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segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Ngc 2360- Astronomia : Substantivo Feminino


                Caroline Herschel foi a primeira astrônoma profissional da história. Irmã do celebrado William Herschel ( descobridor de Urano e provavelmente o maior observador visual de todos os tempos) é uma espécie de eminencia parda. Uma gigante com cerca de 1,40 metros esta pequena grande dama trabalhou junta a seu irmão na elaboração do  catalogo que deu origem ao General Catalog. Um titânico trabalho reunindo mais de 2500 DSO´s no qual ela trabalhou como assistente de seu irmão e com subsidio do Rei George III. Ela recebia 50 libras por ano como assistente de William , seu mais querido e amado irmão.  (este ganhava 200 Libras como astrônomo Real. É incrível o que a inflação pode fazer pouco mais de 200 anos...)
                Caroline nasceu em 16 de março de 1750. É a oitava de 10 irmãos. Ainda criança foi acometida de varíola o que lhe legou sua baixíssima estatura e uma aparência pouco atraente, Aos 11 contraiu tifo. Se tornou uma sobrevivente. Mas reza a lenda que após isto nunca mais adoeceu. Foi  infatigável assistente de seu irmão. Cuidava da casa, das anotações , polia espelhos e tudo mais que fosse necessário para manter seu amantíssimo irmão despreocupado dos afazeres terrenos. Conta uma história que esta chegou a alimentar o próprio na boca enquanto este trabalhava polindo um espelho para seu mais novo telescópio durante 16 horas.
                William a presenteou com um pequeno telescópio e a incumbiu de procurar cometas. Também a instrui para  que ela também anotasse qualquer outro tipo de objeto interessante no seu caminho.  Tratava-se de um refrator que William considerava como uma espécie de buscadora. Com este modesto instrumento ( e posteriormente com um refletor de 90 mm)  Caroline descobriu  11 DSO´nunca antes observados. 
                Na noite de 26 de fevereiro ,1783 ela escreveu: " Logo após Gama Canis Maj uma nébula extremamente tênue.  As observações de meu irmão desta nébula: encontra-se aproximadamente a 3 1/2 graus de Gamma Canis Maj  " Amas de etoiles" ( como Messier referia-se a aglomerados abertos)  cm cerca de 1/2 graus e próxima a uma estrela de 7a ou 8a  magnitude. om 456 (aumento) conta-se 15 ou 16 estrelas que são todas excessivamente obscuras e parecem um pouco nebulosas; mas creio que isto se deva  a sua baixa altura e ao aumento excessivo. Com 227 ( aumento) conta-se entre 40 e 50 pequenas estrelas mais densas que em M93. Não é um Messier".
                No caderno de William Herschel  encontra-se esta versão e em seu catalogo ele atribui a descoberta da nebulosa a Caroline. Ele a inclui como a entrada VII. 12 de seu levantamento.. Seu filho John ( que organizou o GC [general catalog]) faz uma pequena confusão corrigida pelo próprio William que esta descoberta de sua tia seria  VIII. 8 ( atual Ngc 2358) . E desta forma garante que a descoberta de Caroline é Ngc  2360 ( GC 1512) .
3X15 seg+3 Darks - DSS +Noiseware +Photoshop

                Este belo e delicado aglomerado é a primeira descoberta original de Caroline. Como não poderia deixar de acontecer se tornou conhecido como o "Aglomerado de Caroline".
                O Aglomerado foi incluído por Patrick Moore em sua lista de "showpieces" celestiais que formam o Catalogo Caldwell . É assim também C 58.
                Quando atualizei o Stellarium e este passou a incluir o Catalogo Caldwell percebi rapidamente a existência deste aglomerado de nome sugestivo habitando na  fronteira de Cão Maior e Monoceros. Não poderia deixar de visita-lo.

                Localizar Ngc 2360 não é uma tarefa tão fácil como se pode imaginar. Localizado a cerca de 3 1/2 graus ao leste de Muliphen (Gama Canis Maj) é um discreto esfuminho em locais escuros junto a buscadoras. Eu não o percebi  com minha 9x50 mm. Omeara considera o aglomerado facilmente perceptível com binóculos de 7X35 mm. Ele observa de mais de 1500 metros de altitude e com um céu bem mais escuro que de Búzios ou do Rio de Janeiro.  Muliphen em si é uma estrela de 4.3 Magnitudes e é difícil de locais com forte poluição luminosa. Assim inicio minha jornada em Sirius e utilizando a minha ocular de 26 mm e o Stelarium ao meu lado faço um longo Starhopping que passa por 20 CMa dai até Muliphen e daí no instinto até o Aglomerado. No processo acabei fotografando um pequeno asterismo que me enganou na primeira tentativa. repetidas vezes me deparo com o mesmo e acabo descobrindo ser formado por 4 pequenas estrelas por volta de 9a magnitude .

Asterismo guia...













                 Elas me recordam um pouco Ngc 5138 em Centauro. Com auxilio do Stelarium descubro que estou a meno de 1/2 grau do Aglomerado de Caroline e assim acabo chegando ao meu destino.   Na verdade partindo de Sirius calcule um salto por volta de 1 campo e meio de buscadora e "desça rumo ao horizonte leste. Ou Usando uma ocular wide field calcule  os seus pulinhos utilizando o Stelarium ou um programa similar e depois passeie rumo oeste só um "pouquinho". A persistência irá acabar vencendo e você chegará lá... O Adm. William Henry  Smith em seu "Cycle of Celestial Objects" propõe um outro caminho. Imagine uma linha se estendo 8 graus a partir de Sirius em direção ao aglomerado ( leste-Nordeste ) . Depois Imagine uma outra linha que passe por Aldebarã e Bellatrix . Onde as linhas se interceptam esta o aglomerado.  Não é uma navegação das mais simples de qualquer forma. Demorei dias tentando achar e fui ludibriado diversas vezes por campos estelares e asterismos diversos. Esta região da Via Láctea é rica em estrelas de 10a magnitude .
                O aglomerado propriamente dito é inconfundível e apresenta um núcleo mais concentrado e fileiras de estrelas escapando do mesmo como em espiral. Cada autor que consulto vê algo diferente. O´Meara diz nos ver um pequeno rato com cauda e tudo. E ressalta que Barbara Wilson salienta um formato pentagonal no mesmo. 
                Observei o aglomerado com diversas oculares. Sando pequeno ele gosta de grandes aumentos . A melhor visão do mesmo eu obtive com 120X. Utilizando minha 26 mm (46X) ele não chega a se resolver na integra e pode até mesmo passar desapercebido por um olhar menos atento. Com minha 17 mm ele começa a se resolver .
                O aglomerado contem 91 estrelas ( Archinal) e se espalha por 15 anos luz.  Sua estrela mais brilhante possui magnitude 10.4 e seu membro mais apagado é uma discretíssima estrela de magnitude 17. Isto faz que os limites do aglomerado sejam um pouco difíceis de se determinar em uma área da Via Láctea , como já dito, rica em estrelas desta magnitude. Já é um ancião em tratando-se de  um aglomerado galáctico. 2.2 bilhões de anos . diversos de seus membros caminham na região das gigantes vermelhas de seu diagrama HR. Foram encontradas também algumas Blue Straglers ( estrelas que consumindo outras parecem ser mais jovens do que realmente são...) .
                É um interessante e antigo aglomerado que ainda por cima nos leva até Caroline Herschel ." A  primeira astrônoma profissional".

                E nos lembra que astronomia   é um substantivo feminino. 

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