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quinta-feira, 27 de junho de 2013

Ngc 5139 ou Omega Centauri : O Gigante Austral


         
A foto acima foi realizada anos depois deste post. É interessante possuir um blog pois você pode ir atualizando os seus avanços. Nas fotos a seguir vocês verão o evidente avanço que houve  nas técnicas e do equipamento fotografico ao longo dos anos aqui pelo Nuncius Australis. A foto acima é resultado de 15 exposições de 30 segundos (Raw) com ISO 1600. E mais 10 dark frames. Tudo empilhado no Deep Sky Stacker. Posteriormente o arquivo tif de 32 bits que surgiu deste processo foi "esticado" no PinInsight e no Photoshop CS.  O "ch" de que falo mais a frentr continua a existir. Hoje acho que este é como um "aglomerado" dentro do aglomerado. Um grupo de estrelas brilhantes que se apresentam como um pequeno nó no conjunto e recordam a nós um padrão semelhante as letras "c " e "h".  O Telescópio utilizado é ainda o bom e velho Newton. A camera utilizada nesta foto foi uma canon T 3.  Nas abixo ainda eram os tempos da 350 D.

          Acredito nunca ter feito um post dedicado a Omega Centauri. Provavelmente devido à timidez. O “Maior de Todos” é um gigante. Intimida...
Gigante aqui é um adjetivo. Uma qualidade. Omega do Centauro, o gigante. E é também substantivo. O gigante que é o sujeito deste post.  
            Lutando contra os restos da “Supermoon” que já vai minguando e com a brutal poluição luminosa que vem me assombrando em nome de melhoras no transporte publico (sou contra a violência nas manifestações. Mas cada vez que apontam um refletor da obra do metro ao pé de meu prédio na direção de minha janela eu mesmo penso em vandalismo e em espingardas...) pego a câmera.
            Desta vez resolvo fazer algumas fotos utilizando apenas minha câmera e sua 75-300 mm. É sempre divertido e não implica em operações muito complexas. E assim coloco a câmera na janela e ao “deus dará” começo a tirar fotos.
Nenhuma pretensão a não ser brincar de astrofotografia.
Começo apontando a mesma para as proximidades de Atria (Alpha Tra). 
Próximo a Atria... 1 exposição de 15 seg 75 mm f4.5

Depois por perto do polo celeste sul. Mas nada de interessante aparece. Só trafego aéreo... 




Dando um pulo em direção a Centauro as coisas mudam. E assim descubro (de novo) que Omega Centauro é um monstro. Um DSO que merece uma categoria própria.
            Aglomerados globulares são membros do conselho de anciãos do Universo. Por razões muito acima de meu saber alguns deles parecem ser mais antigos que a própria galáxia. E Omega parece ainda ser diferente dos demais. Sua origem pode ser extragaláctica. Ou ainda galáctica. Ele mesmo ter sido uma galáxia que depois de depenada pela via láctea ainda teve forças para ser o Maior aglomerado desta. Há controvérsia. Mas sempre que o observo me parece ser diferente dos outros.
            Desta vez ele mostrou seu poder de fogo de uma forma tão humilde que mostrou ser realmente um ser diferente. Mesmo na humildade ele é o “cara”.
            Apontando a câmera quase sem querer percebo que algo que esta em quadro não é uma estrela. Concentrando-me um pouco e sem precisar pensar muito percebo que é ele. Quase no meio do quadro.

Canon T3 zomm 75-300mm @ 75 mm . 10 expx 15 segundos Deep Sky Stacker

            Poluição luminosa, Supermoon, nuvens e ele se apresentou sem ter sido sequer convocado.
            Omega é um velho amigo. Ele é o DSO que deixa claro que os céus austrais são mais dadivosos que os dos colegas do velho continente. Em qualquer lista de Globulares ele é sempre o primeiro a ser citado. Mesmo por pobres coitados que nunca o tem a mais de 5º do horizonte. Só para ser bairrista o segundo também é propriedade do hemisfério sul. Tuc 47. Deste eu já falei...
            Ele, provavelmente, é conhecido desde ha mais remota antiguidade.  Ptolomeu o inclui em seu catalogo. Como estrela. “Quae est in principio escapulae”. Uma estrela diferente mesmo a olho nu. Depois fez parte de um dos primeiros catálogos de nébulas conhecido. Desta forma “redescoberto” por ninguém menos que Halley (o do cometa...) em 1677.Ele já percebe sua natureza não estelar e o descreve  como “um local brilhante em Centaurus”. Depois  dele o sócio do Nuncius Australis, Abbe Lacaille, o inclui em seu catalogo como Lac I. 5. Foi primeiramente identificado como um Globular por Dunlop em 1826. Ele é conhecido também como Ngc 5139. E seu nome mais bonito foi dado por Bayer...
            Dos globulares conhecidos, no grupo local, ele só é suplantado por Mayall II. Este na galáxia de Andrômeda.
Como já o falei tão diferente dos outros globulares conhecidos que sua origem é, muito provavelmente, diferente.
            Localizado há 15.800 anos luz de nós ele contem muitos milhões de estrelas da chamada População II. As estrelas em seu núcleo se encontram de tal forma comprimidas que a distancia entre as mesmas é de apenas 0,1 anos luz. Diversas fontes concordam na presença de um buraco negro de massa intermediaria junto a seu núcleo. Isto só já indica fortemente uma origem distinta do amigo. A metalicidade e as diversas gerações estelares presentes indicam fortemente que o mesmo seria o núcleo de uma galáxia anã absorvida pela Via láctea. Ao contrario da maioria dos globulares suas estrelas se formaram a longo de 2 bilhões de anos e não de forma quase simultânea.
            Velho conhecido (estou repetitivo hoje...) eu me recordo claramente da primeira vez que o avistei. Foi o meu segundo DSO. Perdendo apenas para “A caixinha de Joias". O avistei de minha janela e foi um choque descobrir que haviam estrelas disfarçadas de nuvem escondidas no céu.
            Localizar Omega Centauro é bastante simples. Em locais mais escuros ele é facilmente percebido a olho nu. E com um pouco de atenção percebe-se que se trata de uma estrela levemente esfumaçada. Diferente. Com qualquer auxilio óptico ele se destaca. Mesmo em locais com relativa poluição luminosa ele se apresenta. Mag. 3.7. Em situações desesperada e com o “auxilio nada luxuoso” da poluição luminosa de uma mega cidade ele continua sendo facilmente localizado com o auxilio de uma buscadora. Basta você seguir uma linha imaginaria ligando Beta Centauro até Épsilon Centauro (ambas visíveis mesmo no Rio de Janeiro e com a obra do metro...) e dobrar a distancia entre estas. É fácil...
            Depois foi um dos primeiros DSO que desenhei. E seguindo a ordem natural dos encantos foi um dos primeiros que fotografei. E de novo e de novo.
            Uma curiosidade que percebo em fotos de Omega Centauri é que sempre que o acompanhamento deixa a desejar ele apresenta claramente as letras CH estampadas entre suas estrelas.(como falei na legenda da foto que abre o post não acho mais que isto seja fruto de um mal acompanhamento. é uma estrutura real no aglomerado e perceptível em fotos amadoras de forma recorrente...) Causadas por um bando de estrelas mais brilhantes que o habitam. Já notei isto em diversas fotos de diversos autores. Fica como uma assinatura do mesmo e da crueldade que é o tal do alinhamento polar e dos custos para se ter uma montagem equatorial digna. ( Depois deste post eu comprei uma HEQ 5 e mesmo assim o "Ch" continua a se mostrar. Mesmo que mais tímido...) 
Reparem no ch... Diversa exposições através do "Newton" (  150 mm 1200 DF f8) Rot n´Stack
            Hoje ele mostrou que mesmo andando distraído ele não deixa você se perder. E nesta modesta foto, sem acompanhamento, sem telescópio e sem nada demais ele dá o show. O gigante acordou...

1 eposição 15 segundos refrator 70 mm f13.

          
Resultado do empilhamento de 15 fotos ( inclusive a foto acima. ) Rot n´Stack Sort mode + Iris...
 
                    Omega Centauri é o maior e mais belo Globular que conheço. E um velho amigo.

                   P.S. Abaixo uma imagem de Nuno Cunha onde percebe-se claramente o "ch". 


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