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terça-feira, 12 de junho de 2018

M 21 : Uma introdução para M 20


                



            Há tempos devo uma apresentação de M 21 aqui no Nuncius Australis. Como venho retrabalhando diversas antigas fotos com o auxilio do poderoso PixInSight 1.8 e aproveitando o material para aprender a mexer com o software (que com muitos recursos não é exatamente autoexplicativo) acabei esbarrando em uma antiga foto de M 21.
                O problema é que esta trata-se de um crop sobre uma outra foto muito maior e que engloba a muito mais charmosa Nebulosa Trífida, M 20.


                M 21 é um pequeno aglomerado aberto que apesar de algumas opiniões divergentes não emplaca mais que I 2 p na classificação Trumpler (se você leva astronomia um pouco a sério deve conhecer a classificação Trumpler para aglomerados galácticos. Ou clique aqui). O p no final significa pobre... Assim é pouco mais que um nó de estrelas brilhantes.
                Há algum tempo escrevi a respeito de M 20. Mas por razões que vão muito além da vã filosofia acabei por dedicar o post mais ao apêndice (A Nebulosa Porter Mason) mais a norte da Trífida do que à M 20 propriamente dita. Provavelmente porque aqui no Nuncius Australis temos profundo carinho pelos astrônomos dublês de Dons Quixotes. Não que Mason fosse um “Cavalheiro da Triste Figura” como Burnham. Ele está mais para o “Cavalheiro da Triste História”.  

Treinando no PI. O programa não pinta. Mas funciona como um pau de arara. Se houver informação ele extrai. E com menos ruido que qualquer outro soft de processamento fotográfico que conheço. Pau a pau com o Photoshop só que com as ferramentas para astrofotografia já prontas. Esta captura foi feita com algumas poucas dezenas de fotos de 30 seg. ISO 1600. E para piorar a captura foi em Jpeg... A sessão de tortura começou com um Tiff empilhado no DSS ha alguns anos. 

                De qualquer forma é impossível falar de M 21 sem falar de M 20.  Embora exista a chance de que o alinhamento destes dois DSO´s trate-se apenas de uma das Coincidências de Adams (coincidências que nada tem a ver com as leis fundamentais do universo embora possam sugerir ter...) é possível que a reunião não seja casual. Ambos estão localizados entre 4 e   5000 anos de luz nós e mesmo estando separados por 1000 anos luz eles habitam o mesmo Microcosmo. Na verdade, uma das regiões mais dramáticas da Via láctea. Especialmente se você levar em conta que M8, a Nebulosa da Lagoa, habita logo ao lado e esta forma certamente par com M 8 em uma imensa região HII próxima a “décima terceira vertebra” (a região central da Via Láctea...). Em um paralelo com o conceito de “Naturgemälde” desenvolvido por Humboldt não se pode compreender as partes sem uma compreensão plena da paisagem. Mas aí já estamos retornando se não a vã filosofia pelo menos a geografia.
                Assim sendo façamos como o açougueiro: Vamos por partes. Hoje falaremos de M 21 e amanhã de M 20....



                M 21 é um aglomerado galáctico facilmente localizado junto a M 8. Em ambientes de forte poluição luminosa, geralmente, se chega primeiro a M 21 (partindo-se de Lambda Sagitário ou de Mu Sagitário) no caminho para M 20.  Ambos ocupam o mesmo campo em uma ocular de grande campo. No meu caso uma 40 mm e até mesmo e com jeitinho na 26 mm.  Messier localizou M 21 na noite de 5 de junho de 1764 (uma noite muito produtiva pois além de M 21 ele “descobriu” M 20, M19 e M 22). M 21 é uma descoberta original de Messier (M 20 foi provavelmente notada anteriormente por La Gentil em 1747) e com seu modesto telescópio ele nos deixou o seguinte testemunho: “Aglomerado de estrela próximo ao anterior (M 20). A estrela mais próxima conhecida próxima a estes dois aglomerados é 11 Flamsteed Sagitarii. As estrelas nestes dois aglomerados são de 8a e 9a magnitude e cercadas por nebulosidade.”
                M 21 não apresenta nenhuma nebulosidade (pelo menos não sem auxilio de um filtro de nébula e de um telescópio muito grande). Stoyan nos conta que a 1o a nordeste de M 21 habita Sharpless 34. Mas é alvo difícil mesmo em astro fotos e perceptível apenas com auxílio de um telescópio de ao menos 300 mm e utilizando um filtro de banda estreita. Messier certamente foi enganado duas vezes naquela noite. Nem M 20 é um aglomerado aberto nem M 21 apresenta nebulosidade. Smith em sua descrição no “Cycles of Celestial Objects” parece desvendar o mistério no que diz respeito a M 21: “Um frouxo aglomerado de estrelas telescópicas em um rico entroncamento galáctico. Ao redor do centro um conspícuo par. A. 9 mag. Amarelada; B. 10 mag.  Acinzentada; Pa 317o. d. 30.9´´ (1875). Messier inclui algumas periféricas em sua descrição (na minha copia não...) e o que ele menciona como nebulosidade tem que ter sido um agrupamento de estrelas mínimas no campo.”
                Webb não chega a dar uma verdadeira descrição do aglomerado, mas fala “de uma região brilhante (...a lucid region).
                Embora haja alguma divergência M 21 se encontra a cerca de 4000 anos luz e está localizado no braço espiral de Sagitário. Um pouco mais perto que M8 e M 20. Faz parte da associação OB1, e como todos os seus membros, é um objeto muito jovem. Há evidências de dois ciclos de formação estelar no aglomerado. Park et cia. Acharam estrelas de apenas 4 milhões de anos enquanto a maioria dos membros tem uma idade derivada de 7.5 a 8 milhões de anos. Forbes identificou 105 membros abaixo de magnitude 15.5 em um campo de 18´. Autores classificam o aglomerado entre Trumpler I 3 r e I 3 p. Como a classificação Trumpler é área de palpite liberado eu arrisco I 2 p.


                Com uma magnitude de 5.9 M 21 é visível a olho nu de céus escuros. Mas a região tão rica e clara que é difícil isola-lo na paisagem. Será facilmente percebido como um pequeno nó de estrelas com quase qualquer auxilio ótico. O´Meara em um arroubo "Rossiano" diz perceber uma estrutura espiralada em M 21. (Ross foi o proprietário do maior telescópio de seu tempo. O Leviatã. Foi o primeiro a perceber claramente estruturas espirais em varias galaxias. Depois começou a perceber espirais em tudo que observava....) 
                Depois de observar este aglomerado ultrajovem é só seguir viagem para nossa próxima parada: M 20. A Nebulosa Trífida.  

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