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domingo, 10 de junho de 2018

M 93 e a Impostura Científica


            


      M 93 é o palco onde se desenrola uma daquelas histórias cômicas e venenosa que costumam permear a existência humana. Sendo uma das entradas mais austrais do Catalogo Messier não é lá muito lembrado nos livros clássicos por sua aparência. O que é já é, por si só, uma grande bobagem. É um belíssimo e rico aglomerado aberto em Puppis. Especialmente para os felizardos que habitam ao sul da Nova Inglaterra...

     Carrega o karma de ser sempre lembrado não pela modesta descrição feita deste por Smith no “The Bedford Catalogue” no segundo volume de seu maravilhoso “Cycles of Celestial Objects”. Na verdade, é mais lembrado pela indiscrição e certa maldade do geralmente politicamente correto Admiral Smith.  Neste ele nos conta da proeza do Chevalier d´Anglos. 

       Besteira é uma palavra com vários sinônimos: absurdo, bestice, bobagem, asnada, asneira, asneirada, asnice, baboseira, bestagem, burrice, calinada, despautério, despropósito, dislate, disparate, estultice, estultícia, estupidez, idiotice, imbecilidade, insânia, necedade, nescidade, pachouchada, palermice, parvoíce, patetice, sandice, toleima, tolice, tontice.

         Smith inclui mais um: “Angosiades”. Depois veio a se referir a todas as gafes astronômicas como uma “Angosiade”. Em uma adaptação livre cometerei um barbarismo e utilizarei o termo “angosiada”. Nos tempos de Smith o francês era a língua mais prestigiada e os galicismos eram mais comuns que os anglicismos atuais...
Chevalier Dangos

          O Chevalier d´Angos  ( Jean Auguste D´Angos – 1744-1833) foi um dublê de químico e astrônomo obtendo resultado desastrosos em ambas as ciências. Cavalheiro de Malta (assim como Villegagnon) primeiramente colocou fogo no Observatório no `Palácio de Valetta realizando um experimento com fosforo. E posteriormente fez má fama descobrindo cometas inexistentes e/ou confundindo DSO`s com estes.  M 93 foi um desses casos e o erro foi divulgado amplamente por Smith. Encke, particularmente, o perseguia ferozmente.  Sua última “angosiada” antes de cair no ridículo total foi descobrir o planeta Vulcano. Este orbitaria mais perto do Sol que Mercúrio.

           M 93 carrega ainda a honra dúbia te ter sido a ultima entrada do Catalogo Messier descoberta pelo “Eu Profundo” de Messier. Daí para frente todas as entradas originais foram obras de “outros eus”. Especialmente Méchain.

         Messier descobre o aglomerado em 20 de março de 1781 e o apresenta de forma breve: “Aglomerado de pequenas estrelas sem nebulosidade”.

        Smith depois de destilar seu veneno contra o picareta D´Angos nos diz “um elegante grupo na forma de uma estrela do mar”.  E Webb é ainda mais conciso: “um brilhante aglomerado em uma rica vizinhança.”

     Burnham tem uma impressão muito semelhante à minha e percebe uma massa central evidentemente triangular ou em forma de cunha com estrelas se espraiando por um diâmetro aparente de cerca de 25´. Ressalta ainda que K.G. Jones percebe uma borboleta de asas abertas. Posso até conseguir perceber isto também...

      Algo que adoro no Burnham´s Celestial Handbook (além do livro todo...) é que as fotos que o ilustram não são tão melhores que as que consigo realizar por aqui. E M 93 especialmente elas são tão ruins quanto.  Quiçá piores. Deveria ser um hobby ingrato fazer astrofotografia amadora ( e mesmo profissional) nos anos 60.

        M 93 habita o lado oposto do braço de Orion habitando a 3400 anos luz de nós. Bonnato calculou que este se espalha por 23 anos luz e seu núcleo possui cerca de 2. 3 anos luz. Sua massa é calculada em 1700 massas solares e sua idade já vai na casa de 400 milhões de anos.

   Duas estrelas alaranjadas se sobressaem na paisagem. são membro reais do grupo e duplas. Fazem parte do catalogo Aravamudam e são Ara 2066 e Ara 2064. Como quase sempre sua cor é alvo de controvérsias...



     Scott Houston nos afirma que M 93 é perceptível a olho nu a partir de sua residência na Nova Inglaterra. Logo, aqui do Tropico de Capricórnio, deveria ser tarefa fácil. Sabendo onde olhar e em local bem escuro é factível...   Facilmente localizável a partir de Asmidiske ( Xi Puppis) e utilizando Aludra ( Eta Canis Maj) como apoio. Facilmente notado na buscadora

     O´Meara em seu “Deep Sky Companions: The Messier Objects” chama atenção para um interessante padrão que posteriormente a leitura percebi. M 93, especialmente pela buscadora, possui um padrão assimétrico que recorda um olho de gato. Recordando assim o globular M 4.

     M 93 é um belíssimo alvo visual onde se percebem estrelas de diversas magnitudes compondo um quadro com mais de 50 estrelas facilmente percebidas. Eu o enquadraria na classificação Trumpler como I 3 m. 

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