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segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Astrofotografia de Ouvido e a Aporema de Verão

             

                 Chegou o verão. A primeira Aporema do ano (veja o significado desta festa aqui, aqui e aqui). Desta vez as regras foram seguidas à risca e a mesma foi comemorada na primeira lua cheia após o solstício de verão. Com uma casa alugada em Lumiar os céus seriam escuros. Mas também bem nublados. O verão nas Serras Fluminenses costuma ser ingratos com a astronomia e chove para burro... Como não poderia deixar de ser as noites mais abertas da temporada aconteceram nos dias que estávamos em Friburgo para comemorar o aniversário da Bisavó de meus netos. Avó da cara metade.
                Eu tenho informantes no Reino de Murphy e evidentemente coloquei o Newton (meu telescópio refletor 1200 mm f8) na mala do carro quando nos deslocamos de uma cidade para outra. A tarde choveu canivetes. As 21:00 o céu começou a abrir. Eu aproveitei para brincar com as crianças e apresentar diversos clássicos. E com o avançar da hora ainda acabei por localizar alguns dos DSO´s que tinha imaginado fotografar. Mesmo com um alinhamento polar feito de ouvido e com um céu que apesar de limpo apresentava uma transparência péssima fiz algumas fotos. Esqueçam a palavra colimação. Esta Aporema   já começara meio desacreditada. Como o sistema de guiagem para o Newton só vai chegar no final de janeiro não me via com grandes projetos fotográficos. Brincar com as crianças acabou sendo uma boa forma de comemorar a festa pagã e o aniversário da Bisa...
M 42 não parece indicar uma noite promissora...

                Com quase todas a luzes da casa acesas e com vários curiosos olhando coloquei Mlle. Herschel (minha montagem HEQ 5 pro) em “modo de segurança” e com um Synscan quase alinhado acompanhando um alinhamento polar pior ainda levei todos a visitar M 42. Percebo que há muita nebulosidade no céu. Depois M 41 muito tímido. Sobraram duas sobrinhas que parecem levar jeito para coisa e que acompanharam as observações até bem tarde.
                E assim visitamos Ngc 2516. O horizonte sul está mais generoso. O aglomerado faz sucesso com as meninas e com alguns retardatários. Depois sigo para Omicron Velorum. Ficam todos fascinados ao entenderem que o aglomerado é a pequena nebulosidade ao lado de Delta Velorum e que escolta Omicron. Descobrir o Falso Cruzeiro e aprender, de fato, a identifica-lo parece deixar todos bem orgulhosos.
                As Plêiades (a noite parecia estar melhorando) dão seu show junto a buscadora e o famoso aglomerado arrecada mais alguns fãs para seu imenso “entourage”. 
2516 em modo "como não fazer"...

                Faço uma exposição de 30 segundos de alguns dos objetos somente para apresentar a técnica as meninas.  O Alinhamento polar era de fato medíocre. Mas para a observação visual estava mais que bom... Pior era o Synscan (Go-to da cabeça) errante. Mas viajando por mares já muito conhecidos não chegava a irritar ninguém.
Little Cassiopéia no mesmo modo...

                Finalmente apresento o conceito de estrela dupla para as meninas. Com um seeing também “bem mais ou menos” acabo resolvendo Castor em Gêmeos com a minha ocular 17 mm acompanhada de uma Barlow 2X.  As meninas adoram. E acho um dos pontos altos da noite. Não visitava o gêmeo mortal (Pollux é imortal) há muito tempo. É uma dupla divertida de se dividir. Uma considerável diferença de magnitude.
M 93 em péssima forma...
                Depois já vai mais tarde e resolvo tentar cumprir algo do que tinha em mente. Fotografo (mesmo que de forma tosca) M 50 e M 93. Dois abertos do Catalogo Messier que nunca tinha registrado fotograficamente. Com o Synscan errante acabo também misturando M 48 com Ngc 2306 e registro o obscuro aglomerado. Mais um para o “Projeto Tudo que Existe” (apesar do nome a intenção é apenas fotografar todo o Catalogo Ngc).
M 50

Ngc 2306. Um engano meu , de Dreyer e originalmente de Herschel. 


                Finalmente as crianças se rendem e o Synscan errante não localiza Ngc 2169.Meu principal objetivo nesta Aporema seria fotografar os objetos que me faltam no Catalogo Hodierna.  Mas parece que vou ter que esperar por condições melhores. Acampado na casa dos outros e sem poder fazer os alinhamentos “by the book” vai ficar difícil. E Friburgo é uma cidade grande e com considerável poluição luminosa. Fora que a umidade está enorme, o frio aumentando e eu bem cansado.
                Para encerrar faço algumas capturas em Pig Back com um campo bem aberto. Coloco a 18-55mm @ 50 mm e f 5.6.
                Capturo a Falsa Cruz que fez tanto sucesso junto aos universitários e depois outra série de 12 fotos no entorno de Eta Carina. Sempre um espetáculo. Com estas eu posteriormente brinco tanto no Deep Sky Stacker como no divertido e menos exigente Rot n´ Stack.   Com um campo tão amplo o alinhamento polar se torna menos exigente.
Falsa Cruz 

                Já as fotos dos DSO´s tiveram que ser processadas apenas no Rot n Stack. A qualidade das capturas não é suficiente para o DSS. Neste tudo termina em rabiscos. Ou desastres binários como gosto de chamar tais desgraças...
Desastre binário

                No dia seguinte, após levar as crianças até as cachoeiras de um clube em Friburgo, (a cara metade resolveu encarnar a Rainha Má e implicou com a casa estilo “Woodstock” em Lumiar. Prorroguei a estada na casa da Bisa por mais uma noite...) fico brincando com as fotos feitas com a lente enquanto namoro o céu nublado com esperança de que este abra por volta das 21:00. A previsão assim o diz. Diferentes processamentos levam a diferentes resultados. As capturas foram todas feitas em jpg. Como não planejava fotografar sequer me lembrei de alterar as configurações da Canon.  O Rot n Stack me dava cor nas fotos. Já o empilhamento realizado pelo DSS embora apresenta-se mais detalhes era em escala de cinza. Não conseguia atinar a razão para isso. Finalmente reparo que o autosave em 32 bits e sem eu ter corrigido o RGB no próprio DSS apresenta cor. Ainda que o resultado deste arquivo que é gerado automaticamente seja sempre muito claro. Resolvo apenas converter o autosave para Tiff 16 bits no DSS sem nenhuma outra manipulação. Com este arquivo aberto no Photoshop rapidamente percebo que basta eu pedir o tom automático que a cor se revela. Depois curvas e cia LTDA e acho o resultado bastante satisfatório e mais realista do que trabalhando com a matriz do Rot and Stack. Na verdade, acho ambos bastante satisfatórios para 8 frames de 30 segundos empilhados.  Sem darks...
Esta foto é fruto da mesma captura da que abre este post. Porém processada no Rot n stack inicialmente. Tem mais cor . Mas encosta o "Caboclo Magenta" e acho muito forçada. 

                Finalmente a previsão se confirma e as 21:35 estou com a câmera na montagem. O Plano é utilizar a 75-300 mm @ 300 mm para fotografar as Plêiades. Por incrível que pareça o alinhamento polar é feito de novo no palpite e o Synscan é alinhado utilizando apenas a rotina de “1 Star Align”. Utilizando Canopus como farol. E com a lente @ 70 mm Mlle. Herschel chega até as Plêiades sozinha. Não centralizadas, mas quase... Depois é só ajustar o foco.  As “crionças” queriam porque queriam que eu montasse o Newton para elas poderem observar também. Mas fui obstinado e só cedi ao desejo das mesmas depois de realizar 80 exposições das “Sete Irmãs”.  Queria brincar mais de “laboratorista” (uma profissão quase extinta dos tempos da película fotográfica).


As Pêiades cropada no Photoshop... Foram diversos tratamento e serão abordados em outro post.

                Finalmente acabo cedendo e o Newton vai para a montagem. Levo as crianças para um belo passeio.  O horizonte sul é mais escuro na região do Cônego e assim se a região entre Sagitário e Escorpião é a décima terceira vertebra na “Espinha Dorsal da Noite” a área ao redor da Nebulosa de Carina pode responder pela alcunha de “Região Cervical” ... E assim levo elas por todos os clássicos austrais tão meus conhecidos. O Aglomerado da Pérola, O Poço dos Desejos, A grande Nebulosa em si, as plêiades do Sul e até um Acrux nascente é visitada. Para encerrar e sabendo que a pequena gostara de estrelas duplas apresento a “Albireo de Verão” (145 C Ma). Depois mando todos para cama e ainda consigo me acertar com Ngc 2169 e capturar suas imagens para o “Projeto Hodierna”. O Synscan está bem mais preciso que na véspera. Sem nenhuma razão aparente que não seja a incerteza...   O delicado aglomerado é bem discreto e só revela suas características mais marcantes com a ocular de 10 mm (120 x de aumento). Adoro projetos observacionais temáticos.  Uma ultima confissão: a foto de Ngc 2169 foi uma das piores que já tirei. Mas com as Plêiades indo tão bem acho que a média ficou aceitável. E aglomerado em questão também se inclui no “Projeto Tudo que Existe”. E neste eu nem considero a possibilidade de fotos bonitinhas para todo mundo. Vale o registro... O drizzle feito no DSS a partir de um empilhamento feito no Rot n Stack ficou medonho. Mas apresenta claramente o porque deste ser conhecido também como “O Aglomerado 37”. Se alguns dos resultados nos Logaritmos do Rot n Stack fossem feitos pelo Pollock valeriam um bom dinheiro...
Albireo de verão
Quase parece com Ngc 2169. 

                E assim encerro mais uma noite. Com dignidade e ainda cedo. 00:20 estou com tudo já meio encaminhado para sair na manhã seguinte rumo a minha casa na arvore e poder continuar minha saga como laboratorista digital. Fico muito feliz ao descobrir que a nebulosa de Merope e de Alcyone foram registradas claramente apesar da interrupção mirim. Meu plano era tirar pelo menos o dobro de fotos.            
Sem hora para nada...


São Sebastião de Lumiar




Depois da procissão...
                Dia 18 finalmente retorno para a “Casa Nas Arvores” em Lumiar. O céu ainda ia claro, mas me reuni com um antigo professor e a cerveja e o saudosismo atrapalharam a observação. A casa não possui nenhum horizonte livre e acabo tentando a sorte na rua em frente. Lógico que apesar do céu bem escuro não dá certo...  Daí para frente o templo nubla e haviam outras coisas a serem feitas para a harmonia familiar harmonizar. E assim fomos a procissão de São Sebastião de Lumiar, bebemos tonéis de cerveja, visitamos locais lindos e tomamos muito banho de rio.  Sem reclamar do céu nublado. Foi todo o set up para a mala do carro onde permaneceu até o Rio de Janeiro...
A Casa nas arvores

casa nas arvores II




                A Aporema de Verão foi diferente do planejado e por isto mesmo sensacional. Uma  versão nômade da festa. Veremos se em fevereiro   as coisas melhoram. Afinal o meu “Magnificent Mini Auto Guider” terá chegado e espero um mês mais seco que janeiro apesar do “Paradoxo de Newgear”.  

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