Há
tempos devo uma apresentação de M 21 aqui no Nuncius Australis. Como venho
retrabalhando diversas antigas fotos com o auxilio do poderoso PixInSight 1.8 e
aproveitando o material para aprender a mexer com o software (que com muitos
recursos não é exatamente autoexplicativo) acabei esbarrando em uma antiga foto
de M 21.
O
problema é que esta trata-se de um crop sobre uma outra foto muito maior e que
engloba a muito mais charmosa Nebulosa Trífida, M 20.
Há
algum tempo escrevi a respeito de M 20. Mas por razões que vão muito além da vã
filosofia acabei por dedicar o post mais ao apêndice (A Nebulosa Porter Mason)
mais a norte da Trífida do que à M 20 propriamente dita. Provavelmente porque
aqui no Nuncius Australis temos profundo carinho pelos astrônomos dublês de
Dons Quixotes. Não que Mason fosse um “Cavalheiro da Triste Figura” como
Burnham. Ele está mais para o “Cavalheiro da Triste História”.
De
qualquer forma é impossível falar de M 21 sem falar de M 20. Embora exista a chance de que o alinhamento destes
dois DSO´s trate-se apenas de uma das Coincidências de Adams (coincidências que
nada tem a ver com as leis fundamentais do universo embora possam sugerir
ter...) é possível que a reunião não seja casual. Ambos estão localizados entre
4 e 5000 anos de luz nós e mesmo estando separados
por 1000 anos luz eles habitam o mesmo Microcosmo. Na verdade, uma das regiões
mais dramáticas da Via láctea. Especialmente se você levar em conta que M8, a
Nebulosa da Lagoa, habita logo ao lado e esta forma certamente par com M 8 em
uma imensa região HII próxima a “décima terceira vertebra” (a região central da
Via Láctea...). Em um paralelo com o conceito de “Naturgemälde” desenvolvido
por Humboldt não se pode compreender as partes sem uma compreensão plena da
paisagem. Mas aí já estamos retornando se não a vã filosofia pelo menos a
geografia.
Assim
sendo façamos como o açougueiro: Vamos por partes. Hoje falaremos de M 21 e
amanhã de M 20....
M
21 é um aglomerado galáctico facilmente localizado junto a M 8. Em ambientes de
forte poluição luminosa, geralmente, se chega primeiro a M 21 (partindo-se de
Lambda Sagitário ou de Mu Sagitário) no caminho para M 20. Ambos ocupam o mesmo campo em uma ocular de
grande campo. No meu caso uma 40 mm e até mesmo e com jeitinho na 26 mm. Messier localizou M 21 na noite de 5 de junho
de 1764 (uma noite muito produtiva pois além de M 21 ele “descobriu” M 20, M19
e M 22). M 21 é uma descoberta original de Messier (M 20 foi provavelmente
notada anteriormente por La Gentil em 1747) e com seu modesto telescópio ele
nos deixou o seguinte testemunho: “Aglomerado de estrela próximo ao anterior (M
20). A estrela mais próxima conhecida próxima a estes dois aglomerados é 11 Flamsteed
Sagitarii. As estrelas nestes dois aglomerados são de 8a e 9a
magnitude e cercadas por nebulosidade.”
M
21 não apresenta nenhuma nebulosidade (pelo menos não sem auxilio de um filtro
de nébula e de um telescópio muito grande). Stoyan nos conta que a 1o
a nordeste de M 21 habita Sharpless 34. Mas é alvo difícil mesmo em astro fotos
e perceptível apenas com auxílio de um telescópio de ao menos 300 mm e utilizando
um filtro de banda estreita. Messier certamente foi enganado duas vezes naquela
noite. Nem M 20 é um aglomerado aberto nem M 21 apresenta nebulosidade. Smith
em sua descrição no “Cycles of Celestial Objects” parece desvendar o mistério
no que diz respeito a M 21: “Um frouxo aglomerado de estrelas telescópicas em
um rico entroncamento galáctico. Ao redor do centro um conspícuo par. A. 9 mag.
Amarelada; B. 10 mag. Acinzentada; Pa
317o. d. 30.9´´ (1875). Messier inclui algumas periféricas em sua
descrição (na minha copia não...) e o que ele menciona como nebulosidade tem
que ter sido um agrupamento de estrelas mínimas no campo.”
Webb
não chega a dar uma verdadeira descrição do aglomerado, mas fala “de uma região
brilhante (...a lucid region).
Embora
haja alguma divergência M 21 se encontra a cerca de 4000 anos luz e está
localizado no braço espiral de Sagitário. Um pouco mais perto que M8 e M 20.
Faz parte da associação OB1, e como todos os seus membros, é um objeto muito
jovem. Há evidências de dois ciclos de formação estelar no aglomerado. Park et
cia. Acharam estrelas de apenas 4 milhões de anos enquanto a maioria dos
membros tem uma idade derivada de 7.5 a 8 milhões de anos. Forbes identificou
105 membros abaixo de magnitude 15.5 em um campo de 18´. Autores classificam o
aglomerado entre Trumpler I 3 r e I 3 p. Como a classificação Trumpler é área de
palpite liberado eu arrisco I 2 p.
Com
uma magnitude de 5.9 M 21 é visível a olho nu de céus escuros. Mas a região tão
rica e clara que é difícil isola-lo na paisagem. Será facilmente percebido como
um pequeno nó de estrelas com quase qualquer auxilio ótico. O´Meara em um arroubo "Rossiano" diz perceber uma estrutura espiralada em M 21. (Ross foi o proprietário do maior telescópio de seu tempo. O Leviatã. Foi o primeiro a perceber claramente estruturas espirais em varias galaxias. Depois começou a perceber espirais em tudo que observava....)
Depois
de observar este aglomerado ultrajovem é só seguir viagem para nossa próxima
parada: M 20. A Nebulosa Trífida.
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