Translate

domingo, 1 de abril de 2018

Astrofotografia, a Pascoa , uma Tamaron 70-210 mm e Softwares


              


             Semana Santa é sempre lua cheia... A Pascoa acontece no primeiro domingo depois da primeira lua cheia após o equinócio. Forte caráter astronômico e um mal momento para se observar. Não bastasse isto minha querida cunhada montou um bar de frente para o local onde sempre observo em Búzios. Para piorar isto colocou luzinhas de natal para decorar a fachada. E uma “mirror ball” na varanda dos fundos. Gosto não se discute. Se lamenta.  Nenhum governo ainda se dignou a promover uma “Bolsa Observatório”.
                Sem saber da radicalidade da reforma fui para Búzios na vã esperança de conseguir ao menos capturar M 68 e 53. Assim ficaria faltando fotografar M 72 para completar minha coleção de Globulares Messier.
                Na quinta feira  santa chego ao meio dia na Armação com os pés sujos. Pego uma praia com meu menor e volto no fim de tarde cheio de esperança. Quase acreditando em ressureição. Quero realizar um alinhamento polar “a sério”. Utilizando a técnica fotográfica.
Alinhamento Polar

                Esta consiste em com a câmera já montada no Newton (e com o eixo polar apontando grosseiramente para o sul celeste) realizar exposições de trinta segundos com telescópio apontando para o equador celeste. Durante os primeiros 5 segundos de exposição você nada faz. Depois desloca este para o oeste pelos próximos 15 segundos e para o leste os segundos restantes. Caso seu alinhamento esteja correto o resultado será uma linha. Caso contrário um “V”. Sendo um “V” ajuste a cabeça nos parafusos de Azimute até que o “V” se transforme em linha... É bem mais preciso que o método “preguiçoso” e menos chato que o drift. Para ajustar a altitude se faz o mesmo procedimento apontando-se para o horizonte leste ou oeste o mais baixo possível. E evidentemente se ajusta a cabeça no parafuso responsável pela altura. Quem quiser entender melhor o processo pode procurar por um vídeo do Compassi no You Tube. Nesta época do ano implica em apontar-se o telescópio para uma região com poucas e tênues estrelas. A Pascoa é um saco. Só salva o feriado prolongado.  A Aporema de outono vai ter que esperar. Tenho um trabalho começando dia 5 e que deve ir até 15. Há possibilidades de que este aconteça em Paraty. Será perfeito.

                Logo de cara a montagem não funciona com a câmera sendo operada pelo APT. Vai ser manualmente mesmo. Quando estou quase lá as nuvens entram rasgando e deixo a precisão para lá. Já fotografei com alinhamentos bem mais toscos. E com a lua cheia, o novo bar e as nuvens rondando não tenho motivos para grandes esperanças. Já tinha voltado ao estado de descrença que me é normal...
                M 53 é um sonho impensável. Não consigo sequer ver Alpha Coma a olho nu. A lua cheia é a maior inimiga que um DSO pode encontrar. Nem mesmo a iluminação das pedras do Arpoador chega a ser um inimigo tão figadal.
                Para dizer que nada aconteceu nesta noite observei Castor. Esta eu nunca tinha dividido tão facilmente. Com apenas 45 X de aumento percebia ambos os componentes nos momentos de seeing estável. Com a Barlow era fácil. Outra dupla que compareceu foi Cor Caroli. Com e sem Barlow . Muito baixa no horizonte sofreu bastante com a instabilidade da atmosfera.
                Segue a noite e como dizem por aí “Tá no inferno abraça o Diabo”. Faço fotos da lua cheia de todas as formas possíveis. Com o telescópio e utilizando a minha Barlow OMNI da Celestron. Esta é uma “2X”. Curiosamente amplia mais que a minha “2X” da Skywatcher que veio junto com o Newton. Atualmente uso a carcaça da Skywatcher com a lente da Celestron. (a OMNI não tem rosca apara o adaptador da câmera...).  Faço também sem Barlow. Depois com a minha lente 300 mm da Pentax e com uma 70- 210 mm da Tamaron. Com nuvem e sem nuvem. superexposto e sub exposto. Etc., etc. e etc....



                Para não dizerem que não falei de flores faço algumas imagens da Caixinha de Joias de Herschel (Ngc 4755) e de Ômega Centauro.  
Caixa de Jóias (Ngc 4755) 7 x 30 Seg. + 4 darks (Raw) -DSS 2X Drizzle+Fits+Photoshop

Sem drizzle

Omega Cen- 10X30Seg- DSS 2 drizzle+PixInSight+PS+Noiseware. Esta foto foi submetida a varios processos em todos os softs citados. 

                A primeira noite se encerra junto com a   garrafa de Wiborowa. Não poderia deixar de comentar que houve um show da Anita na Armação para coroar o fracasso. Felizmente longe o suficiente da casa para não ter que escutar nada...
                Vai começar a segunda noite. Sexta da Paixão. Ao contrario de Cristo continuo vivo apesar da vodka. Tudo no lugar e a cabeça quase alinhada. O projeto da noite é modesto. Quero refinar o alinhamento polar pela técnica nova e só. O resto será lucro. Observar (e fotografar) na lua cheia é apenas um exercício. Mas como já dizia o poeta “homem é o exercício que faz.”
                A realizar o teste para o alinhamento para o azimute eu não poderia ser mais feliz. Estava cravado. (Aqui em Búzios eu sei aonde esta o sul de cor e salteado...). O topografo da região foi pai do caseiro e os lotes tem os muros alinhados no sentido Leste-Oeste com uma precisão de segundos. Pelo menos na Rua da Linguiça...
                Depois de alinhar o Synscan utilizando Acrux e Sirius e este se revelar bem preciso começo a observar em uma das piores condições que já o fiz. O Bar todo aceso, a cunhada fazendo bacalhau, a lua com 99.5% do disco iluminado, a pequeno febril e uma cachorrinha Chihuahua histérica infernizando a todos.  Mesmo assim aponto para Ngc 2516 no intuito de revisitar o maior número possível de “Lacailles” possíveis durante a noite. Com “O Sul Profundo: o Catalogo Lacaille” aberto sobre a bancada do bar planejo uma minimaratona para a clara noite. Os DSO´s descobertos pelo Abbe (em sua maioria) são dos poucos capazes de sobreviver a tanta agressão. Faço poucas exposições e percebo que o acompanhamento está muito bom. Apesar das “full conditions” (um termo inglês utilizado no montanhismo e que se refere a escaladas realizadas com muito frio, neblina, neve e sobre terreno desconhecido, mal protegido e pouco confiável) Ngc 2516 apresenta estrelas redondas e alguma cor. É um dos mais ricos aglomerados abertos dos céus.  Possui diversos apelidos: O Aglomerado do Corredor ( Sprinter cluster) e o Presépio Austral são os mais famosos.
Ngc 2516- 6X30 seg -DSS+Fits +PS. Pouquíssimo tratamento aplicado.

                Dedicarei boa parte da noite me dedicando a caça de estrelas duplas. Afinal é Lua mais que cheia... E estas são resilientes. Conheço uma nova e muito interessante. 24 Coma.  Esta com sua componente primaria sendo uma gigante amarelada e sua parceira uma estrela de um pálido branco azulado. Belo contraste mesmo muito próxima a lua. Se separou com uma Barlow 2x e uma ocular de 17 mm. Separação 20.3´´.
                Depois tento 35 Coma.  É uma binaria visual. Os membros foram resolvidos com ótica adaptativa.
                Algieba é outra divertida. Também com a Barlow e a 17 mm. Com uma separação de 4´´ não a consigo fotografar. Ela se apresenta como uma estrela alongada. Não se separando de fato. Bem no limite de Dawes do meu conjunto óptico.

Cor Caroli com uso de Barlow 2X -Frame unico

Sem Barlow


                Não poderia faltar Cor Caroli. No limite do conjunto ótico sem o uso de Barlow.
                De volta aos DSO´s visito um apagado M 35. Este me prepara para o que me espera. Mesmo aglomerados bem claros serão discretos visualmente durante esta noite. Com o Synscan (sistema de localização da cabeça equatorial. Também chamado de “go-to”.) um pouco errante é bom manter o nível de expectativa baixo.
IC 2488- 9 X 30 Seg- DSS+PixIn Sight 1.0+PS(varios processos)+Noiseware. 

                Retorna a Lacaille e visito IC 2488 e IC2391. O primeiro bem discreto visualmente. Com a ocular de 40 mm parece apenas um agrupamento casual. Mas como é velho conhecido apelo para a 17 onde este se apresenta descolorido, porem mantendo seu caráter de aglomerado evidente. Faço pouco mais de 10 fotos. Murphy é um babaca. Em noite de Lua o acompanhamento se apresenta muito bom e consigo exposições de 45 segundos com excelente aproveitamento. IC 2391, A pequena Cassiopéia, é muito claro e evidente. Faço apenas uma exposição com este já cruzando o meridiano e com o Newton (um newtoniano 150 mm f8) quase tropeçando no tripé.
IC 2391- Frame unico. Apenas convertido de Raw para Jpeg no PS. 

                Quando visito Ômega Centauro perco qualquer esperança com relação a M 53 e M 68. O gigante é pouco mais que um fantasma. Mas faço pouco mais de uma dezena de exposições deste e com um foco raro para meu focalizador de pinhão e cremalheira.
Ngc 5460- 10X30 seg- DSS+Fits+PS

                Resolvo passear por Centaurus e acabo conhecendo um belo e discreto (em noite de lua cheia...) aberto pouco visitado. Ngc 5460. Muito apagado visualmente requereu uma navegação um pouco mais elaborada para se render.  Faço muitas fotos. Este merece uma nova visita em noite mais digna. Muito delicado e totalmente fora do circuito. Um clássico do “Projeto Tudo que Existe”. Este foi fruto da melhoria da qualidade de vida no Observatório. Com todos na Armação fiquei eu e meu pequeno em casa. E assim a vizinhança baixou um ponto na Escala Bortle. Fechei o Bar, apaguei tudo que dava e coloquei o APT (software para astrofotografia) para funcionar. Deixei o computador fazer o trabalho sujo da captura e fiquei um pouco com meu filho levemente febril. Definitivamente preciso fazer mais isto. Com um alinhamento polar bom consigo 45 segundos de exposição sem acompanhamento. Por cerca de 10 fotos. Depois um leve ajuste e mais um round agora apenas com 30 segundos de exposição.
M 7 -6 X 30seg -DSS Pix+PS

                Para finalizar uma rápida captura de M 7 que vai brotando por trás da aroeira. E claro, a lua com 99.6 % do disco iluminado.
                Sábado de Aleluia chega a outra cunhada com o marido francês e mais duas crianças. Churrasco. Não é motivo para entoar-se o Gloria. Para não aproveitar nada da temporada Eustaquiana monto Mlle. Herschel (minha montagem equatorial HEQ 5 pro) com a Canon e sua 18-55 mm “de fábrica". Em meio as carnes e os vinhos farei algumas fotos de caráter mais artístico. Uma espécie de Fairnbarns dos miseráveis. (Espero que ele me perdoe algum dia por isto.) Uma pena que com a lua cheia exposições muito longas sejam inviáveis. Com o alinhamento polar bom conseguiria exposições de 2 minutos facilmente com uma distância focal tão curta. Não sou muito de fazer composites. Mas tenho algum material para treino.
1 Frame 30 seg . Cruzeiro -PS - Percebam que a arvore é iluminada por uma luz fluorescente verde por baixo. Astrofotografia com luz de compensação de filme do Zé do Caixão... É dura a vida de um astrônomo amador.
                Acabo encurtando as exposições devido a uma noite mais nublada. E acabo aproveitando para testar as potencialidades de uma Tamaron 70-210 mm f4 que herdei. Faço varias fotos com a mesma e ela se revela bem superior a Vivitar 70-150 mm f3.8 que reformei recentemente. Não é uma lente Zeiss mas vai dar para o gasto. Meu sensor está precisando passar por nova faxina.  Infelizmente com o churrasco e com a casa muito cheia a casa se encontra muito clara. Luzes de todas as cores acesas e descubro que meu irmão e minha cunhada tem medo de escuro... Em uma varanda com pouco mais de 25 metros quadrados existem 10 lâmpadas e todas sempre acesas. Vergonhoso.
Tamaron Single frame- PS.-O sensor esta imundo...

Mimosa e Ngc 4755 -Tamaron @ 210 mm - 6X 30 seg- DSS+Pix+PS
Rubiacea.

                Mas a Tamaron localiza Ômega Centauro e a Caixa de Joias e faz interessantes composições. É bom fotografar em f4. Mas com ela toda aberta percebo algum cromatismo ao redor da Mimosa (Beta Crux). A lente mantém o foco conforme mudo a distância focal. Ponto para ela. Usando o APT faço varias brincadeira com um plano de captura para 10 fotos com 40 e depois 30 segundos de exposição. Apesar de nuvens passageiras muitas fotos são aproveitáveis. Infelizmente as fotos com a Tamaron esta noite foram capturadas apenas em Jpeg. Uma distração minha atribuída ao vinho. 
                Para encerrar a temporada apresenta-se um enorme halo lunar que vai se formando aos poucos. Minha 18 mm é pouco para abarcar sua imensidão com todas as honras necessárias para tamanho espetáculo.  Mas consigo o registro. Um halo enevoado e diferente.

                Resta empacotar as coisas e aguardar a manhã seguinte para esconder os ovos e depois voltar para Rio. Infelizmente as crianças estão em aula e a maior não pode mais faltar por razões tão mundanas. E o halo e o vento me dizem que o tempo vai nublar.
                Depois disto ainda é necessário “revelar” as fotos. Especialmente quando sua captura acontece em RAW (e deve acontecer) são muitas as possibilidades. As vezes penso em primeiro “brincar” com as imagens a serem empilhadas uma a uma no Camera Raw do Photoshop e depois empilhar estas “pré-tratadas”. Mas sempre me dá uma enorme preguiça e nunca o fiz...  Seguindo o curso normal todas as imagens de cada um dos alvos vão passar pelo DSS para serem “stackeadas” (adoro poder assassinar duas línguas simultaneamente com uma única palavra...) e posteriormente visitar ou o Fitswork ou o PixInSight para a remoção dos gradientes de fundo.  Reparei que o Fits, embora mais rápido e fácil, adiciona ruído as fotos após a remoção deste. O Pix, que possui uma interface mais complexa e é mais trabalhoso, apresenta   resultados melhores. Depois disto tudo ainda visitarão o Photoshop para os ajustes finais. E poderão ainda ir ao forno no Noiseware, mas este é um versão para lá de genérica e não chega a mudar muito as coisas. Geralmente eu realizo um stacking inicial no DSS com os frames integrais. E depois um segundo Stacking onde utilizo o drizzle para conseguir imagens mais detalhadas e ampliadas. Evidentemente que alguns DSO´s não nasceram para o processo de drizzle (Ngc 2516 é um exemplo clássico) pois ocupam uma região maior do frame do que a área admitida para o drizzle.   Abertos, em geral, (uma opinião pessoal) se descaracterizam um pouco no procedimento. Já Nebulosas Planetárias se beneficiam do mesmo.
                Ao longo do post vocês puderam observar algumas destas diferenças. O workflow das fotos finais está descrito sob cada foto.
                Que venha a lua nova. Estou louco para poder atacar o aglomerado de Virgem na Aporema adiada de Outono.  E capturar logo M 53 e M 68.

Nenhum comentário:

Postar um comentário