Translate

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Astrofotos , Umidade e a Morte de uma Câmera


           Não temos tempo a perder.
Férias de minha “cara metade”.
O plano inicial seria Floripa. Mas o “decorrer” e a previsão de um verão muito chuvoso nos levou até Trindade (R.J.).
Eu passara quase um mês nesta pequena vila, cerca de dois anos atrás, realizando um filme sobre a expedição de Villegagnon e uma França dita Antártida.

Me lembrava  claramente do céu.
As Nuvens de Magalhães eram nuvens mesmo.
E me  lembrava, ou me esqueci, de mais muito pouco...
Como se trata das férias da “cara metade” e ,como já expliquei , seu amor caminha na proporção inversa ao tamanho do telescópio que nos acompanha vou levar o “Pau de Dar em Doido”. É o carinhoso apelido que o Celestron Sky Master 15X70 ganhou. A razão é bem obvia: ele “guenta” a porrada. Parceiro de varias bebedeiras e viagens ele continua colimado.
Tinha planos elaborados. Todos deram “bem errado”.
Tirar fotos seria uma missão obvia. Mas vamos ser minimalistas desta vez.
Comprei um tripé “tabajara”. Lembre-se que os custos do “hobby” devem ser mantidos baixos
E levo meu outro “pau de dar em doido” (uma lente Canon 70-300) junto com a câmera (350D). .  Pensei em fazer algo assim...

Finalmente visitei o 7 timer. É um bom programa “meteorologista”.
Meteorologia é uma ciência. Mas nem tão exata. Parece que tem algo haver com borboletas e bater de asas.
Os prospectos eram cinza.
“Surfista das antigas” vou levar o “pranchão” no lugar do caixão de Newton”.
Trindade é uma pequena vila situada no extremo “sul” do estado do Rio. E local de boas ondas.
O Rio de Janeiro é um estado “fora do esquadro” no litoral brasileiro. E assim quando se fala “ao sul" poderia se falar “a oeste”... Ao “olhar para o mar” você não olha para África. Seu rumo mais próximo seria as ilhas Falklands. Este um território muito a sul e de pátria discutível...
Finalmente chegamos a nosso destino e depois de algumas aventuras nos instalamos em um belo chalé encravado no meio de uma das maiores reservas de mata atlântica do mundo. Resta muito pouco... Mas ainda mostra quão foi enorme... (Este texto, talvez, devesse ter sido  escrito entre aspas e ter somente um três pontos no fim...).
A Mata Atlântica é classificada como uma “rain forest" em diversos textos clássicos sobre sistemas ecológicos. Eu estudei no ODUM. E um dos locais que mais chove do mundo. Eu aprendi um novo parâmetro. Se chama umidade.
Meu computador rapidamente sofreu um choque. E desta forma o teclado enlouqueceu.
Uma espécie de crise “linguística”. Depois de ligado alguns minutos ele deixava de ser gago...
Umidade é uma praga. E nesta região ela atinge proporções momescas.
O computador é a primeira vitima e com o teclado errático eu me consolo que pelo menos o Stellarium ainda funciona.
Mas observar que é bom parecia um sonho distante.
Os dias amanheciam nublados e o sol só mostrava sua cara depois de 9 ou 10:00 da manhã. Só para começar a chover as 15h00min.
Mas como acordávamos cedo podíamos aproveitar bem o dia.
Desta forma descubro que a umidade agora começa a atacar a minha querida lente 70-300 mm. Percebo que minha “cara metade” fez uma serie de fotos onde um curioso efeito se abate sobre as imagens. E como se ela fotografa-se através de uma folha de papel vegetal.
Olho para lente e percebo uma condensação em uma das superfícies óticas dentro da lente. Nada que eu pudesse utilizar um “cleaning tissue” e seca-la. Em um ato desesperado coloco a lente para secar ao sol.  Funciona.  A lente se recupera.
Pardais , Bem-te-vis, Quero-Queros e Beija-flores 
E na ausência de estrelas me conformo em fotografar alguns pássaros. Não que eu entenda de pássaros ou passarinhos. Mas admito que adoro desafios. E fotografar pássaros é um pouco mais fácil que fotografar DSO´s. Mas é bem mais difícil que naturezas mortas... E desta forma vou aprendendo a identificar algumas espécies.
Depois de um dia em que tudo corria bem voltamos para o nosso belo chalé e para sua equipada cozinha. Modestamente fiz um spaghetti com camarão que ficou uma beleza. Acompanhado de duas garrafas de Santa Helena Sauvignon Blanc.
E como que por milagre o tempo abre.
Pego o binóculo e faço uma rápida sessão de observação com o “Pau de Dar em Doido”.
De novo a umidade. Tudo esta molhado e deitar no chão não é uma opção. Mas mesmo assim faço um belo tour por Orion. Isto tendo que driblar o dossel da mata que cerca nosso chalé. De qualquer maneira consigo belas visões do cinturão e dos já habituais passageiros da região. Assim M42, 43, Ngc 1981 e outros aglomerados abertos se revelam. O cinturão de Orion, do qual as Três Marias são os membros mais famosos, é um imenso aglomerado de estrelas que passeiam juntas pela via láctea. E este mega aglomerado responde pela entrada de numero 70 do catalogo Collinder (Cr 70).
O céu da região é escuro mesmo e M78 é um alvo fácil. Percebo alguma nebulosidade junto Alnitak. Embora longe das imagens fotográficas que tornaram famosa a região eu consigo (com o uso de visão periférica) perceber a existência de Ngc 2024, a Nebulosa da Chama. E mais incrível ainda percebo ou pressinto IC 434. Esta é a nebulosa brilhante por sobre a qual B 33 (a famosa Nebulosa Cabeça de Cavalo) se apresenta.  Mas ao contrario de Phill Harrington, que já observou a Horsehead com binóculos, eu não consigo perceber nada além de um leve brilho contra um céu muito negro. Algo mais para o sentimento que para a visão...
Aproveitando que o céu para o sul era mais desobstruído continuei o passeio rumo ao Cão Maior. E por lá começo por onde sempre começo: M41. O Aglomerado aberto se resolve parcialmente e percebo algo como uma dezena de estrelas.  No coração do aglomerado se esconde uma estrela vermelha que é a marca registrada de M41.  Responde pelo belo nome de TYC 5961-3331-1 ou ainda HIP32406. Dependendo do que você consultar: Stellarium ou Skychart.
Depois tento perceber o Aglomerado de Tau Canis. Mas com apenas 15X a estrela que o batiza rouba a cena e não percebo mais nenhum de seus membros.
Seguindo a maré passeio pelos grandes aglomerado do catalogo Collinder que habitam a cauda do Cão.   Cr 121,132 e 140 se sucedem em uma rápida escaneada.  Todos com 1º ou mais de tamanho são alvos binoculares por excelência.
Depois coloco M47 e M46 no mesmo campo e enquanto M 47 se resolve M46 é apenas uma tênue condensação. Formam um par interessante com suas evidentes diferenças.
Depois disto vem M93. Algumas estrelas "flicam” neste aglomerado que apresenta uma forma de cunha e que não chega a se resolver.
Depois localizo Ngc 2477 e 2451. Assim como M47 e M46 ambos cabem dentro do mesmo campo e formam uma linda paisagem celestial.
O bom de se observar com binóculo é que você otimiza seu tempo. Se você conhecer a região que esta observando é possível localizar diversos alvos interessantes em muito pouco tempo.
Depois deste passeio acho que chegou o momento de fazer algumas fotos.
Mas aí a umidade...
A câmera se recusa a ligar. Troco bateria e nada.   Tento utilizar um secador de cabelos e nada.
A minha velha 350 D morreu. A umidade foi demais para ela.
Fico desolado. Adorava minha velha DSLR. Mas até o momento que escrevo estas linhas ela ainda não ressuscitou. E não sei se vai.  Como é uma câmera velha e que comprei usada eu creio que se o custo de consertá-la passar de R$ 100,00 ela será dada como perdida em ação. Estou pesquisando uma nova câmera que irá substituir a Rebel junto ao telescópio e também em serviços gerais.


De qualquer forma a minha tão cara Rebel tem uma bela lista de serviços prestados.
E como a expedição Trindade foi um fiasco fotográfico (pelo menos no campo astronômico) apresento alguns dos melhores e piores momentos de minha câmera. Uma espécie de testamento...

Astrofotografia é algo que eu nunca vou terminar de aprender. Mas a 350D foi uma grande companheira neste começo de jornada.








Não poderia deixar de terminar este post com uma nota póstuma.

R.I.P. 350 D.

P.S. A umidade é um mal que deve ser combatido. Pacotes de Sílica gel ou mesmo naftalina devem acompanhar seus equipamentos eletrônico e óticos onde quer que você vá. Um desumidificador é uma opção mais cara, mas muito eficiente...

Um comentário:

  1. Gostei imensamente de descobrir este blog. Fiquei realmente muito feliz ....

    ResponderExcluir