 60X.
            Minha filha chega da aula.
Após uma parada estratégica mais uma dupla. Alpha Centauro. Com esta brinco um pouco mais e testo varias magnificações. O Seeing , pelo menos ele, esta bom. Vou até 240X e tudo em ordem.
            Estrelas duplas são pau para toda obra.
            Já  mais tarde resolvo partir para os DSO´s . Parece uma decisão kamicaze. Mas sou um astrônomo e não um rato.
            Lutando contra tudo e contra todos começo a navegação a partir de Atria (Alpha Tri Aus)  e começo errado. Meu objetivo seria navegar até NGC 6101. Um projeto certamente megalomaníaco. O globular brilhando a 9.1 de mag. não é um objeto viável nem mesmo com muito mais abertura do que possuo. Depois de que me vi colando “ Black wrap” ( uma espécie de papel alumínio preto) na tela de proteção de janela para bloquear a luz do banheiro do prédio em frente parto para um alvo mais realista.
            A  partir de Beta Tri Australis navego até o aglomerado aberto NGC 6025. Brilhando em uma magnitude mais amigável ( 5.1) consigo resolve-lo. Já o vi em melhor forma, mas enfim...

            Observar por uma janela é meio como um projeto pré- histórico. Cada estação você pode ver o que passa por ali. E hoje em meu Stonehedge particular eu conseguia avistar Kaus Borealis, em Sagitário. Bem no limite. Se minha janela fosse uma trave de futebol a bola entrava lá onde dorme a coruja. E com Kaus no meio da buscadora eu calço a 25 mm na ocular e parto por um voo cego. E como um caçador de cometas paraguaio acho o impensável. Uma pequena estrela sem foco. Insisto e nada de foco. Eu sei que não é o  meu primeiro cometa. Sei que se trata de um globular.
            
            Uma rápida pesquisa e descubro que se trata de NGC 6541.Localizado na constelação vizinha ao Arqueiro , Corona Australis.  Se apresentando discreto é na verdade um belo aglomerado globular . Brilha com mag. 6.6 e tem cerca de 15´ de arco. As condições são extremas e não resolvo nenhuma estrela. O aglomerado é apenas uma pequena sombra de seu esplendor. Mas esta lá. E eu conquisto o meu cume depois de uma escalada das mais tortuosas. É a primeira vez que eu o observo.
            Por isso astrônomo amador. Conquistador do Inutil... 
            P.S. Ngc 6541 é uma descoberta de Nicollo Caciattore . Um astronomo esperto que batizou as principais estrelas da constelação de Delphinus ( Golfinho) com uma corruptela de seu nome. Descobriu este utilizando um pequeno refrator de 75 mm.  


segunda-feira, 30 de abril de 2012

NGC 4038 e 4039 - As Antenas


           
              
               As duas galáxias que o Nuncius Australis vai apresentar hoje formam um dos pares galácticos mais famosos dos céus. NGC 4038 e 4039 formam juntas, “As Antenas”. Ou ainda Arp 244 a e b no “Atlas de Galáxias Peculiares” de Halton Arp.   
            Aqui nós encontramos duas galáxias em um mortal cabo de guerra. Cada uma delas sendo destroçada pela gravidade da outra.
 Isto leva à uma paisagem complexa de berçários estelares, com sua característica cor avermelhadas, devido ao hidrogênio ionizado (H II). E nuvens azuis de estrelas recentemente energizadas.
            Com o passar do tempo o momentum vai fazer com que uma galáxia escape da outra só para novamente serem atraídas até que finalmente, em futuro distante, se tornem uma só.
            Corvus é uma constelação que serve de guia para algumas de minhas galáxias favoritas. Apesar de não possuir nenhuma estrela acima de mag. 2.6 seu formato trapezoidal em uma região pobre em estrelas do céu outonal a faz saltar aos olhos.
            Nós podemos usar duas das estrelas no corpo do Corvo para nos guiar até o nosso objetivo. Trace uma linha ligando Algorab (Delta Corvi) até Gienah (Gamma Corvi) e continue igual distancia para sudoeste. Aproximadamente no meio desta linha você vai passar por um triangulo de estrelas de 7ª mag. Continue mais um pouco e As Antenas estarão ladeadas por duas estrelas de 9ª mag.
            Em um primeiro momento é possível que você perceba apenas um pequeno esfumaçamento, como é normal em galáxias. Mas relaxe e aprecie... Rapidamente você vai notar o característico formato de um camarão.
            Em céus mais escuros você poderá até perceber alguns detalhes nesta estrutura. Com muita atenção você irá perceber regiões apresentando uma leve granulosidade. Não se trata de ilusão de ótica. É resultado do processo de integração das duas galáxias. São áreas de intensa formação estelar.
            O processo que vai se arrastar por bilhões de anos leva o par  possuir vários nomes. As Antenas são fruto de longas exposições fotográficas. Outro nome é Galáxia do Rabo de Rato.
            Sua aparência por telescópios de médio porte (acima de 150 mm) me lembra de um girino...
            Elas foram descobertas por William Herschel (sempre ele...). Em 1785.
            Para constar: A magnitude visual do par é 10,5. E seu brilho de superfície é 13.3 (Ngc 4038).